quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sobre a "liturgia" do viver e outros ensaios

Quanta liturgia criamos com a desculpa de colocação de energia em projetos que, a rigor, precisam apenas de execução!

Preparamos listas, compramos os ingredientes de nossas "poções mágicas" de dia-a-dia, esquecendo-nos, talvez, quem sabe, que é o caminho, e não o resultado, que nos coloca diante do espetáculo de viver de maneira simples. Quando invocamos o resultado como objetivo de orientação, saímos da imanência do viver para a projeção transcendente e, daí, por diante, tranformamos a experiência em uma busca incessante pela religação quando, de fato, tudo já poderia bem estar aqui dentro, dentro de nós!

Quantas e quantas vezes observei nas andanças pelas rodas da vida pessoas focadas em realizar algo externo a elas, na vã expectativa em relação a um "milagre" que, a bem da verdade, transforma e planifica o mundo em matéria e energia, numa dualidade de sofreguidão e dor.

Por outro lado, quanta sabedoria existe na dimensão integral de um viver em comunhão, no exercício diário de uma "liturgia invisível", que não é repetida como um discurso de papagaio de pirata, da boca para fora, mas, antes, é resultado do simples e maravilhoso DESENTRANHAMENTO do que pulsa em cada uma de nós, em cada um de nós.

A Arte não é artigo de liquidação numa prateleira ou gôndola. Não nos descobrimos, da noite para o dia, sabedoras de poucas fórmulas mágicas do bem viver. É um percurso de muita contemplação e devoção, um verdadeiro retorno à casa ancestral, para que, sabedoras de nossas veias pulsantes, possamos interagir com as egrégoras que nos conectam ao todo.

Por isso tenho por difícil, muito difícil, conceber minha sina como uma religação a algo que está, no fundo - ou no raso - cambiante em mim... É a projeção dos meus, no passado de tantas "de La Vegas" que prepararam o caminho para eu ser como sou, bem como de tantas outras que estarão aqui quando fechar meus olhos para essa dimensão que a Arte nobre se revela. É o que nos torna peculiar e diferentes, mesmo reunidas em torno da mesma ideia de celebração de ciclos.

Somos nós, apenas nós, unidas com nossos ancestrais, honrando os da terra (Brasil), bem como os elementos e os deuses.

E nisso se processa o maravilhoso viver...em nenhum outro lugar. Apenas dentro de nós-Natureza...

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