domingo, 16 de novembro de 2014

Do pau-brasil à Hy-Brasil: as brumas míticas dos locais sagrados para os antigos celtas

Fonte da imagem: http://media-cache-ak0.pinimg.com/736x/db/34/3e/db343e70226b2b34d18f54c3b7d7f72e.jpg
Não é novidade alguma toda mitologia se firmar em uma dicotômica divisão do mundo: físico versus espiritual, bem versus mal, visível versus invisível. Boa parte das culturas - ocidentais ou orientais - sempre contrapõe dimensões, espaços ou locais físicos que se mostram como uma espécie de "além-mundo" perceptível e sensível, portais de acesso a outras realidades imperceptíveis aos olhos céticos.

De um lado subsistiria o mundo palpável e ordinário, visível e táctil. De outro, um universo mágico, geralmente alcançável após uma árdua expedição na qual se realizam verdadeiras "provas de fé" e coragem aos guerreiros e às guerreiras [basta lembrar que na mítica celta geralmente as provas eram compostas de uma tríade de esforços, exigindo muito esforço de quem se arvorasse da missão].

Avalon é exemplo disso: ilha de sacerdotisas que resguardam o Rei Arthur até o momento em que a Inglaterra dele mais necessitar. Ou, ainda, lar sagrado dos segredos mais ocultos da humanidade e local de descanso no além-vida para alguns segmentos do paganismo (Terra da Maçã). Os sídhes também, como moradas invisível em montes, picos ou montanhas habitados na Irlanda pelos filhos da Deusa Dana após da tomada da Ilha Esmeralda pelos formoire.


Fonte da imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKZ4PrdZGlbQAeGGCyE-rl9CtdiKuzCT0doh3Wzy5DNwm2TZmY7i5lqoCM3rJRPUXuK3oGuIA02EipCIY_Zj0niBjZiq8cgq5zUBsit2xJzGpH0s0yPmpfIaghvti3nYhn1dejZsOu6JE/s1600/carrowmore.jpg
Muito se fala e já se falou sobre Avalon: hoje desejo compartilhar algumas ideias sobre Hy-Brasil - a ilha fantasma - outro local sagrado para os irlandeses e que supostamente teria dado azo às especulações sobre nosso país, Brasil. Seria uma mera coincidência atribuir ao país específico nome? 

Os livros de História do Brasil costumavam trazer a origem do nome do nosso ilustre país atrelada à madeira que os portugueses encontraram no litoral (pau-brasil). Após um suceder de nomes - Ilha de Vera Cruz, Ilha de Santa Cruz - a nomenclatura "Brasil" quedou mais condizente com a natureza aqui encontrada (que serviu de inspiração), pois teria sido o pau-brasil a fonte de inspiração (mesmo diante da coincidência de, em Portugal, bem como na Espanha , redutos celtas, essa lenda ser de conhecimento geral).

O que poucas pessoas sabem, contudo, é que no século XX essa versão histórica começou a ser contestada e difundida, principalmente pelos autores Adolfo Varnhagen e Capistrano de Abreu, coligando Brasil à ilha mágica próxima à Irlanda, lar de fadas, bruxos e magos.

Na mitologia irlandesa, Hy-Brasil - também é conhecida por Hy-Breasal, Hy-Brazil, Hy-Breasil, Breasil ou Brazir - era uma ilha envolta em brumas e somente acessível durante sete dias por ano, ocasião em que a névoa baixava e deixava à mostra uma terra linda, repleta por uma vegetação abundante, rios, cachoeiras e fertilidade. 

Para os irlandeses, quem conseguisse tocar uma porção sequer da ilha viveria eternamente, fato esse que levou muitos navegadores à busca por Hy-Brasil, sem , contudo, sucesso. A historicidade cartográfica traz relatos de navegadores que já teriam encontrado a ilha flutuante, habitada por sacerdotes conhecedores dos segredos ancestrais da criação do mundo. 

Etimologicamente Hy-Brasil teria vindo do tronco do irlandês arcaico Uí Breasil [Í= ilha], a designar o clã antigo do rei Breasal [Bres = grande, belo, magnífico], local escolhido para descanso do rei após sua morte (reforçando a ideia sobre tais ilhas serem residências póstumas. 

Isso reforça a tese de Hy-Brasil ser uma segunda morada dos deuses Tuatha no Atlântico oeste (no que os irlandeses tanto veneram como "a terra do pôr do Sol", ou, ainda, de Tir na nÓg, terra da juventude eterna (ou terra da promessa, dos vivos, ilha verde etc).

Existem relatos medievos sobre a catalogação de tal ilha, informação conhecida, inclusive, pelos navegadores portugueses, pois até mesmo Cabral alegou ter passado pelo ilha no trajeto para cá. 

Antes dele - em 1497 - John Cabot já havia encontrado a terra, sempre mencionada geograficamente estando a sudoeste da Irlanda (por acaso - e não é acaso, o Brasil está situado nessa posição). No séc. 17, Alexander Johnson e sua tripulação também teriam encontrado a ilha, tendo desembarcado lá e conversado com moradores locais, de quem receberam presentes. 


Fonte da imagem: http://i.kinja-img.com/gawker-media/image/upload/s--BgiNf2AB--/17rthoiknm56zjpg.jpg
Para o mundo mágico, estamos assentados na própria ilha, quer seja por sua "descoberta" providencial, ou, ainda, pela nomenclatura sincronicamente articulada com a vegetação que, diga-se passagem, lembrava o verde esmeralda da Irlanda. 

Disputamos, contudo, o título, com a Groenlândia, outro paraíso verde esmeralda, em posição cartográfica idêntica em relação à Irlanda e dotado de uma força mística e telúrica imanente. Brasil ou Groenlândia? Não sabemos, pois a força vital e as egrégoras que promanam desses dois países alimentam ambas versões. 

De outra sorte, se Cabral estava ciente e preordenado a encontrar o lar de Breasil não sabemos, mas as incertezas em relação ao percurso, bem como as informações que hoje colocam em xeque-mate a ingenuidade do acesso à terra findam por reforçar a crença de ser a ilha fantasma bem mais real do que se possa imaginar.  


Fáilte, Hy-Brasil!

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Ode à hipertrofia de uma estrela

Redoma infinda que ao menor toque se rompe
Na força pretensa de uma voraz armadura
No alento de um coração cercado de espinhos indômitos
Fornalha sórdida do que não é mais dito
Encerra, bruta, o enternecido
Caminha, ao fim, para o que é inevitável: vida!

Mito? Fito? Dito?
Conflito em jugo no céu em rompante
Mina em pó, oscilante
Degredado lar de formosas calcificações
Escrito? Tangência medíocre que o boçal emperra
Palavras doces, energia etérea
Quiçá bandida de todas as intermináveis eras

Eis a pedra que lacera a alma
O limiar da sanidade em meio ao sórdido
Esconde-se aos poucos
Da própria sorte
Em meio a tanto ainda a ser descoberto...

Fui..
Serei...
Já se foi
Aquilo que vinga já não mais sibila
Vivificou-se em túmulos escondidos
Viveu e se esvaiu sem bem querer...
Mal querer...
Sem querer...

A celebração da vida na contemplação da morte: fragmentos de reflexões

Fonte da imagem: http://adancadasfadas.blogspot.com.br/2012/02/macha.html

Cada cultura e religião têm suas peculiares formas de lidar com a morte, ora em completo júbilo libertário, ora revestindo-se de sisudez e silêncio profundos. Algumas pessoas vertem lágrimas desconsoladas (paradigma cristão de contemplação do medo da morte), outras tantas mantém em suas frontes o mais puro semblante de languidez e tranquilidade (religiões orientais).

Não importam as manifestações, pois, diante delas, nossa certeza derradeira sempre aparece: fim de ciclos, jornadas e da percepção material de nossa passagem por esse planeta Azul. Implacável morte como desfecho do protagonismo enquanto organismo senciente. 

Sempre me perguntei por qual razão, mesmo diante da inevitabilidade da morte, no Ocidente e, sobretudo, no Brasil, ainda se opta em alguns nichos por encarar a morte como a resultante pecaminosa do declínio do ser humano do Paraíso. Já ouvi muitas pessoas falarem em "descansar", "dormir", "repousar", ao mesmo tempo em que, dentro do suposto sistema de crenças espirituais, não seja lá isso bem satisfatório.

Por que pensar sobre isso?

Porque espiritualmente não se descansa, repousa, ou muito menos se dorme da maneira como, em vivência fisiológica, o ser humano usualmente faz. Aliás, sendo a não-matéria despojada de dimensões tácteis, nada existe de perda ou decomposição fisiológica, já que inexiste, a rigor, o que decair em termos energéticos. 

Energia não se anula ou destrói: outro mito desarticulado por Lavoisier, repisado na Física Clássica, Quântica, Astrofísica e Biociência em geral. De potencial para mecânica, elétrica ou térmica, não importa: o devir é uma constância de redefinições do humano enquanto síntese de processos sinérgicos. 

Mas, enfim, não consigo entender o dormir...

