terça-feira, 30 de novembro de 2010

Ana Julia e seus balões...

O dia rasgou o horizonte e o azul, enfim, pôde encontrar a Terra, tisnando o despertar com um afago de oceano ante a imensidão acobreada do cerrado. Ainda sonolenta, Ana Julia olhou pela janela de seu quarto, apreciando cada pedacinho de firmamento que refratava em sua retina, atenta e curiosa para o que iria aprender naquele dia de intenso Sol.

Sem dar ouvidos à mãe que a chamava para o café fumegante que pedia um bolo muito macio de fubá, Ana Julia tratou de se levantar, pois desejava aproveitar o dia fazendo o que mais desejava: sendo ela mesma. Sem os livros da escola ou a conversa da professora. Apenas ela.

"O que farei nesse dia tão lindo?" - conversou consigo enquanto vestia seu bermudão e amarrava a camisa de flanela quadriculada. Decidida a otimizar o sentido de carpe diem, Ana abriu seu baú de inventos, pois, quem sabe, dali sairia uma nova brincadeira para se deliciar enquanto o céu passava por ela.

Torcendo o nariz, olhou as aquarelas na parede, ao mesmo tempo em que deixava de lado seu nankin, não estava inspirada para aquilo. Fuçou, um pouco, suas revistinhas, sem desejar passar mais os olhos pelas histórias das heroinas que, no fundo, Ana Julia sabia serem ela mesma desenhada no papel bíblia delicado.

A bicicleta reluzente também não chamou lá tanta atenção. Ana Julia queria mais, sempre mais. Queria transformar o simples uma engenhosidade nunca experimentada antes. Desejava subverter a si nas brincadeiras que, uma a uma, criava no universo mágico de seu grande quarto lilás...

Foi quando viu no fundo do baú um pacote repleto de balões vermelhos. Os olhos de Ana Julia cintilaram diante da possibilidade de inventar alguma nova peripécia usando aqueles balões vazios. Encher os balões com seu próprio ar não era opção para a menina, pois isso seria de uma simplicidade que trazia certo desconforto a ela. De súbito, Ana Julia lembrou-se de uma oficina onde poderia encher os balões, apenas porque desejava vê-los flutuando em pleno ar.

Pegou sua bicicleta e, com pressa, levou em sua mochila o saco de balões, bem como um rolo de linha de pipa, afinal, não queria que os balões se soltassem tão facilmente.

"Oito balões!" - disse Ana para o senhor da oficina. "Eu gostaria que o senhor enchesse para mim esses oito balões!" - ansiosa, a menina ia pegando um a um e, enquanto o sinhozinho lá enchia os demais, ela ia dando os nós de marinheiro que havia aprendido nos almanaques do baú.

"Preciso dar um nó bem forte na linha!" - pensou Ana, cruzando as pontas para lançar melhor a ponta do balão com a linha dura de pipa. Pouco a pouco, cada um dos balões subia aos céus - sim! Aquele lindo céu que a abraçara pela manhã, trazendo-lhe um sorriso de ponta a ponta de sua boca cor-de-rosa, que se misturava ao rubro do balão que acabava de fechar.

Despedindo-se do senhor, Ana, feliz, saiu pedalando com seus balões, intrépidos, que se misturavam aos aromas e às cores do dia. Todos na rua olhavam para a menina, maravilhados com seus balões, pois o colorido intenso era perceptível a metros de distância.

Segura de si, Ana Julia olhou altivamente para a dança cósmica que acontecia em cima de sua cabeça. Eufórica, segurava o guidão com a mão esquerda, porque, pensando bem, para manter firmes e seguros os balões, precisava usar sua mão "boa", a direita.

Nesse compasso a menina andou, andou e andou, vendo o mundo se desenrolando, com num filme, à sua frente. Nada mais importava a ela, pois estava com seus balões dançantes. Sentia-se feliz, segura, mais poderosa do que qualquer das heroinas da revista que deixara de lado mais cedo, pois seus balões, seus lindos oito balões vermelhos a faziam experienciar a beleza da plenitude incontida naquele pequeno corpo de criança.

Embalada pela sensação orgástica de se soltar com os balões, Ana Julia não teve sequer tempo de observar que diante de si apareceu um bebê que se soltou de sua mãe em pleno parque. No atropelo, para não abalroar o menino, Ana Julia deixou seus balões escaparem. Colocando as mãos no guidão, evitou o pior. A criança, enfim, foi salva. Mas os balões...

Ah, os balões! Todos os oito lindos balões vermelhos alcançaram a liberdade e se misturaram com o ar, o vento, o azul do céu. Um a um, dissiparam-se em meio aos algodões de nuvens que entreolhavam a menina, lançando-lhe ternuras de um afago maternal de quem sabe o desfecho da história.

Ana Julia olhou a cena e não pôde conter as lágrimas que saim quase sem que ela pudesse fazer alguma coisa para impedi-las. Não conseguia compreender onde havia errado e o que havia feito para os balões irem embora assim, tão facilmente. Desolada, saiu da bibicleta e sentou-se numa pedra para acompanhar o voo solitário dos balões.

