quinta-feira, 29 de abril de 2010

Primeiros erros


(...)
Meu caminho é cada manhã
Não procure saber onde estou
Meu destino não é de ninguém
Eu não deixo os meus passos no chão

Se você não entende, não vê
Se não me vê, não entende
Não procure saber onde estou
Se o meu jeito te surpreende

Se o meu corpo virasse sol
Minha mente virasse sol
Mas, só chove e chove
Chove e chove

Se um dia eu pudesse ver
Meu passado inteiro
E fizesse parar de chover
Nos primeiros erros

O meu corpo viraria sol
Minha mente viraria
Mas, só chove e chove
Chove e chove
(...)

Tudo que vai...

(...)
Tudo que vai
Deixa o gosto, deixa as fotos
Quanto tempo faz
Deixa os dedos, deixa a memória
Eu nem me lembro mais
Fica o gosto, ficam as fotos
Quanto tempo faz
Ficam os dedos, fica a memória
Eu nem me lembro mais
(...)

Uma janela para o Amor...


Da janela do meu escritório vejo toda a rua: silenciosa, quase sorrateira, fico espreitando, do cantinho da cortina, um pedaço do mundo presente em cada rosto que passa pela minha rua.

Rostos marcados pelas dores da vida, outros tantos vincados pela alegria ou pelo amor. Amor vinca? Sim, como não? Em cada momento no qual achamos, dentro do peito, que nunca temos vontade de ferir e, na certeza de tal egocentrismo, não observamos o básico: ferimos com ferro e fogo quando, da seara de uma arrogância pueril, apenas e simplesmente...descuidamo-nos do Outro.

Faltamos com a gentileza de perceber no Outro o sujeito de devoção para quem devemos o acalento da amorosidade. Mesmo não tendo intenções, a não intenção que se origina do descuido mata tanto quanto um pontiagudo punhal, que entra e dilacera o coração.

Olhei a Lua agora à noite e, durante um passeio, vi-me plena no vazio de minha alma, um repositório de emoções que, outrora, preencheu-me mas, que, com o devenir da não intencionalidade, foi ficando pequenino, pequenino.

Seria o meu ego a ficar pequeno? Não sei, porque a emoção e o pulsar do coração hoje me abandonaram. Mas não senti - interessante - dor, tristeza, remorso ou mágoa. Ao contrário, ao mesmo tempo invadiu-me a sensação de bem-aventurança, bem como a leveza de espírito.

Ao voltar para meu lar e minha janela - de onde vejo o mundo e a mim- passei a perceber na cadência dos meus passos a profusão dos vincos e das ranhuras que tanto percebia em outros transeuntes. Vi-me refletida na janela da minha casa a alma de cada uma das maravilhosas pessoas que se revelavam para mim...

terça-feira, 27 de abril de 2010

Posso errar?

Posso errar? (Leila Ferreira - Marie Clarie - fevereiro - Coluna Final Feliz)

"Há pouco tempo fui obrigada a lavar meus cabelos com o xampu “errado”. Foi num hotel, onde cheguei pouco antes de fazer uma palestra e, depois de ver que tinha deixado meu xampu em casa, descobri que não havia farmácia nem shopping num raio de 10 quilômetros.

A única opção era usar o dois-em-um (xampu com efeito condicionador) do kit do hotel. Opção? Maneira de dizer. Meus cabelos, superoleosos, grudam só de ouvir a palavra “condicionador”. Mas fui em frente. Apliquei o produto cautelosamente, enxaguei, fiz a escova de praxe e... surpresa! Os cabelos soltos e brilhantes – tudo aquilo que meus nove vidros de xampu “certo” que deixei em casa costumam prometer para nem sempre cumprir. Foi ai que me dei conta do quanto a gente se esforça para fazer a coisa certa, comprar o produto certo, usar a roupa certa, dizer a coisa certa – e a pergunta que não quer calar é: certa pra quem? Ou certa por quê?

O homem certo, por exemplo, existe ficção maior do que essa? Minha amiga se casou com um exemplar da espécie depois de namorá-lo sete anos. Levou um mês para descobrir que estava com o marido errado. Ele foi “certo” até colocar a aliança. O que faz surgir outra pergunta: certo até quando? Porque o certo de hoje pode se transformar no equívoco monumental de amanhã. Ou o contrário: existem homens que chegam com aquele jeito de “nada a ver”, vão ficando e, quando você se assusta, está casada – e feliz – com um deles.

E as roupas? Quantos sábados você já passou num shopping procurando o vestido certo e os sapatos certos para aquele casamento chiquérrimo e, na hora de sair para a festa, você se olha no espelho e tem a sensação de que está tudo errado? As vendedoras juraram que era a escolha perfeita, mas talvez, você se sentisse melhor com uma dose menor de perfeição. Eu mesma já fui para várias festas me sentindo fantasiada. Estava com a roupa “certa”, mas o que eu queria mesmo era ter ficado mais parecida comigo mesma, nem que fosse para “errar”.

Outro dia fui dar uma bronca numa amiga que insiste em fumar, apesar dos problemas de saúde, e ela me respondeu: “Eu sei que está errado, mas a gente tem que fazer alguma coisa errada na vida, senão fica tudo muito sem graça. O que eu queria mesmo era trair meu marido, mas isso eu não tenho coragem. Então eu fumo”. Sem entrar no mérito da questão – da traição ou do cigarro -, concordo que viver é, eventualmente, poder escorregar ou sair do tom.

O mundo está cheio de regras, que vão desde nosso guarda-roupa, passando pelos cosméticos e dietas, até o que vamos dizer na entrevista de emprego, o vinho que devemos pedir no restaurante, o desempenho sexual que nos torna parceiros interessantes, o restaurante que está na moda o celular que dá status, a idade que devemos aparentar. Obedecer, ou acertar, sempre é fazer um pacto com o óbvio, renunciar ao inesperado.

O filósofo Mario Sergio Cortella conta que muitas pessoas se surpreendem quando constatam que ele não sabe dirigir e tem sempre alguém que pergunta: “Como assim?! Você não dirige?!”. Com toda a calma, ele responde: “Não, eu não dirijo. Também não boto ovo, não fabrico rádios – tem um punhado de coisas que eu não faço.”

Não temos que fazer tudo que esperam que a gente faça nem acertar sempre no que fazemos. Como diz Sofia, a agente de viagens que adora questionar regras: “Não sou obrigada a gostar de comida japonesa, nem a ter manequim 38 e, muito menos a achar normal uma vida sem carboidratos”. O certo ou o “certo” pode até ser bom. Mas às vezes merecemos aposentar régua e compasso."

Sawabona!


Já faz um tempo desde quando li esse texto pela primeira vez e acho providencial colocá-lo aqui na íntegra, pois ele é de uma sensibilidade muito grande a respeito do que são relacionamentos emancipados...


SAWABONA - Sobre estar sozinho
Por Dr. Flávio Gikovate

"Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor.

O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.

A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos.

Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher: ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino.

A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal.

A palavra de ordem deste século é parceria.

Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.
Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras.

O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração.
Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.

O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo.

O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral.

A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado.

Visa à aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades.

E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade.

Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva.

A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso.

Ao contrário, dá dignidade à pessoa.

As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém.

Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto.

Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.

Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não a partir do outro.

Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.

O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável.
Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado.

Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo...

SAWABONA, é um cumprimento usado no sul da África quer dizer:
"EU TE RESPEITO, EU TE VALORIZO,
VOCÊ É IMPORTANTE PRA MIM
".

Em resposta as pessoas dizem:
SHIKOBA que é
"ENTÃO EU EXISTO PRA VOCÊ"

Show, não é?

Misógino rehab: a mutação na contemporaneidade

Não adianta olhar o relacionamento mulher-homem dentro da ingenuidade do Romantismo do séc. XVIII com o anacronismo de um impossível o retorno - em plena contemporaneidade - ao mito do cavalheiro no cavalo branco, que saltita e coloca sua capa para a mocinha não pisar na poça. Não, não, o machista do século XXI adequou-se, tal qual as tartarugas em Galápagos assim também o fizeram, para acompanhar a mudança de ambiente.

