quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Dia de sol, dia de chuva
Aqui no cerrado a chuva está se preparando para cair, é o que basta. Basta para as aves, que estão procurando abrigo nas copas e nos ninhos. Basta para as árvores de caules entortados, que retiveram sabiamente o líquido prateado, mês a mês de seca, calor e frio, para, agora, poderem repor seus reservatórios internos com o bálsamo para a próxima estação de seca.
Basta a todos os reinos...por que, então, não basta ao nosso?
A moda por aqui, em dias de pré-chuva (sim, uma garoa tem sido o abre-alas da estação das águas que exsurge), as conversas emergentes nos arredores da cidade têm sido, quase sempre, um festival de esquizofrenia. "Ai, que droga essa chuva, vai estragar meu cabelo!" - ouvi de uma alma com formol no cabelo, pois, segundo consta da pauta de "embelezamento", após a escova progressiva não é "de bom tom" o cabelo pegar chuva.
Não entendo, então, qual é a desse povo, pois, uma hora, conclama chuva, outra, tripudia dela, em torno da ideia egoica de não poder pegar um respingo por conta de um cabelo alisado às custas de formol, uma substância que, aderida ao corpo e cujos resultados nos são desconhecidos, pode intoxicar e matar.
A eterna insatisfação humana com os desígnios da Natureza que, afinal, não está nem aí para quem deseja controlará: é arredia, inalcançável aos dedos escorregadios de uma humanidade que fez questão de se desplugar dela.
Penso que o momento de "retorno" em todos os movimentos reconstrutivistas e reconstrucionistas - druídico, celta, pagão etc. - marca, de certa maneira, a tomada da consciência em relação à vivência de uma vida integral, holista, não mais fragmentada em torno da ideia de dominação da Natureza.
Enquanto pensava nisso, vi-me perdida, ou achada, em contemplação, olhando o céu e suas nuvens, avisando que, dali a pouco - falta pouco, muito pouco mesmo - o elemento égua brindará nossos corpos aquecidos com sua profusão de sensações.
O céu está acinzentado, a temperatura caindo e a umidade, outrora em torno de 5%, começa a subir. Momento propício e auspicioso para verter água dos portões das casas das linhagens ancestrais de todas nós...
Que venha a abençoada água, que venha o elemento primordial do útero da Grande Mãe, derramando sua emotividade em nossos corpos e cabeças!
Querer, a chama passional do Fogo
terça-feira, 28 de setembro de 2010
A delicada relação entre mestre e discípulo
Quando burlamos a lei natural de fluxo constante - subvertemos a relação e, com isso, abrimos espaço para a torrente existencial de intempéries de nossos egos, colocando-nos em relações truncadas de causa e efeito, projetando no outro, de fato, expectativas que não podem - porque não devem - cumprir.
Aliás, nós mesmas não precisamos cumprir as nossas, se, no fundo do coração, já sabemos serem cobrança (e não evolução). Quem dirá, então, em relação a quem está em nossa frente.
Quando o mestre se desloca de sua posição para mergulhar no lago profundo da esquizofrenia projetiva, a relação com o discípulo se converte em um mar tumultuado de desequilíbrio. O mestre não mais consegue cumprir suas metas - cobranças (?) - e, com isso, rompe-se a relação. Invertem-se papéis e, com a polarização, estabelece-se o limbo entre pessoas...
Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece...Mas, e quando o mestre não se encontra mais pronto? O pupilo, então, desaparece, tal qual poeira que se esvai no ar, em pleno voo.
Calar, a virtude da Terra
Blackberry news...
Segui a receita de três folhas para cada litro de água, esperei esfriar e coloquei na geladeira. O gosto é leve, quase uma água com corante bem suave, de sabor levemente cítrico. Lembra bastante chá de barba de milho.
O mais dignificante, claro, não poderia deixar de ser o provimento que a Mãe Terra dá em oferecer as folhas, já que a árvore, além de estar fecunda de frutas, ainda oferece uma imensidão de folhas verdes, àsperas e prontas para graciosamente serem colhidas.
Sinto uma gratidão enorme ao colher as folhas, como se Gaia estivesse, em pessoa, cuidando de mim e me acalentando. Isso é marcadamente importante, pois me sinto conectada visceralmente à Terra e aos seus sagrados preceitos.
No fundo, nada mais me importa nessa existência a não ser vivenciar o estado de bem-aventurança que deriva de uma quietude interna, bem como do bem estar em precisar de muito, muito pouco, para manter meu corpo sagrado nesse invólucro!
That's blackberry news time!
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Mais uma da festa!
Chá de amora nos hormônios!!!
Segundo ela, a Natureza dá um jeito de se reinventar para driblar as marcas da destruição e, diante da escassez de alimentos (devido à falta da "chuva do caju"), a aves passaram a comer amoras. Daí, minha querida amiga não teve dúvidas: tratou de imitar o ritmo da Natureza e se empanturrou de amora!
Conhecida como uma planta reguladora hormonal, atua, em função disso, com muito êxito, em processos de menopausa (não gosto de falar "sintomas" porque não acredito que menopausa seja doença): ressecamento da vagina, irritação, ansiedade, nervosismo, memória fraca, dores musculares e das articulações, calores e algumas vezes suores frio, dor de cabeça, diminuição da libido, dificuldades para dormir, depressão, problemas urinários.
Ainda conhecida por ser anti-cancerígena, combate a osteoporose, depurativa do sangue, anti-séptica, vermífuga, digestiva, calmante, diurética, laxativa, refrescante, adstringente e muito, muito útil nos problemas da tireóide.
Além disso, possui poderosas propriedades anti-oxidantes por sua combinação de vitaminas C, além de alto teor de potássio.
Sem deixar de mencionar que previne infecção urinária, reduz o risco de úlcera e câncer no estômago.
Mãos à obra?
Ferva três folhas em 1 litro de água. Lembrando que, como se trata de folha verde, é necessário fervê-la para extrair o sumo (se fosse folha seca bastava a infusão. Posso tentar aqui isso). Sugiro tomar frio 3 vezes ao dia!
Venda do livro Ensaios anárquicos sobre o Sagrado e o Feminino
Como se trata de um trabalho independente, estou vendendo os livros pelo valor de R$36,00 (trinta e seis) reais, incluídas as despesas com os correios. Para o caso de outras localidades, basta entrar em contato comigo pelo e-mail: adlvmiranda@yahoo.com.br, bem como pelo telefone (61) 8105-9668 - para combinarmos.
domingo, 26 de setembro de 2010
Ar e fogo na complementaridade da respiração
Independentemente do nome atribuído - nossa "necessidade" de catalogar tudo em nossa volta, não é mesmo? Hoje separei espaço para a transmutação do ar em fogo, a partir da respiração.
Um mecanismo simbiótico onde inspiramos, movimentando o ar e o introduzindo em nossos corpos, e permitimos, com isso, a entrada de energia que se transmuta em fogo, criação e, por resultado, em movimento.
Ar e fogo, complementares e opostos que, na respiração, dão-se as mãos em uma sincronia ímpar. Basta perceber a respiração ofegante, aquela na qual sentimos até mesmo o suor brotando de nossas têmporas, tamanho o aquecimento.
Dizem que os monges, no inverno, para se aquecer, respiram ofegantemente, colocando ar na região abdominal e, com isso, aquecendo-se para a proteção do frio.
Por outro lado, quando estamos já ofegantes, estressadas - com pulsações e calores próprios da movimentação - basta a renovação de ar para a calmaria. Ou seja, o ar move, movimenta, mas, também, acalma. Lembro-me sempre da máxima: o ar alimenta o fogo, mas, também, apaga-o.
Eis a síntese do equilíbrio perfeito entre os elementos ar e fogo, presentes, como se fossem lados de uma mesma moeda, na respiração sagrada que nos mantém em pé!
Hey, ho!
O livro mágico
A noite na taberna...
E a Natureza se prepara...
Afinal, fizemos tanto pela desagregação ambiental que a Grande Mãe, cansada, decidiu fazer o que tem sabe de melhor: ser implacável em sua atitude de devolver à humanidade a resposta de tantas agressões. Isso ficou bem claro na movimentação da Natureza, manifestada no clime oscilante, de temperaturas desérticas e um frio incomum para uma cidade que sempre teve um clima ameno, pero no mucho.
O clima, para quem percebeu, mudou consideravelmente, pois a seca, este ano, assolou - de maneira intensa - a todas nós. A Chapada arde em brasas, como um rastro de destruição, espetáculo digno de uma ode à Dante Alighieri...
Mas algo está sendo prenunciado... Algo novo e mágico está sendo anunciado na sutileza do vento.
