quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Tempo de despertar...



Quando olho um arco-íris formado a partir de uma dança entre água e luz, sinto como se estivesse acordando, a cada momento, para um olhar além do que meus olhos físicos podem mostrar.



Tento - com sofreguidão - ver o que está "escondido" por trás desse colorido portal, que me leva em seus braços para as raias múltiplas da imaginação fértil de um universo em que a tônica é a bem-aventurança pura e simples!



Sonolenta, ainda, desperto do aconchego cômodo de uma vida na alteridade que se me apresenta como uma desistência lacônica de ser feliz, e me lembro, ao final, de quem sou, para rumar, dali adiante, para a doce morada desperta que aguarda quem sempre deseja se superar.

Saúdo mais um dia azul que se anuncia em meu despertar de arco-íris, mesmo que, diante do assombro do mundo, existam apenas aparentemente lágrimas a cair do céu. Não me importo, pois amo a chuva, assim bem como amo o sol, pois água e fogo são apenas mais opções a compor a cálida aquarela do pintor que me abundou em seus braços de criação. Ambos são livres, fluídicos, doces e transcendentes, basta que nos movamos, dentro deles, para o voo do arco-íris que se forma a partir da conjugação de tantas vontades!



Ledo engano de quem pensa que a chuva adormece a alma e aquieta o espírito: ela sacode cada um dos átomos que se movimentam, em espetáculo, pelas pequeninas orbes de nossas entranhas. A água nos traz o movimento e a compreensão, a partir dele, de que tudo, absolutamente tudo nessa vida está marcado pela impermanência do voo...Como, então, adormecer?



O despertar do arco-íris envolto em céu, luz e chuva, verte à memória a dimensão da gratitude, já que trás da chuva sempre existe o céu azul, lembrando que a opção em olhar para as nuvens carregadas é de quem prefere ver o cinza, ao invés de subir e se lançar nos espaços impolutos de um saber que extrapola qualquer limitação.



Por outro lado, enxergar o cinza é aceitar a vida em seus momentos lânguidos de entre-safras, pois as cores neutras, quase sempre, são o descanso merecido da cor que, um dia, decide, por vez, repousar de sua tarefa de nos amar em tons. Hibernação e despertar, sono e vida, lado a lado para se viver cada dia como se fosse - como, de fato é - o último dia de nossas vidas!



E viva o maravilhoso tempo de despertar!






segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O dia em que a Terra encontrou a água...

Nesse final de semana minha alma foi brindada com um evento que me fez retornar ao espaço sagrado de minhas mais profundas alegrias internas, que estavam, há tempos, recompondo-se dos desafios que eu mesma escolhi para essa encarnação.

Não voltava ao mato - meu habitat natural - há quase um ano e, providencialmente, por força de uma conspiração cósmica incomum (dessas de filme de cinema mesmo), fui presenteada com um convite para ir a um local em que a água encontrava a terra.

Poderia ser apenas um evento esportivo, se não fosse um detalhe muito sutil, mas divisor de águas: trata-se de UM evento esportivo que toma como base a lama, muita lama, um espaço limítrofe entre o elemento Terra, componente que nos esteia em raiz, na determinação, e o elemento Água, solvente universal, império da emotividade, do onírico, do universo sagrado da transparência e da limpeza.

O que dizer desse encontro magistral, feito embaixo de muita chuva?

O que isso trouxe de profunda meditação? No sábado, enquanto estávamos sob a tenda, no escuro, rindo às veras, ouvi uma moça perguntar "é isso aqui?". Abençoada moça que, no auge de sua curiosidade, fez a pergunta que simplesmente focou minha alma para o extrapolamento dos limites do que seria, para mim, o contato com a lama...

A lama é o encontro sacral entre a firmeza da Terra, sua rigidez e determinação, com a fluidez da Água lânguida que, transpondo obstáculos, espalha-se gentilmente por onde quer que vá, formando novos contornos e modificando a Natureza por onde quer que passa.

Vendo os jipes, um a um, transformando a Natureza e sendo por Ela transformados, o coração entoou na lição da lama a superação da cisão entre os dois vetores que poderiam ser incompatíveis, se não fossem, ao final, complementares.

Quando a sisudez da Terra encontra a fluídica Água, o resultado é a flexibilidade, a elasticidade, a plasticidade da lama, que nos lembra do caminho do meio, o equilíbrio exato entre a determinação, a rigidez e a firmeza de propósitos (Terra), com a emotividade, a fluidez, a transparência do universo sagrado do onírico (Água).

Nem lá, nem cá, mas na sutileza de, no contato com o ambiente, dançarmos na lama, que nos desafia diuturnamente a não sermos tão austeros em nossas vidas, mas também não tão espargidos emocionalmente. O espetáculo!!!

Quando fui embora, meu jipe atolou e esse episódio trouxe muito mais do que a percepção sobre a técnica, trouxe a valiosa lição de como necessitamos viver nesse e em outros mundos.

Se aceleramos incontinente, cavamos buracos na lama fofa e, com isso, não saímos do lugar em que nos encontramos. Mas se, pouco a pouco, aceleramos menos e giramos a direção de nossas vidas - a nau de nosso tempo no aqui e no agora - saímos e ocupamos um mar - sim, esse lindo mar de lama - de possibilidades na vida.

O mais interessante nessa experiência foi perceber que não estou sozinha... No momento em que a tensão e o medo bateram à porta, vi, lá no horizonte, uma pessoa disposta a sair de onde quer que possa estar, para me ajudar a desatolar.

Aquele "empurrãozinho" que nada teve de básico, pois, sem ele, provavelmente eu teria demorado muito mais para fazer o que, ao final, iria fazer: prosseguir. A questão, contudo, reside aí, em perceber que, ao lado de alguém, podemos nos superar e, na superação, evoluir. "Todos precisamos de um co-piloto": essa foi a frase genial que nunca mais retirarei de minha mente diante da benignidade que um passeio na lama trouxe para minha sina.

A solidariedade e o amor, enfim, são a tônica que embalam um passeio no mar de lama, fazendo com que a vida, para nós, possa ser muito mais uma grande teia cósmica de encontros e amores do que o mero pertencimento a um corpo físico no momento. Eis o sentido de estar no aqui e no agora: viemos para AMAR, nada mais...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A volta ao mundo em 365 cartões...



Quando a alma se desprende dos obstáculos que ela mesma cria, inevitável é a viagem para longe do abrigo e, com ela, advém a "subversiva" necessidade de lançamento na infinitude de possibilidades que a Vida nos mostra, pois o incerto passa a ser a única certeza a representar o que verdadeiramente é a Existência: efemeridade de nossa existência!


Acordamos dispostos a percorrer todos os caminhos que se abrem bem diante dos nossos olhos, apenas porque, embalados em nossos corações, rompemos a barreira do som e da luz, num sobressalto incomum que nos impele a um voo alto, que ora se faz rasante, para que possamos olhar para baixo - nossas experiências vividas - ora nos encaminha para o horizonte, como Ícaros que alcançam o Sol...


Não existe medo a nos atingir, porque, numa espiral de constante renovação de nossas respirações, sempre estamos, aqui e acolá, a nos encontrar conosco e com os rumos que traçamos em outras eras: estamos, pois, "condenados" à imensidão do azul, voando de egrégora em egrégora para a evolução do espírito, em viagens diuturnas na experienciação do amor...


Trocamos a casca, mudamos o invólucro, mas a energia, no Universo, é constante e consciente o bastante para que possamos repetir tantas e tantas vezes o maravilhoso espetáculo do ciclo de renascimento...


A viagem rumo ao Infinito, daí, destaca-nos de nossas entranhas, apascenta nosso cálido espírito que - às vezes - pode insistir em não querer voar.


Não importa, pois, ao final, todos precisamos, um dia, voar e viajar. E o maravilhoso desse trânsito mágico é poder recolher, em cada ponto da travessia, um artefato a colorir as prateleiras e os murais de nossas vidas com a eternidade que reside na lembrança do que foi vivido.


Alguns colecionam pedras. Outros guardam souvenirs de museus. Outros tantos adquirem flâmulas, guardanapos, tickets de entrada e outros mais...


Ontem, contudo, na epifania do que o amor pode gerar nos espíritos que são afins, fiquei decidida a, na viagem, recolher UM cartão...o UM cartão que represente tudo que a viagem possa ser de belo, expressivo e maravilhoso.


O UM cartão que compartilhado com a pessoa amada que, vindo de encontro ao encontro que, de encontro, também encontrei, repartiu, comigo, o que existe de mais belo dentro de si: sua própria vida... Tudo isso num universo pequenino de um sutil pedaço de papel, que encerra na figura a expoência do que se pode pretender viver ao lado de quem se ama verdadeiramente...


Eis o sentido de toda uma vida, contida na singeleza de um cartão postal que possa, um dia, na lembrança, resgatar na memória arraigada o pedacinho de felicidade que extraímos de cada local fantástico para o qual nosso coração nos encaminhou...

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A Natureza e a "teia cósmica" que a todo(a)s abraça


A contemporaneidade indiscutivelmente trouxe o resgate à Natureza [escrevi Natureza, e não natureza, por considerá-la, devocionalmente, a verdadeira força motriz, essência viva de divindade, que é, efetivamente, o ponto central dos propósitos do resgate à ligação com o Cosmos], pois, para todo o lado, observamos que despontou uma preocupação mais contundente com a preservação ambiental, o compromisso com o eco-sistema, com a biosfera.

Desde uma educação ambiental, reciclagem de lixo, aproveitamento de papeis e tecidos, tudo tem girado em torno da necessidade de harmonização com a Natureza, tão dilacerada e denegrida pela imagem que se formou em torno da idéia de evolução e desenvolvimento.

