sábado, 8 de janeiro de 2011

O empoderamento da Bruxa e a libertação do irreal

Estava lendo a ideia de Marcela Lagarde sobre o empoderamento, tido como “... a capacidade de decidir sobre a própria vida: como tal, é um fato que transcende o indivíduo e se plasma noss ujeitos e nos espaços sociais: aí se materializa como afirmação, como satisfação de objetivos (...). Mas o poder consiste também na capacidade de decidir sobre a vida do outro, na intervenção com fatos que obrigam, circunscrevem ou impedem. Quem exerce o poder se arroga o direito ao castigo e a postergar bens materiais e simbólicos. Dessa posição domina, julga, sentencia e perdoa. Ao fazê-lo, acumula e reproduz o poder”.

Refletindo bastante sobre o significado do termo, achei dignificante a ideia de "decisão sobre a própria vida" que, muitas vezes, esquecemos em função de pactos com uma promessa nunca cumprida pelo outro que, dentro de uma dinâmica de controle e manipulação, passa a ser detentor de nossa vida, pelo simples fato de nos colocarmos nessa posição.

Ser empoderada é, sobretudo, reconhecer-se como titular da Soberania Sagrada, incorporando a potestade de nossos ancestrais e deidades para, imbuídas de tal egrégora, podermos nos ver como a Deusa...como plenas e sabedoras de nosso passos e propósitos na vida.

Empoderar-se passa, então, pelo reconhecimento de autonomia espiritual, emocional, psíquica e material, com a finalidade de não realizar pacto por meio de submissão, de adesão, mas, antes, de negociação. Eis a diferença entre ser um farrapo humano que suplica por atenção ou, ainda, a Deusa que, dadivosa de sua plenitude, não necessita ou demanda que a última palavra seja de nenhuma outra pessoa que não dela...

Eis a razão - uma das - pela qual as bruxas sempre foram mulheres solitárias. Incompreendidas em sua beleza e poder, sempre estiveram à margem da sociedade em função da contestação voltada para a hipocrisia dos pactos em que o patriarcado se legitimou como epicentro de conhecimento.

Toda grande bruxa da História sempre se posicionou como a guerreira solitária que, vivendo em sua casa mágica, atraía a atenção dos homens que desejavam usurpá-la de seu poder secreto, bem como de curiosos que, ao final, depois de sorverem pouco do conhecimento, envianvam-na às galés e fogueiras.

Toda grande bruxa, enfim, foge do irreal, coloca-se como "excêntrica" aos olhos da sociedade e, diante do inevitável isolamento, resigna-se com sua sina digna para, de dentro do conforto de seu castelo indestrutível, sagrar-se plena e sábia diante dos atropelos de uma vida de mesmice que a humanidade insiste em vivenciar.

Toda grande bruxa basta a si, sem medo de se despojar daquilo que se coloca como algo lindo, mas, que, internamente, apodrece e machuca. Sem olhar para trás ela constroi um novo mundo, a cada dia, destruindo os arremedos de mundos que diuturnamente se apresentam como esperanças vãs e promessas que nunca serão cumpridas, por serem firmadas apenas sobre lodo... Apesar de o lótus nascer sobre o lodo, casas não são. Estruturas não são. Mais um peguinha de nossas expecatativas não preenchidas...

Nenhum comentário:

Postar um comentário