quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Ode à hipertrofia de uma estrela

Redoma infinda que ao menor toque se rompe
Na força pretensa de uma voraz armadura
No alento de um coração cercado de espinhos indômitos
Fornalha sórdida do que não é mais dito
Encerra, bruta, o enternecido
Caminha, ao fim, para o que é inevitável: vida!

Mito? Fito? Dito?
Conflito em jugo no céu em rompante
Mina em pó, oscilante
Degredado lar de formosas calcificações
Escrito? Tangência medíocre que o boçal emperra
Palavras doces, energia etérea
Quiçá bandida de todas as intermináveis eras

Eis a pedra que lacera a alma
O limiar da sanidade em meio ao sórdido
Esconde-se aos poucos
Da própria sorte
Em meio a tanto ainda a ser descoberto...

Fui..
Serei...
Já se foi
Aquilo que vinga já não mais sibila
Vivificou-se em túmulos escondidos
Viveu e se esvaiu sem bem querer...
Mal querer...
Sem querer...

A celebração da vida na contemplação da morte: fragmentos de reflexões

Fonte da imagem: http://adancadasfadas.blogspot.com.br/2012/02/macha.html

Cada cultura e religião têm suas peculiares formas de lidar com a morte, ora em completo júbilo libertário, ora revestindo-se de sisudez e silêncio profundos. Algumas pessoas vertem lágrimas desconsoladas (paradigma cristão de contemplação do medo da morte), outras tantas mantém em suas frontes o mais puro semblante de languidez e tranquilidade (religiões orientais).

Não importam as manifestações, pois, diante delas, nossa certeza derradeira sempre aparece: fim de ciclos, jornadas e da percepção material de nossa passagem por esse planeta Azul. Implacável morte como desfecho do protagonismo enquanto organismo senciente. 

Sempre me perguntei por qual razão, mesmo diante da inevitabilidade da morte, no Ocidente e, sobretudo, no Brasil, ainda se opta em alguns nichos por encarar a morte como a resultante pecaminosa do declínio do ser humano do Paraíso. Já ouvi muitas pessoas falarem em "descansar", "dormir", "repousar", ao mesmo tempo em que, dentro do suposto sistema de crenças espirituais, não seja lá isso bem satisfatório.

Por que pensar sobre isso?

Porque espiritualmente não se descansa, repousa, ou muito menos se dorme da maneira como, em vivência fisiológica, o ser humano usualmente faz. Aliás, sendo a não-matéria despojada de dimensões tácteis, nada existe de perda ou decomposição fisiológica, já que inexiste, a rigor, o que decair em termos energéticos. 

Energia não se anula ou destrói: outro mito desarticulado por Lavoisier, repisado na Física Clássica, Quântica, Astrofísica e Biociência em geral. De potencial para mecânica, elétrica ou térmica, não importa: o devir é uma constância de redefinições do humano enquanto síntese de processos sinérgicos. 

Mas, enfim, não consigo entender o dormir...

Na mítica celta, a morte marca o encontro desejado com o panteão ancestral, uma confraria bem regada a vinho, cerveja e outros acepipes ao redor da mesa redonda no Outro Mundo, lar eterno de todas as casas antigas. Se a morte adviesse de embate em lutas, mais nobre e digna seria a passagem do guerreiro ou da guerreira para o lar de sua família. Eis o motivo pelo qual os romanos não entendiam como uma horda pequena de guerreiros celtas estavam a rir diante da morte óbvia no confronto entre Suetônio e Boudicca, rainha vermelha que empunhou sua espada com o grito de incitação para seu povo. 

A morte, enfim, era apenas mais um momento separado de uma sensação pelo véu da invisibilidade. Temida apenas pelo fato de se desejar galgar a dignificação do lar dos ancestrais, mas, de resto, nada triste. 

Por que dormir? 

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Quando somos nossos maiores algozes...

Fonte da imagem: http://www.startrescue.co.uk/blog/wp-content/uploads/2011/05/irish-road.jpg

De repente, ele chega de mansinho, sem pedir licença ou avisar e, quando percebemos, o cansaço se instala em nossa rotina, o bastante para nos anestesiar. A apatia e a indiferença começam a pulsar dentro da alma, desejando anular o que temos de melhor. 

