terça-feira, 24 de agosto de 2010

O amor entre aspas

Às vezes nossas falas trazem desconforto para os entes queridos, que se sentem, de alguma maneira, atingidos ou tocados injustamente pelo conteúdo do que expressamos, apondo, dai à frente, a crítica ou a desqualificação, como se o que foi dito fosse de somenos importância...

"Viajamos", "a escreveção" incomoda, a acusação de vampirismo ingenuamente aparece, como se o interlocutor, em sim, também já não fosse um vampiro projetivo: tudo soa inquietude numa mente que não se conecta a algo maior do que seu próprio e enorme ego.

Inventamos desculpas.

Sumimos por vergonha, raiva, medo e, daí, sempre usamos a bonita alegoria do "tempo" porque, na pós-modernidade, ele virou bem escasso no mundo robótico em que nos fazemos amigos e amigas dos outros por virtualidades como orkut, twitter, facebook e outras formas.

Ah, sim, também colocamos a culpa em nossos trabalhos, pois, afinal, ele nos drena, massacra... A faculdade também. A universidade. Os estudos. Tudo nos massacra ao mesmo tempo em que paradoxalmente - talvez no afã de auto-extermínio, só pode - rumamos felizes e contentes para as baias onde o feno é empurrado para ruminarmos... Não nos posicionamos, romper é difícil...

Ao final, uma realidade.

O ego , esse "ente" curioso, que deturpa tudo ao seu redor e que não tem a menor paciência, julgando e alfinetando o tempo inteiro. Ele atropela e se arma. De dentro da couraça - que, para ele, é um lugar seguro - envia dardos de farpas porque, assim, quem sabe, consegue chamar um pouco a atenção.

Um bonachão esse bebê-ego!

Ele também maquina dentro da mente a mil por hora um vendaval de críticas, de modo que, ao final, mesmo desejando não ser só, o eguinho acaba afastando as pessoas que realmente desejam o bem...

Sempre tem as melhores intenções, num altruísmo que faria Madre Tereza de Calcutá, Gandhi e talvez Buda voltarem à Terra para conhecer tal pessoa tão dadivosa que, saindo de si, olha o outro incondicionalmente, querendo sempre com suas condutas, o "bem" de quem lhe é "querido".

Porém, de tão mal-resolvido, nosso amigo (já virou amigo) ego vocifera mantras inconscientes de malefícios...

E tem inveja da felicidade alheia, sempre que, de alguma forma, pretende se colocar no lugar ou na posição do outro, desejando, quem sabe, assim, um "cadinho" de bem-aventurança de quem está ao seu redor. Não se realiza com suas escolhas e, dentro disso, tenta viver um pouco por intermédio do outro, sempre, claro, "com as melhores intenções".

E assim, com tantas excelentes intenções, um dia, acordamos com um punhal cravado nas costas ou pendente na garganta, porque esse ser de luz, "com a melhor das intenções", atentou contra nossa integridade.

Traiu a casa e o teto... Cuspiu na comida que gentilmente lhe fora ofertada. O povo celta tinha um hábito, o de cultivar a honra de não "se atentar contra quem dá o teto para o descanso".

Um código tão forte que dava ao chefe da família o direito de morte em relação ao filho ou filha que fosse desrespeitoso com quem lhe desse guarida. E não ficava apenas restrito à pernoite, não. Bastava um café-da-manhã ou um ingênuo almoço para a obrigação de respeito e lealdade serem invocadas.

Quando leio isso e me deparo com a vida - como ela é - dou cambalhotas de risadas, percebendo o quanto de deslealdade, hipocrisia e falsidade instalou-se no mundo, minando as almas de pessoas queridas e caras a mim...

Por outro lado, nosso querido ego se esquece que a bem-aventurança é um estado constante de busca pessoal, que não pode ser compartilhada, porque, afinal, cada qual tem seu arbítrio, faz suas escolhas e define seu carma. Mas, acostumado à "bem-aventurança" de encher o pandulho - energeticamente falando - na casa amiga, nem se preocupa e acha, mesmo, depois, que não fora mais do que obrigação...

Mas ele quer, almeja, deseja, projetando-se na figura "admirada", sob a pecha de amá-la à sofreguidão. "Amor" que, de fato, é puro deleite da autoreflexividade do ego, que deseja "agregar" em suas gavetinhas tudo que puder engolir em termos de satisfação.

Alguns, de tanto engolir, ficam até no sobrepeso. Tentam emagrecer e não entendem a razão... Outros ficam no contraponto da anorexia, enxergando-se com o peso mas, de fato, minguando em plena luz do sol. Muitos outros têm dor de garganta, sinusite, gastrite, enfim.

Não me admiro mais, afinal, psicossomatizações ligadas à afetividade e à capacidade de "engolir sapos" e não digeri-los. Engolem porque sabem que uma vez por semana vão ao culto, à liturgia e se anestesiam, achando que isso é atingir a redenção orgásmica do Nirvana. Talvez um trabalhinho voluntário ou uma doação ajudem a compor a culpa...Sempre mascarando a realidade e se enganando, na espiral egóica do eterno estado de ignorância de si.

Depois de "tanto amor", basta um aperto, um questionamento em relação à máscara e à zona de conforto em que vivem, para o ego transmutar o "amor" em "ira", como se realmente amor e ódio fossem cara e coroa numa moedinha qualquer. Por isso amor está entre aspas e ira também...

Amor é pleno em si e não necessita complemento, verbal, nominal, verbo-nominal.

Não carece de conjunções, advérbios, porque, completo em si, exala o Todo. Muito menos cabe o "mas", porque, dentro do AMOR não existe qualquer tipo de condicionalidade...Eu o amo, MAS... Eu amo minha amiga, amo meu amigão, MAS...

Apenas reforços do ego para, mais uma vez, apartar-se e tentar reificar o mundo a seu redor, dizendo o que o agrada ou desagrada. Selecionando, acaba escolhendo a si na miséria da ignorância em que insiste em viver.

E os outros, nessa aquarela de uma cor só, devem honras e juras de obediência, pois, caso contrário, o eguinho dá show, chora, esperneia, mente e manipula, tentando salvar sua pele da fogueira de vaidade criada por sua imaturidade em lidar consigo.

Aff...

Como sei? Uai, simples, para isso serviram as experiências que tive e ainda tenho nessa vida...ou estaria eu acima do Bem e do Mal, falando sobre algo que já não tenha experienciado?

Portanto, com licença, pois existe muito mais a ser feito nesse Mundo maravilhoso do autoconhecimento... De asuras em minha vida, já basta o séquito que se formou à minha porta e que não encontraram "pouso". É a opção em dizer um retumbante NÃO!!!

2 comentários:

  1. Nossa Ale!!! Desde quando mudou o visual?? Adorei! Ficou mais leve! Mais fluido!

    Quanto ao texto, fiquei pensando muito no amor... no dito amor... O que me fez ponderar que não conseguimos sequer amar a nós mesmos...

    Quantas e quantas vezes nos desrespeitamos, machucamo-nos, enganamo-nos?? Na alimentação que sabemos que não é saudável, no exercício físico que deixamos de fazer, na relação pessoal e de trabalho em que deixamos de nos reconhecer, nos diálogos que nos desrespeitam por aceitarmos imposições ao invés de fazermos cessões de bom grado. E o que dizer da nossa bem-aventurança...

    Não digo que temos que fazer apenas o que queremos mesmo porque o que queremos nem sempre é desabonado do ego e das falácias do convívio com o que não nos faz bem. Mas fico pensando... Ainda não sabemos nos amar...

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  2. Ah, mudei tem um tempo, desde quando descobri que a mitomania projetiva também afeta os blogs...huahuahua...

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