segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Íntegra do ABAIXO-ASSINADO

Nós, comunidade acadêmica, ex-aluno(a)s, membros da coletividade, estudioso(a)s do tema, terapeutas holistas, cientistas em geral, interessado(a)s, cidadãos e cidadãs preocupado(a)s com o patrimônio cultural mundial plúrimo e democrático, pelo abaixo-assinado, viemos PROTESTAR CONTRA O FECHAMENTO DO NÚCLEO DE ESTUDOS DE FENÔMENOS PARANORMAIS (Nefp) da Universidade de Brasília (UnB), solicitado pelo Instituto de Física (IF).

Não podemos deixar de manifestar irrestritamente nosso inconformismo, pois a manifestação de opinião, numa sociedade que permite o diálogo, pode afastar a autocracia, ou, ao menos, trazê-a para a luminosidade.

A inquietude se revela pela indagação, em plena pós-modernidade, do que vem a ser ciência e, principalmente, se compete ao mencionado Instituto o monopólio de declaração e definição sobre o que vem a ser "ciência".

Se existem problemas internos - de natureza política - isso deve ser resolvido a contento, e não utilizando a escusa de discussão epistêmica e a desculpa hipócrita em relação à vidente presa para assim fazê-lo. Quem perde, como sempre, é a comunidade acadêmica e a sociedade no tocante ao aprimoramento multicultural do conhecimento, diante de uma Inquisição que parece estar sendo iniciada nos quadros dessa instituição a exemplo de Galileu Galilei, bem como Giordano Bruno e Hypatia que perderam a vida por terem visões contra-hegemônicas.

Poderia ser traçado um percurso argumentativo em prol da ruptura paradigmática na pós-modernidade. Poderiam ser citados Boaventura Sousa Santos, Morin, González Rey, Adorno e uma série de teóricos respeitáveis que apregoam a necessidade de "oxigenação" cultural, alargamento das fronteiras do conhecimento e consequentemente da Universidade, mas, por agora, esse abaixo-assinado destina-se a militar em prol da manutenção do Nefp!

Iniciaram este abaixo-assinado:
Alessandra de La Vega Miranda - Professora e advogada, mestre em Direito e doutoranda em Direito pela UnB - adlvmiranda@yahoo.com.br
Juliana Fonseca Duarte - Professora de Matemática, especialista em Matemática para Ensino Básico e Educação a Distância, mestranda em Educação pela UnB - jufduarte@hotmail.com

ASSINE! http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/6899

Nota de repúdio ao Instituto de Física da Universidade de Brasília

Usarei esse espaço para manifestar - como acadêmica da Universidade de Brasília e, sobretudo, como membro de uma comunidade plúrima e pautada na ruptura com o senso elitizado de academia - meu inconformismo e minha indignação diante da proposta do Instituto de Física da Universidade de Brasília para o fechamento do Núcleo de Estudos Paranormais, sob a alegação de não ser "ciência".

Posto o link: http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=3798

A notícia foi veiculada no site da Unb hoje e já despertou em mim muita consternação.

Não poderia ficar calada, mas, como sou voto vencido entre meus pares no direito, entendi, ao menos, manifestar meu inconformismo irrestritamente.

Já enviei um e-mail para o Conselho Universitário e, posteriormente, enviarei outro para o Instituto de Física e para o Núcleo de Estudos, pois penso que a manifestação de opinião, numa sociedade que permite o diálogo, pode afastar a autocracia, ou, ao menos, trazê-a para a luminosidade.

Minha inquietude se revela em cima da indagação, em plena pós-modernidade, do que vem a ser ciência e, principalmente, se compete ao mencionado Instituto o monopólio de declaração e definição sobre o que vem a ser "ciência".

Minha intenção é motivar um manifesto em prol da manutenção do Instituto.

Se existem problemas internos - de natureza política - isso deve ser resolvido de maneira política, e não utilizando a escusa de discussão epistêmica (e a desculpa hipócrita em relação à vidente presa) para assim fazê-lo.

Quem perde, como sempre, é a comunidade acadêmica, diante da Inquisição que parece estar sendo iniciada nos quadros dessa instituição.

Poderia traçar um roteiro - um percurso - argumentativo em prol da ruptura paradigmática na pós-modernidade.

Poderia citar Boaventura Sousa Santos, Morin e uma série de pessoas que apregoam a necessidade de "oxigenação" das fronteiras da Universidade, mas, sinceramente, esse e-mail, por agora, é para apenas manifestar INDIGNAÇÃO!

O significado do triskle e a superação da dualidade

Segundo Pedro May "o homem comum gosta de vangloriar-se de qualidades que não possui mesmo quando acredita sinceramente desfrutar delas".

A percepção que a cultura romana tem de si gira em torno desse ufanismo de submeter demais povos à humilhação de serem considerados "inferiores" ou "pouco desenvolvidos" em relação aos "beneplácitos" da "civilização áurea" que se auto-intitula herdeira de Grécia e Roma.

Repletas de ranço androcêntrico e imersas num mar de ignorância em relação a tudo que diz respeito aos limites externos de nossos umbigos, torcemos o nariz para o que é desconhecido porque, acostumadas com a zona de conforto oferecida por quem foi o vencedor na História, sentimos segurança nas infomações apenas porque legitimamos a fonte.

Afinal, somos romanas e gregas, não é mesmo? Tomamos ambrosia, néctar e mel e nos refestelamos nos cultos a Dionísio, ao mesmo tempo em que achamos Eostre uma "pagã" malévola.

A dualidade sempre esteve presente na compreensão de mundo, desde a compreensão de reificação da Natureza, pois, destacadas dela e dotadas de racionalidade, arvoramo-nos do benefício de subjugar o que coisficamos.

Criamos o binário bem e mal que, segundo Nietzsche, diz respeito apenas a uma categoria apropriada pelos "bem-nascidos" que, enxergando a si como nobres e bons, marcaram indelevelmente os outros com a chaga da maldade.

Um ethos religioso marca também o binário, quando setoriza um mundo em estado de vigília bélica constante, dentro do qual o ser humano, cingido pela mácula de um "pecado original", encontra-se condenado a se posicionar entre céu e inferno, num reducionismo cartesiano bem aproveitado - anacronicamente - na liturgia do apocalipse.

Eis a arrogância de se vangloriar em cima de "desonra", pois, a bem da verdade, nossa "civilização greco-romana" se fez à guisa de opressão e expurgo de culturas que julgavam distintas. Com visões de mundo distintas. Com modus vivendi diferenciados.

O triskle, dentro de toda essa percepção de mundo, marca a transposição da dualidade. Cada ponta da rosácea possui um significado desconhecido para a (in)compreensão "oficial" de um Ocidente que se penitencia binariamente na chicotada e acha que, fazendo isso, sairá do "purgatório" existencial de suas maiores misérias.

No triskle, o ser humano transcende até se libertar do conflito interno das forças poderosas - podemos chamar de Bem e Mal, pois se trata de dualidade, enfim - mas, compondo o tripé, elenca, ainda, a Indecisão, a "hora indeterminada" entre dia e noite, que lembra o momento derradeiro da Escolha em relação aos caminhos, ou, ainda, a dinamização de outra possibilidade diante de tais caminhos.

Assim, longe de uma "planificação" simplista de bem e Mal, a cosmogonia celta destaca-se da religiosidade "oficial" do Ocidente, por situar o ser humano num continuum de movimentação maior e mais complexa do que a oposição dialética. Trata-se de uma visão de caminho do meio, que não se confunde, por outro lado, com a percepção oriental de parte da filosofia budista, por razões óbvias.

O triskle, quando em movimento rotatório, converte-se no círculo...Para bom entendedor, pois, meia palavra basta!

domingo, 29 de agosto de 2010

O olho de tigre e a ametista


Durante uma dessas andanças por Alto Paraíso senti uma grande motivação em buscar uma pedra lapidada em forma de coração, pois havia muito tempo desde quando meu antigo pingente de amestista tinha se quebrado, concomitantemente a uma ruptura de relacionamento.

Desde então havia decido "dar um tempo" corações lapidados.

Foi quando percebi dois detalhes muito curiosos.

Ao voltar para Brasília, passei em uma loja para observar se havia um coração, motivada a buscar um quartzo rosa ou, até mesmo, quem sabe, um coração de ametista, pedra, por excelência, da transmutação, da mudança paradigmática de vibração.

Quando entrei na loja, contudo, fui chamada por um coração lapidado em olho de tigre. Existiam outros corações lapidados em quartzo rosa, verde, hematita, ametista, mas o que despertou meu padrão energético foi exatamente o coração de olho de tigre. O dono da loja ainda me mostrou outros corações nessa mesma pedra. Alguns mais formosos até, que brilhavam diferentemente sob a luz do Sol.

Mas me senti atraída por esse pingente.

Havia muito tempo desde a última vez em que fui escolhida pela gema e, dentro disso, o primeiro detalhe curioso: das outras vezes em que escolhi quartzos rosa e corações de ametista, a opção não havia sido gerada pelo meu coração, mas, antes, refletia apenas decisões artificiais, como se, à fórcepes, eu desejasse o poder daquelas gemas sem, contudo, vibrar na frequencia de seus padrões oscilatórios.

O coração de olho de tigre aqueceu na minha mão e senti a corrente de energia formando um vórtice ali. Peguei em outros corações, mas, enfim, era aquele. Foi aquele e só poderia ser aquele.
O olho de tigre é uma gema relacionada ao Sol, emissora e associada ao fogo. Sua cor já diz muito sobre suas propriedades porque se trata de um amarelado que lembra um "rajado" típico das listras dos tigres (daí o nome). A tonalidade amarelada conecta a energia da pedra ao Astro-Rei.

Segundo Scott Cunningham em Enciclopédia de Cristais, Pedras preciosas e Metais (2001, p. 133), os romanos usavam olho-de-tigre para proteção em batalhas, invocando também coragem e prosperidade, atributos relacionados ao Sol.

Daí a listagem ser longa em relação às egrégoras trabalhadas com olho-de-tigre: proteção, dinheiro, coragem, energia, sorte e divinação (isso porque mexe com comunicação, já que é emissora).

Quando dei por mim estava com um coração de olho-de-tigre no pescoço, ao mesmo tempo em que me lembrei de um anel muito grande que tenho nessa mesma gema, além de outro, uma aliança, também em olho-de-tigre. Isso sem deixar de mencionar a cor do rio São Bartolomeu no Moinho, que cintila a cor da gema... O primeiro detalhe...

Com essa languidez no espírito, lembrei-me de um detalhe curioso: em um ritual de Lua Cheia celebrado em junho, deixei para a Grande Mãe um pedaço de ametista, uma que havia escolhido nas mesmas condições dos corações. Abrimos o círculo normalmente, celebramos a Lua e, fechando tudo, saímos de lá.

Dias depois dei-me conta de que havia deixado a ametista lá. Muito interessante porque, se certa maneira, o desenrolar dos eventos depois do ritual desembocou numa intensa ruptura interna e externa e a ametista veio de um contexto assim, de passado mesmo...

