domingo, 30 de janeiro de 2011

Quando os charutos não são apenas charutos.

O distanciamento contemplativo diante dos fatos e eventos do mundo traz uma certa serenidade na reflexão sobre o significado latente do que está por trás do aparentemente óbvio. Einstein, certa vez, ponderou a respeito disso, argumentando que o belo existe muito mais na contemplação do óbvio do que em uma "descoberta" ou inovação. Assim, a meta-linguagem e o discurso ressignificado permitem acessar mais informação do que se pode supor a respeito de alguém. De nós mesmos. Do mundo, enfim, numa atividade autopoiética que permite a retroalimentação rumo do conhecimento (de si, sobre si e sobre o mundo).

Quer seja na Antropologia, na Sociologia, ou, ainda, na Psicologia ou até mesmo na Psicanálise, o universo linguístico, semântico e simbólico são essencialmente fontes hermenêuticas que sempre se mostraram razoáveis no "desvendar" do humano, municiando os estudiosos com interessantes condições de apreciação das questões do mundo para, a partir daí, apresentar estados diferenciados de perspectivas e vivências.

A fenomenologia enquanto método permite a colocação, quase sempre, num estado de "suspensão", para que as essências do que se "revela" a partir das experiências possa ser colocado "à prova", na tentativa de se observar se, na apreensão do "objeto", podem se destinar a servir de ponto-chave para digressões a respeito da significação dos conceitos.

Todo esse arcabouço áureo de ferramentas permite, ao final, extrapolar a linha divisória entre o explícito e o encoberto, entre o que se toma como discurso engendrado por trás do comportamento. Cognição, volição e ação, nesse constructo, podem indicar muito mais do que atividades peptídicas, tranpondo a barreira que sempre se fez em torno da oposição entre cultura e natureza, para, para além disso, poder se observar o humano a partir da percepção conjugada - não excludente - entre momentos diferenciados, e não departamentos outrora estanques na análise das interações humanas.

Importante observar, dentro disso, que essa perspectiva não se restringe a uma epistemologia direcionada apenas às clásscias "ciências sociais" ou ciências "da alma" - que bem poderiam ser taxadas de meramente especulativas.

Isso porque, desde Heisemberg, as próprias "ciências naturais" (ou, para quem ainda preferir, as "exatas"), na superação de um dual cartesiano, permitem, na física quântica, inserir o posicionamento e a atividade cognitiva do observador como condição sine qua non para se empreender a distintas possibilidades dentro do provável, o que aponta um certo sentido de alento para a desarticulação em torno da ideia de reificação do mundo e de separação entre um suposto observador e um objeto.

Dialogando com essa superação paradigmática, passei a ponderar a respeito da substituição de uma dialógica observador-objeto para um sistema-mundo de sujeitos, a partir de uma interessante provocação, que dizia mais ou menos o seguinte: "às vezes um charuto é apenas um charuto".

Será? Dentro da teoria clássica de bifurcação sujeito-objeto, numa "objetivação" da exteriorridade (com encurtamento da noção de ambiente e indivíduo), sim, quem sabe, pois, afinal, boa parte do conhecimento ocidental tido ou tomado como oficial (e reproduzido, às pencas, na assepsia eclesiástica denominada academia) adota esse referencial há séculos, recriando experiências de mundo em que se apõem pessoas, coisas, estados, comportamentos.

Tudo passa, então, a ser tomisticamente delimitado em redundantes fragmentos que, claro, serão dissecados pela lente "precisa" do observador-onisciente que, descuidado de si (de identidade, de seu posicionamento e de seu campo eletromagnético), ARBITRA variáveis de "controle", julgando-se muito mais do que um espectador que cria realidades, para se posicionar como ente deídico, O CRIADOR do evento. O laboratório, então, limita-se ao espaço além do observador, que não observa a si e, no ápice da negligência, encampa esforços em pretender descobrir o que aconteceu de "errado" nos experimentos da vida...

Com essa frase martelando em minha mente, confesso, minha veia epistemológica pulsou mais descompassadamente. Debrucei-me nisso e, confesso, a cada dia tenho encontrado dificuldade de compreensão de um significado "em si" das coisas, dos fatos e dos eventos, exata e pontualmente por dialogar com a perspectiva de tudo no mundo seguir um colorido de riqueza implícita, contida em meta-discursos, bem como nas significações que os signos têm, de maneira diferenciada, para todos os interlocutores, e não apenas para o emissor da informação.

Num mundo de ação comunicativa, os espaços de diálogo são partilhados e construídos, elaborados numa ressignificação constante, que ultrapassa o conteúdo do que representaria, para o emissor, o enunciado do que está a expor ou comunicar. Resumindo: charutos não são apenas charutos quando migram do espaço de individualidade para a composição do comum. Nisso reside a beleza da diversidade hermenêutica, colaborando para o compartilhamento de informações e a troca de ressignificações.

É a partir daí que as trocas comunicativas são feitas, dentro de ambientes cuja elaboração advém exata e pontualmente do compartilhamento de significados, de trocas de percepções sobre os conteúdos latentes ou implícitos de cada fato, comportamento ou ação.

Daí entender ser um tanto quanto ingênuo dimensionamento do meta-discurso para a adesão discursiva ao "unívoco" significado: nada é unívoco e de planificada compreensão quando se está diante de um compêndio humano de complexidades, vocabulários e experiências pessoais a ressignificar conceitos, situações e comportamentos.

Na estética discursiva, então - para não dizer que estou falando apenas em ciência - um charuto pode ser tanto! Para uma contemplação freudiana, pode ser mais uma articulação fálica do mundo. Tudo pode ser... O diferencial reside em como - e SE - estamos dispostos a compartilhar as percepções sobre o espaço discursivo criado em uma interação...O dia em que achar que o visível é apenas o visível, terei matado em mim o que me diferencia de boa parte do reino animal: a criatividade e a capacidade de produção de cultura...
Não lhe fiz poemas, nem cantei-lhe em versos, pois meu coração nem bem sabe mais o que significa nada além do tédio de amar o atropelo...Também não o busquei em alvoradas, nem pintei aquarelas inspiradas pela emoção que pulsa em cada bradar de coração, pois a solidão do cinza ocupou o que poderia bem ter sido o negro a investir de fábulas nossa história.

Não fiz planos pois tudo que construí esfacelou-se em algum ponto obscuro de minha alma que, um dia, povoou-se de sonhos, todos vertidos em chorosos rios de destruição, conturbados pela devassa que a torrente provoca dentro de um peito de apenas se enche de desalentos infindos.

Não quero falar porque me quedo, pouco a pouco, num magnífico silêncio que me aproxima do incalculável preço da liberdade. Não quero saber de mim, não penso querer mais saber do que nunca foi....

Não quero me refestelar comos meus, porque, a essa altura, sinto que escassos são, como os dedos faltantes em uma mão egoísta, que se limita em pretender pegar para si tudo que puder reter...

Vã esperança, não se coapta a luz a permanecer dentro de uma simples mão. Mas, débeis, ainda acham que amizade é o bem, querer que se quer como se acha que deve ser, no dilúvio egoísta que apenas valora o outro como a si...

Não quero saber de teorias, não mais.

Nunca fizeram nada além de açoitar a alma com conceitos absurdos de anestesiamento, produzindo a egolatria sem sentido, no silêncio de olhar a demência a falar de Marx, amante, talvez, deconhecido. Ninguém sabe de Marx...nem ele soube de si...

Não quero saber de eruditos, porque usualmente nada sabemos ou muito pouco queremos saber sobre nós e, no auge da prepotência como seres que se prostram como poeira cósmica no Infinito. Famintos pela indecência de sair da ignorância, encabeçamos o espetáculo da mediocridade, para encobrir a grande realidade de nos acharmos muito pequenos...

Psiuuuu, falem baixo, a academia não pode saber que somos medíocres, pois pagam nossas bolsas... Colemos, então, meia dúzia de palavras num arquivo e enviemos para a notoriedade: eis, enfim, a hipocrisia do humano que se pretende ver lançado à imortalidade das estrelas que nunca brilharam.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Distanciamento e contemplação do mundo a partir do meu umbigo...

Durante esses últimos dias prostrei-me no mais profundo recolhimento, estilo "desconexão total" dos fios dos telefones, das pessoas e, quem sabe, de mim, procurando no diálogo interno uma via para desnudar naturalizações, ideologias, estereótipos e preconceitos que eventualmente passam batido pela mente-que-mente-que-nem-sente, conturbada por um alcance de "racionalidade".

Passando por insana (uma amiga prefere a nomenclatura excêntrica, o que tomo como um elogio, dada a terminologia ex + centrus) e anti social, tenho vivenciado na sinfonia do silêncio uma oportunidade ímpar de contemplação de processos, numa espécie de "estado de suspensão" egoica em que a provisoriedade tem sido a dinâmica para lidar com a necessidade humana inefável de controle, manipulação e poder.

Ah, sim, o meu, né? A carapuça precisa sair daqui, sem culpa cristã, mas, de maneira honesta, sem que me perca em etiologias ou tratados sobre o poder. Isso me lembra Foucalt em Microfísica do Poder, não se ocupando em buscar (lastreado no brilhantismo de Nietzche) A origem do poder num Monte Olimpo metafísico, mas, de outra sorte, apenas olhando a História...a minha...Do ocidente. Do oriente. Poder entranhado em nossa perfídia iconoclasta de "capa de cordeiro". O "consenso" que aproveita o que se faz de vulnerável. Do eu que se vitimiza para levar para o abismo o diferente (será diferente? Ou seria recalque da vontade de potência?).

However... Esse processo tem sido enriquecedor, na medida em que traz uma sensação de desmoronamento do que era um "monobloco" de pseudo segurança a encobrir, de fato, a mais profunda ignorância a respeito de mim e da vida. Não que eu tenha alcançado "iluminação" ou "evolução", longe disso!

Mas, ao menos, o mundo adquire uma feição amistosa de fluidez e de aceitação da vida em sua dinâmica de descontrole , na medida em que, abandonando o que era uma zona de segurança ilusória, ao menos estou me permitindo vivenciar o que negava dentro de mim, mascarando com enunciados kantianos, hobbesianos, marxistas e todos os -anos, -ismos e -istas que, ao final, empobrecem o substrato do que é a vida: arbitrariedade!

Com isso, alegria é alegria.

Dor é dor.

Pranto é pranto.

Sorriso é sorriso.

O predicativo complementa tautologicamente o sujeito, lembrando, talvez, o básico, que ninguém está muito a fim de encarar: Eu sou o que sou. Eu sou quem eu sou. Sem predicativos, eles reduzem a experiência a uma gaveta que restringe a complexidade da vida. Ou, usando a gaveta, a simplicidade da vida. Quem sabe? Eu não sei. Você sabe?

