domingo, 17 de fevereiro de 2013

Quando saímos do patriarcado, mas quando o patriarcado ainda não saiu de nós...


Gosto muito de acompanhar blogs de colegas, postagens no facebook e páginas relacionadas ao paganismo e ao Sagrado Feminino. Falamos sempre em matriarcado, na cura do ventre subjugado por um ethos masculinista, hierárquico e triangular, apregoando os idos de um novo milênio de superação da dialógica mítica dual cristã.

Tudo exala a Grande Mãe!

Devemos nos regozijar!

Invocamos a Natureza, entoamos cânticos conectivos e, sobretudo, falamos muito, muito mesmo, sobre a necessidade vital de superação do falocentrismo como modus vivendi no mundo ocidental.

Aparentemente estamos todas conscientes de nosso papel como arautos da Deusa e nos enxergamos como baluartes do sagrado ofício de nossa reverencial ligação com a Gaia.

Será?

Em muitos de meus passeios, contudo, tenho diuturnamente observado o entranhamento semântico que o masculinismo - e as religiões patriarcais - ainda deixam em nossos espíritos e, mais especificamente, em nossa fala.

"Que a Deusa perdoe, pois não sabem o que falam" - ou, ainda, "Minha Deusa Santa!", formam alguns dos vários exemplos de irradiação do masculinismo em nosso vernáculo, o que me faz refletir sobre a mantença de uma verdadeira "crosta" linguística que ainda mantém acesa a chama do falocentrismo em nossa senda, por mais que tentemos dela sair.

Montamos altares, mas, num binário de fuga, muitas vezes, reproduzimos a mesma lógica patriarcal cristã, que nos impele para a culpa, a cobrança e, sobretudo, para a repetição do padrão, sob outra veste. 

Com isso, achamos que usar saia e reverenciar a Deusa é passaporte garantido para a superação da misoginia, quando, a bem da verdade, chafurdamos, mais e mais, quando o agir não corresponde a um pensar ou sentir.

Daí, mais adiante, a máscara queda, pois é impossível sustentar um discurso quando a alma não se encontra plena em si mesma. Importante, pois, dentro de nosso caminho, perceber o quanto nosso coração demanda apaziguar-se em sua polaridade, para que nossa fala não se aloje na repetição do paradigma que assolou, por 10.000, nossas queridas e grandes mulheres.