terça-feira, 10 de agosto de 2010

Pescadora de ilusões

Acordei embalada pela melodia...

Poderia resumir minha vida à música. Parar de falar e apenas cantar, pois, assim, eliminaria o resquício de incompreensão racional, para entender apenas com a alma. É o bastante, ao final.

Eis uma letra simples, curta e singela, disposta melodicamente em repetições, dentro no mesmo compasso, que se propaga rumo à eternidade. É, porém, de uma profundidade ímpar em apresentar um pescador que se lança com a isca para o mar de experiências de sua vida...

"Se meus joelhos não doessem mais diante de um bom motivo que me traga fé. Se por alguns segundos eu observar e só observar a isca e o anzol, ainda assim estarei pronto pra comemorar, se eu me tornar menos faminto que curioso. O mar escuro trará o medo, lado a lado com os corais mais coloridos. Valeu a pena eh eh, valeu a pena eh eh, sou pescador de ilusões. Se eu ousar catar na superfície de qualquer manhã as palavras de um livro sem final, sem final."

Minha vida confunde-se com o retrato heróico de um grande mar de possibilidades, que apresenta o medo ao lado da beleza contida na "dureza" colorida dos corais. Eles machucam, mas embelezam a vida, assim como as grandes pedras que se colocam em nossos caminhos também o fazem. Todas as pedras, ao final, tornam-nos mais fortes diante da aparente rudeza e dureza dos obstáculos.

A contemplação da isca, para mim, vem naquele momento em que para o tempo - se por alguns minutos - e me vejo dentro do processo de "pesca" de possibilidades e vivências que são um composè entre o meu artesanato como pescadora, a vara, que pode, ou não, ser feita por mim - mas foi feita por alguém - e a isca viva, que nada mais é do que a energia vital conectada a mim - numa simbiose - que vai abocanhar e ser abocanhad, atraindo as possibilidades do mar da vida...

Não, a isca não morrerá, ela não será destruída ao ser comida, mas, antes, compondo cada molécula de um peixe, confundir-se-á com ele, entranhar-se-á tanto no mar (feminino), como no peixe que sorve todos os nutrientes disponíveis naquela singela isca.

Apenas é possível perceber isso sendo mais contemplativo (referência ao "curioso" na letra) do que faminto (ávido em face do instinto de preservação e alimentação).

É a contemplação despojada e desinteressada em deixar fluir o instinto que alcança o sentido de apreensão da vida...Tudo isso com a coragem (ousar) de saber que a vida é um grande livro sem livro, porque ele, o final, é a imensidão...

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