Sentimentos estão aí para... Também não sei. Serem superados? Serem sufocados? Serem "tratados"?

Sei lá. Já me contento com a contemplação e experienciação até a última gota. Não me atrai a ideia de recalque contida nos discursos fajutos de uma religiosidade frenética e hipócrita, típica de quem não está a fim de se encarar. Heresia? Não sei. Farisaísmo? Ah, que importa? A quem importa? A anestesia de uma planificação em torno de um redentor trouxe muito sofrimento ao humano, pois - penso - nesse processo esquecemos de dizer que a superação passa pela transcendência da memória emocional.

Uau! Daí, de maneira inversamente proporcional, quanto mais falamos em Deus, Jesus, José, Kardec, Ashtar Sheran, Buda, Sai Baba, Cerridwen, Shiva e outros arquétipos, mais recalcamos na "salinha de espera" de nossa psiquê a dor e, parafraseando Reanto Russo, "falamos demais por não termos nada a dizer" e, assim, tormano-nos insensíveis em relação à demanda do outro porque, não nos permitindo muito mais do que repetir evangelhos, livros e mantras, tornamo-nos cegos, surdos e mudos para o que realmente vale a pena PARA O OUTRO. PARA O OUTRO. PARA O OUTRO.

Imbuídos e imbuídas de uma altivez eurocêntrica, formulamos para nossos amigos, amigas, amantes, amados, amadas toda sorte de atrocidades valorativas, arvorando-nos num "direito" que, a bem da verdade, é criação de nossa mente que exige e demanda a vida em gavetas. Que demanda atenção, controle, dominação, manipulação e, ao final, a mais completa desolação do próximo. "Você pode até duvidar, acho que isso não é amor".

A primeira lição que aprendi em idos de solitude diz respeito a observar minha insistência em rotular situações e pessoas, como se cada um não tivesse o direito ou a oportunidade de vivenciar suas dores e, quid pro quo, de escutar tanta opinião sobre minha vida e meus sentimentos, como se eu estivesse sendo amaciada com um martelo de bater bife. Sim! Essa é a sensação, até mesmo porque já bati um dedo num desses martelos e a sensação anestésica depois da "porrada" foi bem de letargia e conformismo.

Que ingênuo acreditar que participo da dor do outro, da alegria do outro!

A couraça egoica fortalecida pela égide do individualismo apenas compreende um enunciado: cada um sabe onde seu sapato aperta e, dentro disso, estamos - todos e todas - chafurdando nos processos de vitimização. A diferença reside apenas no fato de providencialmente a vitimização do outro ser mais tolerável do que a nossa, resultando, daí, a cegueira na contemplação da miséria da alteridade.

Olhamos com uma capa de parcimônia o outro e, sob a escusa de "tolerabilidade" (palavra que encobre a superioridade, hahaha), "aceitamos" o outro, quando, por trás - nem tanto assim por trás, no raso, no raso, projetamos nossas propostas de vida à fórceps, à vácuo e, claro, pelo ânus, na figura que está bem diante de nossa fronte. Geralmente fazemos isso de maneira mais contundente com quem mais dizemos amar. Claro! Porque se trata de quem mais desejamos controlar, manipular e destruir...mas isso é para outra conversa... Daí a dupla velocidade...amor e ódio. Belo e feio. Luz e sombra. Onda e partícula.

Sim, que arrogância a minha achar que Fulano ou Sicrano "tem que ser assim", deve "ser assado", passando por cima, com isso, da experiência que, ao final, não é minha. Que arrogância pretender que o outro sinta-se agredido, agredida, ofendido ou ofendida quando, a bem da verdade, o insulto moral diz respeito à construção identitária de cada qual.

Simples! Cada um traz seu background de resistência, resiliência e tolerabilidade. Mais do que isso, cada um compõe sua matiz de significação para o mundo, os comportamentos e as pessoas em interação!

Quando me percebi assim, tão "austera" e "severa", logo a seguir percebi isso também nas interações com as pessoas que me são mais próximas, por entender que, ao mesmo tempo em que estou em um lado na gangorra, construo a receptividade para que a alteridade possa, da mesma maneira e segundo uma bem elaborada Terceira Lei de Newton, fazer o mesmo e, dentro disso, julgar meus atos, reificar meu comportamento e, ao final, assenhorar-se de uma verdade que É MINHA, de mais ninguém.

Isso foi irritante! Isso tem sido irritante! Como estou irritada comigo! Danadinha essa Alessandra!

Claro que estou ponderando a respeito de uma dimensão de verdade, aquela que diz respeito - quase que de uma maneira autista - ao meu mundo, não se confundindo com a elaboração de verdades compartilhadas em cima do código semântico e relacional entre pessoas. São dimensões que diuturnamente podem se confundir e, dentro da miscelânea, produzir ruídos e lacerações intransponíveis entre as pessoas.

Como pretende alguém avaliar minha dor, em meu universo? De outra sorte, de que lugar de fala legitimo-me a "engavetar" o que, de fato, possui representação e siginificado específico para quem está sentindo e experienciando?

Impossível.

O que se expõem, penso, são os significados que as experiências trazem para quem está em contato com determinada situação, nada mais. Isso tudo, claro, eventualmente regado por uma boa dosagem de identificação com o processo alheio, em face de memórias emocionais que reavivam determinadas vivências e, com isso, trazem cargas que aproximam (pela afinidade ou pelo repúdio) do processo do outro.

Penso ser necessário um cuidado, aí, para que o processo do Outro não se transforme ou se confunda com nossa experiência, a fim de, ao final, formando um "novelo de lã" enormes confusões sejam feitas...

Essa tem sido minha maravilhosa lição. Tortuosa lição de fluxos e empuxos, dentro da qual a facilidade maior é que - claro - julgar o outro, sem me introduzir no processo que, de fato, é meu. Meu e do outro, compartilhado em uma sala de espelhos superpostos em cacos que eventualmente se acomodam em nossas zonas de conforto.

Tenho achado toda essa expriência magnífica para que possa, ao final, olhar para meus amigos e amigas de maneira mais distanciada, tomando a cautela de não me envolver em emoções que têm significados distintos para pessoas distintas.

Confesso que, por agora, estou cansada de mim e, por via consequencial, cansada estou dos conselhos dos meus amigos, parentes, amores, por franzir a testa e ligar o botão do off. Falam javanês comigo. É isso. E, como resposta, devolvo-lhes nepalês: uma Torre de Babel.

Hei de confessar, contudo, que a epifania somente aconteceu - frisando bem, sem vergonha alguma - porque paradoxalmente diante de tanta manifestação de amizade e apreço das pessoas que mais amo, nunca estive tão desolada e sozinha diante do atropelo em não estabelecer um campo de sensibilidade compartilhada em face dos posicionamentos que tomo. Sempre alguém está querendo me dizer que o que penso ou sinto "passa", que "isso é normal", que tal situação "acontecerá assim ou assado", num conformismo atroz, que me lembra o sacerdócio mariano que tanto repudio...

"O mundo é assim". "As pessoas são assim". O que restaria, então? Aguardarmos a inevitabilidade da morte, para nos entregar à inexorabilidade? Se fosse assim, não teríamos chegado a tantas descobertas... É a exceção que dá, ao final, o sentido à regra...

Considerando minha veia sarcástica, claro, minha reação diante dos doutores e das doutoras de mim não poderia ser outra: solto risos e gargalhadas internas, achando o que o outro fala um enorme nonsense, se o propósito é a valoração de mim, aos olhos do outro. No máximo, acho "bonitinho", um senso comum tão pueril e ingênuo que merece até a redenção, a "ida ao paraíso" em face do mínimo de presença de espírito.

Mas, retirando um véu de Neverland (ou, quem sabe, de Pollyanna), o que fica é o vazio em relação a uma dinâmica de compartilhamento que, de fato, não se estabelece, tamanha a vibração de cada um ou uma em torno de seu umbigo. O meu, claro, idem! Afinal, somos todos um, né?

Dentro disso, somos excelentes conselheiros e conselheiras, ouvintes e fornecedores e fornecedoras de palpites, porque a representação e significação, ao final, diante do evento, não é nossa...

A dor do outro é do outro mesmo ou, como diz a sabedoria popular, "pimenta nos olhos dos outros é refresco", um ditado que, até então, não tinha muito significado em minha compreensão mas que, diante de tanta erupção egoica tem sido de especial valia em minha vida, em meus atos e, sobretudo, em meu desconfiômetro.

Sempre alguém tem resposta para tudo em relação a mim (ao si projetado egoisticamente, convenhamos): fórmulas prontas de felicidade e resolução pragmática de problemas. De maneira contraditória, contudo, a mesma riqueza de respostas - seguida, claro, pelos conselhos "eficientes" em relação à minha vida afetiva e emocional, são seguidos por uma incongruência enorme no que diz respeito à falta de enfrentamento, cada qual, de suas próprias mazelas existenciais.

Quando a pimenta cai no olho alheio escusas sempre são dadas, e poucos e poucas estão dispostos a olhar para sua teocracia manipulativa e, a partir dela, observar o verdadeiro estrago que pode ser feito na vida de outra pessoa. Daí eu entender a necessidade de apenas deixar o outro viver e, com isso, não me permitir mais ser "adestrada" por bombardeios ideológicos estranhos à volatilidade do viver.

Deixar o outro sofrer. Deixar o outro amar e... Calar mais a boca, desnaturalizando categorias trazidas dos condicionamentos apreendidos nos processsos de individuação para prestar mais atenção no “olhar do outro”.

Acho que aí pode residir a distinção entre neutralidade e imparcialidade, considerando a impossibilidade de abstenção valorativa em relação a “pré concepções” que fazem parte da minha experiência (CARDOSO, 2003, p. 13), ao mesmo tempo em que me abro para matizes plúrimas interpretações diante dos fatos, buscando sair das “certezas incontestáveis” que me orientam no trato com o outro (BAPTISTA, 2008, P. 31).

No fundo, cansei de teorizar o que faz sentido para o outro...

O preço? Peço apenas que os doutores e as doutoras limpem suas lixeiras e desafoguem suas latrinas. Estou fazendo isso agora, regado a um pouco de sal. Faz bem... E se o texto trouxe desconforto, sugiro olhar, primeiro, para si, antes de valorar meu "estado de espírito", pois, de uma maneira bem infantil, "ele é meu, de mais ninguém".

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

"Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou."

domingo, 16 de janeiro de 2011

Apenas o silêncio... e a mais profunda tristeza...

Os desastres naturais que não são tão "naturais" assim

Bom, vamos voltar a trabalhar, não é mesmo?

A Natureza não ficará sentada se compadecendo da minha decepção... Ao contrário, parece que as enchentes no Rio, em São Paulo e Minas não estão nem aí mesmo para minha demanda em face do golpe letal que recebi em meu coração por esses dias...

Esse site - chamado Natural news - publicou por agora um artigo sobre os chamados "desastres naturais", tidos como conveniente alocação da Natureza para a posição de "bode expiatório" quando, a bem da verdade, os eventos danosos nada mais são do que resultado da intervenção humana nos recursos naturais, de maneira predatória e indiscriminada o bastante para acarretar, a longo prazo, um "ajuste" da Natureza para a recomposição do ecossistema.

Atividade vulcânica seria, grosso modo, um "desastre natural", mas nunca as mortes em face de uma enxurrada, porque, segundo a lucidez do texto, são tragédias anunciadas, tendo em vista serem "man-made disasters", ou seja, desastres provocados pelo homem, em virtude de uma política indiscriminada de construção nos sopés de encostas, derivado, claro, da ausência de enfrentamento correto da questão habitacional e da divisão de renda e propriedade no Brasil.

Ou seja, nada tem de natural, mas de negligencial. O nome mais adequado, ao meu ver, seria esse, "desastre negligencial", por englobar a ausência de um plano diretor sério, coeso e solidário de política pública de geração habitacional.

Se correr, o bicho pega, se ficar, o bicho come.

Não se proíbe a construção dada a conveniência de assentar "informalmente" quem está excluído da dinâmica capitalista de acesso à propriedade privada. Mas, por outro lado, não se planeja porque, sob o pano de fundo do jurídico (estou de "saco cheio" do jurídico, sabiam?), trata-se de ilegalidade. Ao "rico" é legitimado o acesso à terra... Em Angra, constroem-se mansões que abraçam os juízes, os promotores e os agentes políticos que proíbem, por outro lado, a "pobreza" de ter os mesmos desejos de moradia...

E nessa bipolaridade de empurrar, como gangorra, responsabilidades, culpa-se a Natureza pelo evento, quando, por trás, estamos todos e todas nós, numa solidariedade hipócrita que se revela apenas num puristanismo que chega na "solidariedade" de envio de nossos restos "mortais" (comida que "sobra", "roupa que não usamos", restos) ou de depósitos bancários para alívio da culpa, em nível macrogônico, enquanto a Natureza, dali a frente, prepara outra "surpresa" (nem tão surpresa assim).

Não saímos, ao final, da nossa remota "zona de conforto" (leia-se, controle remoto da televisão, assistindo às notícias e indo ao barbeiro, cabeleireiro, Igreja, supermercado, enfim, culpar, mais uma vez, a Natureza, na tentativa de, ante o vazio nNegritoo conteúdo de nossa mente, "catarmos" assunto para conversar), de modo que o ciclo, ao final, repete-se. Culpa-se a Natureza e, a cada atribuição inquisitorial de responsabilidade, desejamos, mais e mais, dominá-la, por meio de inventos que a reduzam ao nosso ilusório alvedrio.

Para quem desejar ampliar horizontes e falar MENOS ASNEIRA, http://www.naturalnews.com/031025_natural_disasters_floods.html, o site em questão.

sábado, 15 de janeiro de 2011

E viva o fim dos tempos de inocência...

Apesar da capa libertária, sempre fui resignada diante das surpresas que a vida revelou para mim. Desde um machucado, passando por uma dor, ou um atropelo, olhava para o evento, atônita - é bem verdade, de primeira reação - mas deixando a tranquilidade, depois, tomar conta de mim. Assim foi com a violência doméstica. Assim foi com os abusos. Assim foi com a negligência na infância.

Assim foi com os relacionamentos misóginos. Tudo sempre foi motivo para que pudesse reunir força e, na propulsão, romper os limites que a sufocação da alma traziam em meu peito. Por isso sempre recusei o papel de vítima.

Vítimas não transformam o sofrimento em combustível para aprimoramento de si, pois se enredam no limbo da autocomiseração e, vendo a realidade pulsar, não conseguem retirar dela nada que lhe aprouva para realizar mudanças.

Mesmo não "enfiando o pé na jaca", é importante, contudo, reconhecer o abuso, o erro, o atropelo. É importante sentir a dor e reconhecer o quanto alguém nos fez mal, pois é no reconhecimento de si que as mudanças em relação ao outro se operam.

É assim que as máscaras caem. Por isso, em certa medida, é importante, sim, saber e mostrar ao mundo onde o sapato aperta, porque estamos todos aqui para aprender que nossas condutas, radiais e em cadeia, encontram-se intrinsecamente ligadas, o bastante para que um comportamento desemboque ação em alguém. Sem 8 ou 80 é importante, pois, reconhecer-se vulnerável. Isso é diferente de se reconhecer ou se tomar por vítima...

Não sei bem até que ponto me coloquei, por muitas vezes, com o pescoço pronto para os abates, por acreditar que, ao final, o sacrifício e a oferenda de si poderiam trazer muito mais aprendizado do que a mera irresignação. Continuo acreditando nisso. Continuo vivenciando isso, mas, penso, existem limites para uma alma que se dispõe a "aceitar", de maneira cordata, a desonestidade e a indignidade alheia.

Estou refletindo em cima da falta de honra e dignidade que fazem com que a mola sacrifical seja vista como motivo de piada por quem realmente só está disposto a auferir os louros e as glórias do mundo sem fazer parte dele, atuando e se vinculando aos resultados objetivos de suas próprias escolhas.

Passará muito tempo. Talvez eu nunca mais esqueça. Sim, por que haveria de esquecer?