O movimento do ar traz o vetor de uma nova era. Junto com a sensação de sufocação e a umidade beirando os 5%, eis que baila, em pleno cerrado, uma brisa leve que anuncia a mudança.
Ontem estava andando e, de repente, parei, de início, atônita, sendo arrebatada pela sensação de final de ciclo - mais uma vez, o ciclo de vida-morte-vida. Senti a brisa percorrendo cada ponto longínquo do meu corpo, ao mesmo tempo em que me sintonizava com os desígnios da Grande Deusa. Era o elemento ar a compor a matiz do fogo (calor), da terra e do espírito, avisando que, daqui a pouco, choverá.
Choverá... As nuvens estão carregadas, lembrando-me da amoreira que, de repente, dentro de seu ciclo, encheu-se de frutos saborosos. A terra está com novos cheiros: é o novo que pede passagem para a renovação da vida!
A Natureza se prepara, enfim, para a estação das águas!
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Decisões, Sandra Maia via Yahoo! Colunistas
Acabei de ler esse texto e vi nele uma simplicidade muito grande, bem como uma "chamada" para responsabilidade em relação às escolhas que fazemos durante nossa vida de relacionamentos que, juramos, "poderiam dar certo", mas que, segundo nossa mente inquieta, "não dão" porque, talvez, na dualidade certo-errado, percamo-nos no que são, na real, nossas "limitações" projetadas nos outros.
Reproduzo a parte inicial, que achei clara e bastante objetiva.
Segundo a autora, "Antes de começar, vale ressaltar que toda escolha tem como base uma decisão formatada em cima de uma crença errônea. Aquela que trazemos da infância e que, se não “resignificadas” ao longo da vida, nos fazem repetir e repetir o mesmo padrão de comportamento indefinidamente, as mesmas escolhas."
Dialogando a partir do trecho, é forte essa questão de repetição de padrões, que vão longe, em imemoriais tempos de tenra idade. Somos condicionadas a repetir uma "história", quase sempre relacionada aos dramas familiares mais profundos, que se projetam, anos a fio, em nossas vidas.
Para a autora, a saída é o autoconhecimento, bem como a providencial saída de afastamento "daqueles que a amam – sim, porque esses não a deixarão em “paz”. Além disso, Sandra Maia chama a atenção para os "jogos mentais" que fazemos, escolhendo "viver para um outro “egoísta”, abandonando-nos e deixando de lado família, amigos, etc, como se a decisão de fazer tudo sozinho já não bastasse para uma vida de sofrimento…"
As histórias que ela reproduz no texto bem poderiam ser histórias de nossas vidas.
E como são!
Sugiro a leitura URGENTE!
domingo, 19 de setembro de 2010
O fogo na Chapada e a transmutação do coletivo
Entre ipês, labaredas e bem-aventuranças
A chegada da primavera no Planalto Central surpreende a cada dia.
Os ipês lançam flores dançantes, que se soltam ao som do vento acalentador, galgando espaços nunca antes percorridos nas térmicas da seca incomum que experimentamos esse ano.
Na Chapada, as labaredas de fogo nos lembram do poder de destruição são as mesmas que nos remetem ao poder divino de criação e transmutação que o elemento ígneo apresenta: levando tudo ao seu redor, o corredor de chamas de 5, 6 ou até 8 metros aponta para a capacidade - ali adiante - de recuperação do cerrado.
O que é forte permanece, enquanto o que é contingente se esvai em pleno ar.
O sentido de bem-aventurança nessa jornada de fogo segue a regra básica de uma Natureza que se apresenta em sua plenitude como sendo a expressão máxima da criação divina.
Os pássaros que, não tendo o cajuzinho do cerrado, alimentam-se das amoras fecundas de hormônios; os mamíferos, que fogem do fogo insistente; os seres humanos de luz, que nos abraçam e deixam perfume de sândalo em nossos corpos.
Tudo é bem-aventurança, nas jornadas que meu invólucro terrestre me permite experienciar...
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
O desafio da contemplação da própria "carne"
Em cada sol a despontar jaz o filete de calor que alimenta a vida e nessa ciranda nada permanece da mesma maneira, apesar de, indiferentes, às vezes acharmos que existe automatismo no raiar do dia.
Do alto de nossa arrogância como espécie tecnocratizada, mecanicizamos tudo ao nosso redor, talvez, porque, no fundo de nossas almas, estejamos robotizadas e alheias ao compasso perfeito da Grande Mãe sacral.