Nessa oportunidade em que encontrei o coração de olho-de-tigre, entrei em outra loja e a gema brilhou para mim! Que sensação diferente!

É muito diferente quando a gema nos escolhe e não o contrário, porque traz a sensação de agradecimento à Natureza por ela me chamar.

Às vezes estamos tão no automático, sentindo-nos "donas" da Natureza e de seus atributos que não percebemos que, na verdade, é Gaia quem compartilha conosco suas dádivas e não nós que, em nossa arrogância, extraímos, na sangria, o que ela amorosamente tem a repartir.

A ametista é regida por Júpiter e Netuno, uma gema receptora. Tanto que a energia dela é "fria", ou seja, a coloração violácea, ao contrário de uma pedra em coloração amarelada (como o olho-de-tigre, por exemplo, já estou falando nela) traz a sensação de amenidade, afinal, Netuno é senhor das águas e água é o elemento primordial dessa gema.

Ligada à paz, sensitividade, espiritualidade, bem como à transmutação energética, transmite a calmaria, além de estimular a intuição e sabedoria. Também é a pedra da justiça e das questões legais, além da energia de Júpiter invocar prosperidade nos negócios (especialmente nos negócios, e não necessariamente ao dinheiro envolvido neles).

Esse foi o segundo importante detalhe que chamou a minha atenção naquela ida a Alto Paraíso...

O olho-de-tigre e a ametista...

É com a imagem dela que desejo brindar a todos e todas com as energias da transmutação de pensamentos, de ações e palavras, desejando um excelente fim de tarde!!!

Hey ho!

sábado, 28 de agosto de 2010

Sinais são sempre sinais

Estamos imersas num lindo mundo simbólico...
Das garrafas de cerveja que lembram curvas sinuosas de mulheres irreais, apenas ali dispostas para, como o néctar dos bárbaros, serem "sorvidas" numa degustação de happy hour...
Das teorias que nunca se cansam de sempre falar sobre falo, vagina dentada e tudo aquilo que possa nos remeter, olhando um lindo arbusto, para um "império peniano".

Ou, ainda, da estátuas militarizadas de Justiça dispostas em praças que, grosso modo, seriam destinadas ao púlpito a céu aberto, para que o povo pudesse ali firmar sua cadadania.

O mundo é um mar aberto de símbolos. O pentagrama remete à Deusa, mas, se estiver de ponta-cabeça, já não mais nos leva à deidade elevadora, e sim, "aos cadafalsos dos Ínferos", de Baphomet a Belzebu, de Lilith a Lúcifer caído.
Mas, ah, sim, a estrela de seis pontas "é do bem", porque remete à saga dolorosa e redentora do povo judeu, orgulhoso de si e de suas relações com Deus.

O olho de Hórus nos leva, o olho de Thundera também.

Todos os símbolos expressam conteúdos latentes e imemoriais que estão no Cáucaso etéreo por um tempo que se perde de vista.
Estão embalar a mente e o coração de quem atribui a eles informação hermética, silenciosa e, sobretudo, mágica.

Saber olhar e sentir os sinais é importante para a conexão a essa grande rede de informações que estão distante da mente racional, mas próximas à linguagem da emoção e, sobretudo, do espírito.

Quantas vezes já negligenciamos os sinais que a vida e nós, damos às nossas almas?

Quantas vezes insistimos por um caminho que, internamente, sentimos e sabemos (melhor, sabemos PORQUE sentimos) que nos trará alguma dor?

Quantas vezes, por outro lado, quando tudo e todos nos apontam desacertos, pegamos o atalho de nossa intuição afinada com os sinais e, lá na frente, encontramos nosso especial "pote de outro"?

Quer seja na dor de uma escolha natimorta, ou, ainda, na alegria de um insight que nos eleva, tudo isso está relacionado aos sinais e, com isso, tudo expressa nossa intuição. Apenas precisamos mais acuidade e fé no que sentimos, deixando de lado a mente que sabota a alma e, com isso, lançando-nos nos abismos outrora desconhecidos.

Os sinais estão presentes em nossas vidas porque estão presentes no mundo, na maneira como ainda mantemos - mesmo diante de tanta tecnocracia e de tanto ceticismo - uma providencial "mágica no ar". Dizem que os deuses morrem quando não mais acreditamos neles. Quando foi, então, que perdemos a capacidade de acreditar no que os sinais nos revelam?

Quando a mágica e sua alegria cederam espaço para a austeridade da descrença?

Não sei, ao certo, mas sei e sinto - de novo, SEI PORQUE SINTO - que está tudo bem diante de meus olhos astrais, da porta de entrada para a contemplação de um magnífico mundo de múltiplas dimensões, onde os edifícios monumentais são construídos pela minha consciência. Cada tijolo e cada janela, cada rodapé e cada escada, partem do vasto recipiente de informações que trago de tantas outras vivências.

Basta me abrir para o mundo de magia e a mágica dos sinais se concretiza, no aqui e no agora.

Hey ho!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Divulgando Cláudio Crow em palestra "Singing the Landscape - the Voice of Ireland from the Leabhar Gabhála Éireann to Modern Irish Poetry"

Recebi do forno a divulgação via e-mail do Cláudio Crow.

Reproduzo na íntegra, a fala dele:

Entre 30 de agosto e 1o. de setembro, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) sediará o 5o. Simpósio de Estudos Irlandeses na América do Sul, e é para mim motivo honra e orgulho comunicar que fui convidado a participar de um painel com a breve palestra

"Singing the Landscape - the Voice of Ireland from the Leabhar Gabhála Éireann to Modern Irish Poetry"


Abaixo, a sinopse traduzida:


Cantando a Paisagem: a Voz da Irlanda, do Leabhar Gabhála Éireann à moderna poesia irlandesa
No período celta, a Ilha de Ériu era percebida como um ser vivo - desde que Amairgen, Primeiro Bardo da Irlanda, desembarcou em seu litoral, as mais variadas características da paisagem ganham vida através de canções e lendas nas vozes dos bardos ancestrais e dos modernos poetas. Partindo das associações mágicas entre Mito e Paisagem do "Livro das Invasões da Irlanda" e outras fontes primárias até os textos de WB Yeats; das canções tradicionais da Irlanda rural aos versos de Seamus Heaney (Nobel da Literatura), esta apresentação explora a profunda intimidade entre a Paisagem e a Poesia da Irlanda através das eras - uma abordagem bi-direcional com vistas a oferecer uma compreensão multi-dimensional dos textos e versos irlandeses/celtas.


E aqui, o abstract em inglês, idioma oficial do evento:


Singing the Landscape - the Voice of Ireland from the Leabhar Gabhála Éireann to Modern Irish Poetry
In Celtic times, the Isle of Ériu was seen as a living soul - since Amairgen, First Bard of Ireland, set foot on her shores, several features of the landscape come to life through songs and tales in the voices of the ancestral Bards and modern poets alike. Drawing upon the mystic associations of Myth and Landscape found in the Leabhar Gabhála Éireann and other early sources to the writings of WB Yeats; from the traditional songs of rural Ireland to Seamus Heaney's verses, this paper explores the deep intimacy between Irish Landscape and Poetry throughout the ages – a two-way approach intent on offering a multi-layered understanding of Irish/Celtic texts and verses.


Clique no link para maiores informações sobre o 5th Symposium of Irish Studies in South America .

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O amor entre aspas

Às vezes nossas falas trazem desconforto para os entes queridos, que se sentem, de alguma maneira, atingidos ou tocados injustamente pelo conteúdo do que expressamos, apondo, dai à frente, a crítica ou a desqualificação, como se o que foi dito fosse de somenos importância...

"Viajamos", "a escreveção" incomoda, a acusação de vampirismo ingenuamente aparece, como se o interlocutor, em sim, também já não fosse um vampiro projetivo: tudo soa inquietude numa mente que não se conecta a algo maior do que seu próprio e enorme ego.

Inventamos desculpas.

Sumimos por vergonha, raiva, medo e, daí, sempre usamos a bonita alegoria do "tempo" porque, na pós-modernidade, ele virou bem escasso no mundo robótico em que nos fazemos amigos e amigas dos outros por virtualidades como orkut, twitter, facebook e outras formas.

Ah, sim, também colocamos a culpa em nossos trabalhos, pois, afinal, ele nos drena, massacra... A faculdade também. A universidade. Os estudos. Tudo nos massacra ao mesmo tempo em que paradoxalmente - talvez no afã de auto-extermínio, só pode - rumamos felizes e contentes para as baias onde o feno é empurrado para ruminarmos... Não nos posicionamos, romper é difícil...

Ao final, uma realidade.

O ego , esse "ente" curioso, que deturpa tudo ao seu redor e que não tem a menor paciência, julgando e alfinetando o tempo inteiro. Ele atropela e se arma. De dentro da couraça - que, para ele, é um lugar seguro - envia dardos de farpas porque, assim, quem sabe, consegue chamar um pouco a atenção.

Um bonachão esse bebê-ego!

Ele também maquina dentro da mente a mil por hora um vendaval de críticas, de modo que, ao final, mesmo desejando não ser só, o eguinho acaba afastando as pessoas que realmente desejam o bem...

Sempre tem as melhores intenções, num altruísmo que faria Madre Tereza de Calcutá, Gandhi e talvez Buda voltarem à Terra para conhecer tal pessoa tão dadivosa que, saindo de si, olha o outro incondicionalmente, querendo sempre com suas condutas, o "bem" de quem lhe é "querido".

Porém, de tão mal-resolvido, nosso amigo (já virou amigo) ego vocifera mantras inconscientes de malefícios...

E tem inveja da felicidade alheia, sempre que, de alguma forma, pretende se colocar no lugar ou na posição do outro, desejando, quem sabe, assim, um "cadinho" de bem-aventurança de quem está ao seu redor. Não se realiza com suas escolhas e, dentro disso, tenta viver um pouco por intermédio do outro, sempre, claro, "com as melhores intenções".

E assim, com tantas excelentes intenções, um dia, acordamos com um punhal cravado nas costas ou pendente na garganta, porque esse ser de luz, "com a melhor das intenções", atentou contra nossa integridade.

Traiu a casa e o teto... Cuspiu na comida que gentilmente lhe fora ofertada. O povo celta tinha um hábito, o de cultivar a honra de não "se atentar contra quem dá o teto para o descanso".

Um código tão forte que dava ao chefe da família o direito de morte em relação ao filho ou filha que fosse desrespeitoso com quem lhe desse guarida. E não ficava apenas restrito à pernoite, não. Bastava um café-da-manhã ou um ingênuo almoço para a obrigação de respeito e lealdade serem invocadas.

Quando leio isso e me deparo com a vida - como ela é - dou cambalhotas de risadas, percebendo o quanto de deslealdade, hipocrisia e falsidade instalou-se no mundo, minando as almas de pessoas queridas e caras a mim...

Por outro lado, nosso querido ego se esquece que a bem-aventurança é um estado constante de busca pessoal, que não pode ser compartilhada, porque, afinal, cada qual tem seu arbítrio, faz suas escolhas e define seu carma. Mas, acostumado à "bem-aventurança" de encher o pandulho - energeticamente falando - na casa amiga, nem se preocupa e acha, mesmo, depois, que não fora mais do que obrigação...

Mas ele quer, almeja, deseja, projetando-se na figura "admirada", sob a pecha de amá-la à sofreguidão. "Amor" que, de fato, é puro deleite da autoreflexividade do ego, que deseja "agregar" em suas gavetinhas tudo que puder engolir em termos de satisfação.

Alguns, de tanto engolir, ficam até no sobrepeso. Tentam emagrecer e não entendem a razão... Outros ficam no contraponto da anorexia, enxergando-se com o peso mas, de fato, minguando em plena luz do sol. Muitos outros têm dor de garganta, sinusite, gastrite, enfim.

Não me admiro mais, afinal, psicossomatizações ligadas à afetividade e à capacidade de "engolir sapos" e não digeri-los. Engolem porque sabem que uma vez por semana vão ao culto, à liturgia e se anestesiam, achando que isso é atingir a redenção orgásmica do Nirvana. Talvez um trabalhinho voluntário ou uma doação ajudem a compor a culpa...Sempre mascarando a realidade e se enganando, na espiral egóica do eterno estado de ignorância de si.

Depois de "tanto amor", basta um aperto, um questionamento em relação à máscara e à zona de conforto em que vivem, para o ego transmutar o "amor" em "ira", como se realmente amor e ódio fossem cara e coroa numa moedinha qualquer. Por isso amor está entre aspas e ira também...

Amor é pleno em si e não necessita complemento, verbal, nominal, verbo-nominal.

Não carece de conjunções, advérbios, porque, completo em si, exala o Todo. Muito menos cabe o "mas", porque, dentro do AMOR não existe qualquer tipo de condicionalidade...Eu o amo, MAS... Eu amo minha amiga, amo meu amigão, MAS...

Apenas reforços do ego para, mais uma vez, apartar-se e tentar reificar o mundo a seu redor, dizendo o que o agrada ou desagrada. Selecionando, acaba escolhendo a si na miséria da ignorância em que insiste em viver.

E os outros, nessa aquarela de uma cor só, devem honras e juras de obediência, pois, caso contrário, o eguinho dá show, chora, esperneia, mente e manipula, tentando salvar sua pele da fogueira de vaidade criada por sua imaturidade em lidar consigo.

Aff...

Como sei? Uai, simples, para isso serviram as experiências que tive e ainda tenho nessa vida...ou estaria eu acima do Bem e do Mal, falando sobre algo que já não tenha experienciado?

Portanto, com licença, pois existe muito mais a ser feito nesse Mundo maravilhoso do autoconhecimento... De asuras em minha vida, já basta o séquito que se formou à minha porta e que não encontraram "pouso". É a opção em dizer um retumbante NÃO!!!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

As estações e o mundo


Os pássaros hoje cantarolaram mais cedo do que de costume e as amoras começaram a dar os primeiros sinais de amadurecimento...
O Sol tem despontado bem mais cedo no horizonte, chegando a se encontrar com a Lua no meio do caminho...

E o ar...ah, o ar! Uma composição paradoxal de calor solar e sopro gélido do finalzinho do inverno. Mesmo assim, a temperatura ainda está caindo. O que está acontecendo? Estamos em final de agosto, o bastante para que o calor da Primavera já nos brindasse com sua presença...

Assombro?

Não sei, ao certo.

Ficamos tão acomodadas em simplesmente acordar, um dia, e enxergar flores, que não nos lembramos de uma intempérie climática já prevista.
Olhamos a notícia no jornal (de preferência, dentro do "conforto" dos nossos lares) sobre um iceberg de 200 e tantos quilômetros, "rodopiando" pelo mar afora, mas parece que nossa capacidade conectiva está mal elaborada, talvez porque, de tão ocupadas com as notícias de fora, esquecemos de ajustar o desconfiômetro interno da sesnibilidade em relação às mudanças ímpares ditadas pura e simplesmente pela Natureza.

Numa "guerra" de dominação inventada apenas pela humanidade (que precisa estar em guerra para justificar a guerra pela paz), a Natureza definitivamente está levando a grande vantagem em relação ao fator de amedrontamento que assola todas nós: IM PRE VI SI BI LI DA DE.

Um belo dia algo acontece e nos espantamos em relação ao fato de ninguém ter antevisto o evento. Daí me pergunto: qual o limite para a arrogância humana? Afinal, somos tão "sabedoras" das coisas do mundo, mas incapazes de lidar com nossas próprias demandas como seres que migram para a abissalidade num piscar de olhos.

Daí, como medida de "composição da alma", ou pacificação de consciência, quem sabe, coletamos notícias de ambientalismo, apregoamos aos quatro cantos a necessidade de mudança de modelos, mas, dentro de nossas almas, ainda alimentamos o espírito com a mesma cadeia carbônica que dá origem ao petróleo, ornada por hipocrisia e apimentada por deslealdade.

Entendo agora porque a temperatura cai, porque está tudo em um outro "tempo"... É o recado que Gaia tem trazido para as incrédulas, que sempre se acham e colocam num obelisco imperial, olhando o mundo que destruíram com a impáfia do colonizador obtuso.

E não adianta...

A Natureza não modificará sua sina para nos agradar. Pela primeira vez na História estamos onde sempre deveríamos estar: quedadas, prostradas, exauridas de tanto lutar contra Gaia...Seria mais fácil reconhecer a limitação, para vivermos em paz com o que Ela nos oferece sem pedir muito...

Bom dia geladinho para todo mundo!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Antes só do que mal acompanhada...


Há três semanas comecei uma rotina de disciplina, nada pedindo à Deusa, mas, antes, apenas agradecendo. Agradeço a tudo. Por tudo. Nada escapa dos meus agradecimentos...

Agradecendo a retirada dos véus de incerteza e ignorância que minam nossas frontes para a realidade, agradecendo pela ocorrência de eventos "para lá de providenciais", pequenos milagres que apontam mudanças de eixos em nossas vidas.

Agradecendo por quebras de rotinas e aproximação de entes queridos, bem como pela desconexão de caminhos percorridos em comum com outras pessoas.

Agradecimento. Apenas isso.

Como resultado desse expediente, a vida parece que ficou mais leve e eu, mais certa em relação a mim, ao que sou, aos caminhos que desejo trilhar.

A senda do autoconhecimento que hoje está apontando para o caminho solitário não traz a menor mácula de constrangimento ou de vergonha. Não enxergo, enfim, na solitude marca escarlate alguma. Essa é a minha vida, a minha visão e, até onde sei, o que desejo para mim, sem que outras pessoas definam por mim o que EU QUERO E DESEJO.

Existem pessoas que, por medo de si e do que enfrentarão sozinhas, optam pela realização de tramas, teias e relacionamentos "para cumprimento de tabela". O relacionamento, para elas, é fardo e, muitas vezes, motivo de piada ou ironia, forjadas apenas para aliviar a tensão e a frustração por não romperem com seus padrões internos. Não querem ficar SOZINHAS pois temem o que enfrentarão diante de si quando o silêncio encontrar a alma.

Daí, verdadeiros pactos de mediocridade são feitos, dentro dos quais se "brinca" de casamento, de namoro, de união estável e até de amizade, tudo em cima de uma gangorra de poder e hipocrisia, onde o estado de beligerância é a máxima de comportamento assertivo. Afinal, não queremos mostrar para o outro nossa incongruência humana, pois isso nos torna "fracos e fracas". Blargh, é isso???

Por certo que todo relacionamento apresenta zonas de turbulência e conflitos: é inerente a uma sociedade plúrima o conflito social, quem dirá o conflito inter-pessoal.

Não é disso que estou falando, mas sim dos relacionamentos doentios que trazemos para nossas vidas, sob a óptica de sermos "normais". Que normalidade é essa que aponta para o desrespeito e o distrato nas relações humanas? Para a opressão? não, não...

Já fui duramente criticada pela minha opção em "estar" só. Eis a diferença entre "estar" e "ser" sozinha: isso não é ruim, porque, afinal, não preciso dar a menor satisfação do que faço da minha vida para quem quer que seja! Como é bom não ter amarra...

Não se trata de uma chaga, uma doença, mas, antes, de um grande momento de reflexão, para que, depois, eu possa fazer melhores escolhas em relação a tudo em minha vida: namorados, esposos, amantes e amigos.

Por isso, antes estar provisoriamente sozinha do que eternamente mal acompanhada!

Hey, ho!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A Soberania e o Rei


Conta a lenda que um poderoso rei, certa feita, foi caçar no bosque além dos limites do castelo. Quando atravessava a ponte, viu uma senhora esfarrapada sendo atacada por um homem. Rapidamente o regente desembainhou sua espada e mirou no coração do homem fundo o bastante para atingir mortalmente o coração do algoz, salvando, assim, a senhora da morte.

"Muito grata, meu jovem" - sorriu a velha, sem que em sua boca estivesse estampada a existência de um só dente - "Aquele homem horroroso era um poderoso mago que me mantinha como escrava e, com a morte dele , libertei-me".

"Que bom, minha nobre senhora!"- respondeu o rei de tenra idade - "Agora a senhora poderá seguir o curso de sua vida e seguir em paz", imaginando que, pela idade da anciã, o destino mais próximo seria a morte em paz e com dignidade.

"Ah, sim, vamos, então, direto para seu castelo, onde nos casaremos em grande festa" - replicou a senhora seguida pelo assombro do jovem. "Eu era cativa do mago e reza a profecia que eu seria resgatada pelo rei que deve, depois, despojar-me, ou, caso contrário, a praga da fome e da doença iria abaterão o reino" - explicou a mulher calmamente, observando o semblante de desespero que se formava na face do rei.

"Cumpra-se, então, minha noiva, minha sina. Se for para o bem de meu reino, então que nossas bodas sejam as mais requintadas daqui. Vamos!" - bradou, enlaçando a senhora e cuidadosamente alojando o frágil corpo senil na garupa do cavalo branco.

Antes de o rei e sua noiva chegarem ao reino as notícias já corriam.

Todos olhavam com pavor aquela inusitada cena: um jovem carregando uma senhora com idade para ser sua tataravó. Ninguém acreditou no fato até o rei cruzar os portões e ser saudado por seus súditos, que se entreolhavam, ao mesmo tempo em que acenavam para o monarca.

Foram 9 dias de festa, de acordo com a tradição. Os convivas ainda tentavam se acostumar com a picardia de uma anciã ser consagrada rainha, pois a crença comum era de que o rei iria despojar a jovem princesa do Norte, herdeira dos segredos do povo élfico que outrora habitava ali.

