quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Os microclimas da alma

Andei esses dias pesquisando algumas definições para a palavra microclima, pois tive uma experiência que me trouxe a curiosidade investigativa necessária para compreender se iria empregar aqui um termo razoável para isso.

Pois bem, microclima é conceituado usualmente como uma pequena variação de um padrão climático vigente em determinado local, quer seja representando uma faixa distinta de temperatura, bem como precipitação, vegetação etc. 

Ou seja, um clima diferente do clima usual da região. 

Aqui no cerrado do centrão, o clima é seco, com árvores tortas e de raízes longas o bastante para captação de água em níveis profundos abscônditos na terra. Vegetação hábil a lidar com altas temperaturas e umidade baixa. 

Vegetação e clima sui generis, marcando duas nítidas estações: seca e chuvosa, bem lembrando a dicotomia que os celtas faziam em termos de verão e inverno (rs, tudo é celta na minha cabeça. Fazer o que?)

Estamos, porém, em idos de chuva, o que torna Brasília um verdadeiro tapete verde.

Dias chuvosos, outros tórridos. Oscilações de temperatura que trazem resfriados e alergias, além de um espetáculo que tive a oportunidade de presenciar.

Fui trocar o óleo do carro em um bairro mais distante da minha casa e aproveitei o tempo - 40 minutos - para dar uma caminhada até uma lojinha na qual gosto de me aventurar em minhas compras alternativas (o nome da loja é Canto dos Encantos, da querida Dorothy). 

Pois bem, em meio aos passos reflexivos - quase uma meditação caminhada - passei pela quadra 108 norte, especificamente na altura de uma praça -essas praças são aqui chamadas de "quadradões" - em frente ao bloco D.

Logo que cheguei às imediações, senti uma nítida distinção no clima e na vegetação, pois existiam árvores bem altas - estou falando de 10, 12 metros - responsáveis pela queda na temperatura, destoando da média até então experimentada. 

Algo bem cerrado, estilo uma mata mais fechada, como se percebe nessa foto ao lado. 

Tudo muito verde, exalando perfume típico de vegetação de floresta. 

Imediatamente fui arrebatada e, em uma fração ínfima de segundos, senti como se estivesse em um lugar mágico, em plena cidade!

Observei o prédio - bloco D - e vi que as copas das árvores alcançavam os andares (seis, como de costume em Brasília), fornecendo uma sombra maravilhosa, além de pouso para os pássaros que insistiam em cantar. 

Sem deixar de mencionar algumas jiboias em volta dos caules, pendendo dos galhos como um véu em cascata. 

Observando o solo, logo percebi se tratar - por isso a definição de microclima - de um clima dentro de um clima, já que esse cenário destoa da típica paisagem de cerrado, cuja coloração oscila entre marrom, alaranjado e vermelho. 

Tive vontade de perguntar aos porteiros se aquele clima era constante o ano inteiro, mas, parando para pensar um pouco, concluí afirmativamente, por conta de todos esses sinais.

Daí me pus a pensar no quanto nutrimos, tal qual um microclima, diferentes estados de presença dentro de nossas almas. 

É ilusório pensar - e presunçoso até - que nossa alma encadernada mantém uma habitualidade de sentimentos, que segue uma rotina. 

Não mesmo. 

Reunimos microclimas dentro de nós, o tempo todo, assim como a Natureza (da qual fazemos parte, diga-se de passagem) concebe esses milagres incomuns. 

Essa diversidade é componente central de nossa jornada, mas insistimos, por vários fatores, em sufocar sensações e sentimentos pela cobrança que possamos impelir à nossa alma, negando-nos a sensorialidade de extravasar o que está dentro de nós.

Se não levamos a vida com mais leveza, podemos ser dragadas pela exigência e cobrança em demasia, criticando nossos sentimentos, deslegitimando o que é parte integrante de nossa trajetória nesse planeta. 

Sem perceber, podemos nos tornar amargas, críticas e chatas, desvalorizando tanto as nossas, como as experiências alheias. Ou, pior, dando pitacos onde a experiência própria não é capaz de ensinar, já que temos, cada qual, uma senda que lhe é inerente. 

Não dá!!!!

O grande aprendizado que essa singela caminhada me propiciou está me fazendo ponderar, até agora, no quanto é importante a busca pelo autoconhecimento, para que possamos contemplar nossos microclimas e, a partir deles, podermos crescer em nossa trajetória.

Tenho feito muitas descobertas em meus microclimas, abandonando, cada vez mais, a exigente cobrança em torno de acertos e erros. 

O caminho da alma é seguir o que planeja a partir do momento em que se permite viver e crescer. Isso é íntimo e pessoal e ninguém pode vivenciar por outra pessoa essa trilha. Muito menos doutrinar. Quando muito, compartilhar experiências, sem, contudo, tomá-las como representação de verdade absoluta.

A partir do momento em que ousamos penetrar nos microclimas de nossas almas podemos adquirir a consciência do todo, já que, ao final, são vários climas habitando espaços comuns!

Felicidades a todas nós!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

De femininos, feminismos e sagrados: a regeneração do ventre ao acalanto da Terra

Fonte da imagem: https://dalilaprosaepoesia.files.wordpress.com/2011/04/mae-terra1.jpg

Quando iniciei esse blog estava fortemente extasiada com a literatura de gênero e feminismo, incorporada, não-raro, ao discurso forte e austero, doído até, de crítica a um modelo androcêntrico de elaboração das relações humanas que privilegiava o homem em detrimento ao respeito e à reverência ao Sagrado Feminino.

Somava-se a isso a bagagem de força e autonomia que a mitologia celta impele às mulheres, protagonistas de suas sagas bem-sucedidas de vitórias e conquistas, pois sempre acionava uma história das heroínas que venciam o medo e a desqualificação de um protótipo de masculino ainda não consciente do papel sacral que a mulher desempenha em termos de força, determinação, criação e potencial.

Passado um tempo e embalada por uma gama de experiências enriquecedoras, tenho refletido bastante sobre as relações entre as distintas percepções de femininos, feminismos, bem como sua articulação com a milenar concepção de reverência e sacralidade. 

O que mudou?

Fonte: https://adaptingtograce.files.wordpress.com/2013/05/mother-earth.jpg
Os arquétipos e os estereótipos talvez não muito, mas a compreensão pessoal com que passei a perceber que cada uma de nós decide ressignificar as percepções a respeito do tema. 

Afinal, também é cada uma de nós a trilhar uma senda que lhe é própria, o que traz certo casuísmo ao que se vivencia, o bastante para não fazer muito sentido pretender construir "teorias explicativas" para todas, ante a pluralidade de vivências nesse maravilhoso sentido do que é ser mulher. 

