quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O vôo da gralha no conselho dos nobres

Estavam todos reunidos diante do Conselho dos Nobres: ali, somente a nata mais expressiva da sociedade adviense poderia fazer parte do conselho.

Na verdade, muitos nem sabiam o que faziam ali: tão absortos em suas maquinações de si, esqueciam-se que os cofres da cidade-luz ostentavam a missão de alimentá-los. Alma e corpo sequer sabiam a dimensão do que isso significava, mas o ego, esse, sim, letrado que era, já sabia que a ida de cada uma daquelas pobres almas perdidas justificava-se na completa e total falta de luz. Talvez, algum dia, aprendam na sombra...

Quando o ancião convocou o alto clero, vozes esganiçadas romperam o equilíbrio, cedendo espaço à confraria dos medíocres. O diferente não precisa dizer de si: a diferença desponta tal qual uma chaga lacerante, que lateja, dói, escalda, mas que, ao final, permite a evolução dos mundos. Dor e alegria na diferença são dois pólos que, a cada tempo, aproximam-se em propósito, fazendo com que a dualidade ceda espaço ao que é humano: instinto.

Mas o medíocre que deseja ser a diferença, esse pobre coitado não sabe de si, muito menos das armações que o universo de institntos traz para o ser, esse humano tão simples...E a gralha ralhou, e falou, até cantou, para o espetáculo de nossas vidas.

E o restante do conselho dos nobres, seguros em suas zonas de conforto, não perceberam que o retrato da vida dali a pouco sucumbiria à pantomima do ridículo: eram nobres, isso bastava, mesmo que sequer soubessem qual a nobreza a que se referiam...

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