sexta-feira, 22 de abril de 2011

...Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.

Clarice Lispector

Não se pode firmar pacto de violência

Todos os dias percebo, nos detalhes mais sutis, o quão firme e forte está o machismo. Muito já foi desvendado, muito já foi descoberto, mas ainda permanece uma aura entreaberta de vendeta ao feminino, a partir do ataque sutil da articulação da misoginia em torno da manipulação e da sabotagem.

Os velhos jogos de "disse-me-disse"estão cada vez mais lapidados, proporcionais à sagacidade com que nós, mulheres de Anu, começamos a perceber as artimanhas de um masculino que não se contenta e tenta, a todo brado, exterminar o que existe de mais sacral dentro de nós: nossas potencialidades.

São tantos os jogos que é possível se assistir a tudo de um camarote, ao gosto de pipoca e guaraná. O masculino que se vinga está mais previsível. É possível fazer prognósticos em cima da mesmice com que uma espécie torpe de homem beócio e boçal se coloca, na contramão do crescimento, apenas para tentar violar.

Pactos de violência simbólica são, assim, firmados, pouco a pouco e sob nossos narizes, a partir do momento em que o silêncio na relação cede espaço para um predomínio de um pólo sobre outro. O mais interessante disso tudo é perceber a mudança de um campo de boas batalhas - aquelas batalhas de olho no olho - para a fraude da punhalada pelas costas. Longe vão os bons tempos de duelos...pois, agora, ao que parece, valem a órbita da anti-eticidade e o estelionato que nos funde, passo a passo, na hipocrisia de nós mesmas...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

"Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia."

Saramago

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Quando as pequenas mentiras violentam a sacralidade de uma Deusa

Grandes Deusas sempre foram dotadas do empoderamento da omnisciência. Sabedoras de si, usualmente as Matrizes etéreas relacionam-se com o mundo a partir de uma postura de conhecimento altivo, observando o que se lhes vêm para, no auge da contemplação, colocarem-se no topo de seus próprios e particulares universos. Quando alguém ousa violar a sapiência de uma Deusa, por meio da malícia e da fraude, parte do rico e vasto mundo da Grande Mãe rompe-se em pranto, pois, afinal, a mentira, para uma mulher-deusa-empoderada representa a perda do sentido de LI BER DA DE em relação a caminhos e escolhas. Uma dissimulação que seja, uma ingênua mentira que se estabelece como nicho de comunicação...não importa, pois, para uma Deusa, liberdade sempre é o vetor de sua vida e, no caso, a mentira, ainda que escoimada em escusas, sempre aprisiona. Sempre silencia. Emudece uma grande mulher e, no silêncio, devasta o que temos de mais singelo: a complacência com o outro. Nesses maravilhosos dias de intenso revigoramento da alma, deparei-me com inusitados momentos de deliciosas fraudes, encobridoras de verdades, caminhos, forjados, quem sabe, pelo receio, pelo temor, por tudo, menos pelo desiderato de compartilhamento. Uma simples pergunta não respondida retira da entranha o furor de entrega, pois a falsidade que permeia a alma de quem se esconde acaba confirmando a temeridade do inevitável: o fim...