Na mítica celta, a morte marca o encontro desejado com o panteão ancestral, uma confraria bem regada a vinho, cerveja e outros acepipes ao redor da mesa redonda no Outro Mundo, lar eterno de todas as casas antigas. Se a morte adviesse de embate em lutas, mais nobre e digna seria a passagem do guerreiro ou da guerreira para o lar de sua família. Eis o motivo pelo qual os romanos não entendiam como uma horda pequena de guerreiros celtas estavam a rir diante da morte óbvia no confronto entre Suetônio e Boudicca, rainha vermelha que empunhou sua espada com o grito de incitação para seu povo. 

A morte, enfim, era apenas mais um momento separado de uma sensação pelo véu da invisibilidade. Temida apenas pelo fato de se desejar galgar a dignificação do lar dos ancestrais, mas, de resto, nada triste. 

Por que dormir? 

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Quando somos nossos maiores algozes...

Fonte da imagem: http://www.startrescue.co.uk/blog/wp-content/uploads/2011/05/irish-road.jpg

De repente, ele chega de mansinho, sem pedir licença ou avisar e, quando percebemos, o cansaço se instala em nossa rotina, o bastante para nos anestesiar. A apatia e a indiferença começam a pulsar dentro da alma, desejando anular o que temos de melhor. 

Buscamos culpados, olhando ao redor para guilhotinar alguém. E, quando não encontramos, decidimos culpar a nós mesmos, fazendo-nos mil perguntas, quase todas convergentes para uma interrogação só: por que me meti nessa? Por que fiz determinadas escolhas? Por que insisto na mesma estrada?

Tempos atrás postei um texto sobre a causa emocional das doenças e, por ironia, quedei aplacada por uma cistite recorrente, que sempre me atinge quando estou no grau último de frustração e decepção em algum relacionamento. Lendo a obra de Louise Hay decidi mergulhar a fundo na cistite, procurando, com isso, compreender minhas idiossincrasias para ressurgir curada ou, ao menos, com essa intempérie superada.


Fonte da imagem: http://www.semstress.com/wp-content/uploads/2012/12/bexiga-dor-276x221.jpg
"Descontentamento com as atitudes do parceiro no âmbito doméstico"- será que ela estava escrevendo essa sintomatologia para mim? - comecei a rir sozinha, imersa em meu lacônico narcisismo - "Descontentamento com o desempenho familiar na convivência". Estava com uma bazuca pronta para acertar o alvo, deleitada pelo prazer de fechar meu saquinho de responsabilidade para entregar para alguém quando, mais adiante, li que, ao final, toda essa frustração reprimida - não dialogada adequadamente - deriva de uma idealização do outro, na medida em que desejamos que a pessoa seja outra e, de preferência, alguém que reze a nossa cartilha

Saí do seis para o meia dúzia, pois, se, de um lado, desejava aniquilar outra pessoa por intermédio cobrança por atitudes, de outra sorte percebi quase me lançar  - e de uma forma não menos dramática - no fundo do poço do autoflagelo e da culpa, questionando a razão pela qual ainda insisto. 

Insistir no que? Num relacionamento onde inexistirão mudanças por nós produzidas, já que não é interessante pretender ou querer mudar alguém? Insistir em achar que se pode mudar? Insistir em escolher alguém que "não muda"? Ou talvez insistir em insistir no erro do controle do outro, da intolerância e, de fato, em jogar pedra no espelho? 

Não sei, mas acredito que, em meio a tanta dor na urina e bexiga inchada, cada dia tem me motivado a me observar mais, no intuito de simplesmente deixar o fluxo da vida e procurar focar mais para meus dilemas. Isso é simplesmente mágico, pois se passa de uma posição de vítima para a proatividade em se firmar o pensamento no autoconhecimento, bem como na busca de soluções para a superação de mazelas que insistimos em alimentar.

De fato, eis o que descobri por intermédio dessa "bexigueira" toda: não tem muito a ver querer que o outro seja aquilo que desejo, porque, afinal, não seria ele - ou ela - uma pessoa autônoma, e sim um retrato ou projeção de nossas individualidades. De outra sorte, tal percepção me leva a refletir sobre meus limites em relação a lidar com o desafio de me enxergar a cada dia para, a partir daí, ponderar se devo continuar meu caminho nessa senda para vivenciar o caminho diferenciado que estar com alguém pode representar. 

Ou seja, perceber se dentro do caminho escolhido as coisas fluem. Ou, caso contrário, observar que não. As coisas se ajeitam. Mas, para isso, estou tendo que refazer certos percursos, descobrindo que ainda insisto em me nulificar, em anular minha vontade em função de ajudar o outro. Nada mais hipócrita, pois nada tem de caridade isso. É o velho sentimento de fazer pactos que somente agridem.

O mais interessante nisso tudo consiste em observar que a cura para essa repressão toda enviada para a bexiga começa a despontar na medida em que deixo de fazer "caras e bocas" para cativar o outro e simplesmente sigo meu caminho. Isso tem sido essencial para eu descobrir, por vivência, que não se carrega ninguém nas costas, pois cada qual sabe ou deve saber de si. 