Daí, nessa alienação, o sol é apenas um sol, as árvores são apenas espetos de pau com "bolotas" em cima e o humano, ah, esse ser tão desconhecido... O humano é simplesmente um "ente" em cima do qual despejamos nossa intempérie egóica autômata, num fluxo e refluxo de mero behaviorismo.
O resultado da indiferença com o Todo reflete no desprezo essencial que passamos a nutrir pelo sentimento do outro. Pelo fel da falta de zelo, tato e cuidado em relação a verdadeiramente expor nossa essência e dizer "a que viemos" e, dentro disso, com a pieguice de invocar anjos, santos e deidades, sempre achamos que nossa conduta está pautada numa "reta razão" de moralidade, quando sequer sabemos a origem de nossa estirpe, de nossa "moral". Esse é o "sol" que achamos ser o mesmo em nossas vidas...
A reprodução do mesmo sol da nossa mesquinhez em não nos olharmos no espelho e, nessa cegueira, ainda insistirmos em tecer teorias e vomitar os escombros de nossas idiossincrasias mais estúpidas nas pessoas que estão à nossa volta, subjugando-as em sua inteligência e nos achando, ao final, senhoras da verdade inconteste...
Na Genealogia da moral, Nietzsche fala da providencial "dicção" do critério de estipulação da bondade por parte de quem, aproveitando-se dela, taxou os demais - fora de seu clã - de maus, num critério muito "útil" de catalogação de verdades.
Segundo ele, "o juízo do bom não provém daqueles aos quais se bem o 'bem'", tendo sido os "superiores" em posição que estabeleceram o critério, tomando para si - apropriando-se historicamente, diga-se de passagem - o monopólio de criar valores e "cunhar nomes para os valores, tendo em vista que, o que importava, era a utilidade" (2002, p. 17-18)
E assim, na espiral de um eterno retorno de uma ida-que-nunca-existiu, penduramos etiquetas nos outros e colocamos preços e prazos de validade, segundo nosso 'grandioso' umbigo egóico que, para nosso crivo, é o melhor, the very best.
Daí, forjamos uma armadura intransponível ao redor de nossa fragilidade e, com isso, tal qual uma guerreira intrépida, ceifamos as pessoas de nossos caminhos, ao menor sinal de discrepência. Ou, então, pior, dentro de nossa cegueira e da sufocação que toda armadura provoca, enxergamos o que melhor nos convém em relação ao Outro e, com isso, insistimos em transformar sapos em príncipes-escorpiões, tornando-nos sabedoras de nosso destino fatal, dada a picada inevitável em nosso pescoço.
Sempre me pergunto por que mulheres plenas em si incorrem na falácia se se acovardarem em seus propósitos pessoais e, ao final, sempre se punirem em face de uma "compaixão" ao outro... Seria o medo inconsciente de ficarmos sós? Ou a temeridade da morte, que traz a grande necessidade de reprodução da espécie? Ou seria o mais básico... burrice? Imbecilidade? Reprodução de um paradigma androcêntrico de dominação de corpos e docilização da alma feminina? Sei lá!!!! Nem estou a fim de falar em Foucault, Bourdieu, Scott e sei lá mais quem... O dia de hoje é que festividade dionísica de uma língua feroz chamada F. Nietzsche, senhor que desvendou boa parte de nossa pequenez...
Não tenho respostas, mas há tempos que deixei de me seduzir por uma ludicidade de propósitos do gênero masculino. Deixei de ter "piedade" por, talvez, ter percebido que minhas provisórias valorações sobre isso estavam maquiadas de perversidade recalcada, de arrogância, etnocentrismo e pífio sentimento acovardado de puritanismo weberiano proselitista, judaico-cristão de porta-de-cadeia, ou, então, de enunciados búdicos e vedânticos que, num Ocidente decadente e repleto de seres papagaios-de-pirata, apenas recitam fórmulas mágicas (orando, rezando, mantrando, enfim), sem a decência de fazerem de seus caminhos - eles EM SI - a própria verdade da conexão com Deus.
Na formação que a empiria tem trazido em termos de observação de mim e do Outro, confesso, a palavra compaixão perdeu-se no espaço em termos de conteúdo semântico, porque, sob a alcunha do termo ter se convolado em sinônimo de pactuação de mediocridades nos relacionamentos. Eis a constante do mundo. Quase sempre, claro, por parte das maravilhosas mulheres inteligentes, ou seja, NÓS.