Ao cair da noite, o rei, percebendo o triste desenlace da prima nocte com sua rainha, imbuído de toda a serenidade digna de um filho de Avalon, gentilmente se levantou, saudou o povo, pegando a rainha-anciã pela mão e a conduzindo para o leito real.

Ao chegar ao vestíbulo, a anciã falou para o jovem: "Meu querido esposo, eis nossa noite de núpcias. Fui enfeitiçada pelo mago e, de acordo com o feitiço, o senhor poderá me enxergar jovem pelo dia ou pela noite, quando me transformarei apenas para nosso deleite. O que escolhe? Ter-me linda durante o dia, jazendo com a noite minha senilidade ou tomar-me como sua à noite, permanecendo eu velha e enrugada à luz do Sol?" - indagou a rainha para o nobre e bondoso rei.

Este, compadecido e sábio, olhou ternamente para a senhora anciã e respondeu: "Minha senhora, minha rainha. És plena e senhora de seu destino. Não cabe a mim tal escolha porque és tu quem deve decidir o que de melhor deves fazer. Aceitarei de bom grado o que me permitires realizar, pois me ajoelho diante de sua Soberania e experiência".

De súbito ouviu-se um estampido. Um estrondo ecoou pelo vestíbulo, seguido por luz intensa, que se alastrou pelo quarto e envolveu a anciã.

Momentos depois, para total assombro do rei, exsurgia no lugar dela uma linda mulher, que se aproximou do rei murmurando: "Meu amado, sem saber quebrastes a maldição do mago. Estava condenada a vagar pela terra transmutando-me de moça à anciã até quando um rei de coração leal me permitisse escolher em qual momento do dia gostaria de ser jovem. Hei de ficar assim, jovem, e seguir o destino dos anos, pois o senhor, reconhecendo a Soberania em mim, salvou-me do infortúnio".

Repletos de felicidade, rei e rainha, então, dirigiram-se para o leito e, brindando a Lua, enlaçaram-se em um só coração, vivendo felizes na plenitude da Soberania por muitos e muitos anos.

Qual a moral da história?

Feliz e abençoado o homem que, reconhecendo a Soberania presente na ancestralidade da alma de cada jovem mulher, permite se entregar à ela e cultivar a cumplicidade...
O rei tinha na rainha seu duplo complementar, na dualidade que une homem e mulher em carne, para a consolidação do reino deídico na Terra.
Muitas histórias celtas trazem a demanda de Soberania.
O próprio relato de Arthur, quando descobre a traição de Guinevere, transforma a perda da Soberania (rainha) na necessidade de cura da ferida que nunca sarava, na história da Demanda do Santo Graal, o cálice sagrado que, de fato, nada mais é do que o próprio útero da Deusa, provedora de fecundidade e renovação.
Nesse sentido, a história do Rei Pescador traz a lembrança daquele que está a colher do mar de incontáveis emoções (água) a eternização de captura do peixe (sabedoria) como condição de mantença do reino (de si, de auto-realização).
Assim como Arthur se vê despojado de Soberania, tanto em face de perder a companhia da mãe (anciã), bem como da irmã-amante (Morgana, deusa), sabe e necessita, ao final, cicatrizar a ferida pelo bálsamo que esvai do Graal.
Quando o jovem rei fala para a anciã que é ela quem deve escolher, está reconhecendo na experiência dos anos - uma metáfora para a idade avançada da senhora - os misteriosos segredos do feminino, ligados à terra pela soberania do que é não revelado pela razão.
Ele reconhece a potestade e, dentro disso, queda humilde em face da escolha inerentemente caber à anciã. Ela quem deve decidir seu destino, sendo respeitada por isso independentemente de o resultado agradar o parceiro.
Mesmo diante da primeira exigência da anciã - de ser levada em cortejo para o casamento - a permissão do rei para a anciã escolher veio sem coação ou dor, guiada pelo sentido altruísta do dever que tinha para consigo (pois sendo rei confundia-se com o povo), fruto do coração nobre e sábio, de modo a quebrar o bruxedo do mago.
O bruxo, por outro lado, pretendia usurpar a Soberania para si e, por conta disso, trancou a mulher em uma bruma de maldição perpétua.
Ela vagaria pelos confins naquela configuração - anciã - sem que pudesse vivenciar o estado de alma - jovem alma - que possuía. Outro ponto importante da narrativa, pois enquanto um homem aprisiona emocionalmente a mulher para usurpá-la, o outro liberta.
Um quer espoliar a Soberania.
O outro deseja a liberdade e, por ela ser tão cara, permite à parceira exercê-la. Não se trata de uma 'permissão' em face de exercício de poder, mas sim, de reconhecimento de igualdade no exercício do poder, condição imprescindível para a simetria do Casal Sagrado e, por resultado, o equilíbrio no mundo.
Eis o sentido de uma relação livre em sua origem, que não traz mácula de usurpação, pois cada qual, sabendo de si, pode oferecer ao outro o que tem de melhor.





segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Vampirização e usurpação psíquica



Sêneca tem uma frase magistral: "quando um homem não sabe a que porto se dirige, qualquer vento lhe é desfavorável", lembrando-nos da necessidade de um foco na vida, para que não fiquemos vagando, vida após vida, em meio à imensidão do atropelo da ignorância em relação ao nosso destino.

Não estou falando em saber o que fazer da vida profissional, amorosa, sentimental, afetiva.

Nada disso.

A dimensão é muito mais profunda do que as realizações materiais ou sentimentais. Trata-se do reconhecimento do foco relacionado à essência, ao direcionamento da alma rumo a senda do descobrimento pessoal.

Isso extrapola a questão de auto-realização no plano financeiro, econômico, acadêmico. É o saber-de-si em termos de percurso, sabendo que o trilhar, em si, que é importante, é o destino realizado no aqui e no agora.

Quando não temos a menor noção do que estamos fazendo e quando a memória é curta em relação ao que já fizemos - nessa e em outras vidas - a compreensão de si torna-se difícil, onerosa.

Perdemos energia e, diante da inevitável perda, transformamo-nos, pouco a pouco, em vampiros psíquicos, alimentando-nos da energia vital de outras pessoas, drenando-as até a exaustão.

Muitos e muitas vampiros e vampiras psíquicas agem inconscientemente, segundo pesquisas. Duvido muito, pois não acredito em ignorância nesse nível de perspectiva. A humanidade alcançou - via internet, principalmente - um patamar de alcance e acesso a conhecimento ímpar, o que traz a fácil captação de informações do plano do inconsciente coletivo para nossas mentes.
Não existe desculpa, pois lemos mais, descobrimos mais, temos mais acesso à toda informação. Basta digitar "vampiro psíquico" que uma vasta literatura surge bem diante de nossos olhos incrédulos...

Todo vampiro sabe, no fundo, que prejudica alguém, até mesmo em face da dinâmica da culpabilidade judaico-cristã que aponta para um inerente "peso na consciência". Mesmo aparentemente desconhecido aos olhos do total desvendamento, a culpa faz com que o vampiro ou a vampira se compadeça - em algum plano - em relação às drenagens que realiza.

O primeiro sinal da vampirização materializa-se na negação: o vampiro se acha "gente boa" e tenta convencer a todos que é "joinha, joinha". Mas basta o menor sinal de conflituosidade para que os caninos apareçam, porque ele/ela é incapaz de ver o mal que produz ao seu redor, tornando-se a vítima no processo.
Ele(a) não se assume porque é mais fácil e indolor acusar levianamente outra pessoa, tentando convencê-la de que está errada, viajando e que "as coisas não são assim". Mesmo que esteja com os dentes cravados no pescoço de alguém, o(a) vampiro(a) jura que é "gente boa" e que a outra pessoa necessita de internação em alguma casa manicomial.
Ontem conversava com um bruxo, que me disse que o ponto de atração dos sanguessugas reside nos olhos, já que, janelas da alma, revelam sempre a centelha essencial.

O brilho no olhar é a jugular para os vampiros de plantão porque a alma se revela em sua pureza por meio da faísca que reluz de nossos olhares. Uma pessoa "sem vida" não traz brilho no olhar e, portanto, não se faz uma boa "presa" para o vampiro. Ou, diante do semi-brilho, o chupador de energia se agarra ao que pode, mantendo uma relação de parasitismo com sua parceria-zumbi. São, portanto, dois mortos-vivos, o vampiro(a) e a vítima que jaz moribunda.

Basta drenar o que resta da vítima para o(a) vampiro(a) partir para outras enseadas, tentando angariar outros séquitos de pessoas desatentas para suas tramas e teias. Quem já leu A profecia celestina sabe bem do que estou falando, que é exatamente o fluxo e o refluxo de energia "furtada" quando, por exemplo, estamos diante de alguém que "fala demais por não ter nada a dizer", ou, ainda, o(a) vampiro(a) vítima (que é sempre o(a) pobrezinho(a) numa 'conspiração cósmica' contra ele(a)).

Ou, então, o(a) vampiro(a) crítico(a), que sempre está desqualificando todos ao seu redor. Nada para ele(a) está bem. Ainda existe o vampiro(a) cobrador(a), que espera que o mundo faça exatamente o que deseja em termos de comportamento e, ao menor sinal de desagrado, vocifera para os quatro cantos sua ira, querendo e querendo.

Pensei também no vampiro projetivo, que é aquela figura que não tem a menor coragem de fazer mudanças em sua vida e tenta se realizar por meio dos outros, manipulando, com carinha de bonzinho, quem puder, para se vincular energeticamente à realização do outro. Essa tipologia, então, é das mais perversas, porque o(a) vampira deseja a vida do outro, deseja "ser" o outro, mesmo que jure - de pés e mãos juntos - que sua vida é "ótima".
Poderia escrever a noite inteira sobre um catálogo de vampirização sem esgotar as possibilidades. Acho interessante, porém, deixar o assunto à reflexão de quem desejar fazê-lo.
Uma dica para se prevenir dos vampiros e das vampiras de plantão é desmascará-lo(a): não resistem ao espelho, até mesmo porque - como sabemos - eles não têm imagem refletida.

Sabem por que?

Porque não tendo energia vital, não têm identidade e, não tendo identidade, não sabem quem são. Por isso que o(a)s vampiro(a)s não aparecem quando estão de frente para o espelho. Por isso precisam da energia identitária dos outros: não suportariam ter que olhar para si...
E na roda da vida, vocês bem sabem, vampiros e bruxas não se misturam, pois são como água e óleo no caldeirão do mundo. Resta saber quem, no teatro da vida, manifesta-se como um ou outro para sabermos se andamos com alhos ou pentagramas!
Hey, ho!

Do alto de um grande vale


O Vale do Moinho...
Um lugar em que os elementos se encontram...
Desse pórtico eis que surge a tela em que a Pintora Universal deitou o pincel e caprichou, usando a Terra como paleta, a água como solvente, o ar como pincel e o fogo como inspiração. Do alto dessa labareda vemos o portal se abrir em um grande manto verde, ora esmeralda, ora ocre, dependendo da estação do ano em que visitamos esse musem a céu aberto.
Lá embaixo reside o etéreo.
Como pode o etéreo quedar embaixo? Simples, subvertendo, nós, mortais, a perspectiva com que olhamos o mundo. Basta transpor céu e terra para que o horizonte seja o solo sagrado e a Mãe, Gaia, a perpetuidade do que se dissolve no ar...
A vista não se cansa, a alma se regozija. Deleita-se ao som do Rio Bartolomeu, com suas águas cor de olho-de-tigre, moldando as pedras ao longo do trajeto, acomodando sílfides inquietas com a presença do humano, guardiães da sacralidade que se revela para quem se permite.
Ontem percebi porque gosto tanto de olho-de-tigre... Bastou colocar meu anel no rumo do horizonte em que se encontrava o leito do rio para observar que sempre procurei em meus dedos o que estava ali à minha frente...em minha alma! O rio e sua sabedoria lânguida em simplesmente correr...
Viagem? Sou uma viajante, não nego, andarilha dos espaços nas espirais de tempo sem linearidade. Eis-me uma verdadeira viajante, sem estação certa de deitar meus pés, porque meu caminho é por onde passo, o tempo inteiro.
Com ele crio meus mundos e sintetizo minhas verdades.
São minhas verdades, é bem verdade, mas peculiarmente plasmadas na compreensão de vaporosidade de impermenência que reside em cada pedaço de verdade que a Deusa colocou no mundo.
Que verdade? Que viagem? Que delírio? Talvez os dos "loucos" e das "loucas" que galgam estrelas! Afinal, quem não acredita no espaço qualquer viagem pode ser insana...
Quantas "viagens" serão necessárias para a transposição de modelos de invisibilidade?
Inúmeras, dependendo da limitação com que insistimos em "catalogar" pessoas, sensações, nós mesmas. De tanta culpa, culpamos um mundo que nos traz alegria. Mas, enfim, adeus aos catálogos...comecemos com aqueles que residem em nós, subvertamo-nos pois, a partir daí, eis que surge a felicidade como estado de bem-aventurança (mesmo diante da turbulência).
Mas, enfim, quanta FE LI CI DA DE um coração é capaz de reverberar?
O bastante para se lançar em vôos cada vez mais altos, para cenários como este, alcançáveis com a mente aquietada e o espírito em festa para a chegada das estações.

domingo, 15 de agosto de 2010

Avalon é aqui!


Onde está a Avalon sagrada de cada uma de nós?

Vindo de Alto Paraíso e deixando para trás o mesmo Sol Vermelho que havia me brindado no alvorecer do dia anterior, percebi que nossos lares sagrados estão nos templos cravados dentro de nossos corações, o pedaço de divindade que se plasmou em nossa materialidade, nossos corpos adornados pela chama da criação.

Vivemos em Avalon quando vivenciamos em nossas almas a espiritualidade no aqui e no agora...

Nossas moradas de poder e força estão no aconchego do afago amigo de nossos amigos, que despertam o que existe de melhor dentro de nós.

No bem querer despretensioso, que não drena, que não usurpa, mas, antes, que compartilha apenas com um olhar, quando, para outras pessoas, muitas vezes, é necessário falar tanto - sem nada a dizer (como falava Renato Russo).

A Terra Sagrada está em nós... na comprensão e no sentimento de sermos firmes, fortes, poderosas e plenas, cheias do vigor da sacralidade que subsiste mesmo diante de tantas batalhas. Nobres batalhas de honra e dignidade, bons combates que, ao final, levam-nos para nossos lares quentes...

Avalon é a morada para o repouso do espírito que sobrevive ao corpo perecido, é a a-localidade e a-temporalidade, que permanece mesmmo quando nossos egos não mais se lembram de nossas vidas anteriores. A fagulha sagrada permanece em Avalon, as reminiscências também!

E eis que, depois, tudo ressurge, embalado pelo espírito!

sábado, 14 de agosto de 2010

Meditando com os quatro elementos

O dia começou cedo, por volta das 5 da manhã.

Precisávamos "pegar" o lindo Sol vermelho de fim de inverno. Que ingenuidade, heim? Afinal, foi ele que nos arrebatou, com as faíscas que saíam copiosamente de seu núcleo intenso, fazendo com que nos lembrássemos da nossa ancestralidade: o espírito quinta-essencial.

Sol vermelho... À medida que a primavera começa a dar seus primeiros sinais de ingresso, o Sol desponta no alvorecer com uma tonalidade mais rubra, rompendo o céu tisnado de violeta e azul, dispostos em tons que se harmonizam numa espécie de mandala etérea de Shambala.

Hoje fomos brindados com um espetáculo: em plena estrada para Alto Paraíso, tendo um séquito de jipes rumando para o rallye dos sertões, com o Sol Vermelho no horizonte das "mesas" da chapada!

O Grande Deus, Pai Solar, esteve presente durante toda nossa viagem, aquecendo nossos corpos e acalentando nossos corações repletos de histórias a compartilhar.

Eu e meu irmão seguimos nossa trajetória em comum novamente, trocando experiências de quatro anos de estradas paralelas. A Deusa veio velando por nós, quer seja na melodia que nos embalava, como em cada movimentação durante o trajeto. Flutuamos e, quando menos esperamos, estávamos já aqui, em pleno coração do Brasil, no Portal da Chapada dos Veadeiros.

Poço encantado, adivinhem a razão do nome...

Um caldeirão densificador, para onde convergem os elementos. O céu, condensado o ar e movimento as idéias, orações e os mantras. Brotando da terra a água na torrente que vinha do rasgo da cachoeira, coabitando, lado a lado, a parceria entre gnomos e nereidas. O Sol, ah, sempre o Sol, aquecendo nossas almas.

Ar, água, terra, fogo e nossos espíritos!

Ornados pelo calor de uma grande roda, a roda dos guardiães das Grandes Torres.

Meditações, invocações, gratidão.

Tudo está se renovando e, com a transmutação, nossas almas se rejubilam.

Hey, ho!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Sagradas Rainhas da Ilha...

Em genial cena do filme Elisabeth - A era de Ouro - quando a Rainha Mary Stuart recebe do emissário da Rainha Elisabeth a notícia de que seria executada no dia seguinte, no auge de sua majestade fala a todos li: "Vós não sabeis quem sois. Eu sei quem Sou. Sou uma Rainha e morrerei assim como vivi, como uma Rainha".

No dia de sua execução, Mary veste uma linda túnica vermelha, que deixa os ombros alvos à mostra e segue pelo corredor até a madeira onde deitará o pescoço. Não anda, flutua altivamente, lembrando que até mesmo os seres etéreos deixam passos de pedra no chão. Olha fixamente para o horizonte que irá receber sua cabeça. Seu olhar sequer se desvia para as damas-de-companhia, pois, Rainha, sabe de si.

E sabendo de si não esboça medo, pavor ou qualquer outro sentimento, mesmo que, dali adiante, enfrente a morte.

Afinal, era Rainha e morreu nos braços da certeza de ser imaculada e inatingível, ungida pela origem divina de sua estirpe, sabendo-se herdeira de um panteão de deidades e na certeza de que sua casa no Outro Mundo é povoada pelos ancestrais que se distinguem dos homens do povo.

A firme, forte, poderosa e plena Mary transpôs o mundo com a cor do sangue e do poder, o talismã dos cardeais, o vermelho que acena para a centelha do elemento fogo, retornando, assim, para a morada dos nobres no mundo dos espíritos...

A passada forte marca a resolução da diretriz de sua vida e, ao final dela - sendo ciente de si, a determinação em face de suas condutas, seus comportamentos, suas resoluções.
Mary tentou ascender ao trono em detrimento de sua prima, Elisabeth, que julgava bastarda. A ruiva era uma Rainha "puro sangue", na exata acepção da palavra e, sabendo de sua origem, desencadeou uma teia de ações e reações que culminaram em sua morte. Ela bem poderia ter vivido à sombra de sua prima, sendo vassala em relação à Rainha Virgem.

Se tivesse feito isso, talvez, a História ou nós, não teríamos substrato para falar tanto assim nela. Assim como Boudicca no filme "A Rainha da Era do Bronze", eis o recado que paira no ar: "grandes guerreiras e heroínas nunca morrerem porque o transcurso das eras demove da história a sombra do esquecimento."

Lembramo-nos de Elisabeth, é bem verdade, mas também nos lembramos de uma Rainha que poderia estar viva, mesmo estando morta em relação aos seus sentimentos, à sua vida e, sobretudo, à sua essência de sabedora de si.

Quando foi informada sobre a ciência de Elisabeth em face das cartas que secretamente trocava com Felipe da Espanha, Mary Stuart chorou... Urrou como uma grande ursa atingida no útero (tanto que no filme, segurou seu ventre, mostrando a pontada lacerante de dor em face do futuro inevitável que, a partir dali, estava sendo traçado).
Mas, mesmo urrando - por segundos - voltou a si, na plenitude de sua fleuma como imponente membro de uma casa real, segura de que seus propósitos foram cumpridos com lealdade. Afinal, era ela A rainha que deveria estar no trono da Inglaterra... Quem poderia, pois, julgá-la? Sua prima dita "bastarda"?

Qual o recado que Mary Stuart nos deixa? Ou, ao menos, o recado que ela deixa para o dia de hoje?

Mary se reconhece no Sagrado como deusa, perguntando para o vassalo se ele sabe, ao menos, quem é. Essa é uma pergunta muito capciosa, "quem sou?", nem tanto pela reflexão sobre nossa essência, mas, em refletindo (ou não, quedando ignorantes), sabermos nos apresentar e posicionar perante a vida sem o véu de encobrimento da verdade sagrada que nos move.

Quando nos dispomos a saber quem somos e, dentro disso, quando mergulhamos no profundo lago do autoconhecimento, somos brindadas pela possibilidade de compreensão da vida e, por resultado, do nosso semelhante. Posicionamo-nos no lugar dele, apreendendo como seria a reação se, por exemplo, adotássemos uma conduta, ou outra.

Quando sabemos ou procuramos saber quem somos adotamos uma postura - assim como Mary Stuart - de serenidade diante da vida, por ser a vida, em si, um mar onde nosso ego mergulha para, ao final da jornada, vir a se encontrar com o Todo, a Deusa, o Pai.

Sabemos quem somos, sabemos com quem nos relacionamos, sabemos, apenas sabemos.

Sabemos quais as posturas de dignidade, lealdade, amor e compaixão que devemos adotar, não por obrigação judaico-cristã de temeridade a um Inferno que, muitas vezes, para alguns, já é aqui, mas em face de nossa essência gratuitamente apontar para o bem-fazer moral, sob a égide da incondicionalidade no fazer o bem ao próximo.

Sabemos ou procuramos saber o que fazemos ao outro, ocupam-nos com o bem-querer alheio até mesmo acima do nosso - afinal, sabedoras de nós, agora, despojadas do ego, nossos capazes de amar o próximo como a nós mesmas - posicionando-nos acima do bem e do mal, em face das intempéries da vida.