Simples assim...

De resto - e não menos importante - bastante água, cana do brejo e cavalinha, homeopatia. E conexão na gratidão.

Namasté!


Fonte da imagem: http://www.emporiumnatural.com.br/thumbs/produtos/585cana+do+brejo_thumbView.jpg

domingo, 27 de julho de 2014

Scotish bagpipe? Não, proselitismo humanoide dominical ou ode ao direito dos animais

Fonte da imagem: http://www.fiocruz.br/biosseguranca

Durou frações de segundos o arrebatamento, a sensação momentânea de ser projetada para uma highland escocesa ou, ainda, para os grandes vales esmeralda irlandeses. Não se trata, contudo, do "arrebatamento" crístico da mão divina levando os escolhidos, mas, antes, da surpresa em plena luz do dia deparar-me com uma melodia que tem o condão de tocar suavemente minha alma e me motivar a ser feliz.

O som da gaita de fole ainda está reverberando aqui em casa agora, mas horas atrás era vívido o som com que cada uma delas se harmonizava à percussão. Nesse exato momento em que escrevo - ou em que alguém lê meus escritos - o som fricciona meu peito, massageando meu coração e conduzindo à cada uma das células a felicidade em gotas de compasso.

Eu estava passando cera no chão da sala - tentando me recompor de mais uma tempestade que me drena as energias e a vontade de estar aqui quando - ao fundo, comecei a escutar uma série de músicas que me faziam acreditar estar em um pub vertendo uma boa caneca de stout gelada. 

O desalento, o cansaço, o derrotismo e, sobretudo, a vontade de sair correndo e desistir aplacaram-se, por instantes, na medida em que parei meus afazeres para tentar descobrir de onde vinha aquela música. Acreditei que estivesse vindo da casa vizinha, pois aos finais de semana uma banda lá se reúne para ensaiar. Pensei em tocar a campainha deles e simplesmente agradecer por essa melodia que me salvou o dia. 

Meu coração sucateado e cansado alegrou-se, encheu-se de júbilo em acreditar que aquela seria a música a me resgatar do limbo existencial em que insisto em me lançar. Desconfio até que a musiquinha foi uma artimanha dos deuses para que eu hoje pudesse respirar e viver em meio de tanta estranheza que o espelho me mostra a cada dia.

Mas quando abri a porta da frente para ir até a casa vizinha, deparei-me com um grupo de pessoas reunidas em uma bandinha marcial, estandartes formais e roupas que me lembravam o uniforme da Grifinória. Vi, ao longe, os tocadores da gaita de fole, os percussionistas e, qual não foi a minha surpresa ao abrir o portão de minha casa, dois adolescentes simpáticos, que desejavam falar comigo. 

Um deles mostrou um exemplar de um livro chamado "Psicose ambientalista", argumentando e ponderando a respeito da desproporção entre a penalização mais recrudescida do crime de maus-tratos a animais e o abandono de incapazes, falando em "inversão de valores" e no que isso tinha de absurdo. 

Achei interessante o título e talvez devesse ter sugerido outro, o "Psicose especista", de cunho menos conhecido porque, afinal de contas, quando se é sociabilizado em um paradigma dominante, tudo que é diferente passa a ser tomado como estranho e, porque não dizer, errado. Como não estava a fim de ir para a fogueira pela milionésima vez, calei-me e ouvi. Estava curiosa em saber o que significava aquele encontro Hogwarts em pleno domingo gélido.

Bem tranquilamente argumentei com aquela criança - que, por certo, foi doutrinada no paradigma da submissão da Natureza, bem típico da estrutura dual que tem na Queda o vetor para o ser humano sobrepujar o mundano e o meio ambiente - que particularmente não tinha eu problema algum com isso e que concordava com a penalização. Que acreditava existir espaço para todas as demandas em termos de direitos.

Rapidamente eles se despediram, não sem antes deixar um folheto do instituto que representavam (vinculado à Igreja Católica Apostólica Romana), no qual, na última parte, estava descrita a ideologia a que se propunham: a submissão da natureza (com "n" minúsculo) a "benefício do homem". Eis o motivo pelo qual estavam circulando pela cidade, em uma banda, com músicas honoríficas, para a sensibilização em torno da ideia de que um animal é menos importante do que um ser humano.

Não sei se me pegaram em um dia de anestesiamento da alma ou, ainda, se eu realmente cansei de todo e qualquer enfrentamento direto, mas, sinceramente, escutando aqueles dois jovens falar sobre importância de bens jurídicos eu, de plano, desliguei meus botões e só me vi em uma grande galeria de silêncio. 

Tudo ficou silencioso a partir dali. O mover das bocas não repercutia mais som, a banda não mais tocou e eu, calmamente (já disse, não sei se por quietude da alma ou por mera desistência diante de tudo), guardei em meu peito a memória emocional que as gaitas de fole trouxeram para a minha vida. Não fazia a menor importância para mim o monólogo da justificativa do meu posicionamento. Muito menos fazia sentido mudar a opinião de alguém. 

Só as gaitas importavam... Fiquei com elas. Guardei-as dentro de mim.

Percebi, ali, que cada qual tem sua visão de mundo mesmo e, dentro dela, muito pouco provável que alguém mude alguma coisa ou valor dentro de si sem que realize um profundo exame de consciência. Esse pequeno episódio em meu domingo me pôs a pensar nos espetáculos da minha vida, nas pequenas grandes situações em que me desgasto - e desgasto os outros - com tentativas de mudanças. 

Lembrei-me da minha vida e, para além dela, do momento sui generis que estou experimentando, onde, talvez, esteja eu numa simbiose eterna, sendo cada um dos meninos da gaita de fole e do folder proselitista, dando murro em ponta de faca, uma faca bem afiada que, dali a pouco, cortará meu dedo.

O que aprendi hoje? 

Não existe mudança drástica, não se muda ninguém (e nem é justo que se pretenda fazer), cada um oferece o que tem dentro de si para doar e, sobretudo, se quiser eu mudar algo, preciso mudar dentro de mim as escolhas, para que eu não me converta em um menininho carregando um folder a pretexto de convencer alguém de algo que nem mesmo ele sabe o que é...

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Afinal, a que se destinam os relacionamentos???

Fonte da imagem: http://thumbs.dreamstime.com

O que representam os relacionamentos em nossas vidas? 

Essa é uma pergunta que sempre está a povoar a mente e os corações de boa parte dos seres humanos que ousam sair da zona de conforto para analisar o que poderia ser apenas uma condição inerente ao instinto primitivo de acasalamento.

Afinal, como a maior parte das espécies, o ser humano nasce em meio a uma estrutura preexistente que o bombardeia de referências à procriação, prole, acasalamento, estruturação familiar, podendo passar despercebida, com isso, a reflexão sobre as expectativas e finalidades que estar com o outro pode representar em nossas vidas. 

O resultado mais imediato desse conformismo biológico, por sua vez, pode nos encaminhar para uma pasmaceira existencial, acrescida de insatisfação, frustração e demais sentimentos que, a longo prazo, trazem a decadência de nossas qualidade de vida rumo ao crescimento espiritual, bem como de nosso percurso numa senda comprometida com a aprendizagem. 

Muitas doenças e transtornos que somatizamos no corpo nada mais são do que a cristalização de um estado de alma insatisfeito, infeliz e frustrado. Basta perceber a quantidade de doenças cardíacas que, ironicamente, alojam-se naquele que, a rigor, é o órgão vital do sentimento e da amorosidade. 

Ou, ainda, noutro giro, de doenças gástricas e intestinais que abrigam a dificuldade das pessoas na digestão do outro, ou, então, na absorção e catalogação de ideias, sentimentos e valores. 

A psicóloga Louise Hay dedica-se a estudar a causa emocional das doenças. Na verdade, poderia eu até mesmo ir até a medicina chinesa, à ayurveda ou homeopatia para analisar o mesmo tema, mas como o ocidental sempre é desconfiado daquilo que não está em nosso sistema de crenças, achei oportuno invocar os estudos de uma psicóloga, pois além de ser considerada uma proposta de ciência, os métodos e as técnicas reflexivas são sempre sofisticadas.

Assim, por exemplo, o envolvimento em acidentes pode acenar a incapacidade de se defender, a crença no uso de violência como forma de interação, raiva, frustração e rebeldia sufocadas. As alergias, por seu turno, podem denotar um eterno sentimento de autodefesa - de se estar "armado" contra o mundo, ou, então, falta de autoconfiança. 

A ansiedade, na falta de fé, de confiança em si e no além-vida. Os transtornos no trato respiratório denotam pessoas que sempre militam no desespero e, com isso, tentar abraçar o mundo sem finalizar os projetos iniciados. O câncer revela o estado crônico de desamor e ódio internalizados e não conscientizados. A compulsão alimentar relaciona-se à falta de auto aceitação, à culpa, bem como à sensibilidade à críticas.

Os transtornos na garganta revelam a dificuldade em expressar ideias, ou, ainda, à culpa por "falar em demasia". O que dizer de uma simples gripe? Nada mais do que um forte abalo - sísmico - em relação a um baque emocional não sustentado pela pessoa. 

