segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O significado do triskle e a superação da dualidade

Segundo Pedro May "o homem comum gosta de vangloriar-se de qualidades que não possui mesmo quando acredita sinceramente desfrutar delas".

A percepção que a cultura romana tem de si gira em torno desse ufanismo de submeter demais povos à humilhação de serem considerados "inferiores" ou "pouco desenvolvidos" em relação aos "beneplácitos" da "civilização áurea" que se auto-intitula herdeira de Grécia e Roma.

Repletas de ranço androcêntrico e imersas num mar de ignorância em relação a tudo que diz respeito aos limites externos de nossos umbigos, torcemos o nariz para o que é desconhecido porque, acostumadas com a zona de conforto oferecida por quem foi o vencedor na História, sentimos segurança nas infomações apenas porque legitimamos a fonte.

Afinal, somos romanas e gregas, não é mesmo? Tomamos ambrosia, néctar e mel e nos refestelamos nos cultos a Dionísio, ao mesmo tempo em que achamos Eostre uma "pagã" malévola.

A dualidade sempre esteve presente na compreensão de mundo, desde a compreensão de reificação da Natureza, pois, destacadas dela e dotadas de racionalidade, arvoramo-nos do benefício de subjugar o que coisficamos.

Criamos o binário bem e mal que, segundo Nietzsche, diz respeito apenas a uma categoria apropriada pelos "bem-nascidos" que, enxergando a si como nobres e bons, marcaram indelevelmente os outros com a chaga da maldade.

Um ethos religioso marca também o binário, quando setoriza um mundo em estado de vigília bélica constante, dentro do qual o ser humano, cingido pela mácula de um "pecado original", encontra-se condenado a se posicionar entre céu e inferno, num reducionismo cartesiano bem aproveitado - anacronicamente - na liturgia do apocalipse.

Eis a arrogância de se vangloriar em cima de "desonra", pois, a bem da verdade, nossa "civilização greco-romana" se fez à guisa de opressão e expurgo de culturas que julgavam distintas. Com visões de mundo distintas. Com modus vivendi diferenciados.

O triskle, dentro de toda essa percepção de mundo, marca a transposição da dualidade. Cada ponta da rosácea possui um significado desconhecido para a (in)compreensão "oficial" de um Ocidente que se penitencia binariamente na chicotada e acha que, fazendo isso, sairá do "purgatório" existencial de suas maiores misérias.

No triskle, o ser humano transcende até se libertar do conflito interno das forças poderosas - podemos chamar de Bem e Mal, pois se trata de dualidade, enfim - mas, compondo o tripé, elenca, ainda, a Indecisão, a "hora indeterminada" entre dia e noite, que lembra o momento derradeiro da Escolha em relação aos caminhos, ou, ainda, a dinamização de outra possibilidade diante de tais caminhos.

Assim, longe de uma "planificação" simplista de bem e Mal, a cosmogonia celta destaca-se da religiosidade "oficial" do Ocidente, por situar o ser humano num continuum de movimentação maior e mais complexa do que a oposição dialética. Trata-se de uma visão de caminho do meio, que não se confunde, por outro lado, com a percepção oriental de parte da filosofia budista, por razões óbvias.

O triskle, quando em movimento rotatório, converte-se no círculo...Para bom entendedor, pois, meia palavra basta!

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