Perdida em seus medos mais profundos, Ana Julia chorou. Chorou como nunca antes havia chorado e, tamanha a dor em seu coração, não percebeu uma dor lacerante despontando em seu útero. Olhou para baixo e viu brotar de sua bermuda o mesmo tom de grená dos seus oito balões. Ana Julia sangrava, ali, sobre a pedra, pela primeira vez. Tornara-se adulta no mesmo dia em que perdera os balões que tanto desejava reter na segurança de suas mãos.

O tempo, de súbito, parou ali. Os pássaros não cantaram, por momentos. Apenas o vento veio brindar a descoberta de Ana Julia: o silêncio...

Enxergando apenas os balões indo de encontro ao horizonte, Ana, acalentada, compreendeu o significado de tudo aquilo: precisaria soltar todos os seus balões seguros, pois só assim o mundo e os céus poderiam receber as dádivas do que de melhor a menina teria a compartilhar com a Vida!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O livro de ouro da sabedoria silente

Outro dia encontrei escondido na biblioteca o exemplar de um livro de tiragem única, tão raro que sua existência era diuturnamente colocada à prova por todos. Muitas pessoas, em vão, tentaram acessar a obra, como vassalos do Rei-Pescador em busca do valioso Graal a restaurar a Soberania perdida.

Capa dura, ornada de ouro, cravejada de diamantes, não acreditei no que vi...

Duvidei quando minhas mãos trêmulas pela satisfação do encontro alisaram carinhosamente cada pedaço da frente do livro, achando que, depois, tudo iria se dissolver no ar, como mais uma peça de minha mente incauta.

Num impulso de querer me fazer unir àquela preciosidade, levei-o em direção ao meu nariz, tentando, sabe-se lá, que alguma traça ancestral pudesse sair dali para habitar em meu pulmão já tão cansado desse "ar puro" que já se faz pesado... Tabaco, canela, morte e vida. Dor e amor, paz, guerra, conflito e paz. Estavam presentes todos os aromas exalados pelo opúsculo que se prostrava para ser desvendado na confusão de cheiros que a mente tentava, em vão, catalogar.

Em átimos de segundos toda eternidade passou por mim, sacudindo meu corpo num lampejo atônito a sussurrar em meu ouvido que seria o momento de abrir o livro para saber o que estava escondido naquelas páginas. Olhei para um lado, retornei ao outro: egoisticamente suspirei ante o vazio daquela sala em que os ecos sibilantes de pardais atordoados eram minha única companhia.

No arrebatamento de tamanha felicidade, pérolas brotaram em um sorriso: eu estava sozinha, prestes a decifrar os segredos mais profundos do conhecimento humano...Quanta alegria poderia uma alma ser capaz de suportar diante do Infinito?

Ao abrir as páginas, uma surpresa: nada estava escrito naquele livro secular. Nem uma só gota de tinta foi ali disposta para registrar a História e a humanidade. Revirei, folheei, abri e fechei, desanimando-me a cada alva folha perdida para mim em vão, pois a frustração diante do Vazio foi inevitável diante do desejo de completude.

Sentindo o gosto de fel a penetrar em minha garganta, deixei a ira tomar conta de mim, aquecendo explosivamente cada centímetro do meu corpo e me lembrando que a paixão e a raiva sentam-se e se enamoram no mesmo banco de praça. Tive vontade de lançá-lo contra a parede, mas, diante da culpa antecipada, calei-me e apenas tremi, sentando-me quase desfalecida no chão frio do mármore sacrificial daquele sepulcro abissal.

Foi quando diante de mim abriu-se uma aquarela a desenhar no livro em branco algumas sílabas que iam se justapondo em singelas palavras de conforto, dizendo-me: "a sabedoria reside no silêncio". Entendi, então, que palavra alguma poderia ter sido escrita naquele livro, bem como resposta alguma seria revelada de maneira absoluta: foi quando descobri estar diante do livro da sabedoria silente, guardado na estante de nossa própria existência, escrito com a caneta dourada das experiências nossas, que são únicas...

Eis o silêncio...

domingo, 28 de novembro de 2010

A Lua, o Mar e o banquete que nunca finda...

Numa noite plácida em um reino bem distante do mundo que, há tempos, deixara de acreditar na magia, a cintilante Lua deitou-se com o Mar. Seus corpos, em atropelo, emaranhavam-se num frenesi que se estendia na melodia lírica do compasso de espera pela saciedade que titubeia diante de um farto banquete, enquanto a fome, por outro lado, rodeava um intrépido andarilho que ali se lançava, rumo à alvorada de mais um dia cujo deslinde lhe era totalmente desconhecido...

Acarinhada pelo veludo a transbordar, em mãos, das ondas de seu consorte, a Lua, sonolenta, veio cochilar na praia, velando o sono de seu imortal amado que, dali a poucos momentos, acordaria para mais uma lânguida revoada de sublime amor.

Enquanto aguardava o farfalhar da maré cheia a se lançar nas folhas de palmeira caídas à margem, não pôde a Lua deixar de perceber os passos largos e ansiosos do andarilho errante que, afoito, olhava de um lado para outro, buscando, a todo custo, encontrar algo que pudesse afastar a escassez de sua tribo.

Espiando entre as conchas que ornavam seus aposentos, a bela Lua sentia em seu peito o ecoar descompassado do coração do homem... No arroubo de sua intempérie, ele tentou, sem êxito, haurir do Mar o doce provento para levar para sua tribo faminta, mas como o Senhor das Profundezas estava em profundo sono, tudo, ali, parou: peixes, sereias e golfinhos, sempre silenciosos e solidários ao Rei em seu repouso sagrado.

Vendo as lágrimas descendo do rosto cansado do nobre homem, a bela amante não se conteve: olhou, ao longe, seu amado e, vendo que ele não poderia acordar tão cedo, compadeceu-se do amor profundo do guerreiro errante por sua tribo e, diante dele, fez reluzir, descido dos céus em uma cortina de prata, um grandioso peixe grená, cujas órbitas ostentavam rubis apenas ofuscados pelos raios de alegria que brotavam da Lua compadecida.

O bravo andarilho, olhando a cena, não acreditou no que vira, pois diante de um mar infecundo a encerrar inglórias, não imaginou que algo assim poderia acontecer. Lembrou-se de sua casa ancestral, vendo no horizonte o rosto estampado de cada um de seus irmãos, cuja existência, até ali, não era mais tão certa diante da fome.

Foi quando, de súbito, resignou-se diante da Lua compreendendo a magia antiga que estava sendo feita ali.

Empunhando sua adaga e cortando o ventre da oferenda, o errante guerreiro viu sair de lá outro peixe, cujo ventre, por sua vez, pulsava na consonância do coração do nobre. Abriu-lhe as entranhas e, com isso, viu sair outro peixe, e mais outro, outro. Dali a pouco, cestos e cestos não seriam o bastante para carregar tantos peixes que brotavam incessantemente uns dos outros.

Agradecido pelo dadivoso presente da Lua, o homem ajoelhou-se no veludo da areia, acariciou as entranhas da Terra e elevou sua alma aos céus, cantando para a formosa Rainha que, ouvindo atentamente a música entoada, derramou, em prantos, múltiplos diamantes coloridos... Foi então que, ali, a Lua, sentiu, mais uma vez, o Mar carinhoso a lhe abraçar, lembrando-lhe que em poucos momentos seria Ela a se sentir saciada...

Perdida em mim para me encontrar em você...

Queria saber como me perdi em mim para encontrá-lo, pois, assim que me encher de mim novamente, minha plenitude não mais acomodará espaço para seu o diletantismo de uma profecia que nunca irá se cumprir. Perdida em holocausto, não existi, por módicos segundos, dentro do meu nicho de certeza e, vagando intrépida, julguei, lamento, que me revelaria um mundo ao me deparar com você.

Encontrei o que estava incólume em um canto escuro indecifrável, jungido em vestes adornadas por diamantes que apenas me lembram como o cintilar da pedra escoa o sangue vertido da Terra desentranhada. Os fantasmas reclusos na imensidão de um aconhego que exala tédio, comodismo e pervesão saudaram-me, todos eles, bailando em valsa rumo ao cadafalso do além-morte que, um dia, trará pelas mãos, em salvaguarda, a vida.

Encho-me de mim e repleta de meus fluidos divinos, afasto tua presença docemente, embalando-o numa canção de ninar, para que nos braços da inconsciência idiossincrática, o eterno sono nos aproxime. Eis-me aqui, firme, forte, poderosa e plena, tão frágil, simples frágil, doce frágil de ardência que, adiante, queda-se em incontida imensidão.

Tal qual um Sagrado Cálice enebrio-me de mim para, plena de mim, você não existir. Está, não é, perfaz, não retém, em largos passos de identidade que se projeta, nos recônditos refúgios do que fui... um dia!

Sou?!!

Sou?

Duvido...

Apenas estou, assim, mesmo, sem qualquer transitividade no verbo, porque meu destino apenas aqui se grava como tênues passadas na areia cuja efemeridade o mar sempre põe à prova.

Se estou aqui, quem sabe, é porque não existem porquês. Sequer sentido existe em me enganar no mar de incompletas indecisões de uma vida que se acossou num bombardeio de sentidos, para, ao final, eclodir na presença do Divino apenas porque... não existe porquê...

A impermanência penetra em cada poro longínquo do meu pequeno grande espaço e se desaloja, sempre, sempre, nas estrelas de minha imensidão... Aceito-me como sou, reflito o ser em quem estou, caminho lado a lado com a incerteza que rodeia a vida, maravilhada com o mundo que se põe ao gosto, como uma loja de doces, para ser haurido em plena luz do dia!

Idas e vindas numa impermanência que sempre esteve aqui...

Sabe quando acordamos com tamanha sensação de plenitude e bem-aventurança que até o retorno de momentos e situações passam a ser vistas como a renovação do mundo dentro de nós?

Sim!

Enchemo-nos de júbilo, atravessamos as fronteiras de nossos nichos compactados de uma falsa sensação de segurança externa a tal ponto que achamos que tudo é diferente quando, consultando o vértice da impermanência, é nosso ego frágil a nos enviar novas lentes para que possa, mais uma vez, ludibriar nossa alma e se estabelecer como o monopólio de identidade e verdade.

Plenas, seguimos, firmes em nossas resoluções compassivas, olhando para o outro como se fora um ser que, de fato, nunca será porque simplesmente o que é é, sem que predicativos sejam necessários - predicativos são nossas experiências, alegrias e dores, a coroar a maneira como insistimos em "ler" o outro, quase sempre, de uma maneira que ele - ou ela - nunca será. Porque não é. Não são. Estão.

