Poemas, lamentos e gritos sufocados de uma alma dadivosa...

Amei-te

Amei-te
Só por um instante
Apenas
Completei minh’alma
De sonhos, brisas e flores
Pensando neste, dentre tantos amores
Que vieram, que foram
Tantos, dezenas
Amei-te
Só por um momento
Toquei o céu, invadi estrelas
Voei ao longe
Senti no espírito
Fulgurante brisa
Sopro de vida outrora negado
Amei-te
Só por um instante
Vivi o júbilo da mais honrosa viagem
Castidade lânguida
Em cortês amor
O resto transformado



Foi-se embora o Sol

Pedi aos céus um amor que me arrebatasse
tal qual o Sol se lança no azul tentando subverter os doces caldos de chuva num dia fino de verão
Veio meu amor, o SOl, que entrou em minha vida acalentando a escuridão dentro do vazio de meu coração que, há tempos não se permitia amar
Será que amei? Algum dia, quem sabe
Hoje sei que amo
E não sei
de nada mais
Meu amor, meu Sol, que entrou por essa porta e ficou
Aquecendo-me noites inteiras com o braço forte de seu amoroso laço
Envolvendo-me e lançando-me pelo mesmo céu que um dia, deu-me aquele amor...
Mas o Sol, ah, sim, aquele Sol, meu amor SOl,
Foi-se, esquecendo-se de deixar para trás meu coração
Levou embora o amor
E ficou a dor
Que hoje lacera meu peito
Sei bem, onde está o amor?
Onde está o SOl?
Foi-se e partiu
deixando a fenda que nunca cicatriza
Meu grande amor que não sabe amar
Meu grande Sol que é só pesar
Acabou cingindo de ferro, fogo e fel,
a doce lembrança que um dia trouxe comigo
Acabou
findou
Escarneceu
Tripudiou
Deixando-me crer que era una
Sou para ele mais um sol
dentre tantos sóis
nada mais do que a simplicidade do ser comum...



Melhor calar e esquecer

Melhor calar, sem esquecer
Os momentos de dor que pontuam o coração
As fagulhas de ódio que irradiam da alma
Contundente amor, convolado na razão

Melhor calar e esquecer
Que o júbilo habitou a alma por um segundo
Como uma doce brisa num mar profundo
Que veio, foi, ao longe se perder

Melhor calar, sem esquecer
Que o frio povoou a noite
Ecoou nas trevas, o triste açoite
Solar de um vento etéreo a incandescer



Mentiras

Caiu silencioso o véu
Pairando num mar de incerteza
Acordem, sonhadores incautos
Já não existe mais
Tanta beleza...
Onde estão as cores?
O que fizeram com os corais celestes?
Restam sombras no lugar de flores
E o som da morte
Indecifrável em suas negras vestes.



Vida-Morte-Vida

Viver intensamente é morrer a cada instante
Extrair da existência o eterno fruto
Doce, amargo, frio ou distante
É amar o anônimo por instantes
Prolongar, a todo tempo, espaço e momento
Para, depois, ao contemplar sua própria vida
Deixar o tempo escorrer ao sopro da brisa e do vento
É compreender as chegadas, sorrindo nas partidas
Como se estas fossem eternas, vindas, idas e vindas
Que se completam, lindas
De mãos dadas, porém, cingidas.
É explodir como se fosse o último veio de ar
É sentir, como se nada mais se pudesse falar
É sofrer cálida e silenciosamente
Como se o fim estivesse próximo, e o ser, ausente
Viver intensamente é regressar
Sair do etéreo pó e às cinzas retornar
Compondo o eterno ritmo do vida-morte-vida
É olhar para trás e vislumbrar
O futuro incerto, devenir inconstante
Sôfrego júbilo, num coração pulsante
Que bate indócil em sua partida
É dizer adeus e se calar
Atrás de cada um dos dias a se firmar
O rastro do céu, translúcido infinito
É aguardar, esperar e crer
Motivar a vida no misterioso ser
Insofismável fonte de sentir...



Patético mito

O riso provocou o mar...
Acordou Poseidon em sua grande angústia
Não consegue adonar-se dos céus
E chora ao clamor da tragédia
Longe foi o sorriso da medéia
Que trouxe pálido o olhar bandido
Hades enfureceu-se em seus domínios
Lançando à ira o calor humano
Prometeu tornou vão a promessa infinda
Selou a dor no coração olímpico
Libertou o mar da expiação
Longe se foi, sem deixar vestígio!



Ode à dor e à solidão


Recai a dor, na intensidade de uma sombra
De lápide fria, num deserto seco
Separa o Sol da Noite
E condena à morte o que, ontem, foi a realização do júbilo
Mordaça causticante
Que esbarra, afoga e afaga
Cada minuto de dor
Abraça como o fiel alento
Da matriz torturada
Intensa
Atolada
Em sua própria morte!

A dor esvai...
Escoa...
Alastra...
Perfura o coração, sem piedade ou compaixão
Tangendo de chaga
O que foi, outrora, o campo sacro do amor infinito
Infinito?
Infinita dor, infinita mágoa, que locupleta
Marca, fere, mata
Raio de Sol que se foi
Nem sei bem quando...

Amor, doce odioso amor,
Retrato findo de retumbante dor
Porta do precipício

Infinitude que dura o esbarrão no ego
Infinitude de apenas se contenta com as horas de paz
Pois as de guerra, as de guerra
Tangem de sombra e dor o que fora
Brilho...