Lígia Maria (minha mãe) costumava sempre fazer um exercício de redução ao absurdo: ela falava para o interlocutor pensar na hipótese de não mais existir um exemplar humano na Terra. Daí, indagava ao pensador o que poderia acontecer com a Natureza – os animais, as plantas, enfim, tudo que compõe esse espetáculo – se não existisse mais humano algum habitando a Terra.

Depois, pedia ao interlocutor que fizesse o mesmo exercício, mas invertendo os pólos: agora, extraindo a Natureza e deixando apenas o homem. Bom, acho que a reposta é por demais óbvia: se apenas restasse o homem na Terra, sem água, animais, plantas, simplesmente seria inviável a manutenção de vida por aqui, justamente por conta da conexão visceral que guardamos com o meio ambiente.

E quanto à Natureza? Ora, sempre presente, até mesmo em função de estabelecidas interações em redes e cadeias, desde uma estrutura de retroalimentção, como, também, por intermédio da cadeia alimentar, praticada em decorrência de uma bem montada lógica de predatismo. Isso, sem mencionar outras relações, a exemplo da simbiose e do mutualismo, que denunciam a existência de escalas interacionais e conectivas entre os seres.

Como podemos observar - apenas tirando um dia de nossas vidas para ficarmos contemplando a Natureza - existe uma rede imantando a interconexão entre os seres, uma verdadeira teia da vida, com bem relata um físico chamado Fritjof Capra, autor - dentre tantas obras - de um livro chamado "A Teia da Vida"... E viva a interconexão!

Quando se é autônoma, e não solitária...


Muitas pessoas me perguntam "como posso ser feliz sozinha", como se bastar a si fosse sinônimo da mais pura infelicidade. Até mesmo numa busca rápida no "google imagens", o que se encontra é um retrato dantesco de um cenário de desolação: figuras acizentadas, rostos tristes, semblantes "arrasados" por esse completo "fracasso na arte de se relacionar".

Sim, estar sozinho(a), em termos de globalização e relacionamentos efusivos pode muito bem ser um sinônimo de fracasso, condenando-se, dessa forma, ao cadafalso da solitária errante quem quer se "ouse" - no Tribunal do Ofício da Santa Inquisição Relacional - "cometer esse crime".

Para quem me pergunta, a resposta é muito simples: sendo EU, no momento, a melhor companhia para MIM. Trata-se de crivo de seletividade alto, para não fazer pacto de mediocridade em escolher viver com alguém "para cumprir a tabela do social".

Ademais, no silêncio, comigo, posso saber mais de mim, o bastante para, o dia em que me relacionar mais profundamente com alguém, a escolha ser livre, e não imbuída do mero medo de ser e morrer só: isso é que faz com que nos contentemos com tão pouco! Simples assim.

O discurso pairando sobe nossas cabeças, contudo, é de puro anestesiamento desse juízo crítico, pois, sem querer, às vezes reproduzimos isso até mesmo numa "inocente" letra de música, sem nos tocar que, por meio da musicalidade, o universo subconsciencial está só agregando isso como um mantra pessoal.

Daí, em outro momento, mesmo sendo pessoas "bem resolvidas", caímos na pegadinha e, "sem querer", caímos num processo de nulificação. Isso, claro, sempre vem - refiro-me à reflexão -de observações feitas na experiência.

Eis o sentido da empiria de estar bem sozinho(a), por a virtude do silêncio: o Universo se revela aí!

Quem és tu, ó, Amizade?



Qual a essência de uma amizade?

O tempo cronológico compartilhado com alguém?

Ou seria a valoração qualitaviva deste parâmetro tão efêmero aos olhos do Universo ainda em expansão?

Seria, por outro lado, a marca da lealdade?

Ou seria o altruísmo, a disposição de se "largar tudo" para se auxiliar alguém?

Residiria na compreensão a marca essencial de uma amizade?

Não sei, mas algo sempre me chama a ...atenção em minhas amizades: os naturais laços de lealdade que se somam ao longo das intempéries.

Já experienciei muitas delas e, em cada qual, um pedacinho de mim ficou para trás com as pessoas que, dentro desse ciclo natural, findaram sua permanência junto a mim...

Hoje sei que uma amizade resiste bravamente a tudo, até mesmo a fragmentação de si mesma, para permitir que o amor permaneça sempre em nossos corações!

O amor e o mercúrio...



Einstein, certa vez, embalado por um de seus corriqueiros "derrames de sabedoria incomum", afirmou que a inteligência não residiria na descoberta de algo nunca antes refletido, mas do debruçamento sobre o que se mostra como sendo usual em nossas experiências...


Essa fala sutil e sensível deslocou minha mente rumo à contemplação sobre o tema, voltando a uma cena do filme "Patch Adams", onde o protagonista aprende com um senhor internado - bem já de idade e supostamente acometido de alguma perturbação mental (falo isso porque, quando me lembro, vem à mente a seguinte proposição: "nossa, se ELE, a partir do que falou, é considerado louco, acho que o melhor, dentro de uma sociedade que se diz sã e decai a cada dia, é ser louca") - a olhar além - ou "para-além" do que se coloca como "óbvio" aos nossos olhos.


Isso porque, o referido senhor lhe estende a mão, mostrando os quatros dedos em riste. Daí pergunta ao aprendiz de médico quantos dedos ele via ali. Patch Adams - então aluno de Medicina - confiante no conhecimento formal que recebera - afirma categoricamente ver ali 4 dedos.


O senhor, então, com um sorriso compassivo no rosto (aqueles que somente almas em estado de graça conseguem esboçar por pressuposto), diz ao jovem: "errado, aqui tem oito". A seguir, propõe para Patch que olhe para o horizonte da mão, quando o "foco" da acuidade física do olho não mais consegue alcançar. O jovem, assim procedendo, descobre estar diante de 8, não mais de 4 dedos. Curioso, indaga do senhor a respeito disso, obtendo como resposta algo muito simples: "olhar para além do que se mostra como óbvio e aparente".


Essa introdução sobre as falas de pessoas geniais situa outra importante reflexão nesses dias de júbilo. Vou chegar lá... Em uma agradável conversa - dessas que igualmente são raras, preciosas e invulgares - típicas de quem ingressa num estado lânguido de plenitude face ao mundo e a si - ouvi uma curiosidade sobre o que, até então, era o óbvio...


Fui instada a refletir sobre a gota de mercúrio saída de um termômetro quebrado, postada na palma da mão. Para essa pessoa - genial - o amor comportar-se-ia exatamente como a gotinha de mercúrio: se a gota for separada, "algo a faz se juntar novamente", porque, segundo o relato, são feitas do mesmo material.


Se essa gota for ficar na palma da mão mas não se tomar cautela com ela, o resultado será o esvaimento e dela e, com isso, a perda... De mesma sorte, se tentarmos apertá-la, escoa, fluindo pelos dedos e simplesmente... indo embora!


Mas se a colocarmos no meio da palma e dermos a ela a atenção devida, além de ficar ali... supera-se a apartação e, na integralidade, ela manter-se-á intacta, sempre e sempre. O que fica de lição de uma história tão linda?


Muito simples... quando cursava Física, fizemos essa experiência no laboratório de Química, "brincando", de maneira ingênua e pueril, com a gotinha feliz que, de um lado para outro, ia e vinha, fragmentava-se e se reunia, numa continuidade que estava sujeita - em um primeiro momento - à nossa "bem humana" necessidade de impelir controle em tudo e em todos.


Mas, a certa altura da festividade, a falta de tato - literalmente - fez a gota se espargir e, com isso, nossa brincadeira findar. Escutando a "história do mercúrio", contextualizada a partir das falas de Einstein e do sábio do filme (um oráculo, na verdade), firmo, a cada dia de minha existência, a perspectiva de me abrir para olhar além do que se mostra como sendo uma verdade firmada em grau absoluto, pois o essencial, como já dizia sabiamente Exupèry, é "invisível aos olhos" e só se enxerga com o coração...


Nunca havia pensado - depois dessa experiência no laboratório de química - sobre a ludicidade do tema, pois a verdade era, até então, a dicotomia da gota ante suas propriedades enquanto líquido e a amálgama em função de sua alta coesão molecular. A razão obstaculizando o sentimento, o cartesianismo sufocando a leveza da expressão de sensibilidade... O mental, enfim, impossibilitando sentir (e não apenas observar) o óbvio: o amor presente em uma gota de mercúrio!


Com esse compartilhar de sabedoria singela, coloquei-me em meu momento "Patch Adams", quedando-me, mais uma vez - após tantas e tantas outras vezes - em momento de (re)descoberta, pois meu pequeno-grande mundo de aprendizagem coligou mais essa valiosa lição: meu "mercúrio de laboratório" era meu mundo em 4 dedos mas, depois dessa história linda - cujo conteúdo rendeu a reflexão de agora - meu universo está ém expansão e já posso sentir o enxergar de muitos outros infinitos dedos, todos ali, na mesma mão!!!



terça-feira, 1 de novembro de 2011

Um bom-bom dia começa cedo em casa




O "bom dia" é, para alguns, a primeira expressão ouvida quando os olhos decidem se abrir para abraçar o mundo enquanto o corpo se lança para a experienciação de novas e enriquecedoras situações.



De tão relavante, penso que o termo poderia até ser erigido à categoria de uma mantra universal, pois a justaposição de duas lindas palavras (bom) e (dia) trazem uma aglutinação cuja sonorida encampa uma suave melodia aos ouvidos de quem está atento(a) para o convite interno à bem-aventurança.



Quando falamos "bom dia", a reverberação gerada primeiro no palato traz um cálido aquecimento interno, ao mesmo tempo em que ouvimos uma espécie de pulsar, que muito me faz lembrar a batida forte e paradoxalmente lânguida de um coração em seu esplendor.