Mesmo diante de tanta progapaganda emancipatória, tanta campanha de esclarecimento sobre gênero e relacionamento, parece existir um descompasso entre discurso, emoção e razão, onde, quase sempre, o plano discursivo (plasmado da transcendência racional) orna com palavras douradas o compromisso do misógino em se libertar de Si (olha só que britadeira essa), ao mesmo tempo em que reforça, em nível simbólico e subliminar, o machismo, já que de dentro do discurso brota, em ato falho, um meta-discurso a reforçar, na entrelinha, a misogina e o machismo.

O machista enrustido é tal qual uma pessoa dentro da Matrix...

Quando Mouse foi mostrar o programa para Neo, advertiu-o do perigo de qualquer um na Matrix se transformar em um agente. É a antológica cena da "Mulher de Vermelho" que, num piscar de olhos, transmuta-se num agente munido com uma baita pistola, pronto para dar um tipo na fuça do Neo (seduzido pelo confeito colocado aos seus pés).

Eis a tipologia (tacanha e caricata) do machista em rehab: aquele que, em tese, reconhece seus atos, suas condutas, diz que "não tinha intenção" e promete tomar cuidado dali para a frente, levando 5 minutos para fazer a mesma coisa de outrora. Uau, é o salto quântico na evolução do patriarcado!

Se, antes, o machismo vinha esteotipado na figura do bonchão, barrigudo, que coloca os pés em cima da mesa de centro no domingo, grita "Muié, minha breja", toma litros e litros enquanto arrota, peida e grita palavrão com os amigos, o protótipo do machista contemporâneo evoluiu. EVOLUÇÃO! SIM, claro, como medida de ajuste ao colapso quântico da emancipação da mulher. Dado salto na condição emancipatória da mulher, a antiga estrutura (patrarcado) acompanha, evoluindo para formas mais sutis de opressão.

O machista rehab é farto exemplo disso, porque atua no plano sutil, em nível simbólico, intercalando momentos de apoio e agregação à proposta feminista, atuando, nos bastidores de seus abscônditos quartos de despejo, com a fúria peculiar à misoginia.

Ele faz um passeio emocional, indo e voltando na inconsistência e incoerência discursivas, falando, num primeiro momento, que "não, não tenho intenção" e, logo a seguir, num passe de mágica, afirmando (quase sempre depois de descoberto, o que retira a liceidade de propósito) que errou.

Ele mente, manipula, oprime, mas com novo estilo: a máscara de uma sensibilidade búdica, com a qual convence as pessoas mais incautas, que se trata de um ser de outro planeta, tamanha a aura de bondade que o cerca. Ele até chora! Sim, claro, o reab chora lágrimas sem fim, sem, ao certo, se está chorando por culpa, raiva, planos vampirescos defraudados. Vai saber?

O misógino rehab é a comprovação da velocidade quântica de mutação, pois, para ele, sua auto-imagem é de um ser que, ILUMINADO e iluminando-se (claro, depois de findo o relacionamento), cai na real, em menos de 24 horas, adquire um colapso de onda evolutiva, cresce, toma outras atitudes e... PLIM-PLIM! Com a mesma mágica, volta para a trincheira da guerra privada de detonação da companheira.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O chamado da Deusa-Guerreira interior


Os cornos do poder novamente sibilam diante da revoada dos pássaros que anunciam a guerra. A Deusa-guerreira desperta, mais uma vez, das entranhas da Terra, lembrando que Gaia, enfim, acordou de seu sono.

A batalha, outrora campal, é ideológica, simbólica, subliminar e subreptícia.

A Grande-Gaia ressurge, vigorosa, para conduzir as tecelãs para mais uma noite de júbilo!
Encontremo-nos na Festa Medieval!

A janela dos desesperados: sonhos e rimas das mentes insanas dos misóginos enrustidos

Quantas de nós já não recebemos "juras de amor" de alguém?

No início, dada a reficação, somos as "musas" de algum enamorado ou enamorada poeta que, repleto em si traceja e rascunha linhas de melodiosas poesias. Somos "o ar que se respira", a "vida não tem sentido" sem preenchermos o vazio do outro e outras metáforas que acobertam o auto-extermínio de emotividades beirando o completo desespero existencial, encerradas na pequenez de seu pequeno umbigo fálico (sim, a essa altura, falo para os portadores do falo, pois essa tem sido minha experiência).

Depois que o processo de estelionato emocional completa e compõe o ciclo de violência e o Zorro tira a máscara - melhor, ele não tira (não tem coragem de se expor), ela é abruptamente arrancada do fraudador pela espada da verdade - as juras que outrora digficavam agora tentam, em nível simbólico e subliminar, reverter a polaridade da agressão, tornando o Ser reificado, de repente! Pimba, um Sujeito em Si.

De musas coisificadas somos Algozes vorazes que não sabemos amar e que, segundo os Zorros, precisamos nos amar para amar alguém.

Quem inventou essa ladainha e mentira, por favor, levante a mão, ou, melhor, saia pela porta dos fundos, porque amar não é objeto de apreensão comum e vulgar, que pode espelhar linhas muito pouco elaboradas vindas de quem sempre conheceu apenas a ótica da vitimização, do desamor por si e da raiva enrustida.

Que conselhos podem os misóginos - repletos de raiva -para alguém, quando não sabem de Si?

Muito poucos, melhor calar...

A História está aí para apontar os desacertos dos "homens maravilhosos" que "morreram de amor", não, sem antes, matarem suas musas...

Estética, beleza e prazer: demorou! Sejamos NÓS! Reais!


Quando fui ao salão esse mês, entrei com um nítido propósito: voltar a ver a cor do meu cabelo, depois de passar 22 anos passando tinta de todas as cores do arco-íris... O Tim (corta meu cabelo desde os 09, 10 anos: hoje estou com 37, olha o tempo) pegou sua mágica tesoura e fez um balé, como se visualizasse em minha cabeça o mármore bruto no qual Michelângelo enxergava o acesso e, com espátula, formão e martelo, esculpia.

Saí de lá com o cabelo curtinho, curtinho e fui logo sendo invadida pelo Anjo da Casa wooolfiniano, que, no fundo, estava prestes a me dizer: "a força da mulher está no cabelo longo. Os homens gostam mais de cabelo grande, o que você fez?"

O que fiz? Livrei-me do Anjo...Acho que dei-lhe uma porrada, bem no meio da testa. Lamento, mas precisava me defender, cansei de apanhar.

Entrei decidida a cortar profundamente os cabelos e extirpar com eles as raízes da submissão a uma estética excludente vinculada à desconstrução imagética que a apologia ao belo se converteu na sociedade de consumo contemporânea. Mas, confesso, antes de ser bandeira, foi a satisfação pessoal de cortar amarras. Sempre gostei do meu cabelo na contramão do mundo...

Essa é a face mais perversa de se imputar a nós, mulheres, o ônus do "embelezamento", pois, na verdade, nada mais faz do que sedimentar camadas e mais camadas de tintas tóxicas, de piche no rosto, petróleo na boca e aromas virtuais em nossos corpos moldados pelos padrões da anorexia... Um dia, talvez, quando nossa epiderme sair com o removedor ou o demaquiante, possamos saber de tudo isso, já que é experiência.


Dentro disso, insistimos na alienação e no não compromisso com o despertar, desculpando-nos, sempre, com os seguintes dizeres: "estou me arrumando para mim, não é para ninguém mais, nem para homem".

Mentira, mentira, mentira. Custa muito reconhecer isso? Penso que não, mas na insistência, a sodomia emocional se firma, cada vez mais forte, dentro do compromisso de se tornar res para o Outro.

Fazemos inconscientemente isso.

Competição que fomentamos entre nós, disputando, sem percebermos que essa disputa apenas nos enfraquece enquanto mobilização política, pois, enquanto docilizamos nossos corpos e tentamos, à fórceps, enviá-los na forma da bulimia, o patriacado - que, agora, aprimora técnicas subliminares - avança...


Não que pintar o cabelo não possa ser opção, mas a idolatria em relação a um processo de alienação da auto-imagem é tema complexo, já que, em doses homeopáticas, sacrifica nossa estima.


Quando estava loura mechada, olhos voltavam-se para mim e eu, tomando como base essