domingo, 16 de novembro de 2014

Do pau-brasil à Hy-Brasil: as brumas míticas dos locais sagrados para os antigos celtas

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Não é novidade alguma toda mitologia se firmar em uma dicotômica divisão do mundo: físico versus espiritual, bem versus mal, visível versus invisível. Boa parte das culturas - ocidentais ou orientais - sempre contrapõe dimensões, espaços ou locais físicos que se mostram como uma espécie de "além-mundo" perceptível e sensível, portais de acesso a outras realidades imperceptíveis aos olhos céticos.

De um lado subsistiria o mundo palpável e ordinário, visível e táctil. De outro, um universo mágico, geralmente alcançável após uma árdua expedição na qual se realizam verdadeiras "provas de fé" e coragem aos guerreiros e às guerreiras [basta lembrar que na mítica celta geralmente as provas eram compostas de uma tríade de esforços, exigindo muito esforço de quem se arvorasse da missão].

Avalon é exemplo disso: ilha de sacerdotisas que resguardam o Rei Arthur até o momento em que a Inglaterra dele mais necessitar. Ou, ainda, lar sagrado dos segredos mais ocultos da humanidade e local de descanso no além-vida para alguns segmentos do paganismo (Terra da Maçã). Os sídhes também, como moradas invisível em montes, picos ou montanhas habitados na Irlanda pelos filhos da Deusa Dana após da tomada da Ilha Esmeralda pelos formoire.


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Muito se fala e já se falou sobre Avalon: hoje desejo compartilhar algumas ideias sobre Hy-Brasil - a ilha fantasma - outro local sagrado para os irlandeses e que supostamente teria dado azo às especulações sobre nosso país, Brasil. Seria uma mera coincidência atribuir ao país específico nome? 

Os livros de História do Brasil costumavam trazer a origem do nome do nosso ilustre país atrelada à madeira que os portugueses encontraram no litoral (pau-brasil). Após um suceder de nomes - Ilha de Vera Cruz, Ilha de Santa Cruz - a nomenclatura "Brasil" quedou mais condizente com a natureza aqui encontrada (que serviu de inspiração), pois teria sido o pau-brasil a fonte de inspiração (mesmo diante da coincidência de, em Portugal, bem como na Espanha , redutos celtas, essa lenda ser de conhecimento geral).

O que poucas pessoas sabem, contudo, é que no século XX essa versão histórica começou a ser contestada e difundida, principalmente pelos autores Adolfo Varnhagen e Capistrano de Abreu, coligando Brasil à ilha mágica próxima à Irlanda, lar de fadas, bruxos e magos.

Na mitologia irlandesa, Hy-Brasil - também é conhecida por Hy-Breasal, Hy-Brazil, Hy-Breasil, Breasil ou Brazir - era uma ilha envolta em brumas e somente acessível durante sete dias por ano, ocasião em que a névoa baixava e deixava à mostra uma terra linda, repleta por uma vegetação abundante, rios, cachoeiras e fertilidade. 

Para os irlandeses, quem conseguisse tocar uma porção sequer da ilha viveria eternamente, fato esse que levou muitos navegadores à busca por Hy-Brasil, sem , contudo, sucesso. A historicidade cartográfica traz relatos de navegadores que já teriam encontrado a ilha flutuante, habitada por sacerdotes conhecedores dos segredos ancestrais da criação do mundo. 

Etimologicamente Hy-Brasil teria vindo do tronco do irlandês arcaico Uí Breasil [Í= ilha], a designar o clã antigo do rei Breasal [Bres = grande, belo, magnífico], local escolhido para descanso do rei após sua morte (reforçando a ideia sobre tais ilhas serem residências póstumas. 

Isso reforça a tese de Hy-Brasil ser uma segunda morada dos deuses Tuatha no Atlântico oeste (no que os irlandeses tanto veneram como "a terra do pôr do Sol", ou, ainda, de Tir na nÓg, terra da juventude eterna (ou terra da promessa, dos vivos, ilha verde etc).

Existem relatos medievos sobre a catalogação de tal ilha, informação conhecida, inclusive, pelos navegadores portugueses, pois até mesmo Cabral alegou ter passado pelo ilha no trajeto para cá. 

Antes dele - em 1497 - John Cabot já havia encontrado a terra, sempre mencionada geograficamente estando a sudoeste da Irlanda (por acaso - e não é acaso, o Brasil está situado nessa posição). No séc. 17, Alexander Johnson e sua tripulação também teriam encontrado a ilha, tendo desembarcado lá e conversado com moradores locais, de quem receberam presentes. 


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Para o mundo mágico, estamos assentados na própria ilha, quer seja por sua "descoberta" providencial, ou, ainda, pela nomenclatura sincronicamente articulada com a vegetação que, diga-se passagem, lembrava o verde esmeralda da Irlanda. 

Disputamos, contudo, o título, com a Groenlândia, outro paraíso verde esmeralda, em posição cartográfica idêntica em relação à Irlanda e dotado de uma força mística e telúrica imanente. Brasil ou Groenlândia? Não sabemos, pois a força vital e as egrégoras que promanam desses dois países alimentam ambas versões. 

De outra sorte, se Cabral estava ciente e preordenado a encontrar o lar de Breasil não sabemos, mas as incertezas em relação ao percurso, bem como as informações que hoje colocam em xeque-mate a ingenuidade do acesso à terra findam por reforçar a crença de ser a ilha fantasma bem mais real do que se possa imaginar.  


Fáilte, Hy-Brasil!