Depois, logo depois - isso tudo não dura mais que átimos de segundos - vem a evolução, tal tal uma orquestra, onde a retumbância desse "bumbo" natural compartilha o momentuum com os agudos que movem a reverberação para nossa fronte nasal, abrindo, assim, ao final, todo nosso rosto para o mundo em mais um lindo alvorecer.



Desejar um "bom dia" para a pessoa amada, logo no início de cada manhã, torna o suceder das horas bem mais agradável. Não que o dia e a vida, em si mesmos, assim não sejam, mais, convenhamos, olhar para o outro, entrelaçarem-se mãos e corpos num mantra desses é realmente um convite à elevação do espírito!



Por essa - e tantas outras mais - razão, sair do automatismo em apenas gesticular com a boca um azedo "bom dia" é mais do que necessário para se manter a saúde mental, psicólogica e, claro, a espiritual. É ter a certeza de que se está contribuindo para que o dia de outrem seja mesmo muito especial. E como o impacto de minhas ações projetadas para a alteridade volta à minha egrégora pessoal de vibrações energéticas, desejar um "bom dia" com sentimento de "boooommmm díííáaaa", por certo só traz benesses para minha alma...



Um booooommmm dííííiíía muito especial para todos e todas nós!

sábado, 29 de outubro de 2011

Ouvindo os ciclos internos de renovação...



Existe um ditado popular de sabedoria incomum, apregoando que "para o novo entrar, o velho precisa sair". Longe de ser um convite ao expurgo - puro e simples - de paradigmas e modelos que já não mais fazem parte de nossas experiências, esse dito mereceu minha reflexão ao longo de um processo de muita introspecção, tendo como resultado - mais uma vez - um momento doce de dizer adeus, mesmo diante do pulsar do coração em prol da alma que eventualmente amamos.



Não!! Calma!! Nada de dor desta vez! Aliás, ultimanente minha sina tem me brindado de um continuum da mais pura calmaria interna, mesmo que o mundo, lá fora, esteja beirando o mais profundo caos.



Não estou vendo o caos, pois desde quando o raio caiu aqui na antena de tv a cabo, minha vida tem sido mais fecunda de pensamentos e reflexões ímpares, que estão a mover as peças do meu tabuleiro chamado "vida" [lembro-me de Gandalf dizendo que "pieces are moving", lembrando-me sempre da fluidez e da impermanência que, só agora, mais amadurecida, consigo sentir habitar dentro de mim].



As lágrimas de outrora - reflexos de um ego calejado em se fazer de vítima existencial de uma "teoria da conspiração cármica", cederam espaço ao suspiro lânguido de estar fazendo o que se deveria fazer, ao mesmo tempo em que a alegria - apenas ela - passou a habitar a memória de reminiscências recompostas, habitat de outras demandas encarnacionistas que, na espiral cósmica que a Grande Mãe nos revela, traz algozes e vítimas para o compartilhamento das experiências de superação recíproca.



Nunca tive dúvida do grande e sábio sistema que a Natureza-Mãe se nos coloca para a composição das almas que precisam seguir adiante: tod@s somos espelhos que projetam, reciprocamente, expectativas não cumpridas, promessas desfeitas e dor, sentimentos que, ao longo de eras e eras, pressupomos ter como depurados, para que as almas outrora desafetas, possam seguir incontinente seus maravilhosos rumos espirituais rumo ao Infinito.



Mas, em meio à tanta teoria - muitas leituras, muitas práticas e vivências em vários nichos - nunca tive a oportunidade de internalizar os ares dessa mudança: sentir é bem diferente de pensar e, dentro disso, definitivamente é pelo sentir que o caminho da transcendência e do conhecimento etéreo é plasmado em nossos trilhares.



Talvez porque as experiências pretéritas tenham definitivamente trazido para minha alma a "sensação" de serem realmente aprendizado. O que desejo compartilhar, como o tema que propus em cima do dito mencionado, é mais ou menos isso: para as novas experiências de vida terem anteparo no sentimento, o racional (esse velho decrépito, fruto de uma apartação forjada, já lá na Grécia pós-socrática e perpetuada, em um segundo momento, pelo Renascimento Iluminista) precisa ir embora...



Quando é hora de dar adeus, é hora de dar adeus, pois os ventos frescos da mudança não sopram em meio ao que está petrificado em espírito...



É "deixar de pensar" e se lançar no devaneio da nau sem rumo? Não, não é a isso que me refiro, mas, antes, à necessidade de sentir mais e racionalizar menos, porque os verbetes "e se", "quando", ou "por ventura" sempre nos colocam na exata angústia de um sofrimento que, de fato, no mundo, sequer existe - a não ser em nossas cabeças...



Com essa sensação da mais pura bem-aventurança, que venham os finais de tantos ciclos quantos forem necessários para que todo esse movimento me leve, ao final, para o abraço acalentador do pós-vida, entregando-me ao Infinito com a certeza de que fiz e dei o melhor de mim nessa linda encarnação! Fàilte, novo ciclo em mais outros tantos ciclos de Luz!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Quando nos conectamos com nossa própria Lua...

Lua Cheia, Lua Plena, plenilúnio novamente! Desde as 02h05 estamos sob os bons auspícios da Lua Cheia, emblemática e misteriosa diva que, desde épocas imemoriais, sempre esteve a nos brindar com suas bençãos prateadas.

Hoje a saudação a ela foi regada a um sentimento enorme de bem-aventurança em nosso lar. De uma maneira nada sincrônica, quem haveria de vir veio e, claro, quem estava fora da egrégora sequer aqui apareceu. Foi muito interessante perceber a movimentação do Cosmos quando, na hora em que estava limpando meu lar com acetona borrifada nos cantos, tive o insight de conclamar a proteção para toda energia dissonante da minha sequer aqui chegasse.

O lar é o local mais abscôndito de nossa alma, pois é o habitat onde passamos boa parte do tempo livre. Razoável que, nesse "castelo" conjugado, findemos por invocar cânticos de proteção e harmonia. Exatamente com essa percepção concentrei-me na atividade de lidar com eventuais resquícios de outras pessoas e energias. Isso foi tão forte que, a certa hora, percebi que as pessoas que havia convidado para compartilhar a celebração não vieram.

Ao final, o clã reunido! sempre! Hey ho!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Interpretando os sagrados oráculos do dia...




Em um desses momentos lúdicos em que nos encontramos em paz com nossa essência primeva, acessei meu oráculo rúnico viking para avaliar - em consonância com minha intuição - o rumo dos contecimentos em relação a um ciclo rápido que se abrir e fechou num piscar de olhos.


Ao abrir esta runa, chamada Othila, pensei logo no fundamental: MOMENTO DE DESAPEGO e de RUPTURA em nossas vidas, pela superação de algo que não mais está em consonância conosco. Pensei logo no significado especial que ela trouxe para mim em termos de obsoletismo de relacionamentos que não mais fazem parte de nossos caminhos e que, por isso, devem ser findados, não sem a mais profunda sensação de agradecimento.

Othila marca a superação e o desapego que trazem como resultado a "herança"pessoal que vem quando nos despojamos de algo ou de alguém, de maneira agradecida.

No mesmo acesso - de maneira obviamente sincrônica e nada aleatória - tirei Wunjo, a runa de marca a necessidade de foco pessoal e restauração da harmonia entre o eu e o Eu Superior.


Uma energia outrora bloqueada - que me fez perceber o quanto de mim mesma estava obsoleto o bastante para, nesse processo, afeiçoar-me a uma pessoa que, posteriormente, nada tinha em comum, a não ser representar o espelho de minha lacuna a ser preenchida pelo aprendizado.


Mais adiante - e não sem menos importância - acessei a energia de Kano, a tocha de abertura e renovação de caminhos, uma espécie de 'aceleradora' de partículas e de eventos que marcam a conscientização recíproca.


Ali entendi, ao final, que meu tempo de aprendizado com aquela pessoa - naquele caminho - chegara ao fim. Eis o sentido, ao final, que vejo na gratidão por vivenciar um momento tão sui generis, uma vez que o trilhar mostrou, ao final, muito da minha essência, bem como do que desejo para minha vida. Caminhos que se desentrelaçam. Fàilte!







































domingo, 25 de setembro de 2011

A demanda por água em tempos de agradecimento...



Mais um dia de contemplação do mundo para refletir sobre a (in)compreensão de mim...

Hoje o assunto - como não poderia deixar de ser - é a chuva, ou melhor, a escassez dela aqui no cerrado, tema que tem gerado uma série de comentários (em série) e pedidos para os deuses, Deus, os santos, São Pedro etc., no sentido de se apiedarem de nossa miséria humana, enviando, quem sabe, algumas gotas do elemento Água.

Acho bem interessante o evento, principalmente do lugar de fala como homo sapiens sapiens, imersa em uma raça bem ingrata em seus propósitos de integração com a Natureza, pois, em relação a isso, nunca é demais lembrar nossa vital colaboração em todos esses eventos.

Sob a égide de um pseudo-evolucionismo de mercado tecnológico (que só atinge, claro, quem tem grana), sustentado por uma concepção fanática de religiosidade que relega a Natureza a um patamar hierarquizado em relação a nós, degradamos, pouco a pouco, tudo à nossa volta para, depois, num maniqueísmo hipócrita, embalarmos em "cruzadas politicamente corretas" de abraçar árvores, fechar a torneira por dois segundos, deixar de respirar por 3. Num desespero frenético tentamos extorquir, à fórcepes, uma "atitude da Mãe Natureza" para que, enfim, chova em nossas cabeças superaquecidas e desalentadas.

Engraçado como a mesma sociedade DEGRADADORA AMBIENTAL, que se apartou da Physys há tempos - numa miopia sem precedentes - deposita sua ARROGÂNCIA na pretensão de querer que chova quando bem entender, como se não estivéssemos inseridos nos ditames de um sistema organicamente complexo (há que perfilhe a Hipótese Gaia) cujos processos são mais sofisticados do que nosso desespero...

