quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Meus tesauros de felicidade: a arte do desapego

Fonte da imagem para créditos: http://www.frasesparaoface.com/wp-content/uploads/2015/02/pratique-o-desapego.jpg
Finalizo no domingo meu recesso na faculdade, uma espécie de semana sabática na qual alunos, alunas, corpo docente e administrativo recarregam as baterias para a finalização do semestre (do ano até! Como 2016 passou rápido mesmo...). 

Estou em casa, aproveitando a ida do jiponguinha para a oficina e dando prosseguimento à minha semana de desaceleração, componente integrante e vital dos meus tesauros de felicidade.

Tenho percebido esse ano que a seca não conseguiu ceifar o jardim de ervas, a seguir seu ciclo, firme e forte, provendo-me com tanta dádiva: usando comedidamente a água -  tivemos racionamento aqui - consegui manter as plantinhas nutridas e floridas, mesmo com todo contraste que o clima do cerrado nessa época oferece. 

As próximas etapas serão os retornos da compostagem e da reciclagem, pois ainda não experimentei as técnicas nessa nova casa. Na antiga casa, fiz uma composteira de chão, onde as minhocas fizeram a festa da oxigenação. Com isso, plantei e adubei uma amoreira, uma bananeira e um mamoeiro, destruídos pelos labradores maluquetes.  

A reciclagem tem sido feita, sobretudo, com o reaproveitamento das garrafas de suco de laranja que tanto amo. Minha geladeira está abastecida com muita água, bastando abrir a porta e observar o tanto de garrafas de plástico, que poderiam estar no lixão, mas que são úteis demais para nós.

Aliás, essa birra de plástico e de consumismo está atingindo patamares bem nítidos em mim. Recuso plástico. Lembro-me até, num ímpeto de desespero diante do plástico, de ter recusado um presente que meu irmão queria me dar: uma garrafinha plástica com um compartimento para chá. Ou seja, bem diferente, pois tanto acomoda água como chá, quente ou gelado.

Quando vi a garrafa - nada tem a ver com meu irmão oferecer - tive um surto de "plasticofobia", pois assustei e neguei. Estou fora do plástico sedutor (canecas, garrafas, copos, compartimentos, a vida se plastificou intensamente nos últimos tempos), tentando sensibilizar, ainda, colegas de trabalho, para que adotem a garrafinha. 

A cultura do consumo de canecas e repositórios bonitos é intensa e covarde, pois os formatos, as cores e as dimensões acariciam nossa mente-que-nem-sente que consome a pedir "mais, eu quero mais plástico". Evito sacola, optando pela mochila ou pela sacola reciclável. Mas, quando preciso de saco de lixo para banheiro, ao invés de comprar aqueles fardos, uso as sacolinhas armazenadas.

Outra maneira que encontrei de reciclar consiste em repassar as roupas que, por ímpeto, adquiri, nunca ou pouco tenho usado. Não se trata de doação para instituição - esse é outro tesauro - mas sim de um mercado de trocas, pois sempre estou ganhando algo e, portanto, sinto a necessidade de dar em troca. Compartilhar. Ganho tanto mimo da galera no trabalho que poderia abrir uma loja com tudo que lotaria!

Brinco, colar, bata, lenço, casaco, caneca, corujinha: tudo muito lindo e amoroso, pedindo, de outra sorte, o retorno ao Universo provedor. Falando em brechó, uma excelente maneira de não estimular a indústria têxtil, pois a aquisição de uma roupa usada retira da linha de consumo a aquisição de outra recém-saída da fábrica. 

Existem excelentes opções de brechós aqui em Brasília. 

Vou muito ao peça Rara, que tem uma proposta muito legal de movimentação e também de doação. Podemos entregar as roupas não selecionadas para que eles possam encaminhá-las às instituições necessitadas no DF. As lojas ficam nas comerciais da 307 sul, 408 sul (feminino, casa e infantil, além de outra masculina), 204 norte (feminino e infantil) e Águas Claras (feminino e infantil). 

Você se cadastra e pode levar as peças (dependendo da quantidade, precisa marcar o dia, ou, então, aguardar o encaixe, mas nada demorado não). O valor é recebido em espécie, depósito ou convertido em crédito para ser gasto na loja. Olha que legal a cadeia de sustentabilidade!


Fonte: https://2.kekantoimg.com/zB3gz4F016eXpXOB9u7JFJPwG_s=/fit-in/600x600/s3.amazonaws.com/kekanto_pics/pics/994/33994.jpg





Na 307 norte tem o Lixo Valioso, um lugar muito diversificado também. Fica num subsolo, bem underground, legal demais. O valor das peças é bem justo e honesto e você pode passar o dia todo olhando que não conseguirá exaurir o potencial do lugar. 

Além deles, a moda agora em Brasília é a feira múltipla, que reúne brechó, foodtruck, sustentabilidade etc. Nas entrequadras direto temos notícia de uma, geralmente nos finais de semana, momento em que a feirinha da Torre de TV também abre, com opções artesanais.

As roupas e os sapatos e sandálias artesanais são um ofício geralmente transmitido de geração para geração. Converso muito e descobri isso. Ou seja, sustento de famílias, por intermédio da confecção de peças únicas, exclusivas, ao contrário da padronização industrial, que nos aloja como robôs em uniformes. 

Trabalho belo!

Tem uns 10 anos, por aí, que minha arara acomoda roupa usada e artesanal, sobretudo tay day (aquele efeito borrado que ainda arriscarei fazer com água sanitária, tinta e barbante). Além disso, amo as botinhas da Torre, pois duram, são confortáveis e protegem os pés no dia-a-dia das atividades, sem deixar de mencionar que são estilosas mesmo! Lembram o bom e velho estilo bretão de ser, hahahaha.

Já que não posso ser bretã e andar a cavalo, optei por trocar meu carro urbano pela proposta de um jipe Bandeirante a diesel, mais eficiente em termos de sustentabilidade. "Nossa, não é muito velho?" - ouço sempre. Um carro. Estamos falando de UM carro com longevidade, fabricado para durar, não carro playmobil.

Vida útil de motor que pode perpassar minha própria existência, deixo de retirar da fábrica um carro novo a poluir o meio ambiente. Ainda mais aqui em Brasília, onde a média é 1 carro para três habitantes - apesar de eu sempre ver, a começar de mim, 1 motorista no carro. 

Quando buscar o jipe na oficina vou adotar um critério misto e, em alguns dias da semana, descer de baú, pois adorei a experiência de prestar mais atenção à vida e às paisagens. 

Investimentos? Bicicleta para ir ao yoga perto de casa, que também traz acréscimos, já que voltarei a fazer minha comida e, com isso, não terei tanto gasto na rua. Uns barris para começar a coletar água da chuva, a despeito de não estar sequer chovendo (um dia choverá cântaros, tenhamos fé!). Amaciante feito em casa: tenho saudade de quando fazia o meu, com a fragrância que me dava na telha.

Aliás, que semana agradável mesmo, cozinhando e voltando a me nutrir: o corpo agradece e a alma canta de suavidade! O foco, por agora, é continuar na senda quando as aulas retornarem.

Mas, claro, sobretudo, para que tudo isso dê certo, necessário um grande desapego do dinheiro, bem como das comodidades que ele oferece. Nesses dias sem televisão, em que apenas leio, medito e silencio, percebo o quanto é importante alimentar o espírito de simplicidade, pois dela exsurge o despojamento...

Eis uma síntese do tesauro desapego, elaborado progressivamente, sem dogmas, violência ou opressão à alma. Sendo apenas eu, nas idas e vindas dos ciclos que sempre se renovam dentro de mim!

domingo, 2 de outubro de 2016

Meus tesauros de felicidade: de carona na sustentabilidade, cada qual faz sua parte

Esses últimos meses tenho desacelerado: compreendido a necessidade de focar minhas prioridades, dentre as quais, o retorno gradativo à alimentação saudável, orgânica e fresquinha, necessária para a sensação de pertencimento à Gaia e aos benefícios que ela nos traz. Perto daqui de casa tem a Feira do Produtor, onde todo sábado uma comunhão de pessoas se forma em torno desse bem comum: natureza.

Lá é um espaço bem democrático, com todos os credos, todas as tribos e as pessoas mais diversificadas e lindas que em um lugar podemos encontrar. Sacolas recicláveis, sandálias de tecido, brincos, piercings, alargadores. Tudo em um lugar só, coexistindo com as famílias em seus carros importados, celulares caros. 

Que legal! 

Independentemente de qualquer estereótipo, observar o fluxo dessas pessoas em relação à consciência sobre alimentação traz um baita alento. Quer seja na senhora japonesa que vende sushi fresquinho, ou na banca de caldo-de-cana gelado, ou, ainda, na senhora do leite na garrafa pet - que faz um queijo para lá de fresco e de delicioso - tudo exala o frescor de uma vida alternativa ao sistema que tenta sucatear nossas almas.

Sim, existe um contra-fluxo! 

Uma contra-cultura alternativa, a motivar quem tem sensibilidade suficiente para perceber que o mundo está demandando uma conscientização coletiva, sob pena de simplesmente explodir de tanto consumo desenfreado e predatório. E ela começa aqui, dentro da gente!

Nessa vibração, certas revoluções são silenciosas, partem de um movimento interno de incômodo com a situação, ou, ainda, da simples necessidade de se reformular a alma. 

Trocar de pele é necessário para se manter a troca de oxigênio e conexão com a Natureza. 

Nesse sentido, a adoção de boas práticas de sustentabilidade e de desaceleração é algo cada vez mais premente em nossas vidas, pois mudar o padrão vibracional passa muito mais por se reconhecer protagonista da própria história do que baluarte de movimentos coletivos.

Ultimamente tenho feito uma senda de desapego, que veio como uma leve brisa, sem pressão, incômodo ou sofrimento. Já tentei o caminho à  fórceps, que utiliza a racionalidade do convencimento, mas confesso não ter dado certo. 

Descobri, então, que a revolução silenciosa da alma se faz pelo caminho do coração, por intermédio da empatia com a qual podemos nos enxergar no outro e, no caso, na Natureza que tanto nos dá: só assim conseguimos amar este planeta o bastante para transmutá-lo em prol de sua sobrevivência (e da nossa, claro!)

Estou sem sky em casa, não vejo mais os programas de tv por assinatura. Quebrei o controle  (desconfio que foi ato inconsciente para me desapegar mesmo) e estou esperando chegar outro que perdi de vista. Bom, bom, bom demais. Um dia ele chegará. Mas, até lá, tenho me observado mais, recolhido mais. 

Sem distrações para me desviar, assisto a filmes na internet, leio, interajo com o povo daqui. Tenho cuidado melhor da alimentação (hoje mesmo comemos uma bacia de salada e maionese caseira, algo que nunca imaginei conseguir fazer). 

Plenitude, eis o sentido.

Fiquei e estou sem carro: meu jipe ficou sem freio, eu e meu namorado protagonizamos uma cena de Flinstones e até minha coluna se contorceu, o bastante para me mostrar, em mais um processo de somatização, que preciso me despojar, ainda mais, das cobranças internas. Da vida de tensão que levo no dia-a-dia. 

Coluna se recompondo, tenho andado muito de ônibus e até encontrei alguns alunos, que se assustaram em ver a professora de baú. Cada viagem é realmente uma viagem, pois observo atentamente as pessoas ao redor, envolvo-me com a vida que está aí, pulsando.

Cheguei a marejar lágrimas nos olhos com a simples despedida do meu namorado na rodoviária. Momento inesquecível de despojamento de tudo. Não havia conforto ou segurança que compensasse o aperto no coração de um "até logo" em um terminal lotado. isso é divino e belo! É a síntese da percepção do quanto somos queridas e amadas, o bastante para o sacrifício de outrem por nossa felicidade...

Realizo-me na simplicidade de um movimento esquecido na contemporaneidade, tão ocupada com facebook, whatsapp e redes sociais. 

Passei a observar mais o que, de súbito, dentro de um carro, não consigo, ainda que dirija um jipe, de onde é possível imergir no horizonte sem fim... As cores, as flores, a vida: tudo passa, como em uma estação de metrô, átimos de segundo que ficaram para trás, mas que trazem do desejo, cada vez maior, de simplesmente deixar tudo de pesado, de desconfortável e inútil, também para trás.

Quando não estou em um ônibus estou à pé: outra aventura. Fui a uma aula experimental gratuita de yoga perto de minha casa - não tão perto, uns 5 quilômetros. Peguei o baú de integração e desci na parada,  fazendo o restante do percurso - 1 quilômetro de estrada de chão - a pé. 

Essa foto aí ao lado é de lá. Caminho providencial, pois em cada passo, uma respiração, uma percepção sobre minha vida e o que realmente é necessário de bagagem nela. 

Cheguei a tempo...O tal do tempo que sempre marca as desculpas para nossos processos de sabotagem. mas, desta vez, levei a melhor e adivinhem? 

Não me sabotei! 

Andei com meu tapetinho surrado pelas unhadas dos gatinhos daqui de casa até encontrar o Empório da Mata, lugar lindo, maravilhoso, que me remete à primeira Festa Medieval que fui (a melhor e mais lúdica, com direito a trapezistas de fitas e tudo mais).

Aula boa, vento soprando e pássaros cantando em harmonia com a minha alma...Belo, pleno e vigorante! Presença da Natureza em cada ponto mais abscôndito da minha alma. O que está havendo comigo? Bem-aventurança, simples assim.

Como não amar o caramanchão com tsurus pendurados? O céu beijando as copas das árvores e a grama verdejante? Como não sentir nas entranhas a energia vital deste planeta a colorir o espírito com a suavidade do amor?

Eis a questão: sentimos... É necessário sentir para saber. Uma vez escutar de uma pessoa a seguinte frase: "para saber, tem que voar", lembrando-me dos desafios que um sistema consumista e predatório nos impõe. 

Nesses momentos de crise pandêmica, a potencialidade humana de resiliência sempre fala mais alto, acalentando-nos com a esperança de que tudo ficará melhor quando nossa alma está disposta a ser melhor.

Tenho desejado falar menos. Aliás, a irritabilidade com a falação dos outros só mostra minha agitação interna, bem como o desejo de pacificar minha alma da reverberação que eu mesma provoco com a tonelada de pensamentos que ora me fazem retornar para o passado, ora me impelem para a ansiedade de um futuro em relação ao qual não tenho o menor controle.

Tenho comido mais orgânicos e me desintoxicado com a culinária vegetariana e vegana. Tomado óleo de côco (também passo nas pontas do cabelo, nutrindo e hidratando), própolis e pólen, já exausta de organismos mortos que se veiculam a partir do paradigma alopático.

Dia desses fomos - turma de yoga - almoçar em um restaurante chamado Veg Gourmet, que fica no Brasília Rádio Center. Preço justo, executivo vegano de primeira linha, lindo, belo, nutritivo. Uma comida que dialoga conosco e nos remonta à felicidade trazida para o estômago.

Meu desafio, por agora, resume-se a comer mais devagar, a mastigar mais e melhor. Isso ajuda, creio, na paciência que me falta. Mas, pouco a pouco, ao esvaziar alguns quartos de despejo da minha vida, creio que irei naturalmente me desestressar. 

Aliás, a revolução silenciosa já começou, ainda que preparada por intensas discussões. Tenho procurado me desestressar com o que não faz parte do meu círculo de variáveis modificáveis. 

Passo até por alienada política, mas, de fato, estou contemplando os últimos dias de  Pompéia, tal qual uma atenta observadora prostrada no Monte Vesúvio, esperando o movimento planetário de mudanças somente perceptíveis para quem desistir de achar responsabilidade fora de si...

Tenho olhado até mesmo para o sistema com amorosidade. Sem ira, indignação, afinal, querendo, ou não, ainda sou grata a ele, com todos os defeitos. Assim como sou grata por minha existência, com todos os meus defeitos, como sou com outras pessoas. 

Apenas respirando. Acho que realmente precisamos respirar mais...