Tenho cada vez mais percebido que não se constrange, força, violenta ou agride uma mulher, compelindo-a "a fórceps" a "tomar consciência" dos processos de desqualificação e ofensa, pois essa tentativa emblemática e militante, sem a devida cautela de mergulhar no universo da alteridade, pode mais revitimizar do que restituir alguém.

Isso veio à tona enquanto advogada para mulheres em situação de violência doméstica, ocasião em que meu confortável mundo de militância feminista universalista começou a quedar diante do pluralismo que se abria diante dos meus olhos. 

Com o doutorado, então, intensificou-se o processo. 

Não mais fui a mesma em termos de reflexão sobre as dimensões do que é viver a experiência de ser mulher. Lembro-me de ter participado, certa vez, de uma oficina realizada por uma colega da assistência social, que me convidou a trabalhar com algumas mulheres em situação de violência no Núcleo de Assistência Jurídica da Universidade de Brasília ) localizado na Ceilândia.

Elaborei uma tarde de leituras sobre as mais famosas heroínas celtas, aproveitando uma tarde de sábado para falar sobre Macha, a rainha celta dos cavalos, bem como para compartilhar um momento aprazível de yogaterapia. 

Nada de livros - a não ser de contos - teorias, academicismos. Apenas a Natureza e nós, mulheres, embaladas em nossos colchonetes e motivadas ao conhecimento de nossos corpos. 

Pois bem.

Revivendo isso no meu pequeno livro de memórias, logo vem à tona uma cerimônia muito comum no meio pagão - sobretudo wiccano - chamada reconsagração do ventre. Uma espécie de conscientização sobre as dores eventualmente provocadas pelo androcentrismo, na qual se reelabora uma nova relação com o ventre e o útero, pontos centrais da conversa de hoje. 

O útero, para os antigos, representava o caldeirão da vida, arcabouço de toda criação. Por esse motivo - até o momento em que a participação masculina no processo reprodutivo ficou mais clara - a mulher, nós, mulheres, éramos consideradas deusas e artífices de toda a sacralidade. 

O sangue menstrual, o útero e o ventre agregam, pois, uma egrégora ancestral de fortíssima relação com a capacidade criativa, potencializadora, fecundante e próspera, em uma relação de intrínseca harmonia. 

Não precisa muito: lunações, estações do ano, ciclos e processos de amadurecimento. Tudo exala à tal liame invisível, que marca o papel divinizado - e, ao mesmo tempo, mundano - acometido a nós, mulheres sagradas de Anu.

Quando nossa capacidade criativa se encontra abalada, o útero grita. Enfraquece, adoece. Não é sem propósito que boa parte da literatura esotérica e psicológica coliga ao útero as doenças somatizadas de desequilíbrio no feminino. 

Negação de si, desqualificação do parceiro, pressão. 

Tudo isso motiva feridas que passariam inicialmente despercebidas se, ao final, a recorrência não levasse nossa alma para a precipitação somática. Assim como a Terra precisa se recompor, nosso útero demanda atenção e momentos de descanso e silêncio. 

Esse é o trabalho de um ritual de reconsagração, no qual se restitui a dignificação de nosso útero, para que nos lembremos sempre de nossa força vital, que não pode ser subjugada. Aliás, esse é um árduo trabalho de mudança de paradigma para o modelo androcêntrico, pois o caminho ainda é repleto de obstáculos (talvez a falta de consciência de alguns - muitos - homens) que minam a emancipação plena. 

Quando estamos em um relacionamento hostil ao feminino, usualmente percebemos doenças de toda sorte: cólicas, infecções, ovários policísticos, perda de libido. 

São sinais de alerta para que possamos sobrestar as agressões veladas, sentidas, contudo, no plano sutil, pela delicadeza de nossos órgãos. Não somos repositórios do unilateral prazer masculino (isso em termos de relacionamentos hetero), mas, antes, um caldeirão sensorial de sensibilidade e apuração criativa. 

Muitos homens não compreendem isso porque, afinal, estão reproduzindo a lógica do binário agressividade/submissão, pretendendo, com isso, manter a ideia e o comportamento hostil, pouco voltado ao autoconhecimento. 

Com isso, alguns homens ferem, atacam, desqualificam e sequer acham que estão fazendo isso, por acreditarem piamente que o plano mental e discursivo da racionalidade é a única e legítima forma de elaborar relacionamentos. Eis o primeiro passo para o subjugo do ventre, bem como para o enclausuramento da potencialidade criativa de uma mulher.

É o que se chama vulgarmente de "conquista". A mulher haveria de ser conquistada, como um continente inexplorado - a Terra - fecundo para que a tomada de riquezas possa ser empreendida de maneira incólume. Mas, abaixo da superficialidade, nada passa incólume. 

O ventre é violado. Tudo em nome de uma necessidade premente de autoafirmação com que certos representantes do masculino ainda se enxergam, na miopia do descaso com sua própria parcela de sensibilidade, pois isso, ao que parece aos olhos desse estereótipo, retiraria a masculinidade ou, quem sabe, constrangeria o homem não sociabilizado na igualdade. 

Meus 42 anos trouxeram à tona a contemplação de tudo isso. Não mais - talvez essa seja a tônica agora - com o ódio entranhado, mas com a gratidão de observar o fluxo de tal movimentação. 

Se, por um lado, ninguém muda ninguém - outra sábia lição - e não podemos esperar mais do que a pessoa pode oferecer (o que é justo e libertário), por outro, não é justo e razoável com nossa alma colocar nosso útero à disposição para os processos atávicos de desqualificação. 

Trata-se de agradecer e deixar o fluxo da vida seguir seu rumo. E, com ele, as pessoas e, sobretudo, nós. Precisamos, sim, seguir a vida e o pulsar da batida de nosso coração, que sempre procura a felicidade na plenitude da bem-aventurança!








terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Os desafios da vida nos processos concorrenciais terapêuticos

Fonte da imagem: https://lh3.googleusercontent.com/_wIBnV-jS0pk/TaQpNjvM0YI/AAAAAAAAB_U/94hTCnnD5Ko/arvore_celta.jpg

Logo depois que obtive minha certificação como terapeuta floral e me credenciei, fiquei animada em compartilhar a senda com pessoas interessadas no autoconhecimento. 

Uma fórmula de floral para uma amiga aqui, um colega de trabalho desejando lidar com suas questões acolá. 

Senti-me bastante motivada a ajudar, pois entendo que estamos nessa dimensão para elaborarmos uma sinergia de colaboração e conhecimento compartilhado, sem clichês.

Fiz uma arte, imprimi cartões e folders

Coloquei-os embaixo do braço e fui até os locais onde costumo almoçar - restaurantes naturais ou vegetarianos - e às lojas onde adquiro meus artefatos mágicos. 

Desde quando minha mãe tinha uma loja chamada Empório Verde (ficava ali na 714/715 norte), travo contato com o mundo alternativo e esotérico, acreditando piamente nesse compartilhamento de informações, bem como em uma tessitura invisível de bem-aventurança, na qual é possível elaborar uma verdadeira "corrente do bem"

Pois bem...

Tenho experienciado situações muito inusitadas e agradáveis de aprendizado. 

Nos locais onde travo maior intimidade com o/as proprietário/as, sou bem acolhida, acarinhada mesmo. Os cartões são alojados para lugares de destaque, o que, aliás, isonomicamente é feito com outros terapeutas. 

As indicações urgem e surgem, em um movimento que me faz estudar, estudar e estudar, cada vez mais, para que possa adentrar os aspectos mais profundos da alma humana. 

Sinto-me, com isso, bastante gratificada em saber que me sinto útil para a humanidade, por intermédio do caminho de autoconhecimento que as terapias alternativas oferecem para quem deseja imergir em seus meandros existenciais.

Por outro lado, uma questão bastante curiosa. 

Claro que para eu postar aqui tive que fazer uma mini pesquisa de campo, para não ser leviana na abordagem. Pausa para observação: não estou sendo antiética, pois não estou a revelar nomes, apenas fatos e experiências. 

Minha finalidade é apenas contemplativa e, dentro disso, também não estou sendo motiva por um sentimento de rancor ou mágoa. Apenas uma curiosidade inata de perceber as coisas no mundo. 

Sim, vamos à experiência!

Em um local específico onde costumava frequentar - acho que a experiência rendeu um distanciamento saudável à contemplação - comentei sobre os cartões e um certo terapeuta, que não era o proprietário da loja, logo comentou que não poderia deixar os cartões, "porque ninguém era autorizado a deixar cartões". 

Ele me recomendou trazer o folder e deixá-lo no mural do lado de fora da loja, junto com outras propagandas. Achei bem igualitário e, ao final, mais eficiente, já que o mural é bem largo e amplo. 

Achei bem razoável a vedação de exposição dos cartões no interior da loja - por isso o título da postagem fazer referência à "concorrência", com uma pitada de bom-humor - pois logo imaginei que a exposição de cartões poderia acarretar incremento concorrencial ali, sobretudo em relação aos terapeutas que utilizam o espaço da loja, compartilhando com o proprietário dividendos do trabalho.

Cheguei a ficar, por segundos, pensativa em relação a isso, enxergando nisso um dilema ético bem natural. 

Durou átimos de segundo, o bastante para que eu pudesse olhar em uma cestinha de vime ao lado do caixa um quantitativo de cartões de várias modalidades terapêuticas, em número expressivamente maior do que dos terapeutas que prestam serviços ali.

Agradeci e fui embora depois das minhas compras de praxe...

Dias depois apareci e encontrei uma simpática funcionária, a pessoa que sempre me atendia quando fazia minhas compras. Para fins de amostragem da mini pesquisa, perguntei a ela se poderia deixar os cartões e recebi um largo sorriso, "é claro!!! deixe aqui na cestinha".

Nossa, que barato! Fui selecionada para a cestinha. Achei bem legal a atitude dela, pois, até então, minha ideia consistia em acreditar que não seria possível fazer parte da comunidade da cestinha mágica. Embalada por novos ares, tratei de aproveitar a deixa e afixar no mural meu folder.

Bom, digamos que, depois disso, passei na loja em outras oportunidades e percebi - percebi = fucei e não achei - que os cartões haviam desaparecido da cestinha e o folder idem do mural. 

Claro que eu não poderia fazer um julgamento apressado e, embalada pela mini pesquisa, tratei de compor cifras e estatísticas, deixando mais cartões e afixando mais folderes. Talvez eu esteja afixando o cartaz em um buraco negro, não sei, mas o certo é que já afixei 15 vezes no mural e o cartaz simplesmente some de vista. 

Idem para os cartões que, obviamente, não deixo mais nesse lugar. 

A pergunta: por que?

Não, nem acho razoável ficar devaneando sobre as razões. Acredito - e isso foi o resultado da mini pesquisa - que a experiência tenha me servido para mostrar os locais onde posso frequentar com mais assiduidade, lugares onde sou bem-vinda. Locais, enfim, onde não ir. Simples assim. 

Sem viajar perguntando a razão. Esse é o sinal que fala por si. 

Sou bastante agradecida ao Universo pelo acontecimento, pois acredito que a energia do local formula uma egrégora que perpassa nossa alma. Não poderia me sentir à vontade em um lugar onde mal viro as costas e o buraco negro come meus papeis!!!!

E o mais engraçado. Aliás, dois detalhes engraçados. 

O primeiro é que frequentava o lugar a um bom tempo - dada a fartura de artefatos - e o segundo é que, nada obstante frequentar, sempre havia um MAS. Eu, no fundo, nunca me senti à vontade ali.

Mais um motivo para colocar a minha viola - ou melhor, vassoura - no saco e ir onde empaticamente sou chamada... Simples assim. 

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Centaury e o aprendizado do não: o fortalecimento da individualidade consciente

Dando continuidade ao estudo dos florais relacionados à suscetibilidade a opiniões alheias, temos no Centaury o floral específico para aquelas pessoas demasiadamente subservientes, que não se recusam a prestar ações a outras. Em suma: quem não sabe dizer não, constituindo presa fácil na mão de oportunistas a controlar as ações e dominar a vida. 

Centaurium erythraea é uma planta anual que chega a crescer entre 5 a 35 cm, com flores cor-de-rosa que se avolumam em cachos definidos, como na ilustração abaixo:
Fonte da imagem:https://espiritualidadeestaemtudo.files.wordpress.com 


Floral para os eternos sacrificados, que abrem mão de suas próprias missões em prol da dedicação ao outro, num desejo inconsciente de validação e reconhecimento. 

Específico para casos de passividade, obediência e martirização, centaury, segundo Scheffer, atua no sentido de conscientizar a pessoa a dizer NÃO (2015, P. 52-53), deixando, assim, de ser um indivíduo docilizado e facilmente explorado, para protagonizar suas escolhas a partir de um processo de individualização que se reforça a partir da experiência com o floral. 

Edward Bach no livro Os remédios florais do Dr. Bach correlaciona a centaury a virtude da delicadeza, do silêncio e da suavidade, elementos centrais que dão azo, no estado de desequilíbrio, à elaboração de uma tessitura de dominação. Isso porque, na ânsia de agradar, o indivíduo centaury se descuida de si para viver para o outro em seus propósitos. 

Torna-se necessário, então, recompor a individualidade rompida em função do atendimento ao outro e, com isso, pouco a pouco, a pessoa se converte no protagonista de sua vida, diferenciando-se dos demais e seguindo sua vontade e missões. 