Afinal, sem muito exagero, a pior sensação de que podemos nos revestir é a de abandono. Não o sentido nupcial de abandono: ninguém aqui está interessada em grinalda, juras de amor e amêndoas ao final de cerimônia. Trata-se do mínimo, que é o abandono do humano e o repúdio à sensibilidade. Trata-se da mera exclusão.

Posso dizer que me deparei com o lado mais sombrio e nefasto do ser humano essa semana que passou. O lado mais absortamente frio, calculista, distante e indiferente de um ser humano que, em meio à paradoxal missão de salvar vidas, afoga-se a si no mar dos atropelos de sua ignorância em relação a si, projetando no outro a mesmice de um mundo que, ao final, para mim, parece não ter mudado muito em relação a como se tratar um ser...

Não salva vida em não salvando, nem ao menos salva a si. Talvez nem haja o que salvar... Talvez tudo esteja mesmo perdido em meio à vã tentativa de produzir algum sentido de frater num planeta em que definitivamente se beira o desenlace.

Os tempos da inocência acabaram e, com eles, o momento é de discórdia interna firmada em paradoxos abruptos de doação fraudulenta ao outro, encobridora do diletantismo egoico que apenas reforça a baixa autoestima. Como olhar para o outro se não se olha para o Outro? Não sei, ainda estou voltando da suspensão em que me encontrava. Sei apenas que meu coração encerra um dualismo que ora entendo ser harmônico, onde criação e destruição revezam espaço, dando-me a certeza de que vida e morte, bem e mal, como diria Raul Seixas, caminham de mãos dadas num romance astral.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"Não sou FEMINISTA. Sou antropologicamente lúcida" A. Hatherly

Partindo sem olhar para trás

Existe um ditado que diz que o pescoço não dá um giro de 180 graus porque é necessário olhar sempre para frente e deixar o passado em seu momento. Mesmo que os músculos permitam a contração suficiente para que, de relance, possamos "olhar um cadinho", a verdade é que não se volta no tempo ou no espaço depois que motivamos toda uma série de atitudes e palavras, principalmente aquelas que trazem dor e desalento a quem está à nossa volta.


O tempo se desenrola no fluxo da vida que segue para a frente, independentemente do que aconteceu no passado. Daí, penso, ser uma arte não olhar para trás. Não havia aprendido essa lição até me deparar com uma noite de fina chuva, na qual, no silêncio taciturno de um estacionamento, compreendi o significado de não olhar para trás enquanto olhava uma pessoa que, nessa frequência, foi embora sem movimentar o pescoço sequer para me observar pela última vez.

Foi um impacto, bem verdade, porque sempre achamos que pode existir um milagre a mudar o coração e a alma de alguém. Mas o verdadeiro milagre, para mim, ao ficar olhando da janela do meu carro o afastamento, foi compreender que preciso deixar para trás também os movimentos cuja existência já se exauriu de minha vida. Daí, penso, a lição ter sido para mim...Uma rica experiência de contemplação do espetáculo humano em sua capacidade de ajuste ao que é novo e, por via reflexa, de abandono, a todo tempo, do que tinha dentro de si como realidade insofismável.


Como diria Virginia Woolf, viver é extrair o sumo, o que a vida traz e, depois, abandonar. Deixar correr, despojar-se. Foi o tempo, pois, do mais puro desapego em relação ao que ficou em suspensão naquele estacionamento... A síntese do que se revelou como uma miscelânea de sentimentos profundos de abandono, medo, frustração, intempérie, mágoa e dor, profunda dor, daquelas que se estabelecem, de tempos em tempos, para que outras tantas lições sejam sorvidas pela alma...



Lembrei-me, então, de sempre ser, ao final, uma pessoa resignada diante do que poderia ser entendido por outras pessoas como sofrimento, por trazer insculpida dentro de mim a certeza de tudo valer a pena pelo simples fato de ser a pulsão da vida o mais importante bem que podemos cultivar enquanto encarnadas. O que que coloca como aparente obstáculo nada mais é do que o processo de lapidação diáfana para que o movimento, lá na frente, resulte em um colorido ímpar de perfeição.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Enquanto a vida pulsa na indiferença...

As conexões causais plasmadas em outros níveis são, muitas vezes, incompreensíveis para nossa tentativa de justificar racionalmente o que acontece em nossas vidas. Lemos bastante, sociabilizamo-nos, experienciamos situações mas, ao final, nada nos garante a omnisciência em relação às misteriosas sendas que nos levam a novos e surpreendentes caminhos.

Completamente envolta no que defini como propósito de vida - que, a essa altura, percebo, não estavam lá tão revelado - segui até aqui sem saber que, dentro de mim, uma explosão de células já estava acontecendo.

Segura de minha "potestade" e do controle completo em relação ao qual achava que a vida se movimentava, somente agora pude perceber que existe outro espetáculo, para o qual nem sempre estamos preparadas (pois não existe uma "preparação"), mas que surge. Surge, impacta, chega, para imprimir outro impulso ao que até então se caminhou. É o espetáculo da vida! Bem-vinda, linda vida, que se estabelece em mim!

O mais interessante é perceber a confusão de sentimentos que se somam, pois, diante do caos, da ordem, da multiplicação celular, do medo e da paciência vem também a indiferença, que traz, em muitos pontos, a exata medida da compreensão do que é o humano em sua (in)capacidade de amar. A indiferença vem fantasiada em sentimento, mas, retirada a couraça, o atropelo do desatino mostra apenas o quão discursivos podemos ser, esvaziados de qualquer motivação interna pelo outro: na indiferença é nosso umbigo a demandar a maior parte de nossa atenção...

São as contradições... Amar e não amar... Amadurecer e se firmar na imaturidade...

sábado, 8 de janeiro de 2011

Bruxedo em latim...

Quid est reale,

Quod aqua purificat,

Quod est germinare in solo,

Et permanet in semper.

Quid est illusorium,

Est in aere quod expellunt,

Quod est in igne destruit,

Et ita est mortis.

O empoderamento da Bruxa e a libertação do irreal

Estava lendo a ideia de Marcela Lagarde sobre o empoderamento, tido como “... a capacidade de decidir sobre a própria vida: como tal, é um fato que transcende o indivíduo e se plasma noss ujeitos e nos espaços sociais: aí se materializa como afirmação, como satisfação de objetivos (...). Mas o poder consiste também na capacidade de decidir sobre a vida do outro, na intervenção com fatos que obrigam, circunscrevem ou impedem. Quem exerce o poder se arroga o direito ao castigo e a postergar bens materiais e simbólicos. Dessa posição domina, julga, sentencia e perdoa. Ao fazê-lo, acumula e reproduz o poder”.

Refletindo bastante sobre o significado do termo, achei dignificante a ideia de "decisão sobre a própria vida" que, muitas vezes, esquecemos em função de pactos com uma promessa nunca cumprida pelo outro que, dentro de uma dinâmica de controle e manipulação, passa a ser detentor de nossa vida, pelo simples fato de nos colocarmos nessa posição.

Ser empoderada é, sobretudo, reconhecer-se como titular da Soberania Sagrada, incorporando a potestade de nossos ancestrais e deidades para, imbuídas de tal egrégora, podermos nos ver como a Deusa...como plenas e sabedoras de nosso passos e propósitos na vida.

Empoderar-se passa, então, pelo reconhecimento de autonomia espiritual, emocional, psíquica e material, com a finalidade de não realizar pacto por meio de submissão, de adesão, mas, antes, de negociação. Eis a diferença entre ser um farrapo humano que suplica por atenção ou, ainda, a Deusa que, dadivosa de sua plenitude, não necessita ou demanda que a última palavra seja de nenhuma outra pessoa que não dela...

Eis a razão - uma das - pela qual as bruxas sempre foram mulheres solitárias. Incompreendidas em sua beleza e poder, sempre estiveram à margem da sociedade em função da contestação voltada para a hipocrisia dos pactos em que o patriarcado se legitimou como epicentro de conhecimento.

Toda grande bruxa da História sempre se posicionou como a guerreira solitária que, vivendo em sua casa mágica, atraía a atenção dos homens que desejavam usurpá-la de seu poder secreto, bem como de curiosos que, ao final, depois de sorverem pouco do conhecimento, envianvam-na às galés e fogueiras.

Toda grande bruxa, enfim, foge do irreal, coloca-se como "excêntrica" aos olhos da sociedade e, diante do inevitável isolamento, resigna-se com sua sina digna para, de dentro do conforto de seu castelo indestrutível, sagrar-se plena e sábia diante dos atropelos de uma vida de mesmice que a humanidade insiste em vivenciar.

Toda grande bruxa basta a si, sem medo de se despojar daquilo que se coloca como algo lindo, mas, que, internamente, apodrece e machuca. Sem olhar para trás ela constroi um novo mundo, a cada dia, destruindo os arremedos de mundos que diuturnamente se apresentam como esperanças vãs e promessas que nunca serão cumpridas, por serem firmadas apenas sobre lodo... Apesar de o lótus nascer sobre o lodo, casas não são. Estruturas não são. Mais um peguinha de nossas expecatativas não preenchidas...

O silêncio e a desventura da alma na senda dos deuses e ancestrais

Os dias de profundo silêncio podem ser uma oportunidade ímpar para desvendamento das inconstâncias que povoam nossa alma, pois o calar dignificado em diálogo com nossa essência, muitas vezes, revela os propósitos mais profundos e cujo enfrentamento nem sempre estamos dispostos e dispostas a fazer.

No ruído dos carros, da televisão, do som elevado, na artificialidade, enfim, de um mundo programado para não permitir o silêncio, ouvir a si é qualidade rara. O atropelo que a agitação provoca traz a sedução de busca na alteridade para as respostas que se sedimentam, pouco a pouco, como crostas impenetráveis, em nosso espírito, amalgamando um profundo abismo de ignorância que, se não for observado, acumula-se e se transmite para nossa herança, distanciando-nos de nossa parcela de divindade.

Reverenciamos nossos ancestrais, invocando-os em rodas de lua. Seguimos ritos e liturgias sagradas que, se não estiverem embaladas pelo silêncio, nada mais serão a não ser um formalismo que se distancia da vida em celebração.

Quantas vezes me peguei entoando cânticos de devoção à Lua sem, contudo, transpor-me para a benignidade dadivosa da Grande Deusa!

Ou, ainda, quase beirando a imiscuição na senda alheia, achando, confiando mesmo, que estava realizando um bruxedo inofensivo, quando, de fato, dentro de mim reverberava a mais profunda motivação em manipular o outro energeticamente. Isso é importante, porque mostra, no céu e na terra, em cima e embaixo, o quão propensos e propensas estamos em relação ao controle e à manipulação do outro, em descompasso com a ideia e o exercício de liberdade que somente é possível quando nos voltamos para nossa liberdade interna em não desejar agrilhoar quem amamos.

É muito importante estar atento e atenta para os meandros que nossa mente "adestrada" nos traz no caminho do Sagrado, pois, sem perceber, podemos entrar em uma espiral da mais pura ignorância em relação ao outro, ou, melhor, na ignorância de nós mesmos e mesmas, incidindo em tantos caminhos que machucam quem está à nossa frente.

Por isso o silêncio é importante.

Para o mais despojado exercício de observação do que conseguimos, por medo ou soberba, imantar em desfavor de nossa alma e dos outros, geralmente dos que mais amamos e dos que nos cercam, por questões bem claras de conexões e vínculos de outras egrégoras e existências.

É no silêncio que nossos ancestrais se comunicam conosco, alimentando o espírito de esperança diante das dificuldades que se colocam em nossos caminhos. É no silêncio que o ego chora, debate-se, vitimiza-se, chora, procura aliados nos abscônditos nichos dos inferii...

Mas, surpreendentemente, é nesse mesmo silêncio em que o ego chafurda que a libertação da alma encontra espaço para explodir na superação da ignorância... É nesse silêncio, enfim, que a vida brota, impermanente, fazendo vir à tona o que trazemos de mais sublime dentro de nós, a capacidade devocional de amar incondicionalmente, de nos entregarmos sem o "mas" porque, sem "mas" e sem o manto de sofrimento judaico-cristão de um sacrifício que demanda dor, o ammor, enfim, nasce. Só é possível o amor assim. O resto é ilusão de nossa mente programada para ferir e, com dor, achar que existe incólume...

Nesses dias conturbados em que me encontro em suspensão de mim, lembro-me de minha família, da força existente nas maravilhosas mulheres de la Vega que, como rochas, recebem tanto impacto da vida e, firmes e fortes, mantém-se na dignidade de si... Lembro-me das grandes e imponentes matriarcas que, com firmeza no propósito de viverem suas vidas na honra e na dignidade, travaram suas pessoais batalhas e sedimentaram o solo em que hoje piso.

Conversar com elas no silêncio de minhas meditações é alcançar os estados mais profundos de segurança e calmaria, sentindo-me amada e confortável o bastante para sustentar minhas próprias demandas, principalmente as que assolam meu coração. Não tenho medo ou vergonha disso, pois sou uma guerreira. E guerreiros sempre seguem o caminho da honra, independentemente o quão dolorida que seja a verdade a embalar a honra.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

2011, momento de intensos eclipses

Depois do último eclipse de 2010, depurando e transmutando as energias desse, que foi um ano de muita atividade no plano etéreo, as novidades para 2011 estão renovadoras! A Lua está Nova desde as 06h03 de hoje, dia 04 de janeiro de 2011 e, até o fechamento desta edição, passeando pelo signo de Capricórnio.

Dia de eclipse SOLAR, apogeu em 08h00, marcado por uma chuva de meteoros chamados "quadrantids", que formam uma literal "chuva" no céu, auspiciosa, providencial para marcar novos projetos e eventos. A data não poderia ser mais fecunda para trabalhar as resoluções para 2011, dada a força desse fenômeno. É o dia 04, e não o dia 1, a data para fazer projetos de vida para 2011.

A Lua Nova traz o império dos projetos a serem desenvolvidos, a energia primordial para o impulso que, somado à energia trabalhadora de capricórnio, faz desse dia um providencial momento de invocação de egrégoras para qualquer trabalho que se deseja desenvolver em 2011.

Além de estar a 13 graus e 39 minutos de Capricórnio, o astro está em conjunção com a estrela fixa Ascella, marcando energias auspiciosas de Júpiter e Mercúrio. Mesmo que esteja em quadratura com Capricórnio, trata-se de um vórtice de reconstrução, de reatamento de laços partidos e, sobretudo, de parcerias.

Teremos mais 5 eclipses em 2011... Dois lunares e 3 solares...

Vetores de mudanças!

domingo, 2 de janeiro de 2011

A outra face da raiva

Acabei de ver esse trecho num filme muito interessante chamado - A outra face da raiva (The upside of the anger) - e estou compartilhando por achá-lo de uma simplicidade que, se contemplada com um despojamento sem cobrança ou autocrítica, eleva bastante a alma.

Texto limpo, claro, objetivo, que não precisa de muito mais além de si mesmo. Não precisa de um Deus, uma Deusa, de nomes. Apenas de significação autorreferencial.

Acho que, em muitas vezes, por não saber dos fatos, ou tentar, sabendo ser impossível, controlar o que está além de minha compreensão, coloco-me nessa contramão do viver. Daí, quando isso acontece, preciso me recolher, voltar a fita e deixar correr a dimensão dessa minha ignorância até seu exaurimento.

Só assim penso ser possível a superação de tudo... até de mim. Enfim, o texto, vale a pena.

"(...) People don't know how to love. They bite rather than kiss. They slap rather than stroke. Maybe it's because they recognize how easy it is for love to go bad, to become suddenly impossible... unworkable, an exercise of futility. So they avoid it and seek solace in angst, and fear, and aggression, which are always there and readily available. Or maybe sometimes... they just don't have all the facts.
Anger and resentment can stop you in your tracks. That's what I know now. It needs nothing to burn but the air and the life that it swallows and smothers. It's real, though - the fury, even when it isn't. It can change you... turn you... mold you and shape you into something you're not. The only upside to anger, then... is the person you become. Hopefully someone that wakes up one day and realizes they're not afraid to take the journey, someone that knows that the truth is, at best, a partially told story. That anger, like growth, comes in spurts and fits, and in its wake, leaves a new chance at acceptance, and the promise of calm.(...)"