segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O dia em que a Terra encontrou a água...

Nesse final de semana minha alma foi brindada com um evento que me fez retornar ao espaço sagrado de minhas mais profundas alegrias internas, que estavam, há tempos, recompondo-se dos desafios que eu mesma escolhi para essa encarnação.

Não voltava ao mato - meu habitat natural - há quase um ano e, providencialmente, por força de uma conspiração cósmica incomum (dessas de filme de cinema mesmo), fui presenteada com um convite para ir a um local em que a água encontrava a terra.

Poderia ser apenas um evento esportivo, se não fosse um detalhe muito sutil, mas divisor de águas: trata-se de UM evento esportivo que toma como base a lama, muita lama, um espaço limítrofe entre o elemento Terra, componente que nos esteia em raiz, na determinação, e o elemento Água, solvente universal, império da emotividade, do onírico, do universo sagrado da transparência e da limpeza.

O que dizer desse encontro magistral, feito embaixo de muita chuva?

O que isso trouxe de profunda meditação? No sábado, enquanto estávamos sob a tenda, no escuro, rindo às veras, ouvi uma moça perguntar "é isso aqui?". Abençoada moça que, no auge de sua curiosidade, fez a pergunta que simplesmente focou minha alma para o extrapolamento dos limites do que seria, para mim, o contato com a lama...

A lama é o encontro sacral entre a firmeza da Terra, sua rigidez e determinação, com a fluidez da Água lânguida que, transpondo obstáculos, espalha-se gentilmente por onde quer que vá, formando novos contornos e modificando a Natureza por onde quer que passa.

Vendo os jipes, um a um, transformando a Natureza e sendo por Ela transformados, o coração entoou na lição da lama a superação da cisão entre os dois vetores que poderiam ser incompatíveis, se não fossem, ao final, complementares.

Quando a sisudez da Terra encontra a fluídica Água, o resultado é a flexibilidade, a elasticidade, a plasticidade da lama, que nos lembra do caminho do meio, o equilíbrio exato entre a determinação, a rigidez e a firmeza de propósitos (Terra), com a emotividade, a fluidez, a transparência do universo sagrado do onírico (Água).

Nem lá, nem cá, mas na sutileza de, no contato com o ambiente, dançarmos na lama, que nos desafia diuturnamente a não sermos tão austeros em nossas vidas, mas também não tão espargidos emocionalmente. O espetáculo!!!

Quando fui embora, meu jipe atolou e esse episódio trouxe muito mais do que a percepção sobre a técnica, trouxe a valiosa lição de como necessitamos viver nesse e em outros mundos.

Se aceleramos incontinente, cavamos buracos na lama fofa e, com isso, não saímos do lugar em que nos encontramos. Mas se, pouco a pouco, aceleramos menos e giramos a direção de nossas vidas - a nau de nosso tempo no aqui e no agora - saímos e ocupamos um mar - sim, esse lindo mar de lama - de possibilidades na vida.

O mais interessante nessa experiência foi perceber que não estou sozinha... No momento em que a tensão e o medo bateram à porta, vi, lá no horizonte, uma pessoa disposta a sair de onde quer que possa estar, para me ajudar a desatolar.

Aquele "empurrãozinho" que nada teve de básico, pois, sem ele, provavelmente eu teria demorado muito mais para fazer o que, ao final, iria fazer: prosseguir. A questão, contudo, reside aí, em perceber que, ao lado de alguém, podemos nos superar e, na superação, evoluir. "Todos precisamos de um co-piloto": essa foi a frase genial que nunca mais retirarei de minha mente diante da benignidade que um passeio na lama trouxe para minha sina.

A solidariedade e o amor, enfim, são a tônica que embalam um passeio no mar de lama, fazendo com que a vida, para nós, possa ser muito mais uma grande teia cósmica de encontros e amores do que o mero pertencimento a um corpo físico no momento. Eis o sentido de estar no aqui e no agora: viemos para AMAR, nada mais...

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