sábado, 30 de outubro de 2010

O pequeno mundo mágico no jardim de ervas...


Depois de muito andar por aí, finalmente encontrei a cânfora. Sempre famosa e cuja muda é difícil de ser encontrada por essas bandas, a plantinha é danada desde pequena, pois libera seu aroma inconfundível, que lembra, quase sempre, as famosas pomadas e o gel para contusão.

Sem exagero, a cinnamomum camphora tem múltiplas indicações, pois, além de anti-séptica, também é estimulante, excitante, anti-reumática, parasiticida, anti-nevrálgica, revulsiva, anestésico local, anti-térmica e anti-diarréica. Excelente ação anestésica local, como se faz com o famoso gel para contusões.


Faço do mesmo jeito da arnica, macerando e colocando as folhas em uma solução de álcool para descansar por, no mínimo, 7 a 10 dias. Tomo o cuidado de sacudir o vidro todos os dias, para que a maceração possa vingar.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O vento sopra e acaricia a terra fecunda de ideias

Mais um dia de surpresas, em que a Natureza veste seu manto e nos embala delicadamente em um véu de suntuosa chuva.

O cheiro da terra molhada lembra o aroma da mulher em transe, no cio silencioso da Terra, que se infla, esperando a semente levada pelo vento. O som das gotas lembra sinos, ao longe, em múltiplas sonoridades que, ao final, cantarolam um coro monotônico, harmonizando-se com o som Universal do silêncio.

Em fim de tarde aqui estou, saudando os ancestrais de minha linhagem, conectando-me ao panteão primevo de meus dias, ao mesmo tempo em que me delicio com a recenticidade do que me surge como o "novo".

Em cada minuto de renovação, tudo é eternizado, como a chuva que, caindo sempre, mais e mais, possui o dom se se fazer presente em meu coração, que pulsa, como cada gotícula a bater no solo sedento. Coração que se lança em voos cada vez mais ousandos, para sair da permanência da ilusão de si, lançando-se na via larga do espaço infinito dentro de mim.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Meat the truth... de Marianne Thieme

Estava assistindo ao documentário Meat the Truth, de Marianne Thieme, presidente do Animal Party holandês. Não pude deixar de destacar as porcentagens de emissão de gases pela indústria pecuária, na casa dos 18%, enquanto que os gases de veículos, por exemplo, situam-se na casa dos 13%.

Não se trata de um pedido de uma "fanática vegetariana" como ela bem expõe no vídeo, mas um pedido de abertura de coração para a reflexão em cima da nossa consciência. Nada mais.

Eis o vídeo:

Sobre a "liturgia" do viver e outros ensaios

Quanta liturgia criamos com a desculpa de colocação de energia em projetos que, a rigor, precisam apenas de execução!

Preparamos listas, compramos os ingredientes de nossas "poções mágicas" de dia-a-dia, esquecendo-nos, talvez, quem sabe, que é o caminho, e não o resultado, que nos coloca diante do espetáculo de viver de maneira simples. Quando invocamos o resultado como objetivo de orientação, saímos da imanência do viver para a projeção transcendente e, daí, por diante, tranformamos a experiência em uma busca incessante pela religação quando, de fato, tudo já poderia bem estar aqui dentro, dentro de nós!

Quantas e quantas vezes observei nas andanças pelas rodas da vida pessoas focadas em realizar algo externo a elas, na vã expectativa em relação a um "milagre" que, a bem da verdade, transforma e planifica o mundo em matéria e energia, numa dualidade de sofreguidão e dor.

Por outro lado, quanta sabedoria existe na dimensão integral de um viver em comunhão, no exercício diário de uma "liturgia invisível", que não é repetida como um discurso de papagaio de pirata, da boca para fora, mas, antes, é resultado do simples e maravilhoso DESENTRANHAMENTO do que pulsa em cada uma de nós, em cada um de nós.

A Arte não é artigo de liquidação numa prateleira ou gôndola. Não nos descobrimos, da noite para o dia, sabedoras de poucas fórmulas mágicas do bem viver. É um percurso de muita contemplação e devoção, um verdadeiro retorno à casa ancestral, para que, sabedoras de nossas veias pulsantes, possamos interagir com as egrégoras que nos conectam ao todo.

Por isso tenho por difícil, muito difícil, conceber minha sina como uma religação a algo que está, no fundo - ou no raso - cambiante em mim... É a projeção dos meus, no passado de tantas "de La Vegas" que prepararam o caminho para eu ser como sou, bem como de tantas outras que estarão aqui quando fechar meus olhos para essa dimensão que a Arte nobre se revela. É o que nos torna peculiar e diferentes, mesmo reunidas em torno da mesma ideia de celebração de ciclos.

Somos nós, apenas nós, unidas com nossos ancestrais, honrando os da terra (Brasil), bem como os elementos e os deuses.

E nisso se processa o maravilhoso viver...em nenhum outro lugar. Apenas dentro de nós-Natureza...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O som dos ancestrais e a celebração nas entranhas da Terra

O ar se alinhou com as egrégoras da movimentação da água. Eis que brota a chuva, para nos brindar com o cenário de torrentes existencias, numa orbe de força, na potestade do que esses elementos ancestrais trazem para nossa experiência!

