segunda-feira, 2 de agosto de 2010

As calotas interativas...

Quão profundos são os vínculos firmados entre pessoas que se conhecem a pouco tempo?

Por mais paradoxal que possa ser, um relacionamento entre duas ou mais pessoas (um grupo, talvez) aparentemente marcado pela recenticidade e, claro, superficialidade que reside na descoberta, pode encobrir identificação ancestral, reconhecimento de afinidade que data de longa data, quiça séculos e milênios (quando se trata de almas antigas).

A identidade - quer seja de afinidade ou de repúdio - marca a descoberta, no Outro, de nós mesmos e mesmas, os espelhos de longas datas, que se projetam no hoje, aqui e agora, dando seguimento à tarefa evolutiva para qual nos predispomos em outros momentos.

Dentro da identidade, contudo, reside uma série de condicionamentos trazidos das vidas pregressas, bem como, claro, as lições aprendidas (umas na dor, outras na bem-aventurança). Sobretudo, trazemos na identidade um nível mais raso de interação com o outro, aquele em que depositamos o verniz em nossa essência e nos apresentamos - todos e todas - com máscaras.

Há quem diga - os psicólogos e psicanalistas adoram isso - que precisamos das máscaras para sobreviver, pois o ego não aguentaria a pancada. O mascaramento, dentro disso, seria uma couraça a possibilitar a criação de várias calotas identitárias em volta de nossa essência. Com ela - a máscara - sentiríamos um conforto e segurança ímpares, pois, no relacionamento com o Outro, seríamos nós a decidir o nível de aprofundamento e envolvimento de essências.

Será?

Será que realmente é necessário esse tipo de pseudo-controle?

Outra ponderação: é possível consolidar um relacionamento - qualquer que seja sua tipologia - em cima de um substrato que falseia o que temos de mais belo, a essência? Outra: usando máscaras permitimos ao Outro a escolha em desejar estar ao nosso lado?

Penso que não para todas as respostas.

A máscara - que tem vários graus, desde a mitomania total e completa, passando pela tipologia da omissão, que é um mascaramento sutil, porém, pernicioso - não permite espaço de liberdade algum, porque macula com uma aparência de verdade o que, de fato, não é real, em nível algum.

Mentira é mentira, omissão é omissão e, a bem da verdade, a omissão é uma mentira sutil que retira do mundo pedaço da verdade, tornando, assim, a história, tão irreal quanto a mentira obtusa mais explícita.

Não é possível conhecer outra pessoa e firmar com ela qualquer tipo de relacionamento lastreado em omissões, mentiras e máscaras. Esse tipo de relacionamento não é gerado, assim, entre essências, mas entre egos que, ao menor sinal de fogo - geralmente o fogo que desprende do descobrimento da verdade e o desmascaramento de situações - encampam caminhos distintos porque não conseguem, dali em diante, interagir depois do véu quedar descoberto.

O relacionamento egóico não alimenta ninguém - a não ser, de maneira vampiresca e equivocada - o ego que necessita de aprovação para se firmar no mundo. Lembrando sempre que o ego se enxerga como indivíduo, como parcela sensciente da centelha divina, e, com isso, tem horror à idéia de formar parte de um Todo onde não consegue se ver, enxergar-se e se posicionar.

Todos os relacionamentos iniciam no ego. Todo mundo "é gente boa", "do bem", "gente fina". Começamos com 100% de estima para outra pessoa. Mas basta a máscara cair e o ego se revelar que é o bastante para o espelho não suportar. Queremos, então, quebrar o espelho e modificar a imagem. A pessoa "nem é tão gente boa assim", ou, então "eu me enganei com aquela pessoa".

Não seria mais honesto dizer que nos enganamos com essa tipologia que criamos no auto-engano? Por não observamos nossa inerente hipocrisia em "deixar de lado" o que o outro traz de sombra e apenas focar o lado Pollyana? Acho que isso é importante.

O fato de ter consciência sobre si e sobre o que é o ser humano em sua inteireza traz a calmaria de se observar a movimentação - para á e para cá - do ego. Esse é um preço existencial que sempre pagamos porque estamos encarnados e encarnadas, no aqui e no agora. Olhar para nós e para o outro a partir de nós, esse é o ponto.

A partir daí não seria tão catastrófico interagir em nível superficial com outra pessoa: seria honesto, para ambas, porque, ao final, todas poderiam decidir fazer parte, ou não, de um relacionamento sincero, dentro do qual as máscaras deixem espaço para a transparência.

Quando aprofundamos o relacionamento, prospectamos também a alma do Outro, buscando dentro de seu repositório de memórias - em nível de campos energéticos - informações que se relacionam a outras eras, quando, em outras "configurações" físicas, encontramos as mesmas pessoas de hoje.

Esse passeio na abissalidade da alma, contudo, traz também a movimentação do ego que, temendo ser descoberto, blinda-se, novamente, e mais e mais, para que suas "pequenas mentiras" não sejam descobertas. Nada escapa, contudo, de uma boa psicanálise, de um bo terapeuta ou, ainda, de um bom sensitivo, porque o ego falha, não é diligente o tempo inteiro.

Na afoiteza ele se trai e deixa vir à tona a verdade que desejava esconder.

Qual o problema em enfrentar a verdade? Para o outro, nenhum, claro, conquanto esteja em consonância com a percepção divina de compaixão e amor. Mas para o ego, ah, o ego, enfrentar a verdade é sair do mar de rosas a que se propôs a navegar. É sair da zona de controle que acha ter na vida e sobre as pessoas. É sentir-se sozinho por achar que ninguém validará sua existência.

É consolidar, portanto, relacionamentos, relações e interações apartadas de sua essência, contentando-se com a aparência do visível e deixando de lado a invisibilidade etérea onde a verdadeira realidade acontece...

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