A insônia esconde culpa ou medo, bem como a labirintite encobre o medo de não estar no controle. Os distúrbios na pele relacionam-se ao poder exercido de outras pessoas sobre você. A sinusite refere-se a irritação com pessoas próximas. A TPM subsiste como rejeição da feminilidade, assim como a cistite encobre o medo ou a rejeição à sexualidade.

Esses simples sintomas correlacionados ficam bem explícitos em um relacionamento. Basta perceber a saúde de pessoas que iniciam uma coabitação pois, não raro, alguma delas ou ambas manifestam doenças em face do enfrentamento de uma nova e diferente situação. Por isso fiz questão de abrir esse espaço no texto para interpolar essa sintomatologia.

Se os dilemas no relacionamento são integralizam o nível mental consciente, a tendência é a reprodução eternizada de tais transtornos, que podem passar a ser crônicos, convertendo-se, com isso, em doenças mais sérias e graves.

Pois bem, retomando à ideia inicial de funcionalidade do relacionamento (já que tentei acima apresentar uma lista módica de sintomas de somatização que podem ser percebidos em relacionamentos nos quais a clarificação dos dilemas ainda não aconteceu ou foi devidamente enfrentado), o que representa a vida com outra pessoa?

Há tempos cheguei a comentar aqui o que percebo como desacerto de se firmar no outro a "complementaridade", como se estivéssemos eivados de pedaços e, com isso, passássemos a vida inteira tentando integrar a alma procurando - como em um quebra-cabeças - uma parte de supostamente nos faltaria. 

Ou então, em outra célebre frase, falamos que a outra pessoa é a "metade da laranja", ou a "tampa da panela", sempre com a ideia centrada na fragmentação de nossa alma, que demandaria de uma outra pessoa para ser plena e feliz.

Ainda subsiste um modelo - ou paradigma - dominante de relacionamento no qual as pessoas insistem na reprodução dessa fábula, colocando-se atavicamente como quebra-cabeças eternos e, com isso, pretendendo coaptar outra pessoa para integralização da alma. 

Ou seja, uma vampirização psíquica mascarada em sentimento de solidariedade que nada de solidário tem (a não ser que a pessoa ache extremamente desabotoar a gola e entregar o pescoço a um vampiro de energia e de alma).

Estar com o outro, dentro dessa lógica perversa, advém da necessidade de suprir demandas não satisfeitas individualmente, e não pelo mero beneplácito de se optar estar ao lado de alguém apenas por se desejar estar ao lado de alguém. Por incondicionalidade, por gratuidade. Por não se precisar, enfim, estar ao lado de alguém.

O relacionamento se torna pesado nessa via, na medida em que um pólo é demandado diuturnamente a suprir necessidades projetadas pelo outro e, que, sinceramente, são de interesse pessoal e de crescimento do outro. 

Quando um lado da relação finda por se sobrepor ao outro na unilateralidade afetiva não se está diante da doação. Muito menos da compaixão. Antes, essa via "torta" de ação vitimiza o outro, aniquila o potencial de realização do outro. Mina, enfim, o outro, em relação à sua capacidade de buscar o bambu, fazer a vara e pescar.

Um relacionamento equitativo busca o paralelismo dos caminhos percorridos por cada qual, e não a superposição de estradas. O dar as mãos não denota colocar o outro nas costas para percorrer a estrada com um peso maior do que o do próprio corpo. É o andar juntos, dialogar, ouvir mais do que falar e, sobretudo, respeitar o sentimento do outro, ainda que internamente achemos ser absurdo ou com ele não concordemos.

Não me refiro a eventualmente uma pessoa estar à disposição para dar a mão e até mesmo para fazer isso. Mas existe uma diferença enorme entre viver carregando uma pessoa no colo e ajudar excepcionalmente alguém - carregando-a no colo - quando estritamente necessário. Isso porque, no primeiro caso, exaurimos nossas forças e nos anulamos internamente, ao passo que no segundo caso estamos realmente - e com ponderação - exercitando a solidariedade no seu aspecto mais profundo.

É o viver a vida do outro e se apropriar dela para se pretender alcançar a plenitude que constitui o maior dos males que a humanidade ultimamente enfrenta, pois, com isso e em um macrocosmo, as relações assistencialistas passam a ocupar o espaço da descoberto e do desenvolvimento pessoal, do afã em crescer como indivíduo. 

Muito ouço sobre carma coletivo, mas é importante sempre frisar que a fragmentação ainda nos leva à sensação de ego e de divisão, não sendo infrutífero percorrer a jornada da individualização como meio de crescimento e de descoberta do potencial de crescimento em grupo, na medida em que isso advém da conscientização, bem como da longa trajetória de autoconhecimento.