Quando sabemos quem somos não precisamos nos esconder porque podemos olhar de frente, sempre de frente, para quem quer que seja e dizer a que viemos. Sem traumas, sem ranhuras. fazemos rupturas sem olhar para trás, afinal, sabemos quem somos e sabemos que trilhamos o mar ora calmo, ora turbulento.

Quando sabemos quem somos um manto de benevolência adere ao nosso espírito e a palavra passa a ser ouro. Sabemos o que falar, o que prometer. Não falamos demais e não prometemos o que nunca poderemos cumprir, quer seja uma reflexão, um encontro, uma parceria, uma amizade ou até mesmo um amor.

Quando sabemos quem somos poupamos o outro de enfrentar as idiossincrasias em nosso nome: assumimo-nos diante dos compromissos da vida. Crescemos, afinal, recém-saídas de uma "maratona Peter Pan" e encaramos o devenir com a serenidade daquele que caminha para a eternidade.

Quando sabemos quem somos dirigimo-nos, tal qual Mary Stuart, para o enfrentamento do desconhecido com a certeza de sermos embaladas pela fé.
É o que basta para sermos admiradas, eternizadas e, com isso, vivermos nos corações dos jovens nas histórias de jornadas heróicas que nossas herdeiras irão contar para suas linhagens.

Hey, ho!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Pescadora de ilusões

Acordei embalada pela melodia...

Poderia resumir minha vida à música. Parar de falar e apenas cantar, pois, assim, eliminaria o resquício de incompreensão racional, para entender apenas com a alma. É o bastante, ao final.

Eis uma letra simples, curta e singela, disposta melodicamente em repetições, dentro no mesmo compasso, que se propaga rumo à eternidade. É, porém, de uma profundidade ímpar em apresentar um pescador que se lança com a isca para o mar de experiências de sua vida...

"Se meus joelhos não doessem mais diante de um bom motivo que me traga fé. Se por alguns segundos eu observar e só observar a isca e o anzol, ainda assim estarei pronto pra comemorar, se eu me tornar menos faminto que curioso. O mar escuro trará o medo, lado a lado com os corais mais coloridos. Valeu a pena eh eh, valeu a pena eh eh, sou pescador de ilusões. Se eu ousar catar na superfície de qualquer manhã as palavras de um livro sem final, sem final."

Minha vida confunde-se com o retrato heróico de um grande mar de possibilidades, que apresenta o medo ao lado da beleza contida na "dureza" colorida dos corais. Eles machucam, mas embelezam a vida, assim como as grandes pedras que se colocam em nossos caminhos também o fazem. Todas as pedras, ao final, tornam-nos mais fortes diante da aparente rudeza e dureza dos obstáculos.

A contemplação da isca, para mim, vem naquele momento em que para o tempo - se por alguns minutos - e me vejo dentro do processo de "pesca" de possibilidades e vivências que são um composè entre o meu artesanato como pescadora, a vara, que pode, ou não, ser feita por mim - mas foi feita por alguém - e a isca viva, que nada mais é do que a energia vital conectada a mim - numa simbiose - que vai abocanhar e ser abocanhad, atraindo as possibilidades do mar da vida...

Não, a isca não morrerá, ela não será destruída ao ser comida, mas, antes, compondo cada molécula de um peixe, confundir-se-á com ele, entranhar-se-á tanto no mar (feminino), como no peixe que sorve todos os nutrientes disponíveis naquela singela isca.

Apenas é possível perceber isso sendo mais contemplativo (referência ao "curioso" na letra) do que faminto (ávido em face do instinto de preservação e alimentação).

É a contemplação despojada e desinteressada em deixar fluir o instinto que alcança o sentido de apreensão da vida...Tudo isso com a coragem (ousar) de saber que a vida é um grande livro sem livro, porque ele, o final, é a imensidão...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Quando as folhas caem e as realidades aparecem

Sabe aquele dia em que misteriosamente acordamos intuitivas e enxergamos nas folhas que caem um grande sinal da Deusa em nossas vidas? Ou, então, um providencial atraso que, longe de ser tomado pejorativamente como um "atraso de vida", mas que se revela, na verdade, uma situação benéfica para nossa vida?

As folhas caem, os pássaros cantam nas horas de insight, encontramos pessoas que não víamos de longa data, o pneu fura. Enfim, dependendo da maneira como escolhemos ver o dia, tudo é uma providencial forma que a deidade encontra para nos dizer sutilmente, "entre em paz consigo e observe as possibilidades desse caminho, filha".

E o que é mais legal nisso tudo é saber que mesmo diante de possibilidades aprioristicamente colocadas diante de nós, temos o livre arbítrio para sempre ousar subverter os prognósticos da chama interan, revertendo, tudo, ao final, em uma síntese de conhecimento, compreensão e aprendizagem.

Não existe atropelo diante da conexão com a Natureza - quer seja a interna, nossa essência, como a externa - nossa grande Mãe Universal, Gaia, Demeter, Cerridwen ou Anu, porque, ao final, somos todas expressão maior de materialização do grande poder cósmico que habita nossa alma e povoa as estrelas.

Se nos permitirmos a conexão, o Universo se revela em um sofisticado código, a linguagem sutil acessível apenas para quem se permite observar além do que o aparente óbvio pode oferecer. O mundo, afinal, é um complexo denso de idéias, sensações, pensamentos e projeções que estão, pouco a pouco, a se entregar para nós...

Deixemos as folhas caírem... e observemos o que se esconde e revela por trás do húmus que se formou ao chão...

Hey, ho!

sábado, 7 de agosto de 2010

Ode à minha luz...

Não tentem me encontrar em um lugar frio, pois não moro em casas ou apartamentos...
Apenas pego emprestado, de bom grado, algum deleite de pernoite, encostando minha cabeça sob algum teto efêmero que, logo, logo, irá se desfazer, como o vento que sopra e se esvai, deixando apenas a lembrança por onde passou...
Habito as estrelas e, com elas, faço-me plena de luz!
Como saber onde moram as estrelas? Afinal, quando as vemos, já feneceram, ao mesmo tempo em que insistem em existir, em lembranças cósmicas, bem diante de nossos destreinados olhos que procuram luz...
Onde está a luz? No campo áureo das estrelas que já quedaram, iluminando com sua explosão fatal a morada incompreensível dos deuses. Ultrapassaram o mundo dos formatos e, com isso, formam-se plenas em si, sem modelos pré-concebidos de percepções fragmentadas de essência.
Não tentem reter minha luminosidade em fórmulas prontas de como ser, estar ou agir...
Sou luz, não preciso de rótulos. Se'"estou" é porque, para muitos, não "sou".
Sou em mim mesma, basto-me de predicativos.
Não sou apenas, estou apenas em sendo e, sendo plena - é o que sei que estou - é o bastante para simplesmente continuar brilhando!
Não se apreende a luz em uma vidraça, pois a luz corta, como fio de navalha, o vidro tênue, lembrando que energia é muito mais do que matéria, é a própria alma preexistente ao físico, que vem aqui e acolá, brincando de esconde-esconde com quem deseja se fazer conhecedor do Outro.
Não tentem, ainda, colocar-me em um lindo embrulho vítreo, pois não pertenço a ninguém neste mundo. Nem a mim pertenço! Sou do Universo e, com ele, minha centelha sibila, percorrendo planetas e visitando constelações.
Não posso estar nas prateleiras dos que desejam se apropriar do que reverbera de luminoso em mim, pois tenho muito a iluminar nos percursos que pretendo fazer. Para que tanto egoísmo? afinal, somos luz, tudo é luz! Quando abro mão da minha para outrem iluminar, o Universo fica mais escuro...
Não tentem, ainda, entender-me no que faço em desacordo com o mundo, pois faço o meu mundo e, dentro dele, as regras são minhas... Sou luz e a luz é incompreensível mesmo para quem não entende como uma onda eletromagnética pode, ao mesmo tempo, ser mecânica!
Faço o que posso, quero e desejo fazer, pois, de fato, somente faço o que me deixa feliz.
Se estou feliz, o mundo brilha e as faíscas dos que me são queridos e sagrados brilham em meu céu, como uma dança de sílfides que despontam na abóbada entre-mundos.
"Meu destino não é de ninguém e não deixo meus passos no chão"
Flutuo em meio a um grande mar de almas que estão querendo se encontrar.
Sou os encontros e desencontros, as aventuras e bem-aventuranças dos pescadores de ilusão que trancetam pelo mundo, os Loucos plenos de si que vagam, incompreendidos, pelo oceano de almas aprisionadas no código linguístico do orgulho, da vaidade, do egoísmo e do desamor.
Sou Amor e não carência.
Sou sentimento e não dependência...
Sou sentidos e não indiferença.
Sou a marca da divisão de mundos. Coloco-me no eixo mundano de um mundo de amargura dos que ficam para trás em meio às histórias de sofrimento e me prostro como arauto transcendental de uma nova era, onde tudo evapora para dar espaço à compaixão, à convivência e ao amor desapegado...
Sem julgamento, sem jogos, sem fantasia... Pois será, um dia, esse mundo, a própria ludicidade do
Amor convertido em ação...
Eis que se faz a Luz!
Lucce... fiat!

Celtic Soul na Taberna Mittelalter

Divulgando apresentações de nível...

O grupo Celtic Soul irá se apresentar na Taberna Mittelalter nos dias 13 e 27 de Agosto. Vale a pena conferir! O couvert artístico é R$10,00 e a música é de excelência!

Hoje é dia de outra apresentação, Sol da Meia Noite, banda de música celta irlandesa, a partir das 21h00min. O couvert também é R$10,00. Noite auspiciosa para relembrar o passado medievo no aqui e no agora.

Slàinte, lads!

Crônicas de um rosto na multidão

Dentre tantos ciclos que estão a se fechar e abrir nos caminhos da vida, a frase da semana veio em um lampejo, quando, dentre tantas informações, ouvi o som de um compasso extraído da sinfonia de uma pessoa extremamente sensível que, no auge de um suspiro extremamente sincero, tocou a fundo minha alma antenada, deixando uma pérola no ar de inquietudes...

"Um rosto na multidão".

Não importa muito o contexto, porque, afinal, criamos contextos o tempo inteiro, dentro de tantos outros contextos que nossa imaginação nos permite alcançar.

Lembrei-me, a partir daí, de tantas e tantas experiências vividas, bem como das pessoas cujos caminhos, ao longo da minha sina, tangenciaram os meus. Lembrei-me das levas de pessoas que vieram, foram, levando e deixando partes e modificando essencialmente os caminhos e as escolhas que fiz na vida.

Coloquei-me na reflexão sobre o que representa destoar de uma concepção de mundo miseravelmente infeliz, mesmo esboçando o sorriso pouco luminoso de um orgulho que encobre frustração.

