quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Egotrip da ilusão

Sabe aquela paixão avassaladora, tão avassaladora que chega a ser redundante em face do que é paixão? Pois bem, embalada numa dessas, penetrei numa egotrip digna de um filme de Stanley Kubrick... ela começou insinuante e ingênua, descomprometida e dócil... Seduziu pela aparente leveza, regada a desejo e vontade. Mútua vontade de devoramento...

Voraz apetite que cercou os indóceis amantes em um embalar de teias que, ao final, enredam-se em suas próprias mazelas existenciais. O torpor da paixão outrora profunda cedeu espaço para a superficialidade do encobrimento do outro, a partir da completa falta de propósito com si mesmo.

Comigo... mesmo...caindo em ciladas da mente condicionada, por vezes, nas aguras das relações dissimétricas de gênero que tão arduamente labuto contra.

Sim, pus-me na boca da guilhotina e, confesso, a lâmina somente não penetrou minha carne porque a alma, tão sucateada e malhada pelas experiências anteriores, empurrou-me escadaria abaixo, fazendo com que eu saísse do cadafalso de minhas armadilhas, não sem antes deixar verter um pouco, que seja, do sangue que seria derramado.

O filete rubro coloriu a escada, mas não foi o bastante para retirar de minhas entranhas o que persiste como fogo flamejante que acena a paixão pela vida. Pelo movimento, pela fluidez...a verdadeira fluidez, posto que não regrada pelas instituições que, por expiação, poderia distrair minha mente do que realmente importa: PERMITIR A CHEGADA DO AMOR...

Uma relação pós-moderna de descompromisso não está imune ao recorte de gênero, principalmente quando um dos participantes não se vê fora de si e, com isso, no automático, age no mais perfeito estado letárgico de reprodução da mesmice existencial do descaso patriarcal para com a ludicidade telúrica do feminino expoente...

Quando, ainda, age no estereótipo de pseudo-libertário, o viajante da egotrip, então, perde-se em si e, achando que está fluindo, perde-se no sentido do que entende de si, um ser sem sentido, num mundo sem sentido, condicionado apenas pelo propósito de escapar de tanathos por meio da apologia do id...

Doce id que, aos poucos, tenta seduzir o superego forte do indomável guerreiro, que intercala horas de atrocidade beligerante com o desarmamento amoroso do carneiro que se entrega... O forte e pesado soldado se ergue, lutando contra a areia movediça de seus recantos mais profundos, cuja dor ainda lacera e, de tão intensa, permeia os poros e se revela, no cheiro, para quem quer que aguce os narizes sutis do etéreo. Do não dito. Do que está escrito num rincão confinado no além-mar que o guerreiro bravo deixa embaixo do tapete, para que ninguém nele pise.

Pisar no escondido desvendado é espezinhar o calo doente...que doi...e, na dor incauta, produz a apatia de quem não se permite desvendar os mistérios do outro, porque, afinal, num mundo pós-moderno, os relacionamentos são como queijos na prateleira do supermercado: debruçam-se à escolha do freguês que vibra na lei de Gérson: ele vai lá, sem ninguém ver toma um pedaço, olha para um lado, para outro, pega um "tiquim" e, na maior cara-de-pau, devolve para a prateleira, na esperança vã de estar predisposto a experimentar todos os queijos disponíveis no mercado...

Nenhum comentário:

Postar um comentário