quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O vestido de carne e a Lady Gaga


Eu nunca havia ouvido falar em alguém chamada Lady Gaga até me deparar com uma epifania cinematográfica que tomou o holofote na noite de entrega do Oscar.

Tá, tudo bem, já tem tempo isso, mas ando tão desconectada disso que a notícia veio à tona em meu universo deliciosamente autista apenas agora, quando abri uma nota de rodapé sobre o famoso "meat dress" que a cantora (?) usou na noite faraônica.

Feito com 11 quilos de carne argentina, especialmente "cortada" (poderia dizer em outras palavras, vinda de um animal "especialmente assassinado para satisfazer nosso desejo por ingestão de substância putrefata") para o evento, ao custo de módicos U$100,00, consta de algumas reportagens que "cheirava mal", além de chocar a comunidade vegana e vegetariana.

Um detalhe, contudo, chamou minha atenção em relação ao evento e, de fato, não sei se decidi postar algo por outro motivo que não tentar compreender o que o vestido e sua utilização significaram para a moça.
Particularmente não me atrai a estética da decomposição em detrimento da vida que é ceifada, mas, de fato, intriga-me uma frase comentada por ela numa entrevista para Ellen Degeneris que, nesse dia, presenteou Lady Gaga com um vestido vegano.

"Se não defendermos nossas ideias e se não lutarmos pelos nossos direitos, logo teremos tantos direitos quanto carne sobre nossos ossos. E não sou um pedaço de carne" - expressou a moça. Daí meu diálogo com a subversão a uma dimensão de estética, ao mesmo tempo em que se arranha outra, a da coexistência estética com a preservação de direitos, sejam humanos ou ambientais.

Não sei, realmente, o que isso significou para ela, considerada e tida, por muitos, como uma "transgressora". Estou pensando nisso até agora.
O vestido não me agradou, por conta das minhas convicções em relação a matar um boi, mesmo que ainda eu seja extremamente hipócrita e incoerente ao voltar a comer peixe. De qualquer maneira, penso, acho que estou num espaço de fala confortável - no lá e cá do questionamento interno sobre matança, de modo que a reflexão, aqui, é bem oportuna.
O que me intriga é a repulsa que gerou em mim, pois denota a intensidade com a qual me identifico com a situação, pois, longe de passar como um momento de respeito à opinião da moça (mesmo que, sem saber - ou sabendo - ela também esteja desrespeitando a dos outros), olhar o montante de carne em cima dela me fez contemplar minha própria miséria enquanto ser em constante estado de putrefação.
Será?

Nenhum comentário:

Postar um comentário