segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A amora e o sonho


Ariana estava se preparando para dormir, pois o Natal não tinha a menor significação para ela. Já fazia um tempo que não mais sentia ou acreditava na indicação que o Solstício de Verão apontava sobre renascimento, porque Ariana não mais renascia...

Jazia morta, em vida, para tudo que se colocava diante de sua vida e mesmo esboçando seu terno e doce sorriso, seus olhos amendoados, ao fundo, mostravam o vazio de suas volições e sensações. Não batia mais no peito aquela sensação de flutuação, pois seu corpo, retrato de sua vida, era apenas uma densa massa sujeita à gravidade, impedindo Ariana de voar e se lançar à plenitude do colorido de seu mundo de sonhos e idéias.

O tic-tac do relógio de parede sempre enganava Ariana, que dormia ao som do amigo pontual, tal qual a disciplina de um monge secular que, sem pressa, relaxava e se deixava embalar pelo afago dos sonhos.

Nesse dia, porém, Ariana dormiu em vida, viveu em sonho uma fábula que não sabia ser real ou imaginária para o mundo dos vivos. Não importava, porque, afinal, viver sozinha em seu mundo havia trazida à jovem mulher a certeza que sonhar era a mais vívida experienciação de si.

E "repleta de si", Ariana sonhou, sonhou como nunca havia sonhado, recordando do passado de renascimento que jamais esquecera, numa história de encontro que nunca tivera...

Lembrou-se (ou "sonhou-se", "desejou-se", quem sabe) de um tempo em que era feliz, tal qual é hoje, mas um momento em que a felicidade vinha acompanhada de um renascimento, de um início. Um dentre vários inícios de sua vida, contudo, foi muito mais do que o tenro frescor de uma alvorada que anuncia o canto dos pássaros.

Ariana era feliz, sem dúvida, pois todo mundo assim achava. Afinal, tantos sorrisos, tanta presteza, tanta solitude somente poderiam vir de alguém repleta de amor, um amor, contudo, que Ariana havia trancado em um quarto escurecido pela dor de sua alma, apagando, pouco a pouco, de sua essência, a sensação gostosa e acalentadora da luz que trazia em si.

Dentre tantos fantasmas por ela criados em sua vida de renascimentos, Ariana criara aquele que, sem ela saber - mas sendo sabido por todos ao seu redor - era a sombra de si mesma, diluída no sofrimento da culpa que carregava consigo, por não deixar a Natureza seguir o fluxo de suas descobertas.

Ariana sonhou com toda sua vida de Natais passados, passando como um rolo de filme, em tiras justapostas de presente, passado e futuro, num continuum temporal que não entendia muito bem, mas que fazia, ali,naquela cama, naquele mundo, o coração dela palpitar.

Não poderia mais viver dos Natais passados, muito menos poderia Ariana conter o fluxo da vida e da morte, pois a partir dali, a alça do tempo-que-não-existe persistiu e insistiu, levando Ariana pela mão, a enxergar a si no espelho de sua alma.

Mesmo quando lágrimas de Sol quedavam de seus olhos profundos, Ariana sentia paz, pois a sensação do renascimento voltara, depois de tanto tempo, a povoar seu peito, coroando a jovem com o resplendor da pulsação de uma primavera que acontecia, mas que, pelo medo, não transbordava para ela.

Foi quando Ariana acordou, feliz, plena, e viu, da janela de seu quarto, o brilhante ponto que saltava, uno, de sua amoreira, anunciado pelo toque das cigarras orquestradas pelo divino: nunca havia tido amoras em seu quintal e, justamente aquele dia, aquela amora surgiu, lembrando a mulher que a Natureza, mesmo quando não desejado por nós (humanos que pouco sabemos), segue seu implacável trajeto rumo à vida-morte-vida, na espiral eterna do renascimento.

E com o sangue rubro da amora pendente veio o sangue uterino de Ariana que, a partir dali, não teve mais dúvidas, seguindo atrás do que seria, dali a pouco, o retorno de um passado que não mais existe no mundo de coordenadas tão cartesianas, mas que está presente dentro do peito, apontando para a felicidade de cada respiração.

Uma intuição bem forte a encaminhou, então, para o início de sua mesma nova vida de antes, uma nova vida que, num passado remoto, não tinha espaço, mas que, no aqui e no agora da vida de Ariana, era a constante marca de sua essência. Afinal, essências não mudam e Ariana, por apenas ter desvendado a sua, fez irromper a mágica presente em cada ponto desse imenso Universo: o amor...

domingo, 20 de setembro de 2009

Festa Medieval do Mittelalter

Festa Medieval, sagrado encontro de povos mágicos!

Reminiscência do giro da eterna espiral, que une passado, presente e futuro no aqui e no agora.

Dia 17 DE OUTUBRO...

sábado, 19 de setembro de 2009

Quando Nietzsche errou...

Seria possível?

Claro que não!

Nem erro, muito menos acerto... Na vida, como ela é, não existe, como ele já afirmava, argumento... Não há erro ou acerto, apenas movimento...

Quando Nietzsche fala no desacerto do budismo - penso - acho que ele estava muito mais negando sua proximidade teórica e filosófica, do que qualquer outro impulso de questionamento...

Afinal, o viver "aqui e agora" de Nietzsche está presente nas tradições orientais... E, quanto ao famoso Nirvana que tanto comenta, o não-ser, o vazio, nada mais é do que a confirmação de sua percepção de não-ser no aqui, em carne, nada mais...

Mas nós matamos Nietzsche, assim como matamos a nós mesmos, em cada dia de negação do viver no presente, pois somos espectros de um futuro que nunca virá ao nosso encontro, pelo simples fato de ser apenas uma sombra, dentro de uma imensa análise combinatória que algum matemágico louco lançou para as ingênuas pessoas inconscientes, adormecidas...

Quando tudo parece desanimar...


Às vezes olhamos para o lado e queremos nos lançar a um vôo libertário, deixando para trás tudo aquilo que não faz sentido em nossas vidas sempre tão programadas por um "computador universal" chamado ilusão.

Quando ficamos muito tempo na frente de uma televisão sentindo saudade de um não-tempo, de uma não-paisagem bucólica, toca a campainha: é sinal de nossa insatisfação... Liberdade...mas, e as contas ao final do mês?

Engraçado como pensamos e supomos - do alto de nossa arrogância primitiva - que teremos um "final do mês"... Daí, como o final do mês é importante para o pagamento da conta, voltamos nossa atenção para ele, sem, contudo, cuidarmos de nossa próxima RESPIRAÇÃO...

Sim, como sabemos que estaremos vivas e vivos na próxima respiração? Com que futurologia podemos nos arvorar de tamanha pretensão surreal? Não podemos e, dentro disso, enganamo-nos, cada um de nós, com ilusões projetadas...Um devenir que nunca se perfaz, porque, de fato, não há controle...

Somos organismos interligados, de tal sorte, que minha vida está atrelada ao suspiro do meu cão. Talvez, pensando assim, seja mais fácil observar que o imenso calor que está fazendo, juntamente com a extemporânea chuva que nos lava são, na verdade, nossas próprias condutas, que se renovam, o tempo inteiro, nessa espiral incessante chamada vida...

Por que, então, tanto desânimo? Será que o viver no aqui e no agora tem sido tão enfadonho para o ser humano que, no auge do desespero para fugir de si, de nós, lançamo-nos para a frente? Não adianta muito, pois, quando existenete, o "para a frente" é apenas um espelho truncado de um aqui e agora que desejávamos, mas em relação ao qual muito pouco fazemos, a não ser LA MEN TAR, como crianças ególatras, pelos percalços DE NOSSAS ESCOLHAS em teia...

Por que não largamos, então, tudo que nos aborrece e nos limita e simplesmente não nos voltamos para o que verdadeiramente importa?

Talvez porque, no ápice da robotização, nem mesmo sabemos quem somos...e, na histeria da ignorância, somos tudo, menos nós mesmas...

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O vôo da gralha no conselho dos nobres

Estavam todos reunidos diante do Conselho dos Nobres: ali, somente a nata mais expressiva da sociedade adviense poderia fazer parte do conselho.

Na verdade, muitos nem sabiam o que faziam ali: tão absortos em suas maquinações de si, esqueciam-se que os cofres da cidade-luz ostentavam a missão de alimentá-los. Alma e corpo sequer sabiam a dimensão do que isso significava, mas o ego, esse, sim, letrado que era, já sabia que a ida de cada uma daquelas pobres almas perdidas justificava-se na completa e total falta de luz. Talvez, algum dia, aprendam na sombra...

Quando o ancião convocou o alto clero, vozes esganiçadas romperam o equilíbrio, cedendo espaço à confraria dos medíocres. O diferente não precisa dizer de si: a diferença desponta tal qual uma chaga lacerante, que lateja, dói, escalda, mas que, ao final, permite a evolução dos mundos. Dor e alegria na diferença são dois pólos que, a cada tempo, aproximam-se em propósito, fazendo com que a dualidade ceda espaço ao que é humano: instinto.

Mas o medíocre que deseja ser a diferença, esse pobre coitado não sabe de si, muito menos das armações que o universo de institntos traz para o ser, esse humano tão simples...E a gralha ralhou, e falou, até cantou, para o espetáculo de nossas vidas.

E o restante do conselho dos nobres, seguros em suas zonas de conforto, não perceberam que o retrato da vida dali a pouco sucumbiria à pantomima do ridículo: eram nobres, isso bastava, mesmo que sequer soubessem qual a nobreza a que se referiam...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Do direito para a Antropologia Jurídica: o salto no abismo, da ignorância para o céu de Ícaro

Hoje fomos a uma aula com o Professor Roberto Kant de Lima...

Perguntei-me: existe vida após o direito? Penso que não, sinto como se estivesse anestesiada durante 12 anos da minha vida, imersa numa realidade que tenta, a fórceps e vácuo, condicionar a realidade a uma realidade por ele criada...

Criamos um monstro que nos engole todos os dias, na arrogância de nossa ignorância em relação aos sentimentos, ao humano: sim, negamos o humano em nós e, à escusa de exposição de ordálios, negamos o Outro, o tempo inteiro...

Mas existe luz, existe libertação...basta saltar, tal qual Ícaro, para um vôo em que ele, sabichão, notoriamente sabia seu destino: não haveria como resistir à liberdade do Sol!

E, como Ícaro, salto, a cada dia, para o vôo da Antropologia Jurídica, que estabeleceu paz no meu coração já tão sucateado pela migalha tormentosa do mundo normativo, que não sabe NADA, apenas o DEVER SER que-nunca-é...

domingo, 13 de setembro de 2009

Esse ainda é um mundo dos homens...

Isso é importante, porque, afinal, podemos incorrer na ingenuidade de acreditar que fazemos parte dele em plenitude de igualdade, quando, por um lado, conquistamos; por outro, vamos até onde ainda "nos permitem"...

Por que?

Porque ainda aceitamos os rigores da estética como condição de seletividade, porque ainda nos mutilamos com botox, plástica e horas de ginástica invasiva. Porque, mesmo diante de tanta autonomia, insistimos em alimentar o ego masculino, que ostenta o pedaço de carne...

Toda vez que uma mulher precisa ceder num espaço de negociação, sem, contudo, negociar, acabou-se a igualdade (que nunca existiu) e veio a "complacência" masculina com o feminino.

Cada vez que compramos uma revista de moda, com a modelo gostosona, cada vez que falamos "homens são de Marte, mulheres são de Vênus", enfim, cada vez que usamos o dicurso da diferença, não duvidem, criamos a diferença... E, engraçado, cada vez que, furiosamente partimos para cima do masculino, querendo o reconhecimento, a fórceps, do feminino, também alimentamos a contenda...

A idéia é não termos que pedir "licença, sinhozinho", porque, de fato, ser senhora de si é não fazer pacto, qualquer que seja ele, ainda que sob a escusa de não ficar só... Isso porque, mesmo que o pacto seja feito e, num imediatismo atroz, a sensação de solidão, naquele momento, não venha, o devenir mostra, ao contrário, a solidão em sua maior expressão...

Antes só do que mal acompanhada. Mesmo!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O resgate do soldado Redenção


Redenção tinha sido convocado para a guerra, uma luta interna travada, há tempos, com seus medos, fantasmas e todas as sensações e os sentimentos que negava em si. Enquanto arrumava sua sacola para a viagem, pensou em tudo que providencialmente esquecera em tempos de paz, quando o conforto do anestesiamento da alma escondia o caos que sua mente insistia em alimentar.

Lembrou-se de todas as pessoas que passaram, nesses 44 anos de vida, por seu caminho. Todas elas espelhos de suas mazelas, transformadas em inimigos ocultos que, um a um, Redenção tentava destruir, sem saber, porém, que estava assassinando a si...

O avião iria partir dali a pouco. Toda a vida de Redenção passou por sua mente, em átimos de segundo, enchendo-o de um vazio enorme, seguido pelo desejo de tentar, antes de ir para a guerra, recompor a paz com seus inimigos-espelhos.

Lembrou-se de Compaixão, uma pessoa muito importante em sua vida. "Onde anda?" - indagou, esperançoso, ao mesmo tempo em que buscava internamente a referência do endereço da inimiga-hoje-amada, ou, ao menos, algum dado que pudesse ser útil para encontrá-la. Foi quando veio à mente o nome do bairro em que a mulher morava, na estrada da "Consolação".

Rapidamente, Redenção juntou o restante de suas roupas e rumou para lá, confiante que, depois de tanto tempo em que perseguia sua inimiga oculta, Compaixão e ele poderiam, de fato, conversar. Redenção poderia ir para sua guerra em paz. Morreria, dali a pouco, feliz, por haver recomposto a calmaria perdida há tanto tempo.

Quando chegou à rua, viu a mulher, serena, entrando em casa. Com passos sorrateiros, Redenção aproximou-se da janela, para espionar Compaixão e sorver - ainda que por efêmeros segundos - o mundo de felicidade de sua amada paradoxalmente odiosa inimiga.

De súbito, lembrou-se, diante da porta de Compaixão, um detalhe, esquecido por ele enquanto lutava: não existe resgate da alma num elongar de tempo que se lança sempre para frente...Com essa tristeza no olhar, Redenção foi embora, calado, pegar seu avião, sem saber que, providencialmente, morreria, dias depois, no campo das batalhas perdidas de seu coração.

domingo, 6 de setembro de 2009

No giro da roda da transmutação

Está chovendo em plena seca!

Bom, se está chovendo, talvez a seca não esteja tão seca assim...

Mas, de fato, essa chuva repentina tem acelerado tudo, inclusive o relógio biológico, que tende a aproximar a época da chuva do final do ano. Sim, porque usualmente começa a chover no pico de novembro, passando por dezembro e, com direito a barquinho e colete salva-vidas, janeiro e cia.

Essa chuva - abençoada chuva! - traz uma sensação gostosa de grand finàle... um final de tempo, fora de tempo propriamente dito, talvez para brincar com o sentimento de controle de uma variável que talvez nem exista!

Que tempo?

Talvez seja tempo, no sentido de época, de despertar para o que está acontecendo, num ritmo de transmutação nunca antes percebido.

Tudo em volta está diferente, mas, acima de tudo, a Natureza está se comunicando conosco, enviando muitas mensagens...

E viva a roda do ano que se finda em pleno setembro!