domingo, 19 de setembro de 2010

O fogo na Chapada e a transmutação do coletivo


Acabei de chegar da Chapada, tendo acompanhado um espetáculo da Natureza, materializado em labaredas de fogo a consumir alguns cinturões de cerrado. O fogo estava espalhado por muitos lugares, sempre alimentado pelo elemento ar, porque, afinal, o ar é o veículo de espargimento das chamas, além de ser comburente que reage com o carbono. Daí o ditado hermético que "ar alimenta o fogo"...
De início, coloquei-me muito reflexiva, pois, enquanto passávamos por corredores de fumaça e aspirávamos um ar com muita densidade, pensei que tudo estaria caminhando para "um fim", sem, contudo, perceber que o fim contém, em si, sempre a possibilidade de começo.
Isso porque, como bem sabemos, o cerrado é o bioma mais resistente e que mais facilmente se regenera, dentre tantos outros biomas. Uma verdadeira Fênix, que ressurge literalmente das cinzas, erguendo-se em meio a tanta adversidade.

Enquanto conversava hoje com uma dessas "almas de luz" que transitam entre nós, obtive uma síntese - talvez a mais perfeita - até agora, do que representa esse caldeirão ebulindo em plena seca.
Foi quando estávamos em um local sagrado chamado Vale Dourado http://www.valedourado.com/web10/valedourado, cerca de 12 km de Alto Paraíso, local onde se pratica boia-cross, um deleite para a alma que deseja se espreguiçar no balé de uma corredeira...
A prosa estava tão boa que, a certa hora, nem bem sabia se havia ido para lá para nadar na água cristalina, ou, ainda, (re)encontrar figuras tão ilustres como os habitantes do local. Sei apenas que me encontrei com um gentil cavaleiro e, com ele, conversei sobre coisas do céu, da terra, do ar, da água e de todos os elementos alquímicos. Um passeio!
A certa hora, ele me disse que o fogo, ao contrário de trazer sofrimento pela "destruição do cerrado" e além de não ser culpa de ninguém, é, ao contrário, a possibilidade de transmutação de tudo. Ele me disse, ainda, que poderíamos aproveitar para "jogar na fogueira" tudo, para a transmutação.
Isso ficou em mim como uma grande lição, assim como tantas outras que aprendi com ele, numa conversa que parecia não ter fim, tamanha a sensação de bem-aventurança que me invadiu após o contato com alma luminosa.
Os anjos são assim mesmo, vêm e vão, trazendo com a palavra o ensinamento despretensioso, mas que adere ao espírito e depura a alma, convertendo em aprendizado até mesmo as mais duras aparências de sofrimento!

Quando saí da Chapada e vi mais cinturões de fogo, confesso, depois da sensação de perda em face da destruição ígnea, meu coração se apascentou, porque me lembrei dessa maravilhosa lição de vida, para ver no bioma o renascimento, e celebrar no rito cósmico de lançamento do que desejo depurar na "fogueira".

Dali adiante tudo se converterá, como sempre, na elevação da alma para o alcance das dimensões mais inimagináveis...

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