O relacionamento afetivo não é um abandono de si, um despojamento da própria natureza, mas, antes, uma convivência de dissensos. Caso contrário seria um processo de nulificação de alma, contramão de um percurso evolutivo. 

É a consciência de se estar em uma simbiose elaborada por dois seres autônomos e protagonistas que simplesmente optam por estarem juntos pura e simplesmente porque NÃO PRECISAM um do outro. Porque isoladamente sobrevivem um sem o outro normalmente e, com isso, não depositam ansiosamente as fichas de suas felicidades na outra pessoa.

Nele (no relacionamento), descobrimo-nos em frente ao espelho, na medida em que projetamos no outro nossas idiossincrasias e, com isso, recebemos de volta a resultante do que enviamos. Trata-se de uma elaboração constante de uma unidade a partir de individualidades, e não um sistema amorfo no qual inexistem pessoas. Ou seres. 

Por isso, se não nos percebemos como seres humanos conscientes, atuantes e, sobretudo, protagonistas de nossas história e vida, essa metade da laranja será a condenação pura e simples a uma busca de moinhos de vento quixotescos. Nunca nos realizaremos assim. Nunca estaremos satisfeitos assim. 

Nunca poderemos ser felizes assim. 

Mas abandonar, por outro lado, o conforto de tal paradigma supõe avocar responsabilidade por nossas escolhas e decisões e nem todas as pessoas desejam sair do conforto ou da fase Peter Pan de suas vidas. 

Vivem imputando ao outro culpa por infortúnios e infelicidade. Queixam-se do menor alfinete caindo ao solo, buscam atribuir a quem está à frente a responsabilidade por aquilo que, a rigor, haveria de ser sua posição proativa no mundo. Seu sentimento de gratidão por simplesmente respirar e estar vivo nesse Planeta.

Tais pessoas não avançam e, mais, andam em círculos em uma autofagia eterna, correndo atrás do próprio rabo e não se realizando na vida. Ao final dela, resignam-se pois, afinal, não há escapatória mais a essa altura do campeonato, mas, antes disso, podendo fazer tudo diferente, quedam inertes, comprometendo sua vida e, no caso de um relacionamento, a vida de quem supostamente dizem amar.

Por isso, ao final, respondendo à provocação que eu mesma coloquei no post: qual a finalidade de um relacionamento? 

Depende...De várias variáveis. Um relacionamento sadio, pleno, íntegro e consciente nos encaminha para a superação de nossas limitações, bem como para a realização de nossos potenciais de interação e amorosidade. Um relacionamento confuso, sem base e desprovido de auto reflexão, serve como exemplo para que não incidamos em ligações dessa natureza. 

Ou então, usando a confortável escusa do carma, pode ser um encontro para compensação de débitos. Mas, ao que penso, débitos não são eternos. Dívidas não duram pelo infinito. 

Uma vez superada a questão, o relacionamento naturalmente se finaliza, pois de tudo - se esse for realmente seu espírito - advém a fraternidade e a compaixão, sentimentos legítimos que dizem ao nosso coração que nossas dívidas já estão quitadas. 

O que não podemos fazer - sob pena de comprometer a concretização de nossa meta em carne - é arrolar a dívida, como se estivéssemos pegando dinheiro a juros no banco: podemos correr o risco de passar a vida inteira pagando juros sobre juros, quando, a bem da verdade, quitamos nossos débitos a mais tempo do que poderíamos perceber...


quarta-feira, 9 de julho de 2014

"O mar carrega, um dia, enfim
O que sobra de todo o resto
De nada mais que habita em mim.
Eis que a pira se esvai, perdida em meio a tanta dor
que não me sai.
O que era tudo se perde no meio de palavras vazias
A solitude em companhia
Do que era intenso e se quebrou.
Donde, por certo, ressurgirá?
Não sei, apenas pranteio
Sem mais a mais
Restos mortais de um cadáver fétido
Do que era nobre e se deixou vagar.
Nada mais existirá.
A ampulheta acabará, ao fim, contorcendo a dor que insiste em ficar
Não se contém a fúria do que se findou
Apenas se lamenta, depois de cinzas, 
o que se foi sem a menor pretensão de ser amor.
Acaba-se tudo, como tudo enfim, na vida acaba.
A vida se acaba no acabar da fábula.
Nada,
Inexiste,
Nada inexiste no nada
O tudo que nunca foi mais do que a fagulha de uma tormenta
E que se acalma na certeza do fim"

quinta-feira, 6 de março de 2014

A dialética de uma incerteza

Eis que surge incólume a existência
No brilho de uma natimorta estrela que alcançou a glória
Tempos de vida incertos por agora,
Trajetória incauta em um estalar de história
Aponta em meio ao devir a expansão do declínio
Vocifera os cânticos nunca antes entoados
Alarmes de uma nova era, consistente fera 
do zoológico dos indomados.


Que alento me persegue senão a causa dos enternecidos?
O pulsar que choca a pasmaceira do que não brilha?
O findar de um dia que anuncia a glória
Que enterra a mãe muito antes de sua filha
Atropelos e medos com o eterno que se rompe
No fomentar da glória que tudo consome
Dai-me, ó dialética fulgurante,
Alguma certeza de que decaio firme...

Abraço a vida, hei de abraçar a morte
Eterno consumo de existir de uma chama
Desenrolar do filme que se protrai em fama
Levando consigo toda minha existência 
E o meu norte 
Forte, aporte, triste sorte
Desvelo de uma eterna dor de filigrana 
Perdida no atropelo de mim mesma
Insisto em lutar...

De que adianta?
É o passo compasso de uma doce melodia
No silêncio do que me consome no final da cama
É o fogo que volta ao final do dia
Para anunciar o fim e a composição da glória
Fim, início, fim.
Tudo de novo outra vez se esvai
É o súbito que de mim se apodera 
Preenche minha alma 
que se deleita e vai

Sina... Louca sina, que sina, então?
Acotovelar de passos
Compassos fúlgidos que me leva a ti
Sem bem saber se isso é destino, ou apenas o mundo brincando com o que já vivi
Fortuna, fortuna, fortuna
tão pobre é a razão de sua pretensão de se fazer incólume
É a certeza de que pulsa um milhão de universos no meio de mim
em bem ao certo do que me faz perder na imensidão de como me olha
Revigora o deleite dos passos largos que tanto dou 
Enxuga cada parte do meu corpo que a fina chuva molha

Perco-me...e me encontro
Fujo e me encaro
No mergulho profundo dos olhos que tudo apreendem
Encontro a verdade para a qual nunca me preparo.
Súbito! 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Dicas de culinária simples e natural...

Não sabe como tirar a ardência da cebola? 

Muito simples: aloje os anéis em um recipiente e coloque água FERVENTE sobre elas, mantendo-as assim por 10 minutos. Daí basta escorrer, dar um banho de água gelada e um choque térmico no freezer. 

Ficam crocantes, consistes e sem o ardor. Ah, sim, e não deixam rastros no hálito! Mas se quiser um toque diferenciado, antes de levá-las ao freezer lave-as com água e açúcar, pois daí terão o toque levemente adocicado da cebola roxa.

Quer fazer o refogado ficar mais saudável? 

Muito simples, sobretudo para folhagens (que são mais hidratadas): ao invés de colocar o óleo ou o azeite na panela para DEPOIS colocar o ingrediente, INVERTA: coloque o ingrediente primeiro e o azeite por cima, mexendo circularmente. Além de demandar menos azeite, ele não queima, não libera oxidantes.

Para um intestino regulado: no último lanche da noite, coma uma porção de mamão, um punhado de uva passa, quinoa e linhaça, embebidos no iogurte caseiro. Não precisará adoçar por conta da uva passa, mas, se quiser um pouco mais doce, sugiro picar banana, pois não fará diferença em termos de prender o intestino. No dia seguinte o reloginho baterá certinho!
Está com vontade de comer algo doce? 

Não, não corra a uma confeitaria não! 

Misture em um liquidificador 3 ovos, 1 xícara de açúcar mascavo, 1 xícara de óleo (ou azeite, mais saudável) e as cascas de 2 maçãs médias. 

Depois coloque em um vasilhame e misture com 2 xícaras de farinha de trigo integral, 1 colher de sopa de fermento e 30 gramas de uvas passas e damasco cortados e previamente hidratados em rum ou conhaque. 

Aloje em uma forma de bolo inglês untada com azeite e farinha. Forno pré-aquecido.
Verdade seja dita (bem, ao menos se trata da minha verdade e não tenho a menor pretensão de ser dona dela): a marca da pós-modernidade é o desamor. As pessoas não se afagam, trucidam-se. Homens desqualificam mulheres. Mulheres tentam colocar cangalhas em homens. Parece que estamos num coliseu no qual cada qual berra mais alto, pretendendo, assim, convencer um ao outro, quando ambos estão surdos!
Quando ouço alguém se auto proclamando "bom", "honesto" e "gente boa" saio logo correndo porque não acredito nisso. Devemos ser o que somos, aprender com o que aprendemos e, sobretudo, amar. Amar muito. Mas amar não significa estar "para além" da existência humana, em uma nuvem de algodão-doce e passeando em unicórnios cor-de-rosa. Amar supõe, antes de mais nada, olhar para si no outro.