quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Entre sedas, flocos e algodões: o eterno retorno ao sentido

Fonte da imagem: https://sementeperegrina.files.wordpress.com/2008/06/femeassaggradas.jpg
Sabe aqueles dias em que olhamos à nossa volta e percebemos ser necessário retomar antigos caminhos que remontam à felicidade de outrora, aquela que findamos por afastar? 

Simplificando essa pergunta extremamente "filosófica" para alguns e a contextualizando mais abertamente: quando olhamos no espelho e observamos ser necessário recompor a alma? 

Escrevendo o "O" com um copo para clarificar ainda mais: sabe quando olhamos o guarda-roupas (no caso, a arara de roupas) e percebemos uma tonelada de roupas que são lindas, pinturas de Monet, mas A-B-S-O-L-U-T-A-M-E-N-T-E nada a ver com nossa autoimagem?

E, pior, olhamos para a outra arara (contendo as roupas vistas pelas pessoas como demasiadamente simples, hippies, desleixadas e outros adjetivos) e vemos ali uma verdadeira era da inocência, momento de contínua felicidade lúdica? 

E quando, depois dessa síncope, olhamos ambas araras ao mesmo tempo e temos a leve sensação de marejamento dos olhos e aperto (ainda que leve, por mero orgulho) no coração?

Pois bem...

Acredito piamente que, nessas epifanias, acabamos por descobrir, talvez, que nossa alma sai de férias e, no lugar dela, entra alguma entidade fashion week, ávida por se apropriar de um corpo e se deleitar às custas de nosso esboço de aceitação social e satisfação da alteridade.

Quando isso acontece, perdemo-nos em meio a justificativas do injustificável, repetindo para nós mesmas, bem para os outros, que se trata de um "novo eu", ou, numa pegada antropológica, de uma imersão no horizonte nativo a desencadear ricas experiências de vida.

Até escrevemos postagens a respeito!!! [ainda bem que o post em questão, chamado Entre algodões, sedas e brilhos: O Sagrado e o Feminino na flutuação etérea de nossas vestes, sintetiza uma perspectiva que não está necessariamente atrelada a UM estereótipo de indumentária, ainda que a motivação, à época, tenha sido alimentada por isso].

Sem olvidar disso - pois as experiências são realmente ricas - fugir rapidamente do prumo da alma tem sempre o condão de reafirmar alguns valores e paradigmas, bem como, claro, modificar sempre algo dentro de nós. Isso é inquestionável. Mas, o que me pergunto aqui é: até que ponto as extreme makeover soluções incorporam estados legítimos de honestas transformações de alma?

A resposta sempre é difícil a priori e, não-raro, apenas chegamos a alguma conclusão DEPOIS do processo ter desencadeado alguma perda que, mais adiante, finda por arranhar a alma. Sem problemas, pois, afinal, nunca descobrir e viver o autoengano é bem pior do que chegar à conscientização em alguma parte da trajetória. 

Mas, voltando ao ponto: como saber? 

Simplificando bastante a problemática, não é difícil perceber pequenos sinais que se avolumam e, posteriormente, transformam-se em bombas-relógio cuja implosão se condiciona à agressão contínua e recorrente à alma.

Tentando ser pragmática, alguns sinais simples...

Quando o mundo inteiro - I mean, the whole f...g world - de pessoas fora do seu convívio íntimo, viram para você e dizem que agora, somente agora, ao colocar uma roupa mais cara e decotada, você está linda, desconfie. Desconfie e desconfie mesmo, pois, ali, sua alma está se preparando para zarpar e dar lugar à entidade fashion week mencionada.

Isso porque, quem o/a conhece em seus valores de vida, bem como em termos de paradigmas, sabe que, ao final, você está bem ao incorporar, em sua rotina cotidiana, a forma de pensar e viver a vida. 

Roupas, acessórios, caras, bocas e cabelos são a resultante plasmada no mundo físico de ideologias que trazemos em nosso imaginário simbólico, linguístico e hermenêutico. Aqui vale a boa máxima de Hermes, adaptada para "o que está dentro está fora". E não o contrário. Não é a roupa que - de fora para dentro - determina quem somos. Nós é que a definimos de acordo com o que sibila dentro de nossa alma. 

Como resultado, outro alerta: quando a forma de vestir publicamente destoa da maneira com a qual, em seu cotidiano, você se arruma, sinal de polaridade e dissitonia por aí. Eu não vou falar bipolaridade (desisti de estereotipar) porque decidi não patologizar esse estado, mas creio que seja algo bem por aí.

Vestir-se é se expressar identitariamente... 

Com isso, destoar em termos de usufruir de um Versace num pólo, para pular, noutro ponto, para a sandalita da Feira da Torre de TV, sustentando ambos em um sincretismo alla brasileira (aqui tudo é eclético, misto e relativo, numa forma de não se ter posição ou opinião definida por pressuposto ético, é a constante cívica) é outro forte sinal de fim dos tempos. Pegue o banquinho, faça seu chá e, tal qual os monges no filme 2012, espere a tsunami porque, por certo, o cerrado virará mar. Impraticável!

Não estou aqui criticando as nuances de quem oscila circunstancialmente de um ponto a outro, mas alerto para a incongruência discursiva, quando a base da experiência de vida consiste em refutar estilos de vida incompatíveis com a ideologia que se abraça como fora de explicar e viver o mundo.

Quando comecei a descobrir que o tempo na frente do espelho estava sendo maior do que os momentos de deleite com minha família, comecei a questionar esse estado de latência em que insisto em me colocar de tempos em tempos. Acordar com o rosto e os olhos inchados pela maquiagem que traz reações alérgicas foi outra forma de resgatar minha alma para o realmente importante. 

E me lembrar de que a roupa é um estado de alma, consequência dela, e não o inverso, foi uma boa forma de enfrentar o problema. Sem deixar de mencionar a conta bancária que, por óbvio, não resiste a tanto saque inoportuno. 

Ah, sim! 

Roupas lindas, mas NUNCA usadas, pendendo nas araras e atravancando a vida são um sinal óbvio de inconformismo com o estilo. A ideia é simples: quanto mais se gosta de uma peça de roupa, mais se usa, não é mesmo?

Saltos? Detesto. Odeio. Trazem dor. Simples assim e ponto final. Sem comentários, ainda mais aqueles do tipo "para ficar bonita precisa sentir dor e se sacrificar", uma ode à beatificação de quem dociliza o corpo.

Tive um problema sério na planta do pé usando uma sandália de salto que, depois, em face do trauma, nunca mais ousei colocar no pé. Vou levar para o brechó onde negocio a preços justos (o Peça Rara) e compartilhar com quem deseja usar salto...ainda. No meu pé, não. Game over!

Minhas sandalitas baixas e estilosas da Torre de TV podem ser taxadas de desleixadas, pouco sofisticadas, enfim. Sei lá. Mas o que realmente me importa é que não chego em casa ao final do dia desejando pegar uma serra elétrica e amputar meu pé dolorido. Isso faz toda diferença na vida de uma pessoa que deseja qualidade no viver e que, ao final, não se importa com as opiniões alheias.

Aliás, quando descobri essa derradeira dica tudo se clarificou à frente! Foi então que reconduzi minha alma de férias em Cancún para seu lugar de origem: em mim. 

A primeira providência foi dar vazão ao volume de roupas acumuladas e não usadas, colocando tudo em uma sacola de viagem e levando para o brechó. Não vou ficar rica, muito menos recuperar dinheiro integralmente. Nem esse é o propósito. Dispender racionalmente meu dinheiro, sim. Bem como fazer melhores escolhas em relação à imagem. 

Farei o mesmo com umas bijuterias lindas, mas que nada têm a ver comigo!!!!

Sobretudo, uma grande lição: não me deixar abalar pelas convicções alheias, ainda que embaladas pela boa-fé. Afinal, são convicções das próprias pessoas e, por isso, podemos presumir que as estão dando de bom grado e com as melhores intenções. 

Agradecemos e seguimos o curso de nossas vidas, apaziguando nossos espíritos e nos voltando para a grande trajetória da elaboração de nossas marcas nessa vida. Isso, sim, faz toda a diferença!!!

E viva a diferença!!!!!


Fonte da imagem: http://files.dancandocomosdragoes.com.pt/200000336-1603016fcf/7907_1438686503023409_286055753_n.jpg









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