Buscamos culpados, olhando ao redor para guilhotinar alguém. E, quando não encontramos, decidimos culpar a nós mesmos, fazendo-nos mil perguntas, quase todas convergentes para uma interrogação só: por que me meti nessa? Por que fiz determinadas escolhas? Por que insisto na mesma estrada?

Tempos atrás postei um texto sobre a causa emocional das doenças e, por ironia, quedei aplacada por uma cistite recorrente, que sempre me atinge quando estou no grau último de frustração e decepção em algum relacionamento. Lendo a obra de Louise Hay decidi mergulhar a fundo na cistite, procurando, com isso, compreender minhas idiossincrasias para ressurgir curada ou, ao menos, com essa intempérie superada.


Fonte da imagem: http://www.semstress.com/wp-content/uploads/2012/12/bexiga-dor-276x221.jpg
"Descontentamento com as atitudes do parceiro no âmbito doméstico"- será que ela estava escrevendo essa sintomatologia para mim? - comecei a rir sozinha, imersa em meu lacônico narcisismo - "Descontentamento com o desempenho familiar na convivência". Estava com uma bazuca pronta para acertar o alvo, deleitada pelo prazer de fechar meu saquinho de responsabilidade para entregar para alguém quando, mais adiante, li que, ao final, toda essa frustração reprimida - não dialogada adequadamente - deriva de uma idealização do outro, na medida em que desejamos que a pessoa seja outra e, de preferência, alguém que reze a nossa cartilha

Saí do seis para o meia dúzia, pois, se, de um lado, desejava aniquilar outra pessoa por intermédio cobrança por atitudes, de outra sorte percebi quase me lançar  - e de uma forma não menos dramática - no fundo do poço do autoflagelo e da culpa, questionando a razão pela qual ainda insisto. 

Insistir no que? Num relacionamento onde inexistirão mudanças por nós produzidas, já que não é interessante pretender ou querer mudar alguém? Insistir em achar que se pode mudar? Insistir em escolher alguém que "não muda"? Ou talvez insistir em insistir no erro do controle do outro, da intolerância e, de fato, em jogar pedra no espelho? 

Não sei, mas acredito que, em meio a tanta dor na urina e bexiga inchada, cada dia tem me motivado a me observar mais, no intuito de simplesmente deixar o fluxo da vida e procurar focar mais para meus dilemas. Isso é simplesmente mágico, pois se passa de uma posição de vítima para a proatividade em se firmar o pensamento no autoconhecimento, bem como na busca de soluções para a superação de mazelas que insistimos em alimentar.

De fato, eis o que descobri por intermédio dessa "bexigueira" toda: não tem muito a ver querer que o outro seja aquilo que desejo, porque, afinal, não seria ele - ou ela - uma pessoa autônoma, e sim um retrato ou projeção de nossas individualidades. De outra sorte, tal percepção me leva a refletir sobre meus limites em relação a lidar com o desafio de me enxergar a cada dia para, a partir daí, ponderar se devo continuar meu caminho nessa senda para vivenciar o caminho diferenciado que estar com alguém pode representar. 

Ou seja, perceber se dentro do caminho escolhido as coisas fluem. Ou, caso contrário, observar que não. As coisas se ajeitam. Mas, para isso, estou tendo que refazer certos percursos, descobrindo que ainda insisto em me nulificar, em anular minha vontade em função de ajudar o outro. Nada mais hipócrita, pois nada tem de caridade isso. É o velho sentimento de fazer pactos que somente agridem.

O mais interessante nisso tudo consiste em observar que a cura para essa repressão toda enviada para a bexiga começa a despontar na medida em que deixo de fazer "caras e bocas" para cativar o outro e simplesmente sigo meu caminho. Isso tem sido essencial para eu descobrir, por vivência, que não se carrega ninguém nas costas, pois cada qual sabe ou deve saber de si. 

Simples assim...

De resto - e não menos importante - bastante água, cana do brejo e cavalinha, homeopatia. E conexão na gratidão.

Namasté!


Fonte da imagem: http://www.emporiumnatural.com.br/thumbs/produtos/585cana+do+brejo_thumbView.jpg