quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Os microclimas da alma

Andei esses dias pesquisando algumas definições para a palavra microclima, pois tive uma experiência que me trouxe a curiosidade investigativa necessária para compreender se iria empregar aqui um termo razoável para isso.

Pois bem, microclima é conceituado usualmente como uma pequena variação de um padrão climático vigente em determinado local, quer seja representando uma faixa distinta de temperatura, bem como precipitação, vegetação etc. 

Ou seja, um clima diferente do clima usual da região. 

Aqui no cerrado do centrão, o clima é seco, com árvores tortas e de raízes longas o bastante para captação de água em níveis profundos abscônditos na terra. Vegetação hábil a lidar com altas temperaturas e umidade baixa. 

Vegetação e clima sui generis, marcando duas nítidas estações: seca e chuvosa, bem lembrando a dicotomia que os celtas faziam em termos de verão e inverno (rs, tudo é celta na minha cabeça. Fazer o que?)

Estamos, porém, em idos de chuva, o que torna Brasília um verdadeiro tapete verde.

Dias chuvosos, outros tórridos. Oscilações de temperatura que trazem resfriados e alergias, além de um espetáculo que tive a oportunidade de presenciar.

Fui trocar o óleo do carro em um bairro mais distante da minha casa e aproveitei o tempo - 40 minutos - para dar uma caminhada até uma lojinha na qual gosto de me aventurar em minhas compras alternativas (o nome da loja é Canto dos Encantos, da querida Dorothy). 

Pois bem, em meio aos passos reflexivos - quase uma meditação caminhada - passei pela quadra 108 norte, especificamente na altura de uma praça -essas praças são aqui chamadas de "quadradões" - em frente ao bloco D.

Logo que cheguei às imediações, senti uma nítida distinção no clima e na vegetação, pois existiam árvores bem altas - estou falando de 10, 12 metros - responsáveis pela queda na temperatura, destoando da média até então experimentada. 

Algo bem cerrado, estilo uma mata mais fechada, como se percebe nessa foto ao lado. 

Tudo muito verde, exalando perfume típico de vegetação de floresta. 

Imediatamente fui arrebatada e, em uma fração ínfima de segundos, senti como se estivesse em um lugar mágico, em plena cidade!

Observei o prédio - bloco D - e vi que as copas das árvores alcançavam os andares (seis, como de costume em Brasília), fornecendo uma sombra maravilhosa, além de pouso para os pássaros que insistiam em cantar. 

Sem deixar de mencionar algumas jiboias em volta dos caules, pendendo dos galhos como um véu em cascata. 

Observando o solo, logo percebi se tratar - por isso a definição de microclima - de um clima dentro de um clima, já que esse cenário destoa da típica paisagem de cerrado, cuja coloração oscila entre marrom, alaranjado e vermelho. 

Tive vontade de perguntar aos porteiros se aquele clima era constante o ano inteiro, mas, parando para pensar um pouco, concluí afirmativamente, por conta de todos esses sinais.

Daí me pus a pensar no quanto nutrimos, tal qual um microclima, diferentes estados de presença dentro de nossas almas. 

É ilusório pensar - e presunçoso até - que nossa alma encadernada mantém uma habitualidade de sentimentos, que segue uma rotina. 

Não mesmo. 

Reunimos microclimas dentro de nós, o tempo todo, assim como a Natureza (da qual fazemos parte, diga-se de passagem) concebe esses milagres incomuns. 

Essa diversidade é componente central de nossa jornada, mas insistimos, por vários fatores, em sufocar sensações e sentimentos pela cobrança que possamos impelir à nossa alma, negando-nos a sensorialidade de extravasar o que está dentro de nós.

Se não levamos a vida com mais leveza, podemos ser dragadas pela exigência e cobrança em demasia, criticando nossos sentimentos, deslegitimando o que é parte integrante de nossa trajetória nesse planeta. 

Sem perceber, podemos nos tornar amargas, críticas e chatas, desvalorizando tanto as nossas, como as experiências alheias. Ou, pior, dando pitacos onde a experiência própria não é capaz de ensinar, já que temos, cada qual, uma senda que lhe é inerente. 

Não dá!!!!

O grande aprendizado que essa singela caminhada me propiciou está me fazendo ponderar, até agora, no quanto é importante a busca pelo autoconhecimento, para que possamos contemplar nossos microclimas e, a partir deles, podermos crescer em nossa trajetória.

Tenho feito muitas descobertas em meus microclimas, abandonando, cada vez mais, a exigente cobrança em torno de acertos e erros. 

O caminho da alma é seguir o que planeja a partir do momento em que se permite viver e crescer. Isso é íntimo e pessoal e ninguém pode vivenciar por outra pessoa essa trilha. Muito menos doutrinar. Quando muito, compartilhar experiências, sem, contudo, tomá-las como representação de verdade absoluta.

A partir do momento em que ousamos penetrar nos microclimas de nossas almas podemos adquirir a consciência do todo, já que, ao final, são vários climas habitando espaços comuns!

Felicidades a todas nós!

Um comentário: