quinta-feira, 29 de abril de 2010

Uma janela para o Amor...


Da janela do meu escritório vejo toda a rua: silenciosa, quase sorrateira, fico espreitando, do cantinho da cortina, um pedaço do mundo presente em cada rosto que passa pela minha rua.

Rostos marcados pelas dores da vida, outros tantos vincados pela alegria ou pelo amor. Amor vinca? Sim, como não? Em cada momento no qual achamos, dentro do peito, que nunca temos vontade de ferir e, na certeza de tal egocentrismo, não observamos o básico: ferimos com ferro e fogo quando, da seara de uma arrogância pueril, apenas e simplesmente...descuidamo-nos do Outro.

Faltamos com a gentileza de perceber no Outro o sujeito de devoção para quem devemos o acalento da amorosidade. Mesmo não tendo intenções, a não intenção que se origina do descuido mata tanto quanto um pontiagudo punhal, que entra e dilacera o coração.

Olhei a Lua agora à noite e, durante um passeio, vi-me plena no vazio de minha alma, um repositório de emoções que, outrora, preencheu-me mas, que, com o devenir da não intencionalidade, foi ficando pequenino, pequenino.

Seria o meu ego a ficar pequeno? Não sei, porque a emoção e o pulsar do coração hoje me abandonaram. Mas não senti - interessante - dor, tristeza, remorso ou mágoa. Ao contrário, ao mesmo tempo invadiu-me a sensação de bem-aventurança, bem como a leveza de espírito.

Ao voltar para meu lar e minha janela - de onde vejo o mundo e a mim- passei a perceber na cadência dos meus passos a profusão dos vincos e das ranhuras que tanto percebia em outros transeuntes. Vi-me refletida na janela da minha casa a alma de cada uma das maravilhosas pessoas que se revelavam para mim...

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