sábado, 9 de junho de 2012

Quando o medo nos carrega em seus braços...

Muitas vezes o medo nos assombra, chegando de mansinho e penetrando em cada uma de nossas células, paralisando nossas ações e nos impedindo de seguir nossos passos dentro da grande jornada do VIVER


Paramos muito, elucubrando, pensando em mil e uma possibilidades que, a rigor, nem sequer existem, porque, diante do medo, pouco nos permitimos fazer a não ser estagnar e não mais caminhar. 


Gastamos a energia em reflexão apenas, todas elas, quase sempre, permeadas pelo estigma do pessimismo e do mantra do "vai dar errado" e, ainda por cima, ousamos falar que esse cancro é uma "cautela". Ou melhor, a palavra da vez: zona de conforto...Uma zona mesmo!!! 


Temos muitas ideias, pensamos em inúmeros projetos, mas, diante do medo (que insistimos em nominar de "zona de segurança" ou de "cautela"), engavetamos nossos desejos e passamos boa parte do tempo alimentando-nos - como vampiros - de sonhos, já que não ousamos sair de encontro à realização do que desejamos ardorosamente para nossas vidas. 


Ou, ainda, à escusa de sermos baluartes da "era do desapego", chamamos a preguiça de sincretismo, a falta de iniciativa de desapego "das coisas do mundo" e justificamos nosso medo na roupagem astrologicamente correta e, pior, imutável, como se um mapa astral fosse um carimbo de determinismo, o que é paradoxalmente contra tudo que diz respeito à impermanência com a qual o Universo INTEIRO se rege...


Por que, então, não nos regeríamos assim também??


Congelante, eis a palavra sintética para representar o pânico que advém diante de uma possibilidade que se avizinha, mas que, em face do medo, deixa de ser nossa opção para a vida. 


Sem opções não crescemos e, não crescendo, voltamos sempre para a estaca zero de nossa evolução espiritual. Os celtas tinha uma percepção cíclica helicoidal, em retornos que mantinham aparência de repetição, mas que escondiam, por trás da aparência, a mudança determinante para um verdadeiro salto qualitativo no desenvolvimento espiritual...


Para se passar para a etapa seguinte, necessário, pois, vivenciar a atual e, internalizando as lições presentes nos pequenos sinais que a vida nos dá, superar os desafios que nossa roda de ano nos impele durante nossos vários giros ao longo das eras.


Todos e todas temos medo, pois ele é inerente ao desconhecido que sempre está à nossa espreita. Temos medo de morrer, medo que ver pessoas próximas morrendo à nossa frente. Medo de viajar, medo de assumir um novo emprego. Temos medo até de fazer escolhas que tragam mais responsabilidades porque temos medo - também - da responsabilidade em si...


Com esse pânico avassalador esquecemos de nos lançar rumo aos desafios que estar nesse plano nos coloca, o tempo inteiro, como forma de superação. 


Por que tanto medo?


Não sei, mas desconfio que parte dele pode ser uma maneira de lidar com a ilusão da definitividade, pois os medos que se relacionam a questões materiais (medo de provação, medo de morrer sem comida, imóveis, dinheiro) envolvem necessariamente um apego, uma vã sensação que, por meio do material e visível aos olhos, poderemos perpetuar nossa presença nesse planeta...


Daí começamos a nos sabotar o tempo inteiro. 


Deixamos de usufruir de nossa estadia nesse planeta maravilhoso porque pensamos que, ao não economizar por exemplo, iremos passar fome... Pensamos em juntar dinheiro para dar entrada em um imóvel daqui a 5 anos, como se - senhores e senhoras da vida e da morte - soubéssemos quanto tempo ainda temos por aqui. 


A arrogância com que o humano construiu sua meta de vida - geralmente dissociada da Natureza e dos demais componentes do globo terrestre - faz com que nos tornemos seres patéticos em relação a um devenir que, no fundo, no fundo - ou seria no raso, no raso? - não passa de mera expectativa, pois essa, como todas as existências, são apenas passagens para outras dimensões muito mais deliciosamente maravilhosas!


A "patetice" ainda se alastra, tal qual vírus mutantes, quando cremos, de maneira quase que fanática, que usar uma roupa rota, alimentar-se mal para poupar uns vinténs furados ou, ainda, dirigir um carro caindo aos pedaços, são maneiras sempre edificantes, crísticas e eticamente corretas, impulsionando-nos rumo à redenção ou à evolução espiritual. 


Que evolução???


Eis o cerne da questão: simploriedade nada tem a ver com humildade...Na verdade, penso que o pensamento de se "desapegar para" contém uma contradição em si. 


Desapegar não necessita conjunção "para" que, no contexto semântico, reforça a ideia de apego. Largar de mão tudo, apenas porque...ops, esqueci, não existem porquês no desapego. 


Eis o fio da meada! 


Com esse discurso digno de uma "zona de conforto" construída em cima de castelos de areia à beira de uma praia em maré cheia, boa parte dos discursos e práticas proselitistas de aparente desapego redundam em formas ortodoxas de encobrir a mesma verdade relacionada ao medo: tememos o desconhecido e, por temê-lo, desejamos fincar raízes no que se apresenta como seguro, sem perceber que, fazendo isso, paralisamos nossas possibilidades de crescer...


Por isso, minha reflexão de hoje caminha exata e pontualmente em cima do medo...


Para que olhemos de frente para ele e, contemplando-o como a um irmão, possamos alegremente cruzar seu caminho com a medida de cautela, mas, acima de tudo, com o afã de deixá-lo para trás ou, quando não conseguirmos, que possamos, por fim, deixá-lo caminhar ao nosso lado, mas NUNCA nos carregando no colo!