quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dia de sol, dia de chuva

Os ciclos da Natureza estão aí para serem experienciados, não necessariamente compreendidos ou dissecados pela nossa intensa "fome" de conhecimento "racional", que mais parece um saco sem fundo - e sem respostas!

Aqui no cerrado a chuva está se preparando para cair, é o que basta. Basta para as aves, que estão procurando abrigo nas copas e nos ninhos. Basta para as árvores de caules entortados, que retiveram sabiamente o líquido prateado, mês a mês de seca, calor e frio, para, agora, poderem repor seus reservatórios internos com o bálsamo para a próxima estação de seca.

Basta a todos os reinos...por que, então, não basta ao nosso?

A moda por aqui, em dias de pré-chuva (sim, uma garoa tem sido o abre-alas da estação das águas que exsurge), as conversas emergentes nos arredores da cidade têm sido, quase sempre, um festival de esquizofrenia. "Ai, que droga essa chuva, vai estragar meu cabelo!" - ouvi de uma alma com formol no cabelo, pois, segundo consta da pauta de "embelezamento", após a escova progressiva não é "de bom tom" o cabelo pegar chuva.

Não entendo, então, qual é a desse povo, pois, uma hora, conclama chuva, outra, tripudia dela, em torno da ideia egoica de não poder pegar um respingo por conta de um cabelo alisado às custas de formol, uma substância que, aderida ao corpo e cujos resultados nos são desconhecidos, pode intoxicar e matar.

A eterna insatisfação humana com os desígnios da Natureza que, afinal, não está nem aí para quem deseja controlará: é arredia, inalcançável aos dedos escorregadios de uma humanidade que fez questão de se desplugar dela.

Penso que o momento de "retorno" em todos os movimentos reconstrutivistas e reconstrucionistas - druídico, celta, pagão etc. - marca, de certa maneira, a tomada da consciência em relação à vivência de uma vida integral, holista, não mais fragmentada em torno da ideia de dominação da Natureza.

Enquanto pensava nisso, vi-me perdida, ou achada, em contemplação, olhando o céu e suas nuvens, avisando que, dali a pouco - falta pouco, muito pouco mesmo - o elemento égua brindará nossos corpos aquecidos com sua profusão de sensações.

O céu está acinzentado, a temperatura caindo e a umidade, outrora em torno de 5%, começa a subir. Momento propício e auspicioso para verter água dos portões das casas das linhagens ancestrais de todas nós...

Que venha a abençoada água, que venha o elemento primordial do útero da Grande Mãe, derramando sua emotividade em nossos corpos e cabeças!

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