sábado, 28 de maio de 2011

A noite mágica de expurgos...

Depois de passar uma semana somatizando a dor de uma inevitável separação, hoje decidi, sob o manto da Lua Minguante, expurgar da minha morada as energias e os miasmas que as companhias implacáveis de todas as máscaras aqui, um dia, deixaram.

Enquanto entoava meus cânticos de adoração ancestral, pensei nos momentos, dentro desses dois meses, de completude e alegria, sendo, logoa adiante, invadida por uma sensação de estar fazendo "a coisa certa". Sempre que terminamos um relacionamento é necessário um período de luto, bem como a limpeza do que, em tempos de júbilo, sedimentou energia no ambiente.

Para expurgar alguém da vida é necessário expurgar de si o espelho construído, pois, até onde minha ignorância me permite adentrar, nunca ouvi dizer que atraíssemos nada além do que vibramos...do que, afinal, projetamos no espelho que guardamos no fundo de um armário, na esperança da sombra cair no esquecimento.

Não cai...

Ela fica por ali, escondidinha, até o momento em que outra alma afim, na paridade da sombra, chega, de sobreaviso, aproveitando o vínculo que ainda está presente dentro de nós. No meu caso, pasme, sempre a Sombra que se projeta se me revela a idiossincrasia da agressão ao Sagrado Feminino, na espúria tentativa de extorsão da autonomia enquanto mulher.

Mas, ao que percebo, pouco a pouco, o aprendizado tem tornado a estrada bem mais serena, pois, se antes me desesperava diante do espetáculo inevitável de sofrimento, hoje já olho para o outro - sim, o projeto de filão de alma - com a parcimônia de enxergar a mim nele... Com isso percebo que, ao final, necessito fazer as pazes com o Feminino negado, bem como com o contraponto - o Deus - perdido em meio a tantas feridas abertas pelo patriarcado.

O caminho é longo e cheio de percalços. O desfecho da vez veio de maneira branda, dando avisos. O primeiro deles, como não poderia deixar de ser em uma mulher, veio na forma de forte intuição, seguida pela leitura automática do que o outro realmente estava a desejar de mim: um grande NADA, a não ser "uma companhia".

Achei honesta tal resposta, pois, depois de tanta desonestidade, ao final, como resíduo de dignidade, restou a companhia. Desejo ser a companhia de alguém? Não, um sonoro não, pois acredito que isso seja uma projeção de muletas. Não sou muleta de ninguém, muito menos de desafortunadas e inquietas almas que, enfiadas em seus cenários mais profundos e escusos, tentam se apegar a quem está em um caminho de "esclarecimento".

Esclarecer lembra etimologicamente "trazer luz", clarear. Quem está no limbo e nas trevas da ignorância de si (não desgosto das trevas, apenas das que revelam ignorância) não pode oferecer mais do que uma companhia: não se envolve, não se apaixona, não ama, não vive.

Nessa hora celebrei a paz de espírito, pois pensei que, ao final, mesmo diante de tantos percalços, sou um ser que ainda acredita e vivencia uma perpetuidade de amorosidade... Sempre desejo amar e, amando, lanço-me. Depois, quando acaba a trilha, persiste o amor! Que legal! Prova de que não se necessita a convivência para se manter o sentimento por alguém.

Por outro lado, o ímpeto incontido em meio a tentativas infrutíferas de me convencer do contrário do que minha alma me revelava sobre o lindo cavalheiro que me circundou, um segundo "sintoma" despontou em meu horizonte: a somatização do conflito por meio da doença. Depois de muitos anos, tive uma crise forte e aguda de sinusite, a doença clássica da afetividade...

Conflito interno em permanecer numa situação que, de maneira alguma, era a mim agradável. Nunca foi, a começar da completa e total falta de lealdade. Sim, é a ausência dela, nada mais, o que fere de morte quem ainda se estabelce nesse planeta sob o signo das leis antigas de honorabilidade, justiça e lealdade.

O mais interessante do conflito é perceber que se continua - e se pode - amar uma pessoa, continuar desejando estar com essa pessoa, mesmo distante dessa pessoa, por se acreditar, sentir e vibrar que, a proximidade dela significa a própria morte. É o amor de vida em morte, que causa a dilaceração da saúde.

Esses últimos dois meses foram de recuperações e doenças, produzidas pela minha intempérie em relação a manter situações em minha vida que já não mais desejo. Um dia acordei decidida a me resolver internamente em relação a uma pessoa querida, de antiga convivência: não dei conta do que minha imagem no espelho me mostrou, a lealdade a mim mesma estava sendo turbada pela minha insistência em querer o que não se pode, mudar alguém. Mudei e estou mudando, pois, a mim mesma. Com isso, descubro que o mundo muda, bem como meus caminhos e minhas escolhas de vida.

Com esse relacionamento não foi diferente, pois descobri a deslealdade... Sem dramas...

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