Enquanto a água caía sob a minha fronte, o bailado de guerra da Scottish Music Bagpipes executando "Lost song" lembrava-me da minha casa ancestral. Não se corre ou foge de quem se é, porque somos todos e todas egrégoras de quem, outrora, marcou seu espaço no mundo, em meio a tantas guerras, para que a linhagem, o nome e o significado da celebração pudesse, hoje, quedar preservados.

Em meio a cada molécula do meu corpo vibrando em sintonia com a Sala dos Nobres de minha casa, lanço-me, íntegra, não para me religar, mas para contemplar o segredo que de mim promana, em meio aos arautos que chamam meu espírito para o retorno ao lar primevo.

Hey, ho, sagradas deusas, hey, ho, sagrados deuses, sabedores dos mais arraigados silêncios que se encobrem nas entranhas da Terra, que recebe, dadivosa, a semeadura levada pelo vento espargidor.

Fecunda terra em que se deleita a água, cortando vales, rasgando entranhas, voraz, sem pedir licença. É rainha, senhora água, formando o mundo a partir da formação de mim mesma. Celebro todas as águas ruidosas, que bailam nessa sinfonia beligerante, lembra-me do momento certo de desembainhar minha espada e simplesmente urrar os lamentos e os prantos para o além-vida!

Preparando o vórtice para o alinhamento de todos e todas, celebro os segredos da Pira Oculta de minha morada!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Tempo de recolhimento...

É sempre muito saudável recolher-se e se permitir "dar um tempo" de tudo e todos. Ficar reclusa no silêncio, acalmar as moléculas do corpo, emudecer, seguindo o exemplo da terra, que simplesmente se CALA diante do mundo inquieto.

Diria mais... É sábio recolher-se, principalmente diante do esquadrinhamento de situações que nos fazem "torcer o nariz" para momentos que nos incomodam internamente. Se incomodam é porque existe algo a ser observado, revelado, descoberto, trazido para a luminosidade da psiquê, mesmo quando nossos processos mais ocultos incorporam o lado sombra que insistimos, no atropelo, negar.

Poupar palavras traz o diálogo com nossa essência, colocando-nos em intensa conexão com nossos ancestrais, ao mesmo tempo em que nos permite nos distanciar de eventuais epicentros para, de maneira branda e despojada, contempletemos a movimentação do Universo.

O Universo vibra? Vibramos juntas, porque, por pura afinidade na conexão com o mundo, inexistem fronteiras. Sendo todas nós, ao mesmo tempo, o Tudo, sentimos o impacto com que cada solavanco nos sacode eventualmente, tirando-nos da "zona de segurança" que, às vezes, por fuga, estabelecemos como dogma de vida.

Como o dogma cansa!

Como a pretensão de ciência cansa!

Como a egolatria cansa!

Sim, um pouco cansada, mas nem tanto. Eis o bastante para apenas me recolher... Slàinte!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Abençoados os flamboyants de Primavera


Nessa bela época de primavera - tantas são as primaveras em nossas vidas, não? - os arvoredos de flamboyants resplandeceram, formando um verdadeiro tapete alaranjado por toda a extensão das ruas daqui. Contrastando com o verde que já se renovou pelo elemento água, o espetáculo é um brinde aos olhos cansados de enxergar tanto concreto, frieza e indiferença.

Para onde quer que minha vista contemplativa olhe, lá estão, trazendo a alegria para os que despontam, em júbilo, com a sinalização da alvorada presente nos vários ciclos que estão se fechando-abrindo-fechando-abrindo...

Um dia desses, enquanto me deslocava pelas ruas convidativas, meu Universo parou diante da magnitude daquelas frondosas árvores, silenciosas árvores, plenas, árvores. Por momentos, talvez frações de um insistente segundo que insiste em dizer que existe cronômetro para a Natureza, enxerguei-me nas copas dos flamboyants, sendo arrebatada pela mesma sensação de bem-aventurança corriqueira, que já se tornou o hábito em minha senda.

A sensação de pertencimento substituiu a de desencaixe em relação ao mundo, perpassando minha alma com a alegria interminável que a leveza das flores de flamboyant: fortes em sua cor, mas serenas em sua revoada...

Um grande amigo peruano me disse, dias atrás, que se trata de uma sensação maravilhosa de "borboletas voando no peito", a transposição da gravidade zero de uma montanha-russa para o meio do peito. Assim é o gratuito espetáculo que a Natureza oferece como recompensa para quem quiser deixar de se ver na competição atroz de um mundo que decidiu se estabelecer diante da hierarquia.

Ordem? Hierarquia? Dogmas? Nada disso alcança a transcendência contida nos pedacinhos de Natureza que, esperançosas, trazemos conosco, para acessar, nos momentos de desalento, com a certeza de simplesmente...VOAR!