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Agrimony: o que se esconde por detrás de um sorriso contínuo?

Fonte da imagem:http://www.totalhealthylifestyle.com
Hoje vou fazer alguns comentários sobre o floral agrimony, derivado da agrimonia eupatoria, um arbusto longilíneo que lembra espículas. Cresce até uma altura entre 30 a 60 cm e a flor amarela dura apenas três dias. 

Na classificação proposta pelo Dr. Edward Bach no livro Os remédios florais do D. Bach (São Paulo, Pensamento, 97, p. 82), Agrimony aloja-se nos florais para as pessoas com extrema sensibilidade a influências externas e às opiniões alheias

São pessoas que sempre estão felizes, alegres e contentes, mesmo diante de uma tragédia, pois se trata de uma máscara bem elaborada para não lidar com os problemas (máscara para os outros e para si).

É uma fachada bem construída em cima da aparente simpatia, negando os problemas e fugindo deles, pois o indivíduo Agrimony gosta sempre de enxergar o mundo com lentes cor-de-rosa, evitando, a todo custo, indispor-se com alguém, já que não deseja perder sua popularidade (SCHEFFER, 2015, p. 37). 

Por isso não gosta de desavenças, brigas ou desentendimentos. Com ele/a não vale a máxima "pago uma boiada para não entrar numa briga e duas para não sair dela", pois o Agrimony não quer entrar em briga, com ou sem boiada!

Excelentes amigo/as, sempre estão a sorrir e brincar, uma forma jocosa para que não olhem no espelho os próprios problemas, dos quais, a bem da verdade, fogem ao menor sinal. 

A fim de não se encarar, a pessoa Agrimony sente sempre a necessidade de estar em grupo. Afinal, quando estão rodeado/as de pessoas, não se torna necessário olhar os próprios dilemas existenciais.

Drogadição e alcoolismo, além de pequenos vícios ocultos, fazem a tônica do tipo Agrimony, o que o/as leva não ter muito poder de resistência e determinação. 

Scheffer comenta o caso de uma mulher em estado negativo de Agrimony, que assalta a geladeira todas as noites, sobretudo quando os pensamentos negativos (que ela insiste em negar e esconder sob a máscara) lhe assolam a mente (2015, p. 37). 

O lado sombra é sempre negligenciado, pois o indivíduo Agrimony não deseja ver além de sua luz, ou melhor, da máscara de alegria que utiliza na interação com o mundo. Aliás, em uma metáfora pouco singela, o Agrimony é o grande palhaço triste: aquele que ri dos outros e de si, mas que, por dentro, sofre quando pára para pensar em seus dilemas.

Não raro vemos pessoas extremamente otimistas que, ao falarem sobre si, até mesmo na hora em que apontam defeitos, comentam "meu defeito é ser muito sincero/a" ou, ainda, "meu defeito é ter um grande coração"(?). 

Ou seja, os aspectos negativos presentes no estado de alma em desequilíbrio são varridos do emocional visível do indivíduo com Agrimony negativo, pois ele/a só enxergar "o lado bom das coisas", o tempo todo, ainda que uma bomba atômica caia em sua cabeça, numa espécie de síndrome de Pollyanna (leiam no livro o "jogo do contente").

Para onde vai a tristeza nesse mar de felicidade irreal e exacerbada?

Para o quarto de despejo do subconsciente, local onde é alimentada sempre que o Agrimony recebe o impacto em sua lente-cor-de-rosa. Quando percebe, já lotou um quarto inteiro, extravasando ou somatizando em doenças o estado anímico não enfrentado.

A terapia com Agrimony restaura o estado de alma consciente, que passa a encarar, de frente, os obstáculos como acontecimentos corriqueiros em uma trajetória de crescimento moral e espiritual.

Com isso, a pessoa não mais "correrá" de seus problemas, muito menos os encobrirá com a máscara de felicidade. Antes, a alegria em um estado Agrimony será genuína, e não uma falsidade a sufocar a sombra. 

Os conflitos - internos ou externos - serão encarados com maturidade e administrados sem que, para isso, a pessoa simplesmente os negue em meio a um mar de felicidade falsa. 



quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Dias de sol, dias de chuva...

Fonte da imagem: https://rebeccalatsonphotography.files.wordpress.com/2011/08/8446_view-toward-cushendal.jpg
Esses últimos dias têm sido uma aventura aqui no cerrado: alguns dias nos brindam com finas gotículas de água, anunciando, quem sabe, mais tarde, o quedar das águas mais intensas para aplacar nossa sede de umidade. 

Outros, porém, marcam o intenso sol a nos lembrar da polarização e, sobretudo, da força incontida da Natureza: definitivamente não aprendemos, ainda, que a relação com Gaia é regida, acima de tudo, pela altivez da força da terra, da água, do fogo e do ar, e não pelo bel-prazer de nossas pueris vontades de a tudo controlar.

A força com a qual a Natureza tem despejado sua ira - será mesmo ira? Afinal, o que existe de irascibilidade no mero fluxo da vida? Tenho minha desconfiança - assusta até mesmo os mais incrédulos: chuvas derrubam montanhas, avassalam pastos. 

Vulcões trepidam a terra. Mares invadem, sem pedir licença, a zona de conforto com a qual insistimos em acreditar que somos eternos. Tudo que outrora foi sólido, hoje se transmuta em etéreo. 

É a efemeridade, e não a permanência, que nos leva a sentir o quanto é necessário o despojamento das amenidades que nos condicionam aos padrões que nos machucam. 

Tal qual o fogo em seu crepitar, simplesmente saber viver dias de sol, dias de chuva é o caminho da sabedoria em se fazer a passagem, em vida, para a transição final rumo ao sagrado desconhecido.

Ultimamente tenho experienciado um estado de alma alimentado pelas diuturnas sensações de viver em meio à eterna transição sol-chuva. 

Indo e vindo, tornando meu estado de alma suscetível a simplesmente deixar fluir, tenho buscado apenas... não buscar. Não insistir, não forçar situações de chuva, quando, de fato, encontro-me na plenitude do Sol.

Ou, então, se estou pingando em meio ao suor, aproveito para sentir, um pouco que seja, em cada gota a ternura de uma pequena chuva enviesada no meu rosto. 

Aproveitar o que a Natureza nos dá é o primeiro passo, ao final, para aproveitar, ao máximo, a vida em si. 

Claro que o movimento não é previsível. De fato, muito pouco depende de nós, já que o estado é, antes de tudo, a confluência de todos os elementos dispostos na Terra. 

