domingo, 12 de agosto de 2018


ENTREGO
CONFIO
ACEITO
AGRADEÇO!!!

A indescritível leveza do estar...

Quem está acostumado a assistir aos filmes românticos mainstream - sejam os oficiais hollywoodianos, ou, ainda, os que se apresentam como alternativos "alla Diablo Cody" ou outra que o valha - sempre se deparam com algum tipo de cena de casamento, onde os enamorados, entusiastas do amor, trocam juras e proferem a frase emblemática "até que a morte nos separe".

Trata-se de uma significação que nos traz à lembrança a reflexão: o que, exatamente, significa isso? 

Significa estar ao lado, fisicamente, até o momento em que um desencarna? Um contrato de almas, escrito no livro das estrelas? Uma fatura a nos lançar, vidas e vidas, num trampolim de compromissos eternos com alguém?

Ou seria uma linguagem figurada a espelhar o fim do relacionamento em si mesmo? O fim de um ciclo, talvez?

Isso se aplica à toda sorte de relacionamentos? 

Não sabemos se existe uma resposta de valor universal, e, em meio ao desconhecimento, uma míriade de interpretações se lançam no ar. 

Gostaria de explorar uma delas, a que melhor expressa a sensação que ultimamente tem sido uma constante em minha vida, a constância da impermanência, o paradoxo que sempre está a nos desafiar.

Primeiro, que tipo de relacionamento está sujeito a esse recall?

Acredito serem todos, desde a mais branda interação entre colegas de trabalho, passando por amizades de longa data, relações de parentesco e relacionamentos em geral. 

Afinal, tudo está sujeito à impermanência, ao movimento, à consolidação e, sobretudo, à superação de si, sem que necessariamente seja um dramático fim.

Transformação... trans + forma + ação, a nova forma que a ação toma.

Como tudo que rege os Universos, relacionamentos se transformam, sobretudo, quando NOS transformamos. 

Não no sentido melodramático de avaliar ou julgar o outro e, na comparação, justificar o fim na conta da desqualificação do outro, mas de nos compreendermos de tal sorte que, a partir disso, simplesmente seguimos outros caminhos, sem dor, sem latência de mágoa ou frustração.

Talvez com o remanescente de uma sensação de "poderia ter sido se não fosse", mas nada que não seja facilmente compreendido como uma tentativa do ego em se apegar ao que toma como certo sentido de identidade e segurança no passado. 

Quando nos damos conta desse peguinha do ego, tudo fica bem mais clarificado e, a partir daí, podemos seguir em frente para novas aventuras, novos contextos e novos rumos. 

Tudo dentro do fluxo!

Minhas primeiras experiências de seguir em frente estão sendo mais profundas com meus círculos mais próximos de amizades. 

Melhor dizendo: com minhas expectativas ilusoriamente elaboradas em relação aos meus círculos mais próximos de amizade

Melhor dizendo, ainda mais: com a desconstrução do que EU inventei como sendo um modelo de amizade, considerando meus amigos como se projeções do meu ego fossem.

Daí, obviamente, a cobrança interna projetada na cobrança da alteridade. A sensação de que o outro, meus amigos e amigas, não me compreendem, entendem, não lidam direito comigo etc. 

Os três últimos meses de imersão profunda nos rincões da minha alma têm me trazido a consciência a respeito dessas criações de mundo: do meu pequeno grande mundo, para o qual procuro trazer as pessoas que amo. 

Uma redoma de Alê, na qual todos protagonizam parcelas egoicas fulgurantes, uma espécie de Game of Thrones em relação ao qual, ao final, o ego se perde, tamanha a confusão em termos de identidade e expectativas. 

Descobri, em meio a isso, que simplesmente tudo passa, amigos, parentes, namorados, amores platônicos, colegas, pessoas, seres, sensações.

Tudo está sempre passando no fluxo dessa impermanência...

Quando tentamos dar o "freeze" da câmera fotográfica, ilusoriamente retemos uma pequena parte disso tudo e, se não nos acautelarmos, vivemos pálidas sensações estagnadas no passado, no contra fluxo desse viver exponencial. 

Somos, assim, tomados pela angústia, que nada mais é do que a retenção do passado, na medida de saudosismo e nostalgia que passam a nos assombrar no aqui e no agora, dada a dissintonia entre o que estamos a experienciar no HOJE e a carga emocional trazida do PASSADO

Lembro-me de um sonho em que estava sentada numa pedra no topo de um penhasco, observando o fluxo de estrelas cadentes que estavam simplesmente passando muito rápido, como se fossem água num caudaloso rio em correnteza. 

Esse sonho me impactou e hoje, 20 anos depois, consigo entender o que isso realmente representa: o fluxo da vida, de uma vida, da energia que emana da consciência e que nos leva a vários rumos, várias vidas, várias formas, várias experiências e a vários protagonismos. 

Como lidar com eles? 

Sendo grata pelo desvendar desses gatilhos egoicos, bem como pela sabedoria escondida em cada pequena parcela de experiência que vem, chega, traz o ensinamento e simplesmente se vai. 

Esvai...

O que fica?

Lembranças, saudade? Não, pois isso também é o holograma atemporal lançado pelo ego para tentar sustentar a ideia de individualidade.

Fica o (...)

O que é (...)? É a tentativa de escrever o que não encontra palavras, teclas e linhas nas quais possa se estruturar. 

Trata-se de uma sensação leve, sopro de brisa que acolhe e me remete ao penhasco do qual observava as estrelas em perspectiva... tal qual percebo, ultimamente, a vida, nos contornos que minha consciência entrelaçada ao coração me encaminha, assim, de maneira lânguida, rumo de encontro ao desconhecido!