Sim, apesar de nosso olhos e, sobretudo, nossa mente determinar aos olhos que enxergue o concreto, que paguemos contas, que nos limitemos espaço-temporalmente, nossa conexão à Natureza e suas despretensiosas e ricas liturgias nos abraçam e convidam à comunhão.

Não existe ordem alguma nisso, apenas gratidão. Amor, compaixão, talvez, Dela conosco, grandes bebês que, enquanto Gaia dá seu recado, sacudindo suas entranhas bem diante de nosso pés aqui no cerrado, ficamos a procurar estrelas, quando, de fato, elas sempre estão acima de nós e, por mais distantes que pensemos, dentro de nós...

Hey, ho!


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sal...simplesmente o sal


Às vezes temos a sensação que o sal "limpa" e purifica, porque, afinal, são tantas as histórias sobre a "limpeza" feita com essa substância mal-interpretada.

Uma parte da sabedoria popular fala em "jogar um punhadinho de sal" por trás do ombro, para expurgar o "mau-olhado", ou, então, "espantar a má-sorte". O fato de encontrarmos o sal nos mares e oceanos pode trazer a sensação de ser um "fruto da água", elemento nobre que, além de cortar vales e sangrar montanhas, limpa, leva e avassala o que encontra pela frente.

Penso que boa parte da tradição de utilização do sal como um "espanta" maldade foi mantida - em parte - pela ritualística mítica cristã. Dion Fortune já falava isso em sua obra de magia cristã.

Sempre que posso me reciclar, acesso informação sobre a "limpeza" que o sal faz.

Mas, pesquisando a origem do sal e, sobretudo, o uso que sempre fiz dele, encontrei uma percepção bem diferente, afinal, quem já não experimentou uma comida bem salgada, na qual o ingrediente "adere" e dificilmente é extraído?

Acho que a Natureza é sábia em se revelar nos mínimos detalhes. Assim como o espinho revela o propósito protetor de uma planta (que pode ser manipulado energeticamente) e o sabor doce traz o afago do bruxedo para os enamorados, o sal, ao contrário de espantar, FIXA!

O que é o sal, afinal? Ele não faz parte da composição química da água, por motivos óbvios: na fórmula H2O não existe a formulação dos sais como elementos que integram o elemento água. Nosso famoso sal nada mais é do que uma rica combinação de cloreto de sódio, iodeto de potássio, bem como de ferrocianeto de sódio e alumínio silicato de sódio, citando apenas alguns.

De onde vem, então?

Da providencial retirada, passo a passo, de componentes presentes na TERRA, que são levados pelos rios e lagos, até desaguarem nos mares e nos oceanos, compondo o ciclo da evaporação e precipitação. Sugiro dois sites interessantes a respeito do tema. Um está em inglês e se chama

http://www.palomar.edu/oceanography/salty_ocean.htm, contendo informações e dados. O outro, disponível em português, http://mundoestranho.abril.com.br/ambiente/pergunta_287121.shtml, mostra o ciclo da água também.

Pois bem, as águas carregam íons de cloro e de sódio que se desprendem da zona continental, da TERRA-MATER. Portanto, o sal - ao meu ver - nunca foi elemento água, nem "purificador", mas, antes, um "fixador universal" de volições.

Sempre uso o sal para fixar, criar base e fundamento para qualquer bruxedo. Lembro-me, certa feita, um bruxedo de amor-próprio em que sedimentava uma maçã cheia de mel, cravo e canela numa base de sal. O sal é a terra em que se assentaram a vontade e o desejo naquele feito.

Ainda que eu já tenha falado para alguém que "cuspo três vezes no chão em que pisas e derramo sal para que nada nasça", não se trata de jogar sal para "purificar", mas sim fixar o desejo contido no que a expelição (cuspe, muito comum nos bruxedos ciganos e galegos) retrata. Ou seja, mais uma vez, o sal está reforçando o desejo, e não purificando, de per se, um ambiente.

O que é a água do mar, então? A combinação perfeita entre os elementos terra e água...perfeita! Purificante porque a água é o veículo de limpeza, que será fixado em seus propósitos pela estabilização que a terra (sal) traz... Outro dia falarei sobre a energia cinética de uma onda do mar, envolta em fogo e ar. Hey ho!

domingo, 17 de outubro de 2010

Agradecimento do dia...

"Grande Gaia, espírito pulsante presente em cada uma de nós.

A toda linhagem da casa de minha ancestralidade, nesses e em outros tempos, ao clã de mulheres de força.

A todas as maravilhosas mulheres de Anu, plenas em si e dadivosas, para que se encontrem nos desencontros narrados nessas linhas. À Gaia, Anu, Danu, Brighit, Morrighu, Cerridwen e todas as grandes deusas.

Às Lígias de minha vida, avó e mãe, matriarcas. Dores, amores e cores!

A todos os homens respeitadores da Soberania, para que sejam multiplicadores do pensamento de uma Nova Era.

Aos seres que se descobrem humanos, na androginia que a liberdade de almas nos permite abraçar..."

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O pão da Deusa...

Depois de um longo inverno lambendo as feridas de memórias que não cicatrizavam, decidi voltar a fazer o pão, pensando que, ao final, ele - o pão - nada mais é do que minha forma de reverenciar a Grande Deusa por meio da dedicação a uma arte tão antiga.

Enquanto sovava a massa, acrescentando os ingredientes da prosperidade (aveia, linhaça, trigo, quinoa), terra (sal) e a docilidade da cana, via a massa aquecer em minhas mãos, com a certeza de estar ressurgindo, firme, forte, poderosa e plena, para a dignificação dos grandes segredos repartidos com as almas afins.

É um artesanato...eu e a massa, juntos, entoando cânticos de honrosas devoções, enquanto aguardamos mais uma rodada de abençoada chuva que está a se formar por sobre nossas cabeças. O dia está lindo, propício para que o fogo faça sua parte, quadriplicando minha receita e fazendo com que a massa entorne da forma untada carinhosamente...

Que plenitude reside aqui!

Acolá...em todo o espaço!

Sheela na Gigs, a predominância vagínica pré-cristã

Fonte da imagem

Famosas figuras com vulvas proeminentes, as Sheela-na-Gigs têm explicações completamente dissonantes, desde a reminiscência dos cultos à Grande Deusa, que não é lá muito aceita numa academia obviamente patriarcal, que se articula em torno do dualismo, desenvolvida por Margaret Murray and Anne Ross, no ensaio titulado "The Divine Hag of the Pagan Celts"passando pelo culto à fertilidade, na expoência de Barbara Freitag, bem como advertência em relação à luxúria (Anthony Weir) e proteção contra o mal (Jorge Andersen).
Independentemente do sentido que se atribua à ela, prefiro dialogar com a expressão de deidade, vendo na expressiva vulva aberta o "engolimento" de todo o mundo, para, adentrando no desconhecido útero - para onde tudo vai, ao final, ou ao início - refletir sobre a "abertura", o desprendimento e, sobretudo, a doação da entranha da Deusa. Interessante que a figura não traz os seios fartos (como, por exemplo, a Venus de Willendorf), mas, antes, apenas o grande 'buraco' (que sequer é o útero em si mesmo, mas a vagina).
Esse diálogo pode apascentar minha compreensão de mundo em cima de uma perspectiva fálica, para resgatar o sentido de derrocada de uma hierarquia muito proeminente ao longo do passado histórico da humanidade pré-cristã romano-germânica indo-europeia.

A benção dos elementos

"Que o vento sopre sempre ao teu favor,
Que a terra sempre esteja firme sobre teus pés,
Que a água satisfaça tua sede no caminho,
Que o fogo aqueça teu coração.
E até que nos encontremos nessa e em outras vidas,
Que a Grande Mãe embale teu espírito na palma da mão!"

Deméter e Cerridwen, as grandes mães que sufocam...


Os arquétipos das maravilhosas Mães nutridoras que, com "tanto" amor, sufocam suas proles e projetam em seus consortes as relações de dominação e controle com que tentam direcionar a matilha... Essa foi parte da minha reflexão em relaçãos às experiências maravilhosas na Chapada.
Em Deméter encontramos a proteção maternal à face tenra da deusa, pois, preocupada com Perséfone (seu EU no ontem), a deusa sai à procura da filha desaparecida, irradiando o frio e o pranto do inverno forte por onde quer que passasse. Quando "negocia" com Hades a ida de Perséfone para o submundo, a mãe chora, e, com a ida da filha para os Inferii, o mundo fica mais escuro, no desconhecido mundo do inconsciente.

Cerridwen deseja presentear seu filho Morfran, também chamado Afagddhu com a poção do conhecimento e da magia, tendo em vista que a criança era horrenda. Chamou, para mexer o caldeirão, Gwion, aprendiz de feiticeiro que, posteriomente, transforma-se em Taliesin.

A poção era tão especial que apenas resultaria em 3 parcas gotas, que seriam sorvidas pela criança horripilante se Gwion, descuidado, não tivesse se queimado e, para conter o ardor, não tivesse colocao o dedo na poção e bebido todas as gotas. O bastante par desencadear a ira da mãe-Deusa-nutridora que, em nome da prole - e de si - lança-se, irascível, perseguindo Gwion até engoli-lo, como semente...eis o medo do desconhecido: ser "dragado" para o ventre da Grande Mãe e, com isso, perder-se em si, na dimensão da egrégora do outro.

O Sagrado Feminino e a simetria nos relacionamentos

Um grande feriado de revelação dos segredos da Grande Mãe: essa foi a dinâmica de Alto Paraíso, do Moinho e de São Jorge, no périplo astral de uma egotrip em nível de tantas experiências compartilhadas com almas afins.

Conheci as maravilhosas benzedeiras que há 40 anos fazem os "pêlos de santos", biscoitos afarinhados que são escaldados e, depois, colocados ao forno, formando uma crosta crocante que derrete na boca. O trabalho delas começa no dia 08 de outubro, seguindo até a véspera do dia 12, ocasião em que uma novena é feita, reunindo até 450 pessoas na casa da Dona Severa.

Tirei fotos de uma gamela cujo comprimento beira 1,50 m: toda feita no recorte da madeira, reunindo a massa que será sovada pelas mãos mágicas das mulheres empoderadas da família da Dona Severa. Um detalhe interessante, ali: os homens não ficam presentes. Apenas um se encarrega de manter o forno a lenha aquecido e ligado, enquanto o Seu Zé mói café!

Uau! Sem deixar de mencionar o altar para a Santa, que me lembrou muito a cena de Brumas de Avalon, quando, ao final, Morgana se depara com o mundo Antigo cristianizado, por meio da reverência à Nossa Senhora. Segundo ela, apenas uma mudança de perspectiva, pois, quando antes a Grande Mãe era reverenciada como sendo a própria Natureza, no mundo cristianizado ela retorna com a roupagem da Grande Mãe, apropriando conceito de Mater para a genetriz do Salvador.

Outra questão muito legal disse respeito ao reencontro com almas de outras épocas. Sabe a sensação de pertencimento à antiga linhagem de casas ancestrais afins?

Essa foi a constante durante boa parte do feriado, porque, em cada conversa, reminiscências se revelavam. No início, assustei com algumas, energias muito toscas de controle e competição, mas, depois, relaxei com todas elas, pois, afinal, refletem apenas minha própria percepção dos monstros internos que estão sempre presentes na senda espiritual de repaginamento de nossas mônadas.

Legal me observar observando o devir.

Voltei à matiz de compreensão da necessidade do estabelecimento de relações interpessoais que estejam balizadas na simetria, e não no truncamento de arquétipos e matizes de controle. Vi-me imersa num caldeirão de marcação territorial e ri muito de mim mesma, pois, por vezes, por me sentir insegura, já "fiz xixi" no solo, achando realmente que algo ou alguém seria "meu por direito".

O que mais me impressiona é a previsibilidade disso tudo, o tempo inteiro, na repetição insconciente (será?) dos padrões, quer seja num apontar de dedo, ou, ainda, num "singelo" - porém contundente - comando de "faz tu, faze você".

Como trazemos marcas do tradicionalismo e de autoridade... Como que, fundados e fundadas na dimensão do ego, destilamos veneno e induzimos, o tempo, inteiro, nossos pares, a acreditar que somos "os reis e as rainhas" da cocada. Sobretudo, como chamamos qualquer relação de controle de "amor", na superficialidade de nossas idiossincrasias mais profundas.

Nossas, quantas lições agradáveis, ao lado de pessoas agradáveis! Mestres e mestras de meus caminhos!

Tudo à luz abençoada da Grande Mãe!

domingo, 10 de outubro de 2010

O elemento terra na fina flor da fécula...

A benção do elemento terra percorre toda a comprensão de conexão com o infinito que habita minha sensação de pertencimento ao chão, à raiz e à fixação...Na terra a semente frutifica, plena em si na potência do devir árvore, frutos e sementes. Um giro de vir-a-ser que já, em si, a própria essência.

Hoje o encontro foi com a Terra, na magistral descida ao Moinho, ou, então, na conversa com as mulheres poderosas, , com suas mãos benfazejas, cercavam a fécula com a amorosidade da flor, preparando o mundo para a "reza"do dia 12. Tirei muitas fotos e, mais tarde, contarei a história delas...Confunde-se com a vida de cada uma de nós, mulheres que proclamam a prosperidade...

Encontrei-me com espelhos, desafetos, companheiros e "egocidades". O que são egocidades? Nãi sei, criei agora, mas sei que me projeto nelas, dando as mãos para o abraço cálido do que fora, um dia, o punhal armado para mim...Hoje são flores, em meio a amores, que vêm e vão envoltos em brumas, no resgate da Grande Mãe, que se concretiza na volta das histórias de grandes batalhas lúdicas.

Grandes batalhas, territórios campais. Dia de risos diante do humano que, por medo, marca o que acha "ser seu", de mais ninguém. Paranóia do medo que se instaura. Saudemos a luz que caminha diante de nós...

sábado, 9 de outubro de 2010

Andanças e bem-aventuranças nas aventuras contentes até Alto Paraíso...


Alguns eventos acontecem na vida da gente apenas e tão-somente para que possamos realmente sentir o despojamento em relação às limitações que geramos para nossas vidas. Afinal, num mundo cheio de discurosos, quem sabe, "ser" "assim" ou "assado" pode ser apenas mais uma artimanha de nossa egotrip, a nos reduzir para apenas mais uma fala bonita e vazia de sentido de pertencimento...
A cada momento em que me deparo com situações novas - de histórias antigas do meu eu - percebo o quanto é belo e mágico esse Universo de sincronia! Em cada passo, percebo, o medo do desconhecido e de um futuro que não existe cede espaço para a vivência do meu presente...ao lado das pessoas que amo e cuja presença - em energia ou matéria - brindam minha vida com amor incondicional!

Saímos hoje de Brasília para o lar aconhegante de Alto Paraíso.
Esse moço aí em cima...eu e ele, ele e eu, na irmandade de nossa pequena família de egrégoras. Na felicidade da impermanência seguimos para o lar.
No som do jipe, música lembrando nossa adolescência feliz, vento no rosto, nuvens no céu anunciando, por fim, a estação das chuvas. Quando passamos por São João da Aliança, vimos um restaurante que sempre tive vontade de entrar, mas, por nunca ter visto uma porta, sempre "pensei" (lá vou eu com a mente que engana sempre) que estar fechado.
Pensar, pensar e pensar.

Mais. Pensei naquela cidade e como NUNCA havia parado para percebê-la. Acho que sempre preocupada em chegar a Alto, nunca me dei tempo suficiente para admirar o que o caminho tinha para me mostrar...

Foi quando o motor do jipe fundiu, bem no meio da estrada, a 5 km daquela cidadezinha que acbamos de passar. Encostamos o jipe, observamos o que se apresentou - sim, um motor fundido e batendo - e, simplesmente... Olhamos a maravilha de estar ali - meu irmão e eu - em meio ao grande espetáculo do viver!

Voltei para a cidade enquanto, a cada passo, deixava para trás "meu" jipe (tenho dúvidas em relação a isso)... Tudo ali já era passado, foi-se e se esvaiu em plena luz do dia!
Andando, imersa em meu caminho de andarilha, dando, às vezes, importância para minha mente em constante atribulação. "O que faremos?", "perdemos o passeio" ou, ainda, "poxa, o carro pifou" foram as tentativas dos mantras da perturbação.
De súbito, comecei a sorrir, lembrando-me que o importante era apenas estar ali, pisando, passo a passo, construindo meu caminho. Olhei para o céu, sorri, contemplei e segui.

Conheci um senhor numa ambulância, que me mostrou o caminho do guincho.
Voltei alegre para o jipão, que me aguardava, junto com meu irmão, para o início, apenas o início de nossa aventura! Estamos aqui. Sem lenço, sem documento, sem carro, apenas lançados ao vento, em meio às bem-aventuranças de nossas contemplações.
Encontramos pessoas, conhecemos gente, olhamos o céu e o espaço!
E, por fim, abraçados com a Deusa, colocamos nossos corações em Sua grandiosa mão!
Hey, ho!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Gratidão por hoje, apenas por hoje...

Olho à minha volta e me encontro em cada rosto desconhecido, tão familiar para minha alma, que busca sempre se (des)identificar consigo e rumar nos campos fartos da imensidão da Grande Deusa flamejante!
Saúdo a ti, Grande Deusa Trina, que está presente no som sibilante da água que corta os vales e desagua no infinito, de mãos dadas com a criação e o desconhecido inconsciente de todos. O porvir que se revela na concretude do hoje...
Saúdo a ti, Grande Tripla Dignidade, pela brisa que se desprende de seu hábito abençoado de dádivas, elevando-me a cada dia para a libertação de toda a efemeridade do devir, para a transmutação das incertezas na experienciação do ser, aqui e agora!
Saúdo a ti, Grande Mãe, que ostenta em seu útero a diversidade de um mundo novo, que se abre, pétala a pétala, num espasmo de reluzente arco-íris dançante, a alcançar o infinito...o infinito em meus olhos, que refletem, em cada brilho, a maravilhosa sensaçào de ser e estar luz!
Plena luz! Faça-se a luz de Seus olhos em mim, tochedos que trazem a calmaria da luz, e acarinham as trevas, abraçando-as mansamente para a superação dos contornos da dualidade. Eis que surge em fogo, Grande Anu, aquecendo os corações dos peregrinos que procuram alento numa noite fria de hibernação. Heya, Mater Dea!
Saúdo a ti, Senhora de todos os segredos, honro o panteão da linhagem da casa de meus ancestrais na tua luz, rendendo graças pelo dia que aqui se finda, preparando-me para o encontro em outras pluralidades, dimensões ocultas de saber e sentir.
Que meus amados e amadas recebam a luz da gratidão e que todos os seres, neste e em outros mundos, neste e em outras galáxias, neste e em outros universos, nesta e em outras dimensões, sejam apenas luz, paz e amor! Que possam ser o amor que habita agora em mim, dissolvendo-se toda a ignorância e o medo.
Que o amor que senti hoje de tantas pessoas que são amadas se multiplique, tantas quantas forem as demandas dos corações ávidos por amor, para que encontrem a si nos corações que buscam, como afins, nas escolhas que fazem! E que, por fim, na hora do repouso de tantas lutas, possamos todos dormir na palma de Sua sagrada mão, Mãe Eterna!
Hey ho!
Slàinte!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A abundância da Madre Deusa nas gotas de fina prata

Enfim, mais chuva no Planalto Central!

Veio prenunciada pelos bordões de céu que insistiam, lúdicos, a rascunhar uma noite. Em seus brilhos de acinzentadas nuvens, veio a abundância outrora pedida, suplicada pelas almas que jaziam num assombro em meio ao fogo da savana sul-americana.

Tão gloriosa chuva!

Veio de relance, entranhando-se em nossos corpos extenuados pela labuta de um mundo programado para a rotina do expediente que algum louco chamou, algum dia, de welfare state. Seria esse o grande sonho repartido?

Por certo que não.

Não existem casa, carro, férias, dinheiro ou poder para aquisição do estado de graça de se banhar na chuva! É gratuito! E mais, é plenitude da Grande Mãe, que chora cânticos de graças, dançando no céu que se move na impermanência de si.... Não levamos o carro, a casa, o poder ou o dinheiro, na diluição de nossos corpos em nitratos e carbono, esvaindo-se no espaço-tempo tão fictício.

Hey ho, damos graças!

Eis que brota da roda da vida, em Gaia-Mater sagrada, o elemento água, com sua energia primeva, que limpa, escoa, avassala, amolda-se moldando a vida, contorna e desfaz contornos num piscar de olhos.

Água que esconde nossos mais profundos anseios de viver, no líquido que brota do útero da Mãe, para deslizar até o mar de infinitas possibilidades!

Água condutora universal, sabedoria dos segredos antigos de nossas casas ancestrais, reunidas em torno do entrelaçamento de nossas fogueiras de paixões. Eis que surge a chuva, para levar consigo os campos áuricos que não mais se afinam com as novas vestes que estamos prestes a ostentar.

Slàinte, povo da Deusa!

Slàinte, Gaia!

Hey ho!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A nobre arte do iogurte...

O ofício do iogurte...Ao contrário do que aparentemente pode ser simples, o preparo artesanal do iogurte é uma arte cuja técnica é conhecida por muitos, mas, cujo dom poucos recebem. Uma espécie de "predestinação gastronômica" separa nobres e plebeus na cozinha, de modo a existir um abismo quase intransponível, quando percebemos que nosso iogurte talha ou azeda.

É simples fazer um iogurte, não?

Para alguns, basta comprar a maquininha - como, aliás, tem sido o consumismo desenfreado de aquisição de máquinas para tudo, basta ver as propagandas de vendas plea televisão - para outros, basta comprar o iogurte, pois, afinal, alguém já se deu ao trabalho de fazê-lo. Isso mesmo, quanto mais alienação de si e do mundo, melhor para o automatismo mundial, sempre sedento de consumidores ávidos por novidades bababescas.

Mas, quando se acaria o leite delicadamente na panela, quando se toma sua temperatura (mamadeira de neném) na palma da mão e, sobretudo, quando se coloca o iogurte branco envolto no cobertor para "descansar" (enquanto as bactérias fazem naturalmente seu trabalho), a recompensa é a desaceleração de um mundo artifical, para o deleite de uma percepção de vida e de mundo que nos enriquece!

Quem não aprecia um iogurte natural caseiro, que podemos misturar com as amoras frescas que brotam, às pencas, do jardim?

Eis o sentido da arte, a arte zen do iogurte caseiro.

Diluindo-me no Universo do Outro!!!


Qual o sentido da frase "somos todos um"? Afinal, para tantas pessoas que fogem de uma perspectiva cartesiana, dualista e sectarizante, pode significar muitas percepções sobre modo de levar a vida, bem como meio de conceber a si dentro dela...

Voando alto, para os braços do maravilhoso mundo de explicações "racionais" pós-modernas - hahaha - eis uma apreensão eco-auto-sustentabilidade espiritual que talvez e, por sua vez, poderia ser a inserção numa malha Cósmica, na teia da Grande Mãe, no útero de Gaia.

Ou, sei lá, o abraço de Deus, a matrix insivível do tecido de mônadas. Tanto faz, porque, ao final, categorias nada mais são do que zonas de aparente conforte para as mentes que insistem em criar justificativas e dogmas...

Sei lá!!!

Eis a questão! Eu lá sei??? O que sei?? Blargh!

Ontem estava retornando para casa e, de súbito, senti um ar de bem-aventurança invadindo meus poros sorridentes = )!

Nossa, diluí-me me meio a tantos aromas e sensações que, sem notar, quando dei por mim estava pulverizada, em matéria, na plenitude do espírito!

O que houve? O que aconteceu? Qual a causa? Quais os resultados?

Isso importa?

Acordei achando que não, pois, na primeira hora da manhã, olhando meu pulso com um furúnculo, pois-me a observar o quanto gasto de energia tentando captar relações causais que podem muito bem ser tão fantasiosas no plano etéreo quanto as justificativas material-causais para a bolinha que surgiu sorridente em meu pulso!

Que me importa divagar na alimentação de uma ficção? Não sei mais.

Nada mais importa em termos de tentar buscar A VERDADEIRA RESPOSTA acessando, para isso, a mente.

A verdade pode não estar na mente e, acho, ao final, distancia-se tanto dela que, sem pensar, colocamo-nos a serviço de nossa inquietude, confundindo tudo ao nosso redor.

O que importa?