Mas acho que a mera percepção de não termos absolutamente controle sobre as demandas da vida já é o bastante para produzir a convicção de empenho máximo rumo ao bem-viver.





sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Protagonismo e cura na terapia floral

Fonte da imagem: http://www.mulheresdicas.com/wp-content/uploads/2013/11/emagrecer-com-florais-de-bach-332x231.jpg
Quando se aborda o tema “terapia”, logo vem à mente uma interação onde terapeuta e indivíduo estabelecem um diálogo buscando a delimitação dos sintomas de desconforto anímico sentido pela pessoa. 

Um conhecimento firmado, sobretudo, na alteridade e confiança, onde a compreensão necessária à diagnose pode, contudo, alojar o terapeuta à ortodoxa e ilusória posição de monopolizar o processo, ao deslocar para si a responsabilidade pela descoberta do desconforto experimentado pelo outro. 

Como resultado, cria-se uma relação equivocada de temerária dependência em detrimento do protagonismo individual que deve nos encaminhar para a senda do autoconhecimento e da cura. 

Diante disso, todo e qualquer percurso terapêutico que realoje o protagonismo do conhecimento para a própria pessoa constitui um legítimo modo de aprimorar a consciência e, nesse contexto, a terapia com Florais de Bach constitui bom exemplo, a começar da célebre frase de Edward Bach - “Cura-te a ti mesmo”. 

Por intermédio da reflexão conjugada em torno da sensibilidade e intuição, terapeuta e indivíduo compartilham um momento ímpar de desvendamento dos processos internos e aparentemente inacessíveis, que vêm à tona quando a anamnese é realizada. 

Seja pela prospecção nas respostas dadas às perguntas sobre o estado de alma em que a pessoa se encontra, ou, ainda, por outros mecanismos de revelação de estados de desequilíbrio, terapeuta e indivíduo, em conjunto, elaboram uma atmosfera propícia a estimular o Eu Superior a vibrar em consonância com padrões energéticos positivos. 

Cada pergunta na anamnese encaminha o indivíduo a parar, respirar, olhar bem fundo no espelho de sua alma e se descobrir, já que é estimulado a refletir sobre suas dores, seus desalentos, bem como sobre o que mais lhe aflige seu estado anímico. 

Assim, diante de uma resposta afirmativa ao se indagar de uma pessoa, por exemplo, se tem “sentido impaciência ultimamente”, logo vem à tona a virtude de impatiens em restabelecer o equilíbrio necessário para o cultivo da paciência. 

Ou, ainda, no caso da revelação de um medo relacionado a alguma situação específica, o que faz despontar o potencial de mimulus para diluir essa sensação desconfortável. Tais perguntas somam-se a outras que, na anamnese, compõem uma sólida tessitura de informações relevantes para que o terapeuta floral possa articular as essências específicas para as necessidades do individuo. 

Um bom trabalho de terapia floral não converte o outro a um estado de dependência do terapeuta, mas, antes, finca raízes na ideia de estimular a pessoa a se equilibrar a partir da compreensão do seu próprio estado. Sem mestres, guias, salvadores. Apenas facilitadores para um estado maior de contemplação e realização. 

Simples assim...



terça-feira, 20 de outubro de 2015

O que ler, o que ver, o que sentir: a escolha da felicidade

Fonte da imagem para créditos: https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/67/b1/19/67b119e70ccaa286db95b386f915e259.jpg
O início do dia sempre é um momento ímpar: café quentinho no bule, pãozinho com a manteiga derretendo, frutas, delícias e aromas. Também é o momento em que usualmente as assoberbadas pessoas ocupadas durante o restante do dia destinam alguns minutos à leitura do jornal, quer seja virtual, ou físico.

Hoje experimentei essa sensação, passando meu café e arrumando a mesa na varanda de casa, local aprazível de onde fico a observar o nascer do sol, ao mesmo tempo em que desfruto da companhia agradável dos seres que me dão a honra de compartilhar sua presença.

Ao acessar o site de um jornal local, deparei-me com as manchetes marcantes do dia: todas, sem exceção, trazendo os acontecimentos do que se chama de "vida real", assaltos, prisões, homicídios. 

Não me lembro de ter lido uma só notícia trágica, pensando se, realmente, a tal "vida real" é uma tragédia em seus contornos, ou, ainda, se se trata de uma providencial escolha midiática de reportagens para que o jornal em questão obtenha vendagem, patrocínio e lucro.

Querem saber? 

Não me importa! 

Sim, não importa a motivação dos jornais e noticiários (afinal, são livres para veicularem o que desejam), mas, antes, a MINHA opção em não desejar agregar a egrégora de tragédias. 

Cada vez que opto por acessar uma página dessas, ou, ainda, compro um jornal, acredito contribuir para a perpetuação de uma manta energética e comunicacional que, longe de ser democrática (como muito se fala da tal imprensa livre), no caso do Brasil, encobre interesses altamente comprometidos com a elite (quer seja de direta, esquerda, centro, cima, baixo, sei lá). 

Fonte da imagem:http://cdn.atl.clicrbs.com.br

Nossa, seria tão bom encontrar uma notícia lúdica e feliz, não é mesmo? 

Mas enquanto isso não ocorre, ao menos me preservo de alimentar minha alma com enredos catastróficos, que transformam a vida em um abismo de energia densa. 

Não me arrependi, ao menos até hoje, de boicotar os canais da nominada "TV aberta", como também as "caras" e bocas de algumas revistas não seduzem meu paladar. Como resultado direto: paz de espírito e foco em assuntos relevantes.

Alienação? 

Nem um pouco. 

Afinal, não deixo de saber do que está ocorrendo. Apenas opto por não dar vazão ao enfoque energético que se acopla à notícia, sobretudo em face do sensacionalismo. 

Bem por aí...

domingo, 18 de outubro de 2015

Horário de verão: as (dis)sintonias e desmandos no ritmo da Natureza Sagrada e suas relações com a prática da antiga arte

Fonte da imagem para créditos: https://sites.google.com/site/oscordadostestes/arquivos/jabuti-cuidados-temperatura-.jpg
Ontem estava na feirinha - ritual de final de semana - quando recebi a notícia sobre o horário de verão, tão desconectada que estou dessas decisões políticas e burocráticas. Não se trata de alienação política, mas, antes, compreensão de existência de uma dinâmica maior do que minhas perspectivas de mudanças em larga escala. 

Afinal, não vejo sentido em achar que se muda estruturalmente um sistema ou sociedade inteira (ainda mais planetária) sem que a dinâmica passe pela conscientização individual e interna. Foi exatamente nesse ponto que abandonei a ideia de abraçar cegamente projetos coletivizados que se baseiam em uma negação da potencialidade individual, a famosa social democracia brasileira...

Pois bem. 

Que notícia! 