Não que não acredite em compaixão, em amor, em compreensão... Longe disso, o que me move em direção aos espaços etéreos é a leveza de sentimentos nobres, que advém, contudo, do corte de navalha que, todos os dias, dou em minha carne, para que a impáfia natural ceda espaço à compreensão da vida em suas dimensões. Amor sem aspas é sentimento que brota das entranhas de uma alma que se libertou de seus atropelos, e não de uma falange de espíritos que apenas transitam pelo mundo, como se estivessem num confortável 'parquinho de diversões'.
Esse é o sentido do que repudio em termos de leviandade emocional e afetiva, nas inúmeras e providenciais materializações de situações do dia-a-dia, que mostram uma precariedade moral em relação à consciência de si... Viva o amor, claro! Viva a compaixão! Claro! Mas ABAIXO A HIPOCRISIA e, sobretudo, abaixo o sentimento de "querer se dar bem às custas das boa-fé alheia". Abaixo a máscara de bondade iconoclasta que as agremiações religiosas transmitem, como cancros purulentos, às mentes incautas e desconhecedoras de sua essência. Isso não tem nada a ver com amor...Muito menos com relacionamentos e, mais ainda, nos relacionamentos entre homem e mulher.
É bem verdade que relacionamentos são feitos em base de troca - sim, isso é legítimo e saudável como base de consenso e articulação de dissensos - mas toda troca, para se fazer justa e saudável, pressupõe igualdade e liceidade de propósitos. A dissimetria gera insatisfação para um ou ambos os lados, pois ao lado da aparência de civilidade de uma "discussão racional" jaz a artimanha inconsciencial de nosos piores e mais arraigados propósitos escusos de destruição do outro.
Afinal, tanathos está sempre presente, escondido em um poço profundo do Hades de nossa mente, pronto para nossas sabotagens internas. Daí, sabedoras disso, interagimos na fossa com o outro, e, num lamaçal de intempéries e ignorâncias em relação a nós, matamos, pouco a pouco, o outro, por desejarmos, com isso, matar, talvez, nossa essência. Que "compaixão", que "pena" e, sobretudo, que "amor" é esse? O que é isso?
Mais uma vez, pergunto-me...como me pergunto, dia a dia, porque a insistência em não nos encararmos diante de nossos espelhos. Quem sabe, um dia, nós, maravilhosas Deusas, filhas de Anu, Danu e Gaia, possamos, enfim, acordar para um mundo novo a ser construído por nós, onde os pactos de mediocridade e perversidade cedem espaço para a clareza nas relações entre homens e mulheres.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
O vestido de carne e a Lady Gaga
Tá, tudo bem, já tem tempo isso, mas ando tão desconectada disso que a notícia veio à tona em meu universo deliciosamente autista apenas agora, quando abri uma nota de rodapé sobre o famoso "meat dress" que a cantora (?) usou na noite faraônica.
Feito com 11 quilos de carne argentina, especialmente "cortada" (poderia dizer em outras palavras, vinda de um animal "especialmente assassinado para satisfazer nosso desejo por ingestão de substância putrefata") para o evento, ao custo de módicos U$100,00, consta de algumas reportagens que "cheirava mal", além de chocar a comunidade vegana e vegetariana.
Um detalhe, contudo, chamou minha atenção em relação ao evento e, de fato, não sei se decidi postar algo por outro motivo que não tentar compreender o que o vestido e sua utilização significaram para a moça.
"Se não defendermos nossas ideias e se não lutarmos pelos nossos direitos, logo teremos tantos direitos quanto carne sobre nossos ossos. E não sou um pedaço de carne" - expressou a moça. Daí meu diálogo com a subversão a uma dimensão de estética, ao mesmo tempo em que se arranha outra, a da coexistência estética com a preservação de direitos, sejam humanos ou ambientais.
O vôo libertário dos Ensaios anárquicos do dia 23 de setembro
Não se trata "tradicionalmente" de um trabalho acadêmico, estudo ou de uma estatística, mas do que meu coração e minha mente produziram durante o tempo de latência para o doutorado.
Entendo que isso somente é possível a partir da apropriação de alguns paradigmas emergentes de superação de limites epistêmicos, na compreensão a que Boaventura de Sousa Santos faz referência, quando aponta para o autoconhecimento que cerca o processo de conhecimento, encurtando distâncias empirícias (e por que não as reduzindo) entre observador e "objeto".
Como o tempo é de "crise" e toda crise supõe entropia (estado de desagregação de sistema), senti-me confortável em escrever porque, de fato, sinto-me confortável na entropia, afinal, estudar sistemas dissipativos, teoria do caos e mecânica quântica traz esse conforto.
Esse será o primeiro de muitos que virão pela frente, com a repaginação de alguns paradigmas em minha vida pessoal, profissional, acadêmica e espiritual.
Decidi transformar minha perspectiva sobre a vida e o Direito em escritos de facilitação para as pessoas que desejarem ingressar nessa "senda".
Estou me preparando para os escritos em direito penal, processual penal e, sobretudo, a querida lei Maria da Penha, carro-chefe de todo um trabalho profundo de reflexões.
Mas, para o novo ingressar, o que está aqui dentro precisava sair e, dentro disso, lancei-me na tarefa de colocar em textos esparsos compreensões - ainda que muito provisórias - de mundo. Elas vêm e vão, no giro da roda da vida, lançando ao mundo - talvez a partir do meu pequeno mundo - mais diversidade.
O livro - uma subversão entre ensaio e pequena autobiografia - dialoga com temas importantes na atualidade em que se discute gênero e relacionamento, ciência e crise, com o diferencial de se articular com um dos meus temas preferidos, a mitologia celta, dentro da qual a figura da mulher-deusa apresenta peculiaridades desconhecidas do nosso Universo simbólico.
Ele foi feito artesanalmente, sem subvenção alguma a não ser de minhas economias, maravilhosamente suadas! Na cara e na coragem, corri atrás e descobri que tudo é possível nessa vida, conquanto lidemos com as limitações que colocamos no caminho e, sobretudo, dentro de nós.
Nessa tarefa estiveram diretamente presentes o Tulio, elaborando poeticamente um prefácio para situar o leitor e a leitora sobre os escritos, bem como a Juliana, que escreveu a orelha do livro, fazendo com que as lágrimas sempre vertam por conta da singeleza do texto. Esse é um diferencial enorme, que aponta para um sentido de COM PAR TI LHA MEN TO. É um opúsculo familiar, a bem da verdade. Da família que escolhi por desígnio do coração...
Falando mais sobre o livro, achei interessante esse diálogo como uma maneira simples de cumprir uma missão de que me imbuí, há tempos: ajudar, dentro da minha esfera de atuação, mulheres que, como eu, algum dia, experienciaram momentos de violência, em qualquer nível.
Mas, ao invés de narrar dor e amargura, as páginas irônicas e nietzschianamente coroadas de sarcasmo são a maior prova da transformação dos medos e das dores em lições de crescimento. Por isso a perda do medo em me expor e compartilhar com quem amo tudo isso.
Como diria Cora Coralina, estou recriando minha vida, sempre, sempre, plantando roseiras e fazendo doces!
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Olhando para a herança céltica do Sagrado Feminino
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
O "dia da noiva" e seus preparativos
Além disso, os resultados também revelaram que 11% das mulheres e 9% dos homens que participaram da pesquisa já haviam feito alguma intervenção cirúrgica, em virtude do fato de um casamento ser um momento especial, para o qual se torna importante (?) aplicar toxina botulínica, implante de silicone para aumento das mamas, clareamento dental, lipoaspiração, dentre outros.
Fico imaginando como seria o "dia da noiva" e suas ofertas interessantes...
Como diria Cássia Eller, "o mundo está ao contrário e ninguém reparou"... Todo mundo fazendo esforços para dilaceração do corpo, no sentido de se "amoldar", de alguma forma, a uma ditadura lançada pela propaganda beligerante da anorexia levada às últimas consequências. Pena que dentro do pacote não haja a previsão de transplante de cérebro...
Algumas pessoas precisam disso urgentemente!
A farpa e a harpa
domingo, 5 de setembro de 2010
Quando tentamos engarrafar o tempo
Algumas pessoas dirão que é fisicamente impossível, diante da linearidade e da cronologia que marcam o passar de horas que não volta mais. Contudo, mesmo em cima de uma noção antropomorfizada de tempo - que, afinal, não é bem linear - e a impossibilidade de "se voltar atrás nos processos", ainda existem pessoas acreditando que determinado momento pode ser "resgatado", ainda que seja à fórceps, e vivenciado, sobretudo, com alguma pessoa.
Quando isso acontece?
Quando deixamos de respeitar o momento do outro e, ao arrepio da liberdade, agimos numa macabra auto-ilusão, tecendo tramas e teias para onde levamos o outro, quase sempre tentando forçar uma barra que, no fundo (ou no raso) não tem o menor sentido.
Nesse instante somos cronológicas, lineares e cartesianas, quando percebemos as situações de uma maneira estanque, sem observarm contudo, a grande gama de vínculos causais desencadeados apenas pelo que seria "um evento", umzinho só, "tiquim de nada".
Daí achamos que isso não será relevante para a tomada de posição, principalmente quando é o outro que se posiciona. Na verdade, o posicionamento do outro é irritante, não é mesmo? Destrói nossa estima, porque, afinal, queremos "ter o controle" de tudo, inclusive da vida e da vontade da outra pessoa.
Isso me lembra um episódio em minha vida. Aliás, todo o post diz respeito a este, que foi um episódio muito pitoresco, talvez o único evento dessa sorte em minha trajetória.
Uma pessoa "forçou a barra" em relação a mim, tentando, tentando, tentando e, mesmo diante de tudo, ainda, na batalha, tentando. Quando eu pensava que a sabedoria seria seu guia, tal pessoa, como uma fênix, ressurgia tentando. Daí pude ver o real significado da frase "sou brasileiro, não desisto nunca", porque nunca entendi bem como uma frase tão ridícula pode embalar toda uma nação, sustentando, algumas vezes, a teimosia da imbecilidade.
De tão perdida em seu ego atingido pelo fracasso iminente, ou, melhor - pelo que construiu como sendo uma diretriz de fracasso, dentro de um paradigma machista e androcêntrico de um mundo a cobrar êxito irrestrito - essa pessoa se esqueceu de observar um sutil detalhe em relação ao fato de eu estar ali e... uau! Existir!
Sim, claro, também tinha vontade, mas, diante de uma insistência pueril, ela se escondeu nos meandros da minha mente, cedendo espaço ao pior sentimento que pode unir dois seres: a pena e o desejo incontido de sair dali correndo diante do da completa falta de tato diante da minha vontade. Taí, depois de muito consultar meu coração - pois isso nem é tão recente - o que ficou, hoje, foi a certeza do desrespeito, mesmo que inconsciente, em relação à minha vontade, pois não se tratava mais de tentar, e sim respeitar meu tempo, meu momento.
Depois de então, penso, tudo dentro de mim mudou, pois, aos poucos, toda a sensação legal de troca, de afinidade cedeu espaço à necessidade de distanciamento. Afastar é necessário para colocar o coração em dia e observar a real motivação por trás dos motivos.
Dentro disso, o tempo não volta mais. A noite de tentativas infrutíferas não mais retornará, pelo simples fato de não se poder engarrafar o tempo, ainda mais quando a lembrança emocional é cercada pela cena digna de Nelson Rodrigues: tentativa por trás de tentativa, sem que eu sequer estivesse ali sendo consultada...
Esse é o recado da vida para quem acha que tudo volta: nada permanece o mesmo, porque tudo flui, num contínuo que, pouco a pouco, deixa momentos e pessoas para trás. A lição aprendida segue para a frente, pois é impossível restaurar o que foi quebrado.
Para vaso quebrado não existe cola que remende os cacos... Ainda mais quando o vaso diz respeito ao tempo...
Let it be!
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Os motivos por trás dos motivos...
Nietzsche passou boa parte de sua vida e de sua obra falando sobre a vontade de poder, sobre o ímpeto que surge da centelha contida no humano, apontando para o que chamou de "instinto", que nada mais é do que o lançamento passional a partir da expressão mais ancestral de emotividade. Para ele, a "racionalidade" nos levou a nos posicionar como os seres mais arrogantes na escala do mundo, a partir do momento em que olhamos para o céu e nos arvoramos do direito de sofismar.
Sem fazer um tratado sobre Nietzsche, mas apenas transpondo a racionalidade, o que me preocupa por hoje são os chamados "caminhos do coração", quando eles não são conhecidos e, ainda, dentro do desconhecimento de sua natureza, escolhemos, na ignorância, algum caminho e superficialmente o taxamos de "caminho do coração" e, a partir da inserção nele, caímos em redemoinhos de sofrimento e dor.
O que nos move, em um primeiro momento, para nossas escolhas? Teríamos realmente algum arbítrio livre em sua origem? Conseguimos a depuração de todas - ou, que seja - ou de alguma das mazelas que nos perseguem ao longo da vida e escolhemos de maneira clara e cristalina? Ou, ao contrário, será que agimos num automático tão bem elaborado pelo ilusionismo mental que somente nos damos conta disso após um suceder de eventos que retiram nossas lentes?
Penso que não fazemos escolhas com liceidade de propósitos, mas, antes, em decorrência de pulsões desconhecidas e inconscientes, que são muito bem justificadas por nossa mente racional, que logo trata de arrumar uma convincente gama de argumentos para legitimar a escolha que, no fundo, sabemos não ser a legítima para nos lançar nos caminhos com os quais deparamos. Somos uns malas, umas malas sem alça numa desonestidade com nossas vidas e missões. Nossa, ops, falei!
Nossas couraças defensivas criam realidades em relação às quais a mente precisa gerar uma narrativa convincente, tanto para manter a farsa, como para apregoar a fraude para as outras pessoas. Quando não nos damos conta disso usualmente embarcamos em uma ego-trip que pode durar uma vida, talvez duas, três, não sei. Talvez seja a odisséia sem fim de vidas e vidas de repetição de padrões, pois, afinal, somos imortais, né?
Uma das falácias diz respeito a isso chamado "caminho do coração", "caminho da intuição". Claro que existem e claro que são eles que nos conectam às reais escolhas da alma. Porém, o que pondero é: não estaríamos confundindo o caminho do coração com o caminho do "ego-sem-ação"? Afinal, essas duas construções atém rimam ao final...
Pegamos algum atalho dentro da zona de conforto e embarcamos, achando que realmente estamos seguindo nosso coração, quando, a bem da verdade, podemos estar seguindo nosso medo de ficar só, medo de morrer, medo fracassar. Medo, frustração, desolação, bem como outros sentimentos que trazemos em nossas vidas e colocamos recalcados em alguma sala de espera de nossa psique. Quando não enfrentados ou desmascarados, eles voltam, cada vez com mais força.
Segundo Stephen King, os "fantasmas e monstros existem e estão dentro de nós. Eventualmente eles vencem". Como? Penso que no momento em que não escutamos a primeira voz - sim, aquela que fala baixinho lá dentro e que, essa sim, É A VOZ DO CORAÇÃO - e nos lançamos nas intentadas apenas e tão somente para aplacar os monstrinhos e fantasminhas dentro de nós.
Daí, toda vez que o Anjo da Casa vem e comanda a subserviência - "seja um doce, seja parceira, seja isso, ou aquilo" na verdade, ao invés da narrativa crística de compaixão, está anestesiando a capacidade de ação.
Com isso tentemos muito a confundir amor, compaixão e compreensão com baixa auto-estima e submissão. Com um arremedo de caridade que, de fato, está longe de ser qualquer lição espiritual que Buda, Jesus, Gaia, Maomé etc. transmitiram.
Basta um teste: alguém já viu ou leu em alguma escrita algum dessas ilustres personalidades numa confusão "passional", estilo "novela mexicana", agarrando todo mundo, beijando todo mundo? Acho que não, não é mesmo? Uma olhada de piscadela para perceber que, muitas vezes, para algumas pessoas, esses seres passariam até por austeros demais. Não se trata de frieza, porém, mas sim de superação da demanda humana do desespero existencial de se lançar num tornado de apreensões. Com isso, despojaram-se.
Nosso ego não ama... É importante sempre lembrar disso. Ele apenas deseja tomar para si e apreender o "objeto" para se preencher, pois pensa ser aterrador saber que não existe. É uma criança o ego e, com isso, prega-nos inúmeras peças ao longo da vida.
E quanto mais evoluímos, tirando as cascas da cebola para libertar a essência, mais o ego tenta comprar caminhões de cebola para se cobrir, agasalhar-se. Acha que precisa "ficar quentinho" e não viver. Daí, sempre procura viver por meio do outro...
Os reais motivos do coração? São os caminhos opostos aos do ego. Basta "apenas" decifrar o mais complexo, que é o discernimento em relação a qual, de fato, é um e outro. Até descobrirmos, muitas vezes escolhemos com o ego e sufocamos o coração, até o dia em que ele salta de dentro do peito, explode e se esvai, deixando-nos a tarefa de, numa outra vida, fazermos o caminho de onde paramos...