Com essa assertiva bem clara em mente, acho que realmente somos uma "raça" engraçada. Colaboramos para TUDO - absolutamente TUDO que está acontecendo em termos de deterioração do habitat e, ainda por cima, damo-nos o "direito" de querer que a Natureza (que bem poderia nos dizimar, dada nossa pequenez) siga o NOSSO expediente? Quem ou o que nos habilitou a nos intitular Senhores e Senhoras do Mundo?

Vai chover na hora em que tiver que vir...A nós cabe AGRADECER porque a Natureza e o Todo ainda não nos EXTERMINARAM...

Mas, ao contrário, o espaço de engrandecimento e gratitude cede para a mais pura apologia - em nível estratosférico e radial (longo alcance) à lamúria, sem nos atentarmos que toda e qualquer forma de pensamento é energia sensciente (ou seja, vibração eletromagnética).

Assim, uma egrégora de ansiedade, desespero e tensão é formada, ainda que sob a escusa de "brincadeiras infantis" (expediente que desvia o foco da responsabilidade social planetária que haveríamos de nutrir em idos de hecatombe ambiental anunciada.

Para o Cosmos, energia em movimento com consciência gera dano do mesmo jeito...

Cada vez que falamos, "ai, ai", agregamos uma energia dissipativa cujas dimensões sequer temos noção - ah, claro, porque temos apenas noção do calor que estamos sentindo. Mais uma vez apegamo-nos ao que se mostra "visível", e não ao que está por trás. "O essencial é invisível aos olhos", como já dizia Exupèry...

Essa ponderação nada tem de "maluca" ou "excêntrica", ao contrário dos vários comentários lidos nas redes sociais. Levantei a poeira, como sempre faço. Acho reflexiva em seus propósitos, pois, afinal, pensamos na chuva, mas não refletimos sobre nossa participação em relação esse evento sem precedentes na História da raça humana em desalinho. O máximo, nesse sentido, é realmente abraçar a árvore (que já deve estar de saco cheio de tanta asneira).

Não observamos a contextualização disso em algo muito maior: o teste de nossa resignação e ansiedade diante de um futuro que não está lá muito auspicioso. Estamos brincando num "parquinho de diversões" sem atentar para o fato de sermos nós - raça humana - o foco central de um grande zoológico existencial. Somos coadjuvantes num processo autofágico irreversível.

O mais interessante, porém, é perceber as reações, materializadas ora nos comentários mais apimentados, ora na "politamente correta" exclusão do comentário. Uma aparente democracia em que o "diferente" é realmente apartado em face de sua opinião.

Gente, a vida é muito simples! Se alguém se sente "atacado" ou "atacada" pelos comentários feitos - que, engraçado, não são sobre ou para as pessoas, mas em cima de reflexões sobre a vida - o botão de exclusão é tão acessível, uai!

Da minha parte, não faço questão de agradar ninguém, muito menos de aplaudir EGOS. Só acho que, ante a "porrada" no estômago, procurem um terapeuta, porque isso se chama IDENTIFICAÇÃO. Onde existe o vento forte reside a tempestade!!!

Ovacionando Nietzsche - mais uma vez - deixo para a reflexão um comentário bem sagaz e humilde sobre nossa precária condição de conhecedores do Universo:

"Em algum ponto perdido deste universo, cujo clarão se estende a inúmeros sistemas solares, houve uma vez, um astro sobre o qual animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o instante de maior mentira e da suprema arrogância da história universal.”

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Para uma semana que se inicia com a dadivosa Lua Plena




Daqui a pouco teremos o espetáculo da lunação plena, que traz em seu corpo voluptuoso toda a sorte de bem-aventuranças relacionadas à mais alta expressão de fartura, prosperidade e fertilidade.



Observar o nascer de uma Lua Cheia no cerrado é um pitoresco evento, porque, aqui, o céu imaculado de prédios ruidosos ainda permite que, a qualquer canto da cidade, possamos contemplar a luz deste lindo satélite, usufruindo de suas qualidades graciosamente, sem a preocupação com qualquer tipo de edificação que possa impedir nossos olhares contemplativos de tentar atingir os céus.



Tomando como pano de fundo essa metafórica via de compreensão do sagrado, tenho nesse o grande segredo de imanência serena, mal incompreendida na oposição - ainda binária e equivocada - entre os segredos do céu e da terra, sa transcendência e da imanência - pois não é mundanidade que atormenta, em si, a alma que deseja seguir em frente.


É o que fazemos com nossa mundanidade que nos coloca no fluxo ou na contramão de nossa linha evolutiva... Não reside tanto em nossa essência, mas dos atos que derivam de nossos desejos e nossas vontades o divisor de águas entre a harmonização e a hecatombe contida no caos.



Trazer a terra, os elementos e a deidade para o espaço do aqui e do agora acarreta uma responsabilidade de ser feliz, plena e respeitadora dos segredos do Todo para essa dimensão, sem projetar um merecimento que se coloca num devenir cujo alcance é tomado por uma obsessão em alcançar metas: evoluir para ser merecedor de uma dádiva além-vida, despojando-se dos desígnios das vestes que trazemos para essa existência.



Na imanência de um religare que não se faz necessário, a troca de ascensão inexiste, porque o compromisso relaciona-se ao cumprimento de nosso destino aqui, pelo simples andar no fluxo constante e contínuo de nossa trajetória, sem barganha e, sobretudo, sem o acobertamento do que se é. É o bastante para se assumir um caminho de muita agregação de conhecimento. Muitos percalços, sim, mas, sobretudo, de muito aprendizado e honestidade...

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Ouvindo o chamado da Terra!

Eis que vivencio o frescor da vida que se renova dentro de meu peito!

São os dias da mais pura bem-aventurança, fincada no chamado retumbante que a Terra faz, convocando para a hora da abertura dos lúdicos portais clânicos, que nos levam para nossa ancestralidade.

Quer seja na dimensão romana de fratia, bem como na rusticidade do clã, a tônica é a mesma: lealdade, honra, justiça e verdade, lembrando os nobres guerreiros e as dedicadas guerreiras que o bom combate se trava na luz e na transparência!

Vivo o caminho pelo cumprimento da trajetória que a Vida, em seu pulso formador, reserva para mim! O mundo se me apresenta em favos, cujo mel extravasa a todo tempo, o bastante para, a tal sorte, afastar a opulência das pequenas ilhas de fel que eventualmente desejam se instalar em algum canto ainda não percorrido pela Luz.

O doce cândido do que esvai da alma impoluta afasta o olhar arredio de quem, desconhecendo, teme e deseja aniquilar, pois não se mata o espírito que se encontra na consonância com o Supremo... A doce presença acalentada do sopro do espírito me enche de júbilo, tornando-me mais forte, a cada dia, para me enfrentar, nua e crua, sem obstáculos!

Dia 17 de setembro os portões irão se abrir, na confraria das almas afins, reverberando amor, compreensão, amorosidade, ternura...assim como lealdade, equidade e honorabilidade. Do registro de eras e eras de encontros e desencontros, saúdo, no registro da foto amiga, meus irmãos de clã, figuras ímpares que se encontram a vibrar numa tônica só...





segunda-feira, 22 de agosto de 2011



Eis que brota da Sagrada Terra a Grande Árvore,

que percorre mares rumo ao céu...

adornando os montes com seus galhos fortes,

que se curvam, mas não dilaceram,

face a face com o machado inimigo...

Ruma, aos passos largos do entranhamento das raízes,

para o alto, de onde olhará os Mundos!


Grande Árvore da Vida,

que enfrenta a seca intermitente de um holocausto que se instala no cerrado.

Mas arranca, gentilmente, do solo fértil...

seu sangue mais profundo.

Árvore Sagrada da Vida!

Contempla a si mesma...

Voe, vá, ide de encontro ao seu destino!


Frutificar!

Na praia contemplativa de uma nau errante...



Eis que desperto, vinda de um sonho confuso, que ora se apresentava desperto, ora se matinha acuado em um canto distante de um espaço lúdico que não se comunicava com minha carnalidade, minha materialidade nesse plano. Duas "pessoas" habitando o mesmo corpo...

Uma, segura de sua missão, devotada nos mistérios antigos dos ensinamentos de outras orbes espirituais. Outra, "aterrada" demais, perdida na ocisão do que a dicotomia alma-corpo traz de mais desafiador para a evolução. Quem está aqui, por agora? (um sorriso já acena a resposta): eis-me de volta, como sempre estive, pois sou UNA, por mais que tente me convencer que não...

Meu estado onírico de sonolência-em-despertar lembrou-me desta figura de Waterhouse: uma contemplativa mulher, sentada, fixa e firme, em uma rocha, contemplando uma nau à deriva. No semblante, resignação e calmaria, mesmo diante da tempestade a atordoar o cenário.

Assim foi com minha alma durante esse delicioso tempo de despertar (mais um, desperto e durmo tanto!).

Meus processos de despertar têm sido, a cada dia que passa, mais rápidos, mais interessantes, mais catalisadores de outros mais e mais processos. Uma avalanche de situações que não me são mais inimigas, vitimizadoras.

Não lamento mais a intempérie... que nada! São-me sempre bem-vindas, podem entrar e ficar até tudo se dissipar no universo akáshico - apenas estou deixando o fluxo da tempestade que testa, sempre, as naus de minha própria vida e limitações... Se adoeço é porque ainda preciso acessar esse mecanismo "autolimpante", de acordo com minha potencialidade de desenvolver, no plano físico, a programação feita há tempos. Quando escrevo...ah, quando escrevo! Acaba-se, então, mais um processo, pois a mente (danada), programa o restante...

Prosto-me, assim, diante da nau, vendo os ciclos de ondas que vêm e vão. Isso tanto foi visível que a maior parte dos meus sonhos enquanto dormia em carne envolviam mar, tsunamis e casas. Tudo meu se "ajeitando", ao final, para que pudesse cumprir mais um tópico no checklist de minha sina.

Acordei hoje com um afã de VIDA típico dos maravilhosos inícios de ciclos: eis-me aqui sempre cheia de ciclos, lançando-me, em cada momento, na colheita sábia de meus passos deixados para trás.

Com esse ímpeto - ímpeto de minha alma, ariana alma ígnea e bombástica - sagrei-me ao meu panteão ancestral, invocando aqueles e aquelas que estão, comigo, para mim e por mim (para o MUNDO), a militar pelas hordas do AMOR, da COMPREENSÃO, da JUSTIÇA, da HONRA e da VERDADE...

Quanto júbilo pode residir em uma alma que, assim com a formosa senhora na praia, olha suas naus de ilusão dissipando-se entre as pedras que as lições pessoais apresentam?

Indescritível sinfonia de sereias que, de volta, entoam os cantos dentro da minha alma que, momentaneamente, viu-se em silêncio sombrio, imersa em seus medos e, para além deles, descobriu-se, pouco a pouco, mas muito a muito, em cada uma das benevolentes situações que o Universo conspira em me mostrar!

Como fugir de mim?

Fugir e negar a experiência é me esquivar do que, interna, emocional, física e espiritualmente tenho como certeza: apenas navegar, porque o que deverei de cumprir desenlaça-se bem à minha frente! É a certeza de erguer os braços para abraçar o Infinito desconhecido para meus "medos" pessoais de estar em carne, para me embalar na imensa fé de conspiração do espírito!

Olhar a praia...

Foi com esse "perfume" exalando de mim que meus ritos, hoje, tiveram a nuance do frescor!

Meu punhal, o cálice sagrado de minha mãe querida, o ar, o fogo, a água e a terra: todos estavam ali comigo enquanto a conexão com a Sacralidade me dispunha num cone palaciano de eclosões acalentadas pela força da alma que, enfim, retorna para seu espaço de origem: o berço do Sagrado...pulsando num rompante a demonstrar que nada, nada pode abalar a alma, que é IMORTAL...

Tudo aqui em meu castelo está a conspirar...

O que seriam "doenças" a assolar o corpo suado e cansado são EXPURGOS agora, todas elas, pois a 'doença' é a cura, a liberação energética que usamos para produzir a limpeza interna e crescer, voar para alcançar o Infinito dentro de cada uma de nós. A dermatite do Mel indo...indo...foi-se! Sequinha a pele dele...

O silêncio que outrora era sepulcral (o sepulcro da mina alma agrilhoada) rendeu-se, enfim, para o silêncio dourado da paz...Estou em paz...

Sem julgamentos, sem dramas ou fórmulas. Não existem fórmulas para o viver... Vive-se...e, na vivência, agregam-se sabedoria e crescimento. Como deixar isso passar em branco? Já dizia Virginia Woolf que "não se pode ter paz evitando a vida".

A vida, com tudo que existe nela - tudo, sem falar em maniqueísmo do que é bom ou ruim - tudo na vida nos encaminha para vivê-la. Estamos aqui para penetração do âmago de nossas intempéries e, segundo nossa linha de escolha dentro de nossa trajetória evolutiva, permitimo-nos...sim, sempre! Cada um sabe onde o sapato aperta e a cada um é dado o destino que é proporcional ao que sua alma pode arcar...Nada mais, nada menos.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

As amoras e o Amor

Ó, flores suaves de um algodão de amoreira,

Tragam algum resquício de esperança para meu olhar...

Sei que os frutos um dia virão,

Apenas não tenho muito tempo para esperar.


Nos olhos marejados de água, a terra lânguida encontra alimento.

A seca assola a grande árvore,

Que, sedenta, quase cede ao vento.

Folhas grenás ostentam a ausência de cor,

Tal qual meu coração, que se sufoca em dor.


Talvez, um dia, quem sabe, ao longe,

Dessa mesma amoreira eu extraia o Amor.

Formoso mancebo, levou consigo as flores de algodão.

Retirou de meu peito a doce mansidão.

O que resta, agora, em sina demandada.

A visão de toda uma vida, que restou quedada.


O vento vem e sopra na carícia da árvore.

Contundente foco de maestria regada.

A amoreira não mais verte sangue,

Pois eis que agora, seca se encontra...


Na doçura de uma amora que penderá, um dia, da frondosa árvore,

Talvez, um dia, quem sabe, eu possa...

Doce momento de encontro acalentar.

Um dia, pois, agora,

Eis que apenas choro, em vida, o pranto da morte e me cercar.

vida, morte, vida...

morte, vida, morte,

levante-se e siga, forte

Até o caminho de uma simples amora encontrar...

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Quanto tempo é tempo o bastante?

Quanto tempo é tempo o bastante para se deixar distante um grande amor?

Quantos ventos são necessários para acalentar a vida com invulgar frescor?

Quanto de tudo extraio a fundo, permeando um mundo

de incerteza e dor?

Quantos amores se vão, ao longe

Pingam a sorte, derradeira morte,

Isolam na montanha um inesquecível amor?



Não sei, ao certo,

as rimas que faço ecoam sem resposta.

Em meu peito jaz a grande calma,

Fiz de tudo com meu tempo...

Que tempo? O que dediquei

ao Amor.



Ele não lê, não vê, não sente.

apenas entoa falas enquanto mente.

Cria histórias povoadas de trilhas falsas.

Deturpa o sentido do que é feito de glória.

E no embalo de uma liturgia dominical.

Ele se vai, mais uma vez,

Criando sinas, uma de cada vez,

Conquistando territórios, esfomeado para simplesmente tudo ter.


Amou um dia, quem sabe? Só o tempo dirá.

Que tempo? Aquele lá de cima, que nunca vingará.

Uma batida desenfreada de um relógio sem sentido.

É o tilintar do meu coração, que hoje está lânguido, sem ruído.

O silêncio, um dia, talvez, deite a sombra de um abismo infindo.

Que se firmou entre nós, num tempo distinto,

Colocando o véu da vida que segue adiante.


Ide em paz, com sempre!

Ide em paz com a tortura cáustica de sua mente inquieta.

Encontramo-nos apenas para o relance.

A lembrança acarinhada do que temos de apagar.

Amor? Raiva? Ódio? Nada disso importa...

Eis que chega o trem para nos levar para outras viagens

Incomensuráveis!


A paz e o tempo.

É tempo de paz!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Ah, Clarice, Clarice!

Em dias de profunda reflexão - acho que nunca saí dela - nada melhor do que saber ter existido alguém, nessa encadernação, capaz de situar os dilemas mais apavorantes em singelas frases, que causam impacto profundo... Sentir-me forte em inquebrantável em mim mesma, agregando a amorosidade e a fortaleza, descobrindo em mim a bastança do existir.

Lições profundas de quedas, tropeços, de autoconhecimento... Mas, enfim, tudo vale a pena "quando a alma não é pequena", já dizia Fernando Pessoa. Quando estou cabisbaixa, perguntando apenas o que não se pergunta: "por que", leio Clarice Lispector, para me lembrar, em cada leitura, quem sou... Um dia, tenho fé, um dia...Eis que já é o dia e dele não me dei conta, mas sei, aos poucos, que a consciência e a lucidez estarão mais fortalecidas.

"(...)
E um dia virá, sim, um dia virá em mim a capacidade tão vermelha e afirmativa quanto clara e suave, um dia o que eu fizer será cegamente seguramente inconscientemente, pisando em mim, na minha verdade, tão integralmente lançada no que fizer que serei incapaz de falar, sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento, eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia, a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas, água pura submergindo a dúvida, a consciência, eu serei forte como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas não cheias de vontade de humanidade, não o passado corroendo o futuro! O que eu disser soará fatal e inteiro! Não haverá nenhum espaço dentro de mim para eu saber que existe o tempo, os homens, as dimensões, não haverá espaço dentro de mim para notar sequer que estarei criando instante por instante, não instante por instante: sempre fundido, porque então viverei, só então viverei maior do que na infância, serei brutal e malfeita como uma pedra, serei leve e vaga como o que se sente e não se entende, me ultrapassarei em ondas, ah, Deus, e que tudo venha e caia sobre mim, até a incompreensão de mim mesma em certos momentos brancos porque basta me cumprir e então nada impedirá meu caminho até a morte-sem-medo, de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo. (...)"

domingo, 24 de julho de 2011

O brilho e a estrela...

De quantas formas mais se pode convencer uma estrela de seu brilho? Seria apenas lembrando a efemeridade existente num lampejo entre o nascimento e a morte que, de mãos dadas, riem de todos nós? Ou, ainda, da capacidade de ser, em si, a guia-mestra de todos os segredos do Cosmos?

Não sei ao certo, afinal, sei tão pouco sobre estrelas, mas acredito que, um dia, possa convencer uma delas a acreditar no brilho que destila em cada um de seus grandiosos momentos, ainda que, para isso, o tempo se esvaia em reiterados fracassos a compor a verdadeira matiz de realizações eternas.

Desde seu caminho de explosão súbita de enlace até o caminhar trôpego para um esconderijo soterrado em sua alma, a estrela pulsa... E, quanto mais pulsa, mais se esconde, tímida, tentando correr do simples destino que a Providência lhe guardou: brilhar. Qual o segredo nisso? Nenhum, apenas recordar que se é um astro dignificante, nada mais. Uma tarefa contagiante para uma estrela que também ri e, rindo, ensina a todos o significado da epifania de um sorriso maroto.

Apesar de tudo, sim, ela não sabe, ainda, a medida do que tem dentro de si como incomensurável limite, pois uma sombra, em seu caminho, sempre se projeta a lhe atormentar. Ora se esconde, ora se enerva, afinal, é estrela e estrelas também têm seus momentos mais lúdicos de tempestividade.

Quantas eras ainda serão necessárias para o abraço acalentador de uma sombra que apenas é... uma sombra, diante de tantos outros percalços que se deslocam rumo ao aprisionamento da alma? Não sei, pois, também, pouco sei de eras... Apenas me basto em vivê-las e, vivendo-as até o fim, logo me esqueço de todas elas depois do sono eterno que restaura meu espírito.

Já sei!

Vou encapsular a estrela, tal qual um pirilampo em meio a uma pradaria verdejante no pôr-do-sol de cada dia. Vou conduzi-la, intacta, para o pouso em uma garrafa transparente, apenas para que veja, ao espelho, o quanto de luz produz aos olhos de quem vive na escuridão.

Mas, enfim, equivoco-me...

Claro! Criança que sou, esqueço-me de que não se enclausura uma estrela!

Um pote frio e vazio não é o bastante para irradiar seu brilho, mas, antes, o cadafalso selando seu destino em gradativamente apagar...como toda estrela que é, de fato, natimorta!

Afinal, como compactar átomos que, há tempos, não mais estão entre nós em faiscantes dimensões de brilho?

A estrela sempre queda morta em vida, perpetuando-se em nossas particulares abóbodas todas as vezes em que olhamos para o Infinito e vemos a aparente imutabilidade do Universo, ignorando nossa própria rotação em torno de algo sobre o qual que pouco sabemos: nós...

Sim, a estrela sempre vive no paradoxo da morte renascida, porque, a cada momento em que olhamos para o céu, seu brilho ainda lá se encontra, mesmo que, em profundas marcas, a luminosidade esteja para além de nossos rincões...

Quem sabe, acreditemos, um dia, junto com essa estrela, existir por trás de um grande vale um Paraíso secreto para onde todas as grandes estrelas possam ir, um dia, nos encontrar. Terei ali encontrado o que Desconheço, antecipado, porém, nos plenilúnios que a estrela humildemente iluminou...

Ah, maravilhosa estrela, saiba mais de si!

Saiba mais do desafio de se manter incandescendo no devenir de tantas eras, nos lindos encontros e desencontros, que trazem, ao final, a certeza de renovação da centelha que sai de seus olhos. Estrela que pouco sabe de si, mas que, talvez, por não saber, ilumine tanto a vida de quem está ao seu lado...

Para a pessoa que sabe que é o que é...

sábado, 23 de julho de 2011

Réquiem para uma estrela

Partiu a grande estrela,

habitou entre os humanos por instantes

trouxe na pele marcas lacerantes

de intensas dores pelas dores provocadas.

Quanto tempo pode uma estrela habitar fora do céu?

Não sei bem, mas sinto que o bastante para se permitir ser humano

E no retrato da mundanidade,

ir de encontro à morte, embalando-se na vida.


Finda estrela, que será de nós?

Lágrimas que se transformam em pérolas.

Cintilando, pouco a pouco, num mar de desolação.

O que fazer sem as estrelas?

Afinal, elas deixam o mundo tão mais iluminado.

Mas, diante da centelha tão finita.

Quedamo-nos sozinhos na mesma escuridão.


Encontre paz, estrela invulgar, encontre paz.

Vá, enfim, habitar seu lugar celestial!

Seu trajeto começou agora, e sua sina, cheia de glória

Deixará muita saudade em meu coração.


Componha o céu tisnado de cíano, doce estrela de voz aveludada!

Daqui da Terra olharei para cima,

lembrando-me do dia lindo em que encontrei sua voz em meio a tantas outras.

És única, pequenina estrela possante!

A retumbância, enfim, não poderia caber num corpo tão frágil e machucado.

Eis que está livre, leve e plena!

Vá em paz, querida estrela!

Vá em paz...

Por detrás do arco-íris...

Da ponta de um arco-íris parte a volta de uma opção. O pote de ouro encontra-se atrás de um monte ainda não revelado, cuja certeza, porém, está descrita dentro de mim, como jornada de recomposição de uma parcela do Eu que insiste em se apegar a uma corda no mundo, enquanto outra, mais lânguida, segue confiante o caminho uno, consigo.

Uma andarilha se desespera; outra se desopila. E, dando-se as mãos, elas se abraçam e, depois do afago, descobrem que são uma só alma, viajando rumo à descoberta do ouro que sobeja ao final espectro multicor do arco-íris deperto.

E no vai-e-vem dessa roda, tantas vezes cantada em ciranda, tempos vêm e vão, repetindo-se os medos que, pouco a pouco, saem descobertos da mente que os abafou por tanto tempo!

E quanto mais a menina-moça se lança na compreensão de sua pueril percepção do mundo, mais o cume se mostra tangível aos olhos de seu coração, pois ela acaba, por fim, descobrindo, que não precisa muito mais do que já tem... a si, em toda sua plenitude de imperfeita incongruência.

Ela se levanta e se lança, novamente, nas sagas de reinvenção de si. O mundo, para ela, é ela no mundo, numa miscelânea bonita onde a criação cria...e a geração espontaneamente se perfaz... Ave!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Os caminhos tortuosos do coração...

Perdida em meio às constantes dores que me aflingem o corpo, senti no coração a dosagem maior de reverberação. Como o corpo aguenta tanto e esse meu músculo, tão frágil, pouco suporta? Não sei...afinal, tanto já levou de tranco, aos poucos bate com menos força...

A cada pontada de entranha latejante, um sorriso: eis-me aqui, forte, tão forte, tão forte para tantos que, diante da vitalidade de Atlas, ninguém repara que, por trás da alavanca existe uma sutil alma, leve, etérea e que se cansa...

Sim, estou cansada...apenas cansada, absurdamente cansada. Apenas por um dia, cansada. Por que tão cansada assim? Minhas olheiras já não mais no rosto espaço para se instalarem. O rubor de uma face sadia, há tempos, foi-se em direção do pálido gélido de alguém que está murchando, como uma flor que, aos poucos, sabe do seu fim.

Caminho diante do desconforto dos dias que se seguem, acobertando-me de intransigências pactuadas com minha própria alma. Que alma? Aquela que saiu de férias e ainda não retornou ao seu trabalho, a mesma que deseja viver num constante parque de diversões.

Acabou, será que não percebo? Acaba-se dia após dia no primado de uma corrente de escárnio diagnosticado como quimera de um idílio, nunca amoroso, pois, enfim, nunca vi amor matar tanto. Sim, talvez não perceba o que está posicionado bem diante do meu nariz...nada, além de cartilagem!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Que amor, que sonho, que estrela?

Miro o céu e percebo as estrelas hoje tão distantes de mim. Sinto a presença de sua alma, mas a distância que nos separa traz, cada vez mais, a dimensão do infinito. Forças gravitacionais que repelem e atraem, trazendo uma única pergunta: por que você não me ama? Por que as estrelas reagem ao amor com tanta ousadia de afastamento? Não sei, porque, confesso, encontro-me apenas a mirar.

Jogo-me na fagulha de uma intrépida nebulosa, que derrama na galáxia vazios indeléveis de almas que nunca se encontram apesar do desejo de, um dia, não mais caminharem solitárias em seus caminhos diletantes.

Em qual estrela deixei mesmo meu coração? Na mesma de onde, quem sabe, parti, um dia, para navegar nas searas indecifráveis do caminho de Sol, rumo ao vazio existencial do silêncio a residir na escuridão.

Cosmos vazio, retumbante vazio, premonitório do além-vida que se amplia, mas, que, ainda assim, não me traz em alguma nuvem baixa, o amor que, um dia, aspirei.

Tomo notas, tomo assombros, tomo notas ríspidas. Caminho, deito, levanto, ergo-me, esfacelo-me. Retraio meus músculos espatifados de quedas, buscando minha doce linda alma afim, que se esvai, vai sem nunca ter vindo. Quão espantosa e temerária a sensação de beligerância onde, por pressuposto, haveria amor. Que amor? O meu, bem sei, está aqui. Será? Resistirá a tanto atropelo que se alastra em meu peito, como uma doce sofreguidão a sufocar.

Como gostaria que fosse tudo tão diferente! Como gostaria de poder, um dia, alcançar as estrelas e perguntar para elas qual o segredo indecifrável que as compõe em sua maestria diante de um mundo de descrença e indiferença. Mas, ao mesmo tempo, como perguntar a um astro o que, no fundo, habita na essência de uma rosa? A mesma que, depois de morta, irá formar mais estrelas com seu nitrato. Não sei...

Apenas cedo e quedo, em muitas súplicas, para que venha esse lindo dia em que irei, ao fim, compreender o máximo de mim mesma, na mais singela apreensão de minha própria e linda... ignorância.

Ide, estrelas, penetrem no Infinito e salpiquem o Universo com a chama da esperança! Precisamos dela para viver, não achando que a vida, enfim, em fim, seja apenas um mar de desolação. Hoje estou assim...

terça-feira, 19 de julho de 2011

Ciranda que se lança e desaba em si

É uma grande ciranda essa vida que se lança, passo a passo, pouco a pouco, na certeza do incontível na dúvida do que eternamente somos...

Que somos? Quem somos? Pedacinhos lindos de totalidade, presentes no sopro do Divino que habita em nós...Presentes, na incongruência do que pretendemos ser e que, de fato, pouco somos.


Com quantas máscaras ainda iremos nos mostrar uns aos outros? Quantas mentiras - além de nossos próprios atropelos - ainda iremos desfiar, em incontrastáveis rosários de redenção que, a bem de uma verdade - qual delas? - não redime ninguém?


Quanto ar ainda vai faltar aos nossos pulmões? Esses, coitados, respiram tudo, exceto o ar renovador. Respiram punhais, contendas, mentiras. Respiram engodos...Quantos mais? O que mais restará depois disso tudo?

Nada, pois, com areia, muito pouco se constroi além de castelos na praia. Morarei numa praia? Deserta? Já a habito, perdidamente encontrada em meus amplos pensamentos de visões, ocultas para quem não enxerga: claras para quem se permitiu olhar para meu coração.

Sucateado coração...esgarçado coração...Maravilhosamente amplo esse coração! Eita, coração que apanha e, a cada tombo, volta mais forte, seguro de desejar amar, sempre e sempre, abrindo-se para as grandes fendas dos sentimentos tórridos que ligam os corpos. Eita, coração etéreo, que se conecta ao Divinal e aspira sair de si! Monocórdio órgão manso, que já viu muito e já suou muito! Sua toda hora, sangra toda hora, ama toda hora! Lampeja toda hora! Demanda toda hora! Guenta, coração! Guenta que é por aí!

Eita, músculo forte...aguenta, venera, espera e guarda...aguarda, para perceber a hora e ir e vir!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

As grandes lições da saga de Harry Potter...

Sábias lições da saga harry potteriana povoam meu imaginário por agora, depois de um bombardeio produzido pelo impacto de finalizar 10 anos de história e 7 livros digeridos em 2 semanas e meia.

Tornei-me uma verdadeira expert em maldições e feitiços. Desde ascendium, passando por aguamenti, indo para alohomora....cada um deles com uma finalidade específica. Os mais impactantes, contudo, são os feitiços considerados mais perigosos e, por essa razão, proibidos pelo Ministério da Magia: cruciatus, imperius e avada kedavra.

O que está me fazendo pensar muito, mas muito mesmo durante esse período pós-filme diz respeito a um detalhe muito sutil, qual seja: o fato da conjuração da morte (avada kadavra) não ter sido usada um só instante pelos guerreiros da Luz, ou seja, tanto por Harry Potter, como por seus amigos.

A eticidade no combate travado entre eles e os comensais da morte e demais seguidores de Voldemort passa pelo silêncio na utilização da conjuração. Uma pérola para falarmos em carma, arbítrio e combate na Luz, porque, afinal, seria bem mais simples todo mundo ficar lançando raio verde de um lado ao outro, cada qual matando um ao outro.

Muitos amigos e amigas de Harry morreram sob o jugo da avada, mas, por outro lado, a força contida no plano da luz alimentou, ao final, a derrocada de Voldemort. Quando todos no cinema poderiam supor ser o momento de Harry - na superioridade - lançar a avada kedavra no moribundo Voldemort, eis que a lição foi exatamente outra: o mal se esgota e se aniquila por si só, em face da destruição que contém em si mesmo.

Voldemort foi morto - diga-se de passagem - por sua própria inteligência destrutiva, que criou horcruxes para dividir sua alma e dificultar o acesso à própria destruição. Ou seja, a vilania criou, desde o início, o contraponto do fim, pois o comportamento de Voldemort gerou cada um dos utensílios que fragilizariam sua existência.

E para coroar a perfeição, não poderia supor existir outra horcrux, que era o próprio Potter, num contraponto de feitiço ricocheteante, gerado sob a bandeira do amor incondicional da mãe do menino por este, uma vitória eterna do Bem em relação ao estereotipado mal.

O mais genial, nisso, contudo, reside em um momento do filme onde Voldemort, abraçado a Potter, confunde sua face com a dele, fundindo-se em um só rosto, a superação do ego e do alterego. O mesmo tipo de batalha interna presente na saga The Lord of the Rings, onde Frodo e Gollum, lado a lado, ambicionam e lutam pelo anel. Grosso modo, quem salvou a Terra Média foi o cobiçador Gollum, pois este foi quem pulou no decidido Frodo, que estava com o anel no dedo, tendo feito a escolha. Um paradoxo, pois, afinal, a personificação do Bem estava no hobbit, e não no deformado espectro...

Voldemort gerou seu fim desde o início, pois a derrocada apenas se deu por conta de toda uma empreitada de evitabilidade do que é inevitável: a morte. O lorde das Trevas quedou por tentar vencer o fim, enquanto Potter venceu porque, morrendo, encontrou a vida e, com ela e para além dela, enfrentou seu medo e renasceu. Tanto que, momentos antes, encontrou as energias dos parentes e amigos mortos, indo logo perguntar: "doi muito?" 'Mais rápido do que adormecer...Uma pérola!

Mas voltemos ao início, à maldição da morte, avada kadavra...Nunca proferida, uma única vez, por ninguém da Luz...O próprio Professor Lupin, antes dos combates, olhando para o horizonte repleto de capas negras dos comensais, fala que o importante não é a quantidade de pessoas, mas a MOTIVAÇÃO interna, a força contida no desiderato de cada um. Essa foi a sacada do filme, para mim, pois somente aí entendi onde reside realmente a superação das limitações...

Não é na reação oposta à ação, e sim na sublimação da ira contrafeita e contraposta, para, num perfeito golpe de aikidô, usar-se a energia do oponente para neutralizá-lo... A mãe Wesley soube bem usar isso, pois, vendo que a filha havia sido paralisada pela Belatrix Lestrange, enfureceu-se e...aha! Quando todos pensavam - de novo, olha só nossa pequenez - que iria falar AVADA KEDAVRA, ela simplesmente se encheu de sentimento de defesa - AMOR, sim, amor pode ser e é uma linda defesa - e se lançou na bruxa que, depois de tanta espinafrada, quebrou-se como uma louça chinesa. E nada de avada kedavra!

É...vendo esse filme lembro-me da necessidade de evoluir, pois, em muitos momentos, era eu quem estava prestes a falar AVADA KEDAVRA, mais ninguém...

Daí, quando pensei que já teria tido minha lição, eis que aparece Dumbledore, explicando a Harry que a maior magia reside - na opinião dele - nas palavras. Daí me lembro que a era da espada, por muitas vezes, em meus ciclos encarnatórios, transmutou-se na era da palavra...ou seja, matamos com palavras, assim como podemos remediar com as palavras, construir com cada uma delas e demover obstáculos com tantas outras.

Por isso, sabiamente conclui que o que fazemos nessa vida ecoa realmente pela ETERNIDADE. E viva toda a lição singela aprendida numa saga para lá de simbólica e espiritual. Uma pérola para se entender um pouco mais sobre o que é realmente AMOR.

domingo, 17 de julho de 2011

A dor alegre de um lacônico palhaço...

Dizem que os melhores e mais arrojados palhaços são aqueles que choram, às escondidas, nos bastidores de um espetáculo circense, pois revelam, nas entrelinhas de cada apresentação, a sublimação de seus terrores individuais para abrilhantar cada show em que expõem suas almas.

A virtude do bufão reside em fazer ironia de seu próprio destino nefasto, de uma dor, de um amor não correspondido, ou, ainda, de ser um palhaço para além do palhaço do picadeiro, servindo de chacota, quem sabe, para algum espectador que se compadeça de vê-lo chorar às claras.

Sou um eterno palhaço que chora, tendo como alimento uma plateia de adoradores que eventualmente me desejam em riso, sem saber que, na cochia ou no meu trailler, verte lágrimas embaixo do chuveiro, para alimentar, depois, o roteiro das minhas melhores piadas para salvar o dia.

A mesma plateia que deseja meu riso, sem saber, é aquela que me devora ao me fazer chorar: são os séquitos dos admiradores - uns secretos, outros, nem tanto - que se regozijam com minha performance, alfinetando-me, logo a seguir, para que faça algum sentido um palhaço feliz poder chorar às escondidas...

Nobre profissão a arte do riso e da felicidade alheia, pois drena e renova, dentro de nós, grandes palhaços de nós mesmos, o veneno de uma imensidão de ignonimias, chagas mortais para as almas que desejam ir além de suas limitações circenses. Se rio é porque choro, se derramo lágrima é porque me deleito, num picadeiro construído para me proteger - em meu próprio mundo - dos polegares para baixo dos espectadores de Coliseu...

Fonte da imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxjWsskfZT_UrGbcuRO-pZYM6w56zVbH5pDMXbH8s_d5BKOeL3Lpc-j_u9JbfNRtw4A_3ujr2vsF-lP2FbMvinnkTHsYWG59gy1W-h2uiS_qx1YFuHoC9Zqh3g9ymczftKNobv8vm-b5N8/s200/palhaco_triste.jpg

sábado, 16 de julho de 2011

Quando nada mais existe para se dizer...

Não quero dizer muito, apenas o bastante para minimizar a dor que insiste em me romper as vísceras já tão laceradas pelas lanças de outrora. Se ontem a espada me fendia o espírito, hoje é a doce e fina ação da inércia que me dilacera o coração, a alma e o peito, fazendo do meu todo infinitos fragmentos que - sabe-se lá - um dia, mais um dia, irei compor.

Canso-me de mim e da dor, mas, ao mesmo tempo, corro sempre em sua direção, afagando os rostos de quem pouco realmente se importa com algo que não seja a si mesmo. Projeto-me nos inimigos ocultos de outrora, recolhendo por onde passo as marcas dos meus caminhos, tantas vezes percorridos na mesma estrada. Em cada decepção uma rosa, lembrando-me de mim e de minhas mazelas existencias, cravadas, todas, nos peitos gentis que já apunhalei: todos voltam, pois volto, diante de mim, para mais punhaladas...todas elas pontuais e recorrentes.

Abro, então, o peito, sem medo da fenda que se abre...Sou eu, ao final, quem se apunhala. Não haveria de ser? Qual a medida de um amor que se vai sem nunca ter vindo? Apenas o relevo de uma doce geografia de montanha que não passou para o papel...

Assisto a tudo atônita, perdida nas lágrimas que não mais insisto em deixar cair. Que mal faz ao espírito verter sentimentos? Cada pérola que sai dos olhos reflete a certeza de estar evoluindo no compadecimento. A redenção do atropelo em insistir no que se revela tão óbvio...

Culpa, desculpa, quanta culpa! A nós venham todos os reinos! Todas as honras e todas as glórias para quem, com o beijo sagaz da traição, sela, de outra sorte, promessas de um devenir que nunca existirá. Infortúnios gerados na expectatica de uma frustração a embalar o ego rumo às tentativas e aos erros, pois, quem sabe, de tanto errar podemos aprender.

Meu peito rompe em dor, apenas dor. Não quero saber muito mais do que isso. A dor que afaga é a mesma que, depois, pretende a excusa, pois, de grão em grão, a galinha vai ao forno servir de refeição. Eis-me aqui, apenas vestida de dor. Atropelada, sofrida, cansada...mas, acima de tudo, consciente na fé...eis a fé, apenas ela, a me lançar para o ritual lúdico do funeral de um devaneio...

Quero que o dia acabe e, com ele, esvaiam-se as demandas que trouxe até aqui. Ai, como desejaria viver, um dia, quem sabe, um pouco de paz! Não será desta vez que viverei um grande Amor...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Os muros de pedra quedando ao solo de brisas infindas...

Um mundo de intensas experiências conduzindo a alma para outros percursos: eis-me aqui em novas re(des)construções, retirando cada pedra dos muros contidos de mim, para, num sopro, erguer sob a brisa a impermanência de tudo...


Acordo refeita - talvez desfeita do que sequer encabeçou a concretudo - acalentada pela esperança de volta ao lar. Que lar? Aquele aconchego que se dilui de minha materialidade, para me fazer dormir na serena ponte entre o ser, o estar e o simplesmente viver.


A morada de um doce abraço de mim, beijada em espírito pela grande horda atônita dos que tanto me acariciam, dizendo, a toda sorte, "vá, lance-se no fiel retorno às origens". Receosa, mas confiante na estrada cujo caminho já não me é tão estranho, lampejo diante da marca lânguida de um voo ornado de glórias dipersas na imensidão do Infinito que irradia do opúsculo de energia infinita. Eis a alma, sem fim, que a tudo assiste e se delicia diante dos espetáculos de vigor para os quais se encaminha.


Quantos caminhos poderei viver em uma vida? Quantas escolhas serenas poderão advir da intensidade do aprender? Dicotômicas matizes de honra, glória, humildade e serenidade, podem residir um pequenino corpo, que se desloca diante do Cosmos que se me amplia?


Feixes etéreos brandam vozes de inteireza: contradizem-se diante do fragmento de incerteza, salntando aos olhos por força da mensagem do Universo integral, perfeito, divino e imaculado, despido de véus, ritos, liturgias: apenas o silêncio e, com ele, a vacuidade do Amor que transborda, aos poucos - aos muitos - por cada um dos poros desse corpo, que insiste em procurar os seus.


Seus? Meus? Nossos? Quanta propriedade ainda pode persistir numa dimensão atônita de sereno caos em que posses, riquezas e farturas quedam inertes diante da aparente certeza paradoxalmente crida? Não sei, nada quero saber de mim diante do que se revela como profundas lembranças que insisto em não mais reter na memória.

Desfaleço, criando uma ponte sem sentido, mas confiante no devenir sem expectativa... É o mundo que se me atravessa, como uma lacerada contusa de marcos ainda não transponíveis, mas que se avizinham, aos poucos, no horizonte pulsátil que sempre se remodela.

Abraço-me na esperança de me reencontrar no cálido semblante de quem, um dia, pôde se dizer...apenas... AMOR!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Intuição ou defesa? A mais antiga arte de sabotar a FELICIDADE

Por quantas vezes acordei, em plena madrugada, com brados de taquicardia, vontade de vomitar, confiando piamente que meu companheiro estava em algum lugar "aprontando" comigo? Sim, a isso sempre nominei "intuição", a mais poderosa arma evolutiva, colocada à disposição da Nova Era, um radar pronto a decifrar os enigmas da mente.


Da mera pontada no peito advinha a lacerada no estômago, seguida pela incessante capacidade mental de conexão de pontos, de eixos, histórias e fragmentos, tecendo eu, ao final, uma coerente história, digna de povoar tanto um roteiro criativo de uma novela global, como, ainda, talvez, um inquérito policial extremamente arrojado em seus propósitos de encontrar um "culpado" em quem depositar a responsabilidade pelas mazelas que nutri, por eras e vidas, em face de minha ignorância de mim...


Doce ignorância! Atribuí à alteridade a chaga da culpa, consciente ou inconsciente, afastando, assim, a grande possibilidade de se elevar egrégoras e evoluir...


Mal sabia (ou sei) que, nesse enredo, culpada, vítima, algoz, juiz e testemunha confundem-se em uma pessoa: eu, na linha tênue entre o que trago de dores que marcaram a alma de fragmentos e a intuição desapegada delas, o que é bem mais complexo e difícil.


Não que a intuição minha não tivesse "funcionado", não é essa a questão...mas, antes, é a interpretação dada ao que estabeleci como fato que trazia e traz o diferencial entre saber quando estou no plano da sabotagem emocional, quando estou flutuando para além de minha existência corpórea, acessando arquivos sutis em zonas eletromagnéticas menos densas que o império da carne...


O deslumbramento diante da benesse da Visão traz aquela pontada de sensação x-meniana (inventei agora) de ser 'especial', diferente o bastante para nos colocarmos acima do Bem e do Mal, arvorando-nos de insights para rotular - sob a alcunha de clarividência, sensitividade ou sei lá quais outras nomenclaturas - as pessoas.


O arrepio de se colocar como "conhecedora" e narradora omnisciente do espetáculo do mundo (dos outros) fez com que, por muitas vezes, esquecesse que sou simplesmente... humana, em meus mais profundos obstáculos a serem galgados para o salto quântico rumo à Origem.


Não raro "vemos" as "vidas pretéritas" de nossos irmãos e irmãs, traçando uma suntuosa teia de ligações lógico-causais, sem atentar, contudo, para um sutil detalhe (sutil como uma pata de mastodonte com elefantíase): qual a exata medida da distinção entre o que é o arquivo do Universo e nossas projeções de ego? Não estaríamos lançando mão de "interpretar" o outro incorrendo no erro de apenas, ali, estarmos nos firmando em nossas próprias mazelas e demandas?


O que é pior: quem realmente somos, o bastante para, em nome de uma função "oracular-de-meia-pataca", avaliar, julgar, engavetar vidas, pessoas, sentimentos e trajetórias?


Mais contundentemente...qual o resultado cármico de se propalar para uma pessoa nossa "interpretação" sobre sua vida? Já pensamos nisso? Nos impactos que nossos atos e nossas palavras trazem aos outros em termos de "teorias de conspiração" que servem, ao final, apenas a nós mesmos?


De tanto observar que, ao final, o que me ligava aos meus insights "sobre os outros" era o arquivo de coisas mal resolvidas comigo, enfim, estou desistindo... Mas não desisto de mim, de minha intuição, de minha Visão.


Desisto do meu ego incessantemente receoso, desconfiado. Ego pronto a se blindar para não passar pelas experiências da vida.


Desisto da mesmice e da rotina confortável de ficar sentada sobre minha bunda olhando o mundo e, arrogantemente, achando que "decifro" os outros, quando, a bem da verdade, estou lançando na alteridade o arremedo do que não tenho coragem de encarar em mim.


Desisto das horas em que passei observando o mundo e separando joios e trigos, sem atentar para o fato de, assim fazendo, eu me apartar de mim, numa lógica de mal-enjambrada racionalidade que, salvo melhor juízo, lançou a humanidade numa latrina espiritual há tempos, desde quando Descartes entendeu que existia apenas porque pensava... Melhor seria se nunca tivesse concluído isso, pois, assim, a Grande Ciência (filosofia, espiritualidade, ciências naturais) nunca haveria de ter se fragmentado e, com isso, estaríamos na superação efetiva da dualidade (mente e corpo) que tanto nos incomoda...


Desisto nas "vidas passadas" dos outros, quando as minhas, as minhas, não encaro como sendo apenas o que são... passado.


Desisto das Cleópatras, dos Júlios Césares, dos bárbaros, das Boudiccas.


Desisto das batalhas em que matei, morri, difamei, assassinei.


Desisto das noites da taverna, assim como desisto de tudo que, um dia, fez com que levianamente eu me colocasse como "senhora do Mundo", detalhando epicamente histórias que não passam de enredos de minha vida que se lança em quem está a minha frente.


Mas, então, voltamos à pergunta inicial: como saber quando estamos diante de um insight, de uma forte intuição, quando estamos diante de nossos medos projetados em histórias fomentadas pela mente?


Sinceramente? Não sei responder, porque igualmente seria muito leviana em pretender criar uma fórmula "mágica", para que todas as pessoas no mundo pudessem saber quando estão intuindo, quando estão projetando... Nem bem sei de mim!


Mas uma coisa, em minha vida, por ora, tem sido a constância: minha intuição mais redonda não vem num sobressalto afoito de minha organicidade...não vem da taquicardia, da dor no estômago...pois isso, essas "pontadas" são apenas meus medos - coração? Medo de amar... estômago? Medo de fazer, agir, confiar - mas, sim do silêncio que eventualmente se estabelece dentro de mim. Uma sensação de vazio profundo onde a magnitude pode se revelar.


Albert Einstein, certa vez, falou: "penso 99 vezes e nada concluo. Deixo de pensar e eis que o Universo se me revela".


O que é isso? O silêncio.


Dizem que a oração é nossa conversa com Deus e a meditação no silêncio da alma é o canal para Deus falar ao coração da gente.


Por isso, talvez, eu achasse tão difícil Deus falar comigo: muitas vezes não calei e esvaziei minha mente de todo esse arsenal bem montado de ideias que se entrelaçam na sabotagem, mas que dão uma baita sensação de efêmero poder...