Senti-me acalentada por ouvir uma pessoa confirmar a sensação maravilhosa que me persegue de realmente ser e gostar de ser "um rosto na multidão", afinal, numa multidão que apenas SOBREvive, ser um rosto não desperta muito interesse. Ainda bem! Já imaginaram o quanto seria uma tarefa árdua tentar escapar dos zumbis que estão a perambular pelo mundo?

Ao ouvir essa frase, compartilhei, por efêmeros segundos, a sensação de, em alguns episódios, perguntar para mim o que estava acontecendo no mundo para que os seres - nós, humanos e humanas - pudéssemos olhar o outro com a mais completa indiferença emocional, como se ninguém mais tivesse face ou coração.

Como se pessoas simplesmente passassem sem que sequer perguntássemos seus nomes. Já repararam como até mesmo no tratamento formal ou comercial, tratamo-nos de "senhora", "senhor", "muié", "hômi", "tio", "tia"?

Nesse contexto, transformamo-nos em meras alcunhas - da pior espécie, porque dentro da nomenclatura familiar ainda agregamos, sem saber, os vícios e intempéries das relações domésticas - forçando a barra e agindo com o próximo de uma forma tão frívola e leviana que, ao final, "somos amigos" após cinco segundos de conversa, regada, quase sempre, à cadeia carbônica de C6H12O5.

Amizade não se compra, não se adquire na superficialidade em que se enverniza o ego, colocando, talvez, um lustra-móveis para a máscara ficar mais "bonitinha", mas, antes, consolida-se a partir do momento em que sabemos enfrentar a NÓS, expondo-nos em nossas fragilidades, para o outro, e não num concurso para medir quem é mais mais.

A tônica da conversa que gerou a frase, como não poderia deixar de ser, circulou na sensação de aparentemente "as coisas não darem certo" em termos de se conhecer outra pessoa, de se estreitar vínculos e compartilhar verdadeiramente momentos (quaisquer que sejam eles, de amor ou de dor). Dentro disso veio o pensamento sobre minha percepção a respeito das mudanças "mântricas" eclodidas em nível quântico em minha vida, quebrando caminhos de encontros e transmutando comportamentos e padrões.

Percebi o quanto tem sido providencial a revelação quase que instantânea, da essência das pessoas - inclusive da minha para as pessoas de meu convívio.

Por que? Porque a partir daí, penso, verdadeiros vínculos podem ser criados.

Depois da pulverização de todo o ego - inclusive o meu, que é grannnnnnnnnnndeeeeee também e bate de frente com o ego de meus amigos e minhas amigas, na proporção da identidade - e da revelação das "pedras nos sapatos que não desejamos tirar" é que podemos partir da honestidade no agir.

Comportamento é ação motivada e, dentro disso, é o coração que informa a ação.

Se a ação vem sem a intenção, nada vale, porque vazia de propósito moral que seja a essência do ato. Por outro lado, intenção sem ação é estéril e inócua para a evolução, porque o mundo compreende matéria e estado anímico, dentro do qual o mundo do pensamento, sozinho, ainda não dá conta de criar realidades num mundo de tridimensionalidade.

Intenção + ação = evolução. Equação simples, porém, ao que parece, ainda não compreendida por nosso ego "safadinho", que tenta, tadinho, dar braçadas no mundo e se dizer "ei, eu existo!", mesmo que seja passando por cima dos outros e vendo o mundo como um grande mar de pessoas ora sem rostos, ora com rostos tão comuns que se perdem na mesmice se se conhecer todos ao se deparar com um.

Importante revelar a essência por trás do discurso, porque, diante de tanta aparência de Maya, o que se revela - sem muito esforço - é a queda discursiva, para o aparecimento da verdade de alma das pessoas. Isso é importante, na medida em que nos relacionamos com essências, e não com máscaras.

De máscara Pollyana o mundo está cheio.

Ainda bem que existem rostos destoando da multidão, principalmente quando esse aglomerado a-crítico e a-morfo transparece a superficialidade egóica de uma mesmice que se reproduz como baratas no verão.

Ainda bem que conseguimos "pinçar" - ainda que poucos - rostos que se sobrevelam em meio a transeuntes que não têm face! A bem da verdade, de quantos rostos mais precisamos? Qual o limite para que nos convençamos de que não precisamos de muitos rostos, mas do bastante para que nossas essências interajam sem medo?

Os momentos de anonimato na multidão são importantes para a observação de si e do mundo. É isso que posteriormente traz a calmaria dos encontros "miraculosos" entre as pessoas, onde não é necessário qualquer esforço: as coisas acontecem, pura e simplesmente.

Bem-aventurados, não "um", mas O ROSTO NA MULTIDÃO... é ele que, desapegando-se dos "UNS ROSTOS" encontra O outro, aquele que é lhe afim.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Tacitus

Aqui está o texto, afinal, mencionado no post anterior... Animei tanto que esqueci de postar...

Tacitus diz: "Os homens estão mais dispostos a pagar um prejuízo do que um benefício. Pois a gratidão é um peso e a vingança um prazer!"

A arte zen da superação da mesmice humana

Não, você não está lendo equivocadamente...

Este é um blog dedicado ao Sagrado Feminino, escrito por uma descendente galega do povo celta que para lá migrou, imersa, por essência (Sol em áries, Vênus em áries, Ascendente em Áries) em um estado temperamental latente, irresignada (porém não arredia, já que a Lua está em capricórnio) com muitos valores alheios à sua matiz moral, que decidiu hoje, apenas por hoje, escrever sobre a "arte zen" da superação da mesmice humana.

O que consta da pauta?

A infelicidade projetada no outro, por meio do discurso.

Se é bem verdade que somos todao uma só reverberação, nossos pensamentos se coadunam em um fluxo constante interativo. Construímos, assim, diálogos de "verdades" tentando objetivar e atribuir ao outro signos e significados de acordo com o que achamos deles e delas, não é isso?

Geralmente temos "opiniões" sobre tudo e todos, certos de estarmos, dentro disso, na dinâmica da consciência individual, da autodeterminação e, sobretudo, do domínio da racionalidade, não é?

Não!!!

Retumbante não. Por que?

Porque falamos o que exala do peito.

A boca fala o que o coração está cheio... simples.

O outro nada mais é do que resultado de um eterno fluxo de reflexividade projetada, o tempo inteiro, tendo em vista que reificamos o interlocutor, achando que ele ou ela nada mais são do que um objeto de análise de nosso crivo psicanalítico, quando, a bem da verdade, compomos uma realidade de construção conjugada de verdades... Mesmo que estejamos a mentir, o tempo inteiro, para nós mesmos!

Projetamos em nossos juízos sobre os outros a ranhura de nossas idiossincrasias em relação à maneira como nos vemos.

Raiva do outro? Raiva de nós... Amor ao outro, amor a nós. Crítica ao outro, crítica a nós. Juízo de valor do outro, juízo de valor em relação a nós.

Não somos criativos, nem um pouco.

Sempre que abrimos a boca, vociferamos para um espelho conjugado e interligado aos múltiplos espelhos da diversidade de almas que compõe o mundo. Enxergamos no outro o que nossa alma consegue ver. Se optamos por enxergar breu é porque vivemos imersos no limbo de incertezas, pretendendo, por abdução, tentar romper, ainda que por lapsos de segundos, a vida de miséria que geramos em nosso carma. Queremos o outro, viver a vida do outro. A felicidade do outro, como um usurpador de almas, que insiste em levar consigo a luz que existe de mais pura na alma alheia.

Porém, quando, por outro lado, olhamos a ludicidade contida no discurso, mostramos nossa faceta mais otimista em relação à vida e o Universo nos brinda com o que existe de mais belo: a contemplação da onisciência e a superação da dualidade. Como fazemos isso?

Simples. Afastando-nos da amargura de um dia-a-dia infeliz que projetamos, como mantra pessoal, no outro, mesmo que tentemos fugir dele ou o neguemos (afinal, Pedro negou cristo por três vezes), a opção por olhar para o próximo de maneira plena e íntegra reflete a forma como nos colocamos no mundo, de modo que nos olhar assim passa a ser um caminho de redenção e aprendizado.

O único caminho... Encarar o outro de frente, olhando-nos no reflexo que perpassa o brilho no olhar do outro e encontrando nossa alma divina no reconhecimento da divindade do outro. Quando conseguimos nos esvaziar do juízo depreciativo de desconfiança do outro, superamos nosso próprio ceticismo em relação a não acreditarmos em nós e, com isso, os milagres se operam. Eis a mágica que une as pessoas...

Ser ou estar "zen", contudo, não quer dizer colocar embaixo do tapete algumas questões que são importantes. É importante encarar de frente nossas verdades e nossas dores, compartilhá-las com quem quer que seja, porque, afinal, estamos nesse mundo para fazer terapia comunitária, e não fingir, numa hipocrisia sem fim, que somos pessoas bem resolvidas e "de bem com a vida", quando, por trás de tanta máscara, ruímos em meio a um lodo de mentiras que geramos para nossas vidas.

Quantas pessoas estão infelizes em seus empregos? Com suas imagens? Com suas vidas? Com seus casamentos, parceiros, namorados, amigos, amantes? Com sua família? Com sua mesmice? Inúmeras...convencendo-se, contudo, que tudo isso é um mar de evolução e que, como no final de um arco-íris em que encontramos o pote de ouro, o final da jornada trará a redenção.

Mentira, porque é o percurso, em si, e não a meta - não há meta - que conta em termos de evolução espiritual. A maneira como criamos, em cada dia de nossas vidas, o enredo dos vínculos e das reações emocionais às experiências que vivemos.

Quanto mais negamos nossa essência, mais nos afastamos do Sagrado... Para fugir, então, do Feminino, é apenas um pulo...

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

As calotas interativas...

Quão profundos são os vínculos firmados entre pessoas que se conhecem a pouco tempo?

Por mais paradoxal que possa ser, um relacionamento entre duas ou mais pessoas (um grupo, talvez) aparentemente marcado pela recenticidade e, claro, superficialidade que reside na descoberta, pode encobrir identificação ancestral, reconhecimento de afinidade que data de longa data, quiça séculos e milênios (quando se trata de almas antigas).

A identidade - quer seja de afinidade ou de repúdio - marca a descoberta, no Outro, de nós mesmos e mesmas, os espelhos de longas datas, que se projetam no hoje, aqui e agora, dando seguimento à tarefa evolutiva para qual nos predispomos em outros momentos.

Dentro da identidade, contudo, reside uma série de condicionamentos trazidos das vidas pregressas, bem como, claro, as lições aprendidas (umas na dor, outras na bem-aventurança). Sobretudo, trazemos na identidade um nível mais raso de interação com o outro, aquele em que depositamos o verniz em nossa essência e nos apresentamos - todos e todas - com máscaras.

Há quem diga - os psicólogos e psicanalistas adoram isso - que precisamos das máscaras para sobreviver, pois o ego não aguentaria a pancada. O mascaramento, dentro disso, seria uma couraça a possibilitar a criação de várias calotas identitárias em volta de nossa essência. Com ela - a máscara - sentiríamos um conforto e segurança ímpares, pois, no relacionamento com o Outro, seríamos nós a decidir o nível de aprofundamento e envolvimento de essências.

Será?

Será que realmente é necessário esse tipo de pseudo-controle?

Outra ponderação: é possível consolidar um relacionamento - qualquer que seja sua tipologia - em cima de um substrato que falseia o que temos de mais belo, a essência? Outra: usando máscaras permitimos ao Outro a escolha em desejar estar ao nosso lado?

Penso que não para todas as respostas.

A máscara - que tem vários graus, desde a mitomania total e completa, passando pela tipologia da omissão, que é um mascaramento sutil, porém, pernicioso - não permite espaço de liberdade algum, porque macula com uma aparência de verdade o que, de fato, não é real, em nível algum.

Mentira é mentira, omissão é omissão e, a bem da verdade, a omissão é uma mentira sutil que retira do mundo pedaço da verdade, tornando, assim, a história, tão irreal quanto a mentira obtusa mais explícita.

Não é possível conhecer outra pessoa e firmar com ela qualquer tipo de relacionamento lastreado em omissões, mentiras e máscaras. Esse tipo de relacionamento não é gerado, assim, entre essências, mas entre egos que, ao menor sinal de fogo - geralmente o fogo que desprende do descobrimento da verdade e o desmascaramento de situações - encampam caminhos distintos porque não conseguem, dali em diante, interagir depois do véu quedar descoberto.

O relacionamento egóico não alimenta ninguém - a não ser, de maneira vampiresca e equivocada - o ego que necessita de aprovação para se firmar no mundo. Lembrando sempre que o ego se enxerga como indivíduo, como parcela sensciente da centelha divina, e, com isso, tem horror à idéia de formar parte de um Todo onde não consegue se ver, enxergar-se e se posicionar.

Todos os relacionamentos iniciam no ego. Todo mundo "é gente boa", "do bem", "gente fina". Começamos com 100% de estima para outra pessoa. Mas basta a máscara cair e o ego se revelar que é o bastante para o espelho não suportar. Queremos, então, quebrar o espelho e modificar a imagem. A pessoa "nem é tão gente boa assim", ou, então "eu me enganei com aquela pessoa".

Não seria mais honesto dizer que nos enganamos com essa tipologia que criamos no auto-engano? Por não observamos nossa inerente hipocrisia em "deixar de lado" o que o outro traz de sombra e apenas focar o lado Pollyana? Acho que isso é importante.

O fato de ter consciência sobre si e sobre o que é o ser humano em sua inteireza traz a calmaria de se observar a movimentação - para á e para cá - do ego. Esse é um preço existencial que sempre pagamos porque estamos encarnados e encarnadas, no aqui e no agora. Olhar para nós e para o outro a partir de nós, esse é o ponto.

A partir daí não seria tão catastrófico interagir em nível superficial com outra pessoa: seria honesto, para ambas, porque, ao final, todas poderiam decidir fazer parte, ou não, de um relacionamento sincero, dentro do qual as máscaras deixem espaço para a transparência.

Quando aprofundamos o relacionamento, prospectamos também a alma do Outro, buscando dentro de seu repositório de memórias - em nível de campos energéticos - informações que se relacionam a outras eras, quando, em outras "configurações" físicas, encontramos as mesmas pessoas de hoje.

Esse passeio na abissalidade da alma, contudo, traz também a movimentação do ego que, temendo ser descoberto, blinda-se, novamente, e mais e mais, para que suas "pequenas mentiras" não sejam descobertas. Nada escapa, contudo, de uma boa psicanálise, de um bo terapeuta ou, ainda, de um bom sensitivo, porque o ego falha, não é diligente o tempo inteiro.

Na afoiteza ele se trai e deixa vir à tona a verdade que desejava esconder.

Qual o problema em enfrentar a verdade? Para o outro, nenhum, claro, conquanto esteja em consonância com a percepção divina de compaixão e amor. Mas para o ego, ah, o ego, enfrentar a verdade é sair do mar de rosas a que se propôs a navegar. É sair da zona de controle que acha ter na vida e sobre as pessoas. É sentir-se sozinho por achar que ninguém validará sua existência.

É consolidar, portanto, relacionamentos, relações e interações apartadas de sua essência, contentando-se com a aparência do visível e deixando de lado a invisibilidade etérea onde a verdadeira realidade acontece...

Imbolc à luz da Lua que mingua...

Foi-se mais um Imbolc e, com ele, nossos desejos mais sinceros de prosperidade para todos os seres em todos os mundos!

O dia hoje começou com a limpeza da casa, porque aqui pairava, ainda, energia estagnada de outras pessoas. Precisava recompor a harmonia do meu lar, outrora turbado por "sacudidas" de acessos a outras frequências: andei acessando memórias passadas com outras pessoas e, na boa-fé, abri minha guarda, bem como a guarda do meu espaço sagrado.

Daí, espargi em cada canto da casa acetona diluída em água (3:1, três de água para 1 de acetona), fazendo um pentagrama de banimento e devolvendo ao espaço a energia criada pela presença dos "convivas". Depois disso, tracei o pentagrama com arruda em cada canto e, ao final, queimei o maço de arruda. Levou muito tempo para queimar - e olha que estava seco o ramo!

Feito isso ainda acendi o incenso de sal grosso e defumei o espaço, sempre mentalizando o banimento. Como a Lua está minguando - perde a força total no dia 03 onde sai minguante plenamente - achei legal faezr isso hoje mesmo, dada a urgência.

Daí fui fazer as cruzes de Brighid para mim e para dar de presente. Pacientemente as confeccionei, umas 8 cruzes. Estão ali no altar para as pessoas que amo serem presenteadas. Esse ano fiz as cruzes com palha de trigo e flores típicas do cerrado, porque entendo que a celebração pode e deve reunir elementos da flora nativa do local (ainda que o trigo não seja originário daqui) com elementos de outras origens, para marcar o sincretismo que a diversidade traz às nossas vidas.

Consagramos nossas ervas - manjericão, alecrim, arruda - que tinham tomado "banho de lua" no esbat que fizemos na semana passada. Redondinho o ritual desta vez, porque não teve energia truncada ou tumulto de cruzamento energético com egrégoras de pessoas estranhas ao ciclo.

Como sempre, sou avessa às liturgias de livros mercadológicos: conexão com Natureza segue instinto e instinto não se adquire em uma livraria, mas, antes, vem de consciência e de autoconhecimento. Aliás, isso falta em alguns praticantes, bem como nos "curiosos" de plantão, aquelas figuras que apenas querem se beneficiar e nada acrescentar ao círculo.

Aberto o ciclo, queimada a energia de gratidão, seguimos para a celebração gastronômica do dia!

Hehehe, como havia empreendido minha energia num dia aí fazendo um sabbat gastronômico - com direito a salmão caramelizado, salada com tomate seco caseiro e até salada de frutas vermelhas com água de flor de laranjeira no creme de leite caseiro e batido até ponto de chantilly - confesso, exauri minhas energias (mas ganhei experiência com o evento, pois foi inesquecível).

Daí saímos mesmo para um bom restaurante japonês para comemorarmos o dia de hoje, Imbolc!

Depois do jantar, eis que a sobremesa foi o lago Paranoá, onde mergulhamos, sob as bençãos da Grande Mãe, os despojos do caldeirão, com a arruda da limpeza, bem como as palhas da prosperidade de Candlemas.

Esse é o sentido essencial da vida. O resto é apenas uma doce e vã ilusão gerada por nossa ignorância na insistência em nos desconhecer...

Hey ho!

domingo, 1 de agosto de 2010

Saudações, Candlemas!

Fàilte, Imbolc!


O Sol veio hoje com a força de quem sabe realmente o foco de sua luminosidade! Hey, ho ao Sol, que sempre sabe de si, mesmo quando não está mais no firmamento!

Dia azul! Céu azul, depois da noite fria do inverno que sabe estar indo embora! São as despedidas de quem já permaneceu bastante tempo na companhia dos afins: é hora de deixar o Sol entrar e o solo acordar para a nova fase de nossas vidas, pois as sementes estão plenas em si, latentes de vida que, já no gérmen, manifesta sua criatividade e força.
A Natureza é sempre tão sábia...vivencia seus ciclos sem o sofrimento do apego, porque, ao final, sempre haverá verão, inverno. As folhas sempre cairão e os pássaros sempre estarão no ar! Sempre saudaremos o Sol e bailaremos com a Lua, hoje, amanhã e em outros tantos giros de roda da vida!

Os ciclos vêm e vão, repetindo-se num "eterno retorno" que se espiraliza, como os braços do triskle que, movendo a roda, encampa ritmos de encontros e desencontros. Encontramos e desencontramos, ao final, as mesmas pessoas que sempre encontramos e desencontramos em outros giros de rodas.

Uns nos são queridos, não "sabemos" explicar com os olhos da razão os olhares nostálgicos e de puro carinho, assim como não sabemos explicar as laceradas em relação à simples presença de outras pessoas. São os giros da roda da vida!

Desconhecida para quem não se permite a conexão... Antiga companheira para os que vivenciam sua visão interior, a intuição é a fórmula para a ligação com a divina centelha.
Para a Deusa, divino não por está ACIMA de nós, como sensação transcendente, mas, sim, por estarmos imersos e plenos dela, de maneira ima + trans + cendente.

O culto à Grande Mãe e aos ciclos naturais vem lembrar exatamente isso: a divindade está presente no aqui e no agora, somos nós em nossa essência, ligando-nos, uns aos outros e à natureza, sem hierarquias, dogmas, superioridade. Se houver alguma, é a superioridade da natureza, muito mais ancestral do que nossas efêmeras (e lindas) existências.

As sensações de familiaridade, aversão, afetividade são as mesmas na espiral, formatadas de acordo com nossa linhagem e percurso evolutivos. Se, outrora, matávamos, hoje, graças à espiralização, apenas "torcemos o nariz". Ou, ainda, devolvemos, na lei trina (ou ação e reação), traições, deslealdades, ambições. Assim como devolvemos, claro, o bem com que encontramos nossos e nossas maravilhosas companheiros e companheiras de jornada espiral ao longo das vidas...

Tudo é muito encaixado no ciclo de eterno-retorno da Grande Mãe.

Vamos celebrar Imbolc! Com muita fartura e prosperidade...

Sentindo-nos gratos e gratas por todos os giros que a roda da vida está nos permitindo experienciar! Sendo gratos e gratas por cada ser que chega e sai de nossas vidas, bem como por cada momento de identidade, familiaridade, de comunhão com as essências, permitindo-nos a cura de nossas dores ancestrais!
Que benção maravilhosa!

Ar move, fogo transforma, água molda, terra cura!

E a roda vai girando, vai girando, e a roda vai girando, vai!

Heya, heya, heya, heya, ho!

Slàilte! A todos e todas nós!