domingo, 14 de novembro de 2010

A estrada em um dia lindo de chuva...

Brasília fica, mais uma vez, para trás, perdida em meio às tantas águas quedadas que tentam, com sofreguidão, aplacar a minha ânsia de resistir à impermanência, pretendendo, em nome dela, fazer-me rebelde na versão do outro que reside em minha própria alma...

A chuva, fina e forte, sela meu destino de ruptura com a mística pulverizada do sentido que a compreensão de alguém tenta impingir a mim. Quem sabe, ao certo? Eis-me aqui, eu, impingindo, na frente do espelho, resgatando os fragmentos de alma que foram espalhados por aí. Poderia a água amalgamá-los, todos, novamente? Poderia compreender a mim projetando-me no deslinde alheio? Não sei, pois, por agora, nem perguntas, nem respostas, oferecem a mim o resíduo da zona de segurança que meu ego temeroso ainda insiste em agarrar.

Não sei de nada, muito menos de tudo, um pouquinho, quem sabe? Também não. Nem interrogação existe mais dentro de mim, pois enquanto nos movemos rumo ao desconhecido, as nuvens negras na estrada aceleram o coração que teme. É o sentir no aqui e no agora, na caótica resistência que a experiencia me revela que se postra o calabouço de um labirinto de onde, por vezes, exsurjo.

E o coração? Teme a si, teme o nada, teme o todo. Teme, e, temendo, queda silente, pois, quando fala, assusta...Quando cala, morre, perecendo, com ele, o que existe de mais puro e belo em essência.

Teme e, de tanto temer, navega, por vezes, em direção a si mesmo, rodando em círculos, numa vacuidade nem sempre etérea, mas que se desola em meio ao turbilhão que invade a mente.

Aumenta o compasso da chuva, desacelera o carro e pulsa, agitado, o coração que se vê imerso no mesmo horizonte negro das chuvas que, dentro da minha alma, vociferaram pela mudança. A pista revela a estrada sem fim, em uma nebulosidade que se confunde com o retrato de um dia sem sol, que promete, contudo, ser o porto seguro, porque chuva e sol são apenas as opções de maravilhas que a Natureza oferece de opção.

Por que escolhemos o Sol? Qual o problema de um dia de chuva? Seria tão assustador lembrar que o desconhecido narra o que ainda pode se revelar dentro da calmaria interna?

O antigo lar, aos poucos, fica para trás, na presença reveladora da chuva. O novo se apresenta como o indecifrável, pronto a me devorar - não me importo - mostrando-me que minhas couraças nada valem diante da magnitude de um dia de intensa chuva.

Os contornos de meu novo lar despontam, lá na frente, numa abóbada de intensas cores, fagulhas de cores que, mesmo embaixo d'água, trazem para a superfície a contundência do que espontaneamente advém do impulso colossal de minha alma. Surge a cidade, o alto da cidade alta, num Alto Paraíso que se faz Goiás, concretizando a via láctea em minha casa interna.

Sinto-me em casa, sinto-me segura, sinto-me distante de tantas ilusões que minha doce mente gera, o tempo inteiro, pegadinhas incertas de momentos incertos, que nunca povoaram canto algum a não ser o imaginário de minhas maiores mazelas.

Sinto a presença do arquétipo deídico, a energia colossal da fêmea incompreendida, mas que peleja, mesmo diante do implacável, para se fazer enxergar. A miopia, afinal, acomete a todos, ainda mais os que acham, diante de suas torres de segurança, que enxergam longe, mesmo que a referência seja, nesse grande "longe", o espaço diminuto de seus próprios umbigos...

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