Experiências importam. Sinto nelas a bem-aventurança entranhada, como suporte amável da vida que se mantém, em cada uma das experiências de vida e, sobretudo, na experiências especulares que tenho a honra de vivenciar com as pessoas ao redor.

O mundo, a vida, a Natureza, tudo passa, assim, a me conter e vice-versa, na apreensão de sensibilidade e sentido que podem estar numa pétala de flor, como diria Blaise Pascal...

Existe uma grande diferença entre seguir uma senda que racionalmente se opta, por adesão oral e espiritual, e vivenciar, dentro de si cada minuto de bem-aventurança em se enxergar no Outro! Falamos, falamos, lemos e lemos. Mas, de tudo isso, o que fica, realmente, no coração? O que passa a ser realmente a apreensão vívida do momento de experiência?

Nem desejo mais saber...Viver, seguir, experienciar e simplesmente ver tudo passar diante de nossos olhos, eis a magnitude desse meu dia lindo de diluição de mim na alteridade!

sábado, 2 de outubro de 2010

As águas renovadoras da estação da flor

Logo cedo brotou dos céus a dadivosa água que, enfim, vem anunciar os idos de novos ciclos de renovação da seca no Cerrado terracota.

Bem cedinho o céu pranteou de felicidade, fazendo escoar por entre as delicadas frestas de nuvens fofas a generosidade dessa Natureza que nos acolhe em seus braços. Diante disso, pensei, enquanto fechava a janela do meu qiarto - ao mesmo tempo em que me abria para um novo momento - feliz é quem sabe parar seus ritmos para acompanhar a chegada das águas, pois é sinal de sensibilidade à flor da pele, artigo tão raro em nossa sociedade de consumo voraz.

Logo cedo fui abrir a porta para o Mel ir para o jardim, ocasião em que volto a dormir, enquanto ele fica se exercitando em meio a amoras, cheiro de alecrim e mamão. Hoje ele não quis saber de exercício, pois, sábio, sentiu a chuva se aproximar e, quando ela finalmente chegou, ele ficou quietinho, silencioso, próximo à porta, esperando que eu abrisse a porta para que pudesse se aquecer dentro de casa.

Chuva lembra aconchego e proximidade, compartilhamento do espaço para aquecer o corpo e a alma. Os gatos sabem bem disso, porque, hoje, ficaram todos aqui ao redor, enroladinhos e quietos, poupando suas energias para o devenir desconhecido da razão.

Um felino "agregado"- talvez, quem sabe, irmão da Titi, pois tem a mesma pelagem dela - por quem, outrora, eu nutria uma certa antipatia - conquistou, enfim, meu coração, e, hoje, depois de uma semana de enamoramento (colocando ração, água, conversando e me aproximando), ele entrou aqui e já se instalou, convivendo nessa casa com o Marduk, o Finfim, a Mimi, a Meow e, claro, não sem muita briga ainda, com o Mel.

Mas, engraçado, mesmo com a divergência de objetivos entre ele e o Mel - a disputa de espaço - esse é ainda um lar de harmonia, pois até no dissenso o gatinho malhado e o Melado dão-se trégua...Estão agora próximos um do outro... O gatinho (será que ele tem nome?) e o Mel estão aqui, pertinho de mim, lado a lado, compondo a minha família especial!

Enquanto a umidade sobe e o céu prepara outra festa, estou na minha conchinha. O elemento água, ligado ao inconsciente, ao líquido primordial do útero da Grande Mãe, faz com que me lembre da conexão com minha emotividade. A água que corta vales, sangra montanhas e muda paisagens é a mesma que compõem os 76% do meu corpo, trazendo, com isso, uma necessidade intensa de conexão com a água do Planeta. A água que bebo, com gratidão, bem como a que alimenta as plantas secas do cerrado.

Chuva lembra creme de abóbora, lembra torrada com mel e chá. Lembra também ser necessário desprogramar, sair da matriz de horário, de compromisso com o exterior, pois, no aconchego da chuva que assola as ruas e invade espaços, o respeito pelos desígnios da água é condição de sobrevivência no mundo que está transmutando.

A chuva lembra, enfim, que meu coração está, pouco a pouco, aproximando-se da minha morada. Estou, a cada dia, arrumando um pouco mais de bagagem para a passagem derradeira. Já estou olhando a chuva e pensando que meu coração flui, de lá para cá, deixando mais aqui em Brasília de Alto do que levando para Alto essa Brasília que me acolheu por 37 anos.

Não posso ser ingrata com essa cidade... Nasci aqui, crie-me aqui.

Mas, em dado momento, é hora de simplesmente partir. Sem saudade, sem fuga, apenas partir, com a fluidez de quem está apenas mudando de endereço, e, ao mesmo tempo, está adequando a morada externa ao que está, enfim, dentro do coração.

O que me espera? Não sei, mas, mesmo não sabendo, não me furto e simplesmente sigo! Afinal, por que tanta pre + ocupação, tanta elucubração e tanta futurologia, quando a vida é tão mais simples do que a especulação em torno da temática "futuro". Que futuro? Aquele que jaz contido no aqui e no agora, esse é o futuro...