Somos nós.

Estamos nós, isso, sim, é o deslinde de impemanência que se propaga, como água pura, a nos dizer que estamos mudando e, dentro dos maravilhosos idos de mudança, o ar avassalador desmonta os castelos construídos em bacias sedimentares.

A beleza da Natureza em sua veste de sabedoria reside na maneira como nos ensina, pelo simples deslinde de si, o motu de impermanência. Tudo soa impermamente nos elementos...

A água, que leva tudo que ao seu leito se dirige.

O fogo que modifica estruturalmente o que tangencia.

O ar que esparge tudo por onde quer que vá e...

... ainda assim, a terra, que, com sua aparente imobilidade, observa o devenir dos dias, vendo nascer e fenecer todo o ser que em sua lápide natural deita a cabeça...

Contemplar a impermanência é, pois, olhar a mim e me enxergar no outro, olhando para ele como se, a cada instante, renovasse seus votos de benesses e atropelos. Afinal, estamos nós, sós...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Os ares de mudança

O ar é mesmo um ousado...

Chega com toda sua potestade e, sem a menor cerimônia, esparge tudo ao seu redor, num bailado frenético sintonizado com uma fina harpa universal, absorta nas manifestações de um mundo para lá de lúdico, que pulsa a partir da constância do meu coração a se regozijar com a melodia...

Entrar na energia do ar remonta voos ímpares em que nos lançamos na vacuidade e no desconhecido, rendendo devoção a algo magicamente inexplicável aos olhos fragmentados de uma razão que se cala para a robusteza do etéreo, pois o vento traz muito mais do que o deslocamento em face da diferença de pressão...

Traz os idos de mudanças internas, produzidas apenas porque nos permitimos deixar fluir o que existe de aparentemente seguro dentro de nossos corpos, soltando-nos em um eterno sentido de volatilidade. Afinal, quantos sentimentos, quantos amores, quantas alegrias e quantas dores vieram e se foram?

Se deixam marcas - as marcas da Terra que vinca - é apenas para nos lembrar da necessidade de não contenção da energia...Mas, assim como levam, trazem, um devir que nos transporta para nossos maiores deleites secretos, o colorido de uma realidade absurdamente mágica em nossas vidas, que apenas faz sentido para a alma que festeja...que celebra o ar...

A mudança e o igualistarismo do ar assumem ares democráticos na república dos elementos... um reino, quem sabe, afinal, tão sem sentido a burocratização da liberdade. Fiquemos com a plenitude da vaporosidade que não necessita de formatos para expressar o divino!

sábado, 20 de novembro de 2010

Café com Ícaro

Fique com seu café, pois meu desjejum tomo ao lado de Ícaro...
Voamos juntos para ver o mar!
Do alto de nossa robusta janela o Sol insiste e brilha
testemunha a radiância de uma intensa trilha
a deixar um mundo que já ficou para trás...

Esparramo-me no voo e sublimo-me em pleno alto,
Entoo, breve, aos quatro cantos
O intenso raiar de minha chama
Que se perfaz esvaecendo vertendo o fogo num bradar de prantos.

Lanço-me intrépida ao horizonte
Consumo da centelha as entranhas descobertas de meu mundo.
E com um sorriso intenso
e bailar profundo
Desprendo-me em sonhos rumo ao desterro

Sim... Ícaro!
Insculpe-me em seus atropelos em meio à sorte
Este, sim!
guerreiro desarmado que não teme a morte
Voa, pleno, em direção ao mar...
Afaga-me e me conforta em seus braços fortes
Adorna-me em seu peito heróico,
Entoando a sinfonia que só se assanha quando se sabe amar...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Eterno tempo de despedida...

Em tempo de despedida, não quero choro nem vela
Olhe apenas da janela e veja porque perdeu o mar.
Derrame suas lágrimas, mesmo que as esconda do mundo,
penetre em seu abscôndito profundo e se dilua na sinfonia do adeus eterno!
Depois disso, renasça, enfim, na paz!

Momento de calma inconstante,
tombada no passado tão distante
cujo sentido perdeu-se em meio ao descaso.
A dor que lacera hoje o meu peito,
a mesma que deseja todo esse jeito
de me afagar em seus braços.

Num alento doce e comedido
Encerra um beijo vendido
a me trocar por tantos lábios...
Vazio de tantas bocas,
donde promanam apenas o silêncio errante.
findo o elo e o coração pulsante
que o deseja, mesmo frio e distante...
Desarmou-se o cenário de um guerreiro em luta
que trava guerras impolutas...
de emboscadas perdidas em meio ao caos
Vivendo na mordaça do adeus
Num atropelo em que acena para fariseus
Diáconos purgados em seus mantras sem sentido...
O mantra da anestesia de caustica a culpa
Revestida em ódio, intempérie oculta
atropelo dos nefastos tristes olhos...
Que me olham ao longe, temerosos olhos
a me perder de vista...
Para todo o sempre...
É o adeus que chega, enfim, a coroar
Um dia após o outro a se fechar
A cortina da paixão simples e recolhida.
Acabou-se o sonho, quedou-se em pranto
Para ali na frente se recordar...

Egotrip da ilusão

Sabe aquela paixão avassaladora, tão avassaladora que chega a ser redundante em face do que é paixão? Pois bem, embalada numa dessas, penetrei numa egotrip digna de um filme de Stanley Kubrick... ela começou insinuante e ingênua, descomprometida e dócil... Seduziu pela aparente leveza, regada a desejo e vontade. Mútua vontade de devoramento...

Voraz apetite que cercou os indóceis amantes em um embalar de teias que, ao final, enredam-se em suas próprias mazelas existenciais. O torpor da paixão outrora profunda cedeu espaço para a superficialidade do encobrimento do outro, a partir da completa falta de propósito com si mesmo.

Comigo... mesmo...caindo em ciladas da mente condicionada, por vezes, nas aguras das relações dissimétricas de gênero que tão arduamente labuto contra.

Sim, pus-me na boca da guilhotina e, confesso, a lâmina somente não penetrou minha carne porque a alma, tão sucateada e malhada pelas experiências anteriores, empurrou-me escadaria abaixo, fazendo com que eu saísse do cadafalso de minhas armadilhas, não sem antes deixar verter um pouco, que seja, do sangue que seria derramado.

O filete rubro coloriu a escada, mas não foi o bastante para retirar de minhas entranhas o que persiste como fogo flamejante que acena a paixão pela vida. Pelo movimento, pela fluidez...a verdadeira fluidez, posto que não regrada pelas instituições que, por expiação, poderia distrair minha mente do que realmente importa: PERMITIR A CHEGADA DO AMOR...

Uma relação pós-moderna de descompromisso não está imune ao recorte de gênero, principalmente quando um dos participantes não se vê fora de si e, com isso, no automático, age no mais perfeito estado letárgico de reprodução da mesmice existencial do descaso patriarcal para com a ludicidade telúrica do feminino expoente...

Quando, ainda, age no estereótipo de pseudo-libertário, o viajante da egotrip, então, perde-se em si e, achando que está fluindo, perde-se no sentido do que entende de si, um ser sem sentido, num mundo sem sentido, condicionado apenas pelo propósito de escapar de tanathos por meio da apologia do id...

Doce id que, aos poucos, tenta seduzir o superego forte do indomável guerreiro, que intercala horas de atrocidade beligerante com o desarmamento amoroso do carneiro que se entrega... O forte e pesado soldado se ergue, lutando contra a areia movediça de seus recantos mais profundos, cuja dor ainda lacera e, de tão intensa, permeia os poros e se revela, no cheiro, para quem quer que aguce os narizes sutis do etéreo. Do não dito. Do que está escrito num rincão confinado no além-mar que o guerreiro bravo deixa embaixo do tapete, para que ninguém nele pise.

Pisar no escondido desvendado é espezinhar o calo doente...que doi...e, na dor incauta, produz a apatia de quem não se permite desvendar os mistérios do outro, porque, afinal, num mundo pós-moderno, os relacionamentos são como queijos na prateleira do supermercado: debruçam-se à escolha do freguês que vibra na lei de Gérson: ele vai lá, sem ninguém ver toma um pedaço, olha para um lado, para outro, pega um "tiquim" e, na maior cara-de-pau, devolve para a prateleira, na esperança vã de estar predisposto a experimentar todos os queijos disponíveis no mercado...

domingo, 14 de novembro de 2010

A estrada em um dia lindo de chuva...

Brasília fica, mais uma vez, para trás, perdida em meio às tantas águas quedadas que tentam, com sofreguidão, aplacar a minha ânsia de resistir à impermanência, pretendendo, em nome dela, fazer-me rebelde na versão do outro que reside em minha própria alma...

A chuva, fina e forte, sela meu destino de ruptura com a mística pulverizada do sentido que a compreensão de alguém tenta impingir a mim. Quem sabe, ao certo? Eis-me aqui, eu, impingindo, na frente do espelho, resgatando os fragmentos de alma que foram espalhados por aí. Poderia a água amalgamá-los, todos, novamente? Poderia compreender a mim projetando-me no deslinde alheio? Não sei, pois, por agora, nem perguntas, nem respostas, oferecem a mim o resíduo da zona de segurança que meu ego temeroso ainda insiste em agarrar.

Não sei de nada, muito menos de tudo, um pouquinho, quem sabe? Também não. Nem interrogação existe mais dentro de mim, pois enquanto nos movemos rumo ao desconhecido, as nuvens negras na estrada aceleram o coração que teme. É o sentir no aqui e no agora, na caótica resistência que a experiencia me revela que se postra o calabouço de um labirinto de onde, por vezes, exsurjo.

E o coração? Teme a si, teme o nada, teme o todo. Teme, e, temendo, queda silente, pois, quando fala, assusta...Quando cala, morre, perecendo, com ele, o que existe de mais puro e belo em essência.

Teme e, de tanto temer, navega, por vezes, em direção a si mesmo, rodando em círculos, numa vacuidade nem sempre etérea, mas que se desola em meio ao turbilhão que invade a mente.

Aumenta o compasso da chuva, desacelera o carro e pulsa, agitado, o coração que se vê imerso no mesmo horizonte negro das chuvas que, dentro da minha alma, vociferaram pela mudança. A pista revela a estrada sem fim, em uma nebulosidade que se confunde com o retrato de um dia sem sol, que promete, contudo, ser o porto seguro, porque chuva e sol são apenas as opções de maravilhas que a Natureza oferece de opção.

Por que escolhemos o Sol? Qual o problema de um dia de chuva? Seria tão assustador lembrar que o desconhecido narra o que ainda pode se revelar dentro da calmaria interna?

O antigo lar, aos poucos, fica para trás, na presença reveladora da chuva. O novo se apresenta como o indecifrável, pronto a me devorar - não me importo - mostrando-me que minhas couraças nada valem diante da magnitude de um dia de intensa chuva.

Os contornos de meu novo lar despontam, lá na frente, numa abóbada de intensas cores, fagulhas de cores que, mesmo embaixo d'água, trazem para a superfície a contundência do que espontaneamente advém do impulso colossal de minha alma. Surge a cidade, o alto da cidade alta, num Alto Paraíso que se faz Goiás, concretizando a via láctea em minha casa interna.

Sinto-me em casa, sinto-me segura, sinto-me distante de tantas ilusões que minha doce mente gera, o tempo inteiro, pegadinhas incertas de momentos incertos, que nunca povoaram canto algum a não ser o imaginário de minhas maiores mazelas.

Sinto a presença do arquétipo deídico, a energia colossal da fêmea incompreendida, mas que peleja, mesmo diante do implacável, para se fazer enxergar. A miopia, afinal, acomete a todos, ainda mais os que acham, diante de suas torres de segurança, que enxergam longe, mesmo que a referência seja, nesse grande "longe", o espaço diminuto de seus próprios umbigos...

sábado, 13 de novembro de 2010

Sagrado círculo dos elementos de mim...

Lanço-me ao Fogo e em meio às chamas
minhas próprias entranhas se desfazem em pleno ar!
Falo com a Terra, preciosa terra
que me embalando em seu silêncio insiste amorosamente em me velar...
Acompanho a Àgua, doce água,
que me lança no berço do inconsciente, sempre ciente
e me despe de fugas, deslizando sempre em cada ponto fulgás de mim...
trazendo PARA mim lembranças que insisto sempre em desfocar...
Esvaio-me no Ar, rebelde ar,
como palavra de outrora deixada ao vento,
num amargo alento de um dia frio, que jaz, para sempre, a se findar...
Vou, enfim, rumo às estrelas...natimortas estrelas, que brilham, um dia, que já não existe mais.
Volto do meu Universo, profundo uni-verso, transcrevendo em meu corpo a história em prosa, profunda prosa, reinventando-me em meio a tantos desalentos.
Verto em ouro a lama colossal do lótus, guerreiro lótus,
que se alcança os céus porque de seu lodo permeado levanta voos junto a minha alma.
Consagro-me em espírito? Quem sabe, alma?
Talvez consciência, um dia, quem sabe, seja...agora não sei, não me interessa...
Pois falo, calo, choro e silencio
bradando uma sinfonia invisível de elementos que batem, como muro, em seu continente, doce continente, que de mim nada sabe além de me perder...
Acho-me sempre, para sempre me perde, o sempre que se renova
num dia como o outro, mas morre, sem vingar, na efemeridade do hoje que nunca aconteceu

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A explosão de mil Universos em mim...

Olho o céu povoado de estrelas e vejo minha própria alma fluindo vagarosamente em cada uma delas, refletindo na leveza do que desponta de brilho em meus olhos quando me lanço em direção a um caminho que nem bem sei qual é. Estrelas de agora que já mais nem sequer existem, lembranças de tantas memórias que, assim como as estrelas, povoam apenas a eternidade de meu olhar que se depara com o Infinito...

Em largos passos tenho pressa, na ânsia de me refestelar em dádivas que saltam da abóbada para o fundo de minhas carnes. Trêmulas carnes que faíscam na magnitude do meu signo de chamas, espreguiçando-se, pouco a pouco, para bradar, em labaredas que se amontoam, na amplitude do que reverbera dentro de mim com princípio ativo do Universo.

Oh, doce Universo, perdido em meio a tantos firmamentos que, outrora, despregaram-se de minhas entranhas. Alcançaram os montes de incontáveis pastos, verdes pastos, que alimentaram meu espírito com a presença ancestral dos urros de meu povo sagrado...Solo sagrado, mundo sagrado que trago para viver no hoje o que, quem sabe, um dia, tantos outros chamaram de presente. Um devenir perdido em meio ao que ficou para a memória, relato do que se chama viver...

O Universo se faz ali, impermanente, imerso no embalo de um lindo sonho, que se confunde com o relato de minha jornada, para além da vida e da morte, encontrando-se, mais adiante, com o abraço fraterno de quem sempre esteve comigo...

Doce Universo de terras, águas, ares e fogos, tisnando, pouco a pouco, na opulente maestria dos segredos antigos, a efemeridade do que está aqui e, mais além, desaparece, como o éter que sempre esteve aqui, sem nunca, dantes, aparecer aos olhos insensíveis ao mágico infinito.

Meu corpo arde em múltiplas centelhas, confundindo-se com o outro numa velocidade atônita. Mistura-se em meio a cheiros e toques. Enebria-se com a possibilidade do não acontecer, confunde-se com a seara do que já foi...perdeu-se, vingou, feneceu...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A amora e o sonho

Ariana estava se preparando para dormir, pois o Natal não tinha a menor significação para ela. Já fazia um tempo que não mais sentia ou acreditava na indicação que o Solstício de Verão apontava sobre renascimento, porque Ariana não mais renascia...

Jazia morta, em vida, para tudo que se colocava diante de sua vida e mesmo esboçando seu terno e doce sorriso, seus olhos amendoados, ao fundo, mostravam o vazio de suas volições e sensações. Não batia mais no peito aquela sensação de flutuação, pois seu corpo - retrato de sua vida - era apenas uma densa massa sujeita à gravidade, impedindo Ariana de voar e se lançar à plenitude do colorido de seu mundo de sonhos e idéias.

O tic-tac do relógio de parede sempre enganava Ariana, que dormia ao som do amigo pontual, tal qual a disciplina de um monge secular que, sem pressa, relaxa e se deixa embalar pelo afago dos sonhos.

Nesse dia, porém, Ariana dormiu em vida, viveu em sonho uma fábula que não sabia ser real ou imaginária para o mundo dos vivos. Não importava, porque, afinal, viver sozinha em seu mundo havia trazido à jovem mulher a certeza que sonhar era a mais vívida experienciação de si.

E "repleta de si", Ariana sonhou, sonhou como nunca havia sonhado, recordando do passado de renascimento que jamais esquecera, numa história de encontro que nunca tivera...

Lembrou-se (ou "sonhou-se", "desejou-se", quem sabe) de um tempo em que era feliz, tal qual é hoje, mas um momento em que a felicidade vinha acompanhada de um renascimento, de um início. Um dentre vários inícios de sua vida, contudo, foi muito mais do que o tenro frescor de uma alvorada que anuncia o canto dos pássaros.

Ariana era feliz, sem dúvida, pois todo mundo assim achava. Afinal, tantos sorrisos, tanta presteza, tanta solitude somente poderiam vir de alguém repleta de amor. Um amor, contudo, que Ariana havia trancado em um quarto escurecido pela dor de sua alma, apagando, pouco a pouco, de sua essência, a sensação gostosa e acalentadora da luz que trazia em si.

Dentre tantos fantasmas por ela criados em sua vida de renascimentos, Ariana criara aquele que, sem ela saber - mas sendo sabido por todos ao seu redor - era a sombra de si mesma, diluída no sofrimento da culpa que carregava consigo, por não deixar a Natureza seguir o fluxo de suas descobertas.

Ariana sonhou com toda sua vida de Natais passados, como num rolo de filme em tiras justapostas onde presente, passado e futuro se entrelaçam num continuum temporal que não entendia muito bem, mas que fazia, ali, naquela cama, naquele mundo, o coração dela palpitar.

Não poderia mais viver dos Natais passados, muito menos poderia conter o fluxo da vida e da morte, pois a partir dali, a alça do tempo-que-não-existe persistiu e insistiu, levando Ariana pela mão, a enxergar a si no espelho de sua alma.

Mesmo quando lágrimas de Sol quedavam de seus olhos profundos, Ariana sentia paz, pois a sensação do renascimento voltara, depois de tanto tempo, a povoar seu peito, coroando a jovem com o resplendor da pulsação de uma primavera que acontecia, mas que, pelo medo, não transbordava para ela.

Foi quando Ariana acordou, feliz, plena, e viu, da janela de seu quarto, o brilhante ponto que saltava, uno, de sua amoreira, anunciado pelo toque das cigarras orquestradas pelo divino: nunca havia tido amoras em seu quintal e, justamente aquele dia, aquela amora surgiu, lembrando-lhe que a Natureza, mesmo quando não compreendida por nós, segue seu implacável trajeto rumo à vida-morte-vida, na espiral eterna do renascimento.

E com o sangue rubro da amora pendente quedou das entranhas de Ariana seu fluxo, trazendo-lhe, dali a pouco, o passado presente no peito incontido da jovem, apontando para a felicidade de cada respiração.

Uma intuição bem forte a encaminhou, então, para o início de sua mesma nova vida de antes, uma nova vida que, num passado remoto, não tinha espaço, mas que, no aqui e no agora da vida de Ariana, era a constante marca de sua essência. Afinal, essências não mudam e Ariana, por ter desvendado a sua, fez irromper a mágica presente em cada ponto desse imenso Universo: o amor...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Que lindo presente ganhei da amiga Anna...

Fàilte!

Que dia lindo!

Nem bem começou e já tenho presentes para compartilhar!

Ganhei este selo da Anna Paim do blog http://wwwjaneladaalma.blogspot.com

E indico e dedico aos seguintes blogs, de pessoas amadas:

http://iberiaeterna.blogspot.com
http://brumasdotempo.blogspot.com
http://atitudenateia.blogspot.com
http://somenteimpressoes.blogspot.com
http://diariodaslobas.blogspot.com
http://wiccafilhasdadeusa.blogspot.com
http://mundupagao.blogspot.com
http://asasdemamae.blogspot.com
http://femininoessencial.ning.com
http://www.claudiocrow.com.br

Segundo o Quicas, criador do selo cuja proposta foi reproduzida pela Anna: "O Prémio Dardos é o reconhecimento dos ideais que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc... que em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, e suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar o carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor á Web".

Eis as regras inclusas no selo:
- Exibir a imagem do Selo no Blog
- Exibir o link do blog que você recebeu a indicação
- Escolher 10, 15 ou 30 blogs para dar a indicação e avisá-los.

Bom final de semana e parabéns aos blogueiros e às blogueiras!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Guardando nas caixas a alma repleta de memórias

Toda mudança de cidade traz em si a temeridade do devenir, pois a mudança mexe com nossa própria alma, revelando a superveniência de um novo que não sabemos, ao certo, que formatação terá.

O futuro fecundo de possibilidades manifesta-se na singeleza das várias escolhas que trazem dores de exclusão, umas das outras, lembrando-nos de que somos, enfim, senhoras de nossas maiores alegrias e maestrinas de nossos atropelos.

Guardamos dentro das mais variadas caixas nossas memórias revisitadas pelas sensações das lembranças que nos invadem, pouco a pouco, desejosas que ocupar o espaço dentro de cada um dos locais de armazenamento. Com elas recheamos o caminhão da mudança, confiando que, em um novo lugar, quem sabe, o aroma da novidade ocupará os espaços que não foram preenchidos nas caixinhas para onde enviamos nossa ancestralidade...

Em pleno movimento de mudança, encontro-me em silêncio, reclusa em meio aos pensamentos confusos e contraditórios, buscando apascentar um coração que está pulsando em matizes ininterruptas de sofreguidão sem fim, ao mesmo tempo em que gesticula a paz interna em que se estabelece quando se sente confortável e seguro.

Em meio a tantas sensações emaranhadas, as caixas que pretendo usar escapam de minhas mãos, pois, talvez, em meio a tanto medo, elas teimem em querer ficar por aqui, deixando-me sozinha com minhas ideias de evasão.

Teimo em tentar encaixotar tudo diante de mim, mas, certas lembranças não podem ser simplesmente condicionadas ao alvedrio de um sentimento de apropriação. Nada, enfim, é meu, pois, fazendo parte de um Universo em mim de tantas escolhas, perco-me em meio aos pensamentos, para me achar como centelha esfuziante, talvez, quem sabe, uma estrela em meio a um céu que criei para ocupar o centro.

Encaixotarei a mim? Pouco provável, porque, habitando a abóboda de um caminho que cintila, não posso condicionar a luz a um espaço qualquer... Contento-me em colocar em poucas caixas ainda menos memórias, para que possa, em cada passo de minha digna vida de andarilha, lançar-me à coleta de mais experiências vívidas, para permanecer imortal aos olhos de minha sina de me encontrar.

Não tem, mais, pois, o destino incerto, pois, de tão igualmente incerta minha provisória maneira de ver o mundo, contento-me em ser como um filete de água que se amolda por onde quer que passe, encontrando, enfim, outros filetes, para formar, ao final, a torrente caudalosa que desfaz espaços e cria outros tantos...

Eis-me aqui, encaixotando o que posso, para me lançar, dali adiante, no vasto desconhecido que me espera, de braços abertos e de mãos dadas, passo a passo, com o embalo da sofreguidão de minha essência, que se esvaiu em milhões de supernovas!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Oficina da Deusa na Semana de Extensão da UnB

Uma oportunidade ímpar de superar a dualidade e aproximar, em plena pós-modernidade de galerias que dialogam, a academia e a sabedoria das vivências corporais do Sagrado e Feminino.

No dia 12 de novembro estarei na Oficina da Deusa, gentilmente convidada por minha querida amiga Doris Naves, para compartilhar com as interessadas e os interessados a indissociável da sacralidade, pontuando aspectos e questionamentos sobre a experienciação na situação de violência doméstica, bem como no atendimento às mulheres, dialogando, sempre, com as temáticas de gênero.

As inscrições poderão ser feitas pelo site http://semana2010.unb.br.

Slàinte!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Apreciando um bom chá de hibisco


Hibiscus sabdariffa, o famoso hibisco, é diferente da espécie ornamental (por favor, não saiam comendo as folhas e flores do arbusto do jardim não!), mas, mesmo que não seja tão vistoso quanto seu parente, possui um vasto rol de propriedades!

Seu gosto cortante, que lembra chá de framboesa, bem como a cor vermelho-rosa, trazem um charme especial, ao mesmo tempo em que as propriedades são inúmeras. Primeiro, as folhas são ricas em vitaminas A e B1, sais minerais e aminoácidos.

Além disso, é usada na farmacologia popular como anti-espasmódico, anti-inflamatório, redutor da hipertensão, antioxidante natural, afrodisíaco, diurético, laxante suave e auxiliar nas dietas de emagrecimento, sem deixar de mencionar seu uso para tratamento de gripes e resfriados de toda sorte.

Boa notícia para os ossos, pois é rica em cálcio, magnésio e ferro e nas vitaminas A e C, assim como em fibras! Atua na prevenção de diabetes tipo 2 porque reduz - como auxiliar - lipídios e glicose. A mágica não acaba aí, pois o poder antioxidante - como são flavonóides - está presente!