quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Abençoados os flamboyants de Primavera


Nessa bela época de primavera - tantas são as primaveras em nossas vidas, não? - os arvoredos de flamboyants resplandeceram, formando um verdadeiro tapete alaranjado por toda a extensão das ruas daqui. Contrastando com o verde que já se renovou pelo elemento água, o espetáculo é um brinde aos olhos cansados de enxergar tanto concreto, frieza e indiferença.

Para onde quer que minha vista contemplativa olhe, lá estão, trazendo a alegria para os que despontam, em júbilo, com a sinalização da alvorada presente nos vários ciclos que estão se fechando-abrindo-fechando-abrindo...

Um dia desses, enquanto me deslocava pelas ruas convidativas, meu Universo parou diante da magnitude daquelas frondosas árvores, silenciosas árvores, plenas, árvores. Por momentos, talvez frações de um insistente segundo que insiste em dizer que existe cronômetro para a Natureza, enxerguei-me nas copas dos flamboyants, sendo arrebatada pela mesma sensação de bem-aventurança corriqueira, que já se tornou o hábito em minha senda.

A sensação de pertencimento substituiu a de desencaixe em relação ao mundo, perpassando minha alma com a alegria interminável que a leveza das flores de flamboyant: fortes em sua cor, mas serenas em sua revoada...

Um grande amigo peruano me disse, dias atrás, que se trata de uma sensação maravilhosa de "borboletas voando no peito", a transposição da gravidade zero de uma montanha-russa para o meio do peito. Assim é o gratuito espetáculo que a Natureza oferece como recompensa para quem quiser deixar de se ver na competição atroz de um mundo que decidiu se estabelecer diante da hierarquia.

Ordem? Hierarquia? Dogmas? Nada disso alcança a transcendência contida nos pedacinhos de Natureza que, esperançosas, trazemos conosco, para acessar, nos momentos de desalento, com a certeza de simplesmente...VOAR!

Sim, apesar de nosso olhos e, sobretudo, nossa mente determinar aos olhos que enxergue o concreto, que paguemos contas, que nos limitemos espaço-temporalmente, nossa conexão à Natureza e suas despretensiosas e ricas liturgias nos abraçam e convidam à comunhão.

Não existe ordem alguma nisso, apenas gratidão. Amor, compaixão, talvez, Dela conosco, grandes bebês que, enquanto Gaia dá seu recado, sacudindo suas entranhas bem diante de nosso pés aqui no cerrado, ficamos a procurar estrelas, quando, de fato, elas sempre estão acima de nós e, por mais distantes que pensemos, dentro de nós...

Hey, ho!


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