Opiniões divergem sobre o impacto na economia: 1, 3,5 ou 5%, trazendo a sensação de sustentabilidade e conexão com a Natureza, não é mesmo? O Brasil economizará milhões de reais em luz. Viva!

Enfim, para quem deseja acreditar nisso, troféu joinha joinha, mas, daqui do meu ostracismo crítico, não tenho como não fazer algumas observações sobre o horário de verão e sua (des)conexão com as questões de celebração do sagrado.

Primeira delas: com todo o respeito à medida, feita de boa-fé até (nem posso pretender duvidar, mesmo que seja taxada de ingênua por quem sempre está desejando culpar o bode estatal pelas mazelas dos carmas coletivos milenares), o horário de verão é mais uma demonstração antropocêntrica de dominação dos ritmos da Natureza, perpetrado em face da mais completa incompetência humana em gerir sua vida em simbiose com o holos.

Num pirlimpimpim de fechada de olhos à meia-noite, tudo se torna "uma hora a menos": nossos relógios de celulares e computadores automaticamente se atualizam em uma "nova ordem", deixando para trás o fluxo contínuo da Natureza, que se encontra, por agora, em plena primavera, preparando a vinda da incidência de raios solares em um veraneio que trás luminosidade.

Fonte da imagem: http://4.bp.blogspot.com

Com isso, vamos nos alienando, pouco a pouco, tal qual nos distanciamos, por exemplo, do calendário lunar com 13 meses de 28 dias, tradição, por excelência, de culto ao feminino e sagrado, substituído pela artificialidade do paradigma gregoriano, que nos afasta da vivência natural de nossos fluxos. 

Aqui no Cerradão do Planalto Central, por exemplo, o dia estava naturalmente clareando por volta de 05h30. Estava acostumada a acordar com o nascer do sol, alimentar a galera e preparar os labs para o passeio diário. Tudo isso tomando café na varanda da frente da minha casa.

Meu dia rendia mais, independentemente de um relógio, utensílio que sequer ostento em meu pulso, pois sempre funcionei bem olhando o Sol e o céu. Agora, enfim, acordarei com a sensação artificial de escuridão, não mais observando da janela da minha cozinha o espetáculo do raiar do dia.

Tudo bem que a medida reverte para o bem da coletividade e não estou levantando uma bandeira aqui contra o horário de verão, mas creio serem importantes alguns esclarecimentos. 

Para o restante do Universo, além do paradigma de tempo linear não fazer a menor diferença, sua cronometragem não segue, para fins astronômicos e, claro, astrológicos, o horário de verão.

Dito de outra maneira: os calendários lunares seguem seu fluxo. Por exemplo: hoje, dia 18 de outubro, a Lua Nova entrou em Capricórnio às 15h53. Como estamos no horário de verão, temos que ajustar o relógio para saber que "a lua não espera o horário de verão" (copiei o Gabriel). 

Ou seja, se quisermos fazer algum trabalho mágico aproveitando a energia da lua em Capricórnio, teríamos que fazê-lo às 16h53min. Para o cálculo do mapa astral, existem programas que já trabalham com o horário de verão no algoritmo. Mas, para quem não tem acesso a sites assim, basta adiantar uma hora para fazer o cálculo.

No dia 27 de outubro termos uma Lua Rosa que entrará às 09h06 no horário usual, 10h06 no horário de verão. Importante saber o horário de ingresso na energia da lua específica, pois as primeiras horas de lunação agregam mais força no potencial de trabalho.

Difícil? Nem tanto. 

Acredito que esse seja o ajuste necessário para o bom fluxo dos trabalhos, pois, afinal, nada sobresta o curso da Natureza, nem o ser humano, desejando compor em cifras o descaso de séculos para com a preservação dos recursos naturais. 

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Entre sedas, flocos e algodões: o eterno retorno ao sentido

Fonte da imagem: https://sementeperegrina.files.wordpress.com/2008/06/femeassaggradas.jpg
Sabe aqueles dias em que olhamos à nossa volta e percebemos ser necessário retomar antigos caminhos que remontam à felicidade de outrora, aquela que findamos por afastar? 

Simplificando essa pergunta extremamente "filosófica" para alguns e a contextualizando mais abertamente: quando olhamos no espelho e observamos ser necessário recompor a alma? 

Escrevendo o "O" com um copo para clarificar ainda mais: sabe quando olhamos o guarda-roupas (no caso, a arara de roupas) e percebemos uma tonelada de roupas que são lindas, pinturas de Monet, mas A-B-S-O-L-U-T-A-M-E-N-T-E nada a ver com nossa autoimagem?

E, pior, olhamos para a outra arara (contendo as roupas vistas pelas pessoas como demasiadamente simples, hippies, desleixadas e outros adjetivos) e vemos ali uma verdadeira era da inocência, momento de contínua felicidade lúdica? 

E quando, depois dessa síncope, olhamos ambas araras ao mesmo tempo e temos a leve sensação de marejamento dos olhos e aperto (ainda que leve, por mero orgulho) no coração?

Pois bem...

Acredito piamente que, nessas epifanias, acabamos por descobrir, talvez, que nossa alma sai de férias e, no lugar dela, entra alguma entidade fashion week, ávida por se apropriar de um corpo e se deleitar às custas de nosso esboço de aceitação social e satisfação da alteridade.

Quando isso acontece, perdemo-nos em meio a justificativas do injustificável, repetindo para nós mesmas, bem para os outros, que se trata de um "novo eu", ou, numa pegada antropológica, de uma imersão no horizonte nativo a desencadear ricas experiências de vida.

Até escrevemos postagens a respeito!!! [ainda bem que o post em questão, chamado Entre algodões, sedas e brilhos: O Sagrado e o Feminino na flutuação etérea de nossas vestes, sintetiza uma perspectiva que não está necessariamente atrelada a UM estereótipo de indumentária, ainda que a motivação, à época, tenha sido alimentada por isso].

Sem olvidar disso - pois as experiências são realmente ricas - fugir rapidamente do prumo da alma tem sempre o condão de reafirmar alguns valores e paradigmas, bem como, claro, modificar sempre algo dentro de nós. Isso é inquestionável. Mas, o que me pergunto aqui é: até que ponto as extreme makeover soluções incorporam estados legítimos de honestas transformações de alma?

A resposta sempre é difícil a priori e, não-raro, apenas chegamos a alguma conclusão DEPOIS do processo ter desencadeado alguma perda que, mais adiante, finda por arranhar a alma. Sem problemas, pois, afinal, nunca descobrir e viver o autoengano é bem pior do que chegar à conscientização em alguma parte da trajetória. 

Mas, voltando ao ponto: como saber? 

Simplificando bastante a problemática, não é difícil perceber pequenos sinais que se avolumam e, posteriormente, transformam-se em bombas-relógio cuja implosão se condiciona à agressão contínua e recorrente à alma.

