quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Guardando nas caixas a alma repleta de memórias

Toda mudança de cidade traz em si a temeridade do devenir, pois a mudança mexe com nossa própria alma, revelando a superveniência de um novo que não sabemos, ao certo, que formatação terá.

O futuro fecundo de possibilidades manifesta-se na singeleza das várias escolhas que trazem dores de exclusão, umas das outras, lembrando-nos de que somos, enfim, senhoras de nossas maiores alegrias e maestrinas de nossos atropelos.

Guardamos dentro das mais variadas caixas nossas memórias revisitadas pelas sensações das lembranças que nos invadem, pouco a pouco, desejosas que ocupar o espaço dentro de cada um dos locais de armazenamento. Com elas recheamos o caminhão da mudança, confiando que, em um novo lugar, quem sabe, o aroma da novidade ocupará os espaços que não foram preenchidos nas caixinhas para onde enviamos nossa ancestralidade...

Em pleno movimento de mudança, encontro-me em silêncio, reclusa em meio aos pensamentos confusos e contraditórios, buscando apascentar um coração que está pulsando em matizes ininterruptas de sofreguidão sem fim, ao mesmo tempo em que gesticula a paz interna em que se estabelece quando se sente confortável e seguro.

Em meio a tantas sensações emaranhadas, as caixas que pretendo usar escapam de minhas mãos, pois, talvez, em meio a tanto medo, elas teimem em querer ficar por aqui, deixando-me sozinha com minhas ideias de evasão.

Teimo em tentar encaixotar tudo diante de mim, mas, certas lembranças não podem ser simplesmente condicionadas ao alvedrio de um sentimento de apropriação. Nada, enfim, é meu, pois, fazendo parte de um Universo em mim de tantas escolhas, perco-me em meio aos pensamentos, para me achar como centelha esfuziante, talvez, quem sabe, uma estrela em meio a um céu que criei para ocupar o centro.

Encaixotarei a mim? Pouco provável, porque, habitando a abóboda de um caminho que cintila, não posso condicionar a luz a um espaço qualquer... Contento-me em colocar em poucas caixas ainda menos memórias, para que possa, em cada passo de minha digna vida de andarilha, lançar-me à coleta de mais experiências vívidas, para permanecer imortal aos olhos de minha sina de me encontrar.

Não tem, mais, pois, o destino incerto, pois, de tão igualmente incerta minha provisória maneira de ver o mundo, contento-me em ser como um filete de água que se amolda por onde quer que passe, encontrando, enfim, outros filetes, para formar, ao final, a torrente caudalosa que desfaz espaços e cria outros tantos...

Eis-me aqui, encaixotando o que posso, para me lançar, dali adiante, no vasto desconhecido que me espera, de braços abertos e de mãos dadas, passo a passo, com o embalo da sofreguidão de minha essência, que se esvaiu em milhões de supernovas!

Um comentário:

  1. Tenho um presente para vc no meu blog
    http://wwwjaneladaalma.blogspot.com/2010/11/selo.html
    abraços

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