terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O pequeno dicionário "amoroso" das relações de violência de gênero: a dor do patriarcado...

Patriarcado? Dores do patriarcado? O que tem isso a ver com um blog dedicado ao Sagrado Feminino? Muito mais do que possamos supor, num mundo marcado por violências simbólicas - mas reais - do masculino em relação ao feminino.

Como resgatar o Sagrado é, ao mesmo tempo, desvendar a violência que cerca as relações entre os gêneros, as minhas dores de hoje são dedicadas a um serviço de utilidade pública, para que as mulheres empoderadas saibam desvendar uma situação de risco que nem sempre é facilmente observada, até mesmo diante da inteligência com que os misóginos pós-modernos estão dissimulando sua misoginia...

Sim, sei, "patriarcado" é uma palavra muito questionada em termos de pós-modernidade.

Afinal,o termo remete , em geral a um sentido fixo, uma estrutura fixa que mediatamente aponta para o exercício e presença da dominação masculina (ZANOTA, Lia, disponível em http://vsites.unb.br/ics/dan/Serie284empdf.pdf, acesso em 14 dez. 2010). Mas, num mundo em que se observa a mulher no "mercado de trabalho", bem como em diversos "nichos sociais", como, ainda, sustentar o termo "dominação"?

Ou, ainda, como dialogar com a conceitualização clássica weberiana, que vê no patriarcado : “a situação na qual, dentro de uma associação, na maioria das vezes fundamentalmente econômica e familiar, a dominação é exercida (normalmente) por uma só pessoa, de acordo com determinadas regras hereditárias fixas.” (Weber, 1964, t.1.p.184).

Qualquer que seja a significação, não importa.

O patriarcado agrega um sentido “ahistórico” porque não está limitado a um só momento histórico, isto é, porque pode e deve ser referido a qualquer momento histórico onde se encontre tal sentido de ação típico-ideal. Ao final, expressa um sistema ou uma forma de dominação que, ao ser (re)conhecido já (tudo) explica : a desigualdade de gêneros.

Caminhando com o patriarcado e o sustentando fenomenologicamente encontra-se o androcentrismo, que nada mais é do que a percepção de mundo a partir das experiências masculinas, que passam a ser consideradas como iguais as experiências de todos os humanos e tidas como uma norma universal tanto para homens quanto para mulheres.

Basta lembrar a medicina medieval, que nunca considerou a peculiaridade do corpo feminino e, como se isso não bastasse, ainda promoveu a devassa em face das "curandeiras", suas maiores competidoras naturais... Ou, ainda, os postulados de agressividade e competitividade até a mais última dimensão de ataque ao humano...

O androcentrismo toma como verdade a experiência e valoração masculina, sem dar o reconhecimento completo e igualitário à sabedoria e experiência feminina, bem como atribuindo-lhe o que se entende por desqualificação, que nada mais é do que a atribuição de predicativos que depreciam a mulher, diminuindo sua estima enquanto ser humano.

Mulher desqualificada é reificada, objetivada, ou seja, transformada, à imagem e semelhança, num espelho masculino que, ao menor sinal de discrepância, atrai a misoginia, ou seja, ódio, aversão, ira, raiva, desqualificação do feminino, por meio da subestima e da crença de inferioridade da mulher.

Falei tudo isso para apenas dizer o quanto, sem saber, o masculino se apodera do espaço e avilta a alma mais sensível de uma mulher, desconsiderando-a em sua dimensão mais profunda de potencialidade amorosa, para destruir, com raiva, o que é belo, justo, pleno e legítimo. Quase sempre, as armas usadas estão no plano da manipulação da verdade, da seletividade de informações, da mentira e da famosa "barriga", fazendo entender que a palavra da mulher, sua companheira, está errada, ou que "ela está louca".

Esse é o primeiro retrato da violência doméstica, fincada, entretanto, no seio doméstico e ainda sem tipificação penal. Ou seja, no ambiente mais arraigado - casa, entre paredes - pratica-se a forma mais aviltante de agressão, que é a psicológica, de difícil prova e demonstração. Apenas quem sofreu isso, tendo que lutar, dia após dia, contra as mentiras, os enredos fantasiosos, bem como a manipulação e o controle, sabe o que significam horas de lágrimas a correr pelo rosto.

E o qual patriarcado?

Nem aí, pois, como o mundo até então se processava a partir de seu pênis que decai a cada dia, esse assunto deslegitima e desempodera. Eles não desejam se desempoderar tão facilmente. Por isso que, de tempos em tempos, enviam agentes inteligentes, na esperança de coaptar as mulheres que se empoderam, para, com isso, aniquilar a libertação de todas...

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