Tentando ser pragmática, alguns sinais simples...

Quando o mundo inteiro - I mean, the whole f...g world - de pessoas fora do seu convívio íntimo, viram para você e dizem que agora, somente agora, ao colocar uma roupa mais cara e decotada, você está linda, desconfie. Desconfie e desconfie mesmo, pois, ali, sua alma está se preparando para zarpar e dar lugar à entidade fashion week mencionada.

Isso porque, quem o/a conhece em seus valores de vida, bem como em termos de paradigmas, sabe que, ao final, você está bem ao incorporar, em sua rotina cotidiana, a forma de pensar e viver a vida. 

Roupas, acessórios, caras, bocas e cabelos são a resultante plasmada no mundo físico de ideologias que trazemos em nosso imaginário simbólico, linguístico e hermenêutico. Aqui vale a boa máxima de Hermes, adaptada para "o que está dentro está fora". E não o contrário. Não é a roupa que - de fora para dentro - determina quem somos. Nós é que a definimos de acordo com o que sibila dentro de nossa alma. 

Como resultado, outro alerta: quando a forma de vestir publicamente destoa da maneira com a qual, em seu cotidiano, você se arruma, sinal de polaridade e dissitonia por aí. Eu não vou falar bipolaridade (desisti de estereotipar) porque decidi não patologizar esse estado, mas creio que seja algo bem por aí.

Vestir-se é se expressar identitariamente... 

Com isso, destoar em termos de usufruir de um Versace num pólo, para pular, noutro ponto, para a sandalita da Feira da Torre de TV, sustentando ambos em um sincretismo alla brasileira (aqui tudo é eclético, misto e relativo, numa forma de não se ter posição ou opinião definida por pressuposto ético, é a constante cívica) é outro forte sinal de fim dos tempos. Pegue o banquinho, faça seu chá e, tal qual os monges no filme 2012, espere a tsunami porque, por certo, o cerrado virará mar. Impraticável!

Não estou aqui criticando as nuances de quem oscila circunstancialmente de um ponto a outro, mas alerto para a incongruência discursiva, quando a base da experiência de vida consiste em refutar estilos de vida incompatíveis com a ideologia que se abraça como fora de explicar e viver o mundo.

Quando comecei a descobrir que o tempo na frente do espelho estava sendo maior do que os momentos de deleite com minha família, comecei a questionar esse estado de latência em que insisto em me colocar de tempos em tempos. Acordar com o rosto e os olhos inchados pela maquiagem que traz reações alérgicas foi outra forma de resgatar minha alma para o realmente importante. 

E me lembrar de que a roupa é um estado de alma, consequência dela, e não o inverso, foi uma boa forma de enfrentar o problema. Sem deixar de mencionar a conta bancária que, por óbvio, não resiste a tanto saque inoportuno. 

Ah, sim! 

Roupas lindas, mas NUNCA usadas, pendendo nas araras e atravancando a vida são um sinal óbvio de inconformismo com o estilo. A ideia é simples: quanto mais se gosta de uma peça de roupa, mais se usa, não é mesmo?

Saltos? Detesto. Odeio. Trazem dor. Simples assim e ponto final. Sem comentários, ainda mais aqueles do tipo "para ficar bonita precisa sentir dor e se sacrificar", uma ode à beatificação de quem dociliza o corpo.

Tive um problema sério na planta do pé usando uma sandália de salto que, depois, em face do trauma, nunca mais ousei colocar no pé. Vou levar para o brechó onde negocio a preços justos (o Peça Rara) e compartilhar com quem deseja usar salto...ainda. No meu pé, não. Game over!

Minhas sandalitas baixas e estilosas da Torre de TV podem ser taxadas de desleixadas, pouco sofisticadas, enfim. Sei lá. Mas o que realmente me importa é que não chego em casa ao final do dia desejando pegar uma serra elétrica e amputar meu pé dolorido. Isso faz toda diferença na vida de uma pessoa que deseja qualidade no viver e que, ao final, não se importa com as opiniões alheias.

Aliás, quando descobri essa derradeira dica tudo se clarificou à frente! Foi então que reconduzi minha alma de férias em Cancún para seu lugar de origem: em mim. 

A primeira providência foi dar vazão ao volume de roupas acumuladas e não usadas, colocando tudo em uma sacola de viagem e levando para o brechó. Não vou ficar rica, muito menos recuperar dinheiro integralmente. Nem esse é o propósito. Dispender racionalmente meu dinheiro, sim. Bem como fazer melhores escolhas em relação à imagem. 

Farei o mesmo com umas bijuterias lindas, mas que nada têm a ver comigo!!!!

Sobretudo, uma grande lição: não me deixar abalar pelas convicções alheias, ainda que embaladas pela boa-fé. Afinal, são convicções das próprias pessoas e, por isso, podemos presumir que as estão dando de bom grado e com as melhores intenções. 

Agradecemos e seguimos o curso de nossas vidas, apaziguando nossos espíritos e nos voltando para a grande trajetória da elaboração de nossas marcas nessa vida. Isso, sim, faz toda a diferença!!!

E viva a diferença!!!!!


Fonte da imagem: http://files.dancandocomosdragoes.com.pt/200000336-1603016fcf/7907_1438686503023409_286055753_n.jpg









Um dia, mil felicidades...

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Com tantas opções para aproveitar uma semana de bom descanso, poderia até mesmo pensar que a alegria estaria em uma praia ou, talvez, em uma cachoeira a quilômetros de distância daqui. 

Ou seja, a boa e velha ideia de que felicidade é uma "meta" longínqua a ser alcançada fora de nós, e nunca um estado existencial autorreferente, gravitando em torno da experiência vívida de plenitude, pouco importando onde se está...

Estou descansando um pouco durante essa semana de acúmulo de datas importantes: um feriado no dia 12 de outubro, bem como o dia do professor, 15. Algumas faculdades fizeram uma conjugação entre as datas e pararam suas atividades, retornando apenas na próxima semana: uma boa pedida para recuperar a alma e prepará-la para a reta final de fechamento do semestre.

Não atendo telefone, muito menos acesso e-mail profissional nesses dias, para não atrapalhar o fluxo da energia em processo de reciclagem (rs, para arrepiar o/as cientistas de plantão).

Estou dando um tempo em tudo que diz respeito ao que não é lúdico, pois decidi dedicar essa semana à frugalidade e ao ócio produtivo, uma forma de higienizar a mente e o espírito: runas, tarot, celebrações lunares, gastronomia e boas conversas têm sido a agenda onírica a me embalar durante esses dias. Até fizemos uma imersão noturna no córrego daqui do condomínio, para limpar, recarregar e programar alguns cristais, não sem, mais uma vez, eu me deparar com meus TOCs-sombra (escuro, lodo e solidão).

Pois bem...

Como o calor não dava trégua e a programação de atividades aquáticas não vingava (Parque Nacional de Brasília super lotado de seres em desespero), não hesitei em aceitar a sugestão do Gabriel para simplesmente tomar um banho no Lago Paranoá. Simples assim. 

Lago Paranoá. 


Torcidas de nariz? 

Talvez, mas acredito que boa parte delas seja pelo desconhecimento da potencialidade desse manancial de água. Muito já se comentou sobre a limpeza do lago, mas, ao final, o que fica é a certeza de que existem pontos onde a água é bem propícia para o banho (basta acessar o hiperlink acima para saber).

Atravessamos a ponte, vimos um local em que a pista dá azo para uma estradinha de chão e rumamos para um local da orla em que é possível acessar a água.

Uma verdadeira moldura natural, ladeando a água e nos permitindo regojizar ante a vista, como na foto acima. Uma maravilha, gratuita, acessível e bela. E parece que a ideia não foi privilégio apenas nosso, pois lá chegando vimos um rapaz de moto, descansando embaixo de uma árvore, bem como pescadores lançando suas iscas.

Nada como a sabedoria popular: onde existe muita gente pescando, existe muito peixe. E onde há peixe, há água boa. Bom, como não vimos nada geneticamente modificado (como nos filmes Anaconda 20 ou Alligator 12), descemos para a água e lá ficamos por umas boas duas horas. Papeando, nadando e, no meu caso, lidando com meus TOC-sombras, como ter a sensação de pisar em lodo, o que foi feito com sucesso!!!

Aliás, antes mesmo de entrar, de sola, na água, fechei os olhos e senti o vento, abrindo os braços e me conectando com todos os elementos que estavam ali conosco: ar, água, fogo e terra. Outra maravilha, pois não precisamos de parafernália esô (de esotérica, uma referência ao exagero de se utilizar uma tonelada de instrumentos para acionar o gatilho subconsciencial) para o sentimento de conexão ao Todo se elaborar em uma egrégora de pura força vital.

Enquanto observava o movimento de carros indo e vindo na Ponte JK, lembrei-me de todos os dias em que faço o mesmo, saindo de casa para o trabalho, muitas vezes sem me permitir vivenciar sequer olhar mais atentamente para o lago e perceber o quanto posso ali me perder e me encontrar. 

O tempo parou naquele momento de júbilo em que percebi, mais e mais uma vez, não ser necessário muito mais do que uma boa ideia para se viver bem os dias nesse planeta, pois a criatividade e a imaginação são o combustível mais potente para a elaboração dos mais inusitados roteiros de lazer.

Nadamos até eu virar um camarão (pois só lembrei de passar o filtro solar quando já estávamos indo embora), peguei carona nas costas do Gabriel (nunca havia sido carregada por alguém na vida) e rumamos para arrematar um resquício de carreteiro que eu havia feito no dia anterior: o melhor de todos que já fiz, pois acrescentei ao charque um pouco de linguiça de calabresa reduzida no vinho tinto.

Aliás, outra boa lembrança: decididamente me alimento melhor em casa do que tentando me arriscar nas incertezas da rua (má qualidade, aliada a alto custo e péssimo atendimento). Até ceviche fizemos por aqui, sem dever para restaurante algum. Arrisco-me a compartilhar a receita... Anotem os ingredientes:
4 postas de robalo  - 1/2 pimentão vermelho -1/2 pimentão amarelo -1 cebola roxa grande -2 pimentas dedo-de-moça - 5 pimentas de cheiro - limão a gosto - azeite a gosto - sal a gosto.
Corte o robalo em cubos pequenos e o misture com os pimentões, a cebola e as pimentas, todos cortados bem picadinhos (à julienne), à exceção da cebola, que é cortada em tiras longitudinais. Misture tudo, acrescente o sal, o azeite, um pouco de pimenta do reino picada e regue com o sumo dos limões (eu coloco a quantidade de limão para mergulhar 3/4 do volume do peixe). Daí basta colocar na geladeira e deixar marinar. Fica uma delícia!!!
Tudo isso só foi possível porque estou nos mais plenos dias de encontro com minha alma simples, que se contenta com a vida que se elabora por gratidão. Falo isso agora, nesse post, porque depois vou postar um outro texto com as peripécias de mais um momento em que minha alma saiu de férias por aí...

O dia feliz rendeu até uma fotografia de lindos flamboyants em plena floração, outro espetáculo para os olhos sensíveis de quem se permite enxergar a obviedade no invisível imanente.


Pode parecer até uma chácara, mas se trata de um condomínio aqui perto do Jardim Botânico. Um bom lugar para visitar e tirar fotos. 

Essa aqui ao lado foi tirada pelo Gabriel, em grande estilo. Custo da aventura? ZERO. Um colírio para olhos cansados de urbanidade e concreto, fazendo com que possamos refletir, a cada dia, sobre a maneira como dispendemos nosso tempo nesse planeta legal.

Esse foi o dia da volta do tchibum no lago, quando passamos no mercado para comprar alguns ingredientes para fazer uma salada (um hábito que nunca abandono, ainda que ingira, por hipótese, uma caldeirada de feijoada, rs).



Bom, esse foi o relato de um dia feliz, vivido na plenitude do que é mais simples e, ao mesmo tempo, mais completo: a gratidão por estar no aqui e no agora. Sem apego ao passado, muito menos ansiedade no futuro. Aqui. Agora. Ponto...




quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A estrela e a palma


Fonte da imagem: https://confissoesinventadas.files.wordpress.com/2014/06/soprando-estrelas-das-mc3a3os.jpg

(...)

Beija o céu a noite num frenesi de fogos 
Que despontam
em transe nas estrelas a firmar
Envolto em sonhos, díspares pensamentos
Formosos alentos no sonho em conto a vivificar

Um corpo, dois corpos, um corpo
monocarpo em monocorpo 
Do pluricárdio todo envolto 
No limite suspenso em êxtase a superar
Na palma que afaga o corpo em leite
No detalhe do deleite do fino entalhe
de uma alma a ser marcar
Sofreguidão de beijos cálidos 
selam atropelos de pequenas mortes
Intensas sortes a penetrar

Leito em fogo na água reluzente
Cenário insistente de uma ode a se revelar
Fogo e água em profusão trôpega 
Pele tisnada em respiração sôfrega
Buscando o ar para se fincar

Horizonte em corte outrora fugidio 
Emoldurando o retrato 
de uma corte em longa noite de coito arredio
São bocas e palmas a se amalgamar
Frutas e frutos em líquido escorrido
Buscando no véu de chão em estampido
Na palma de uma mão 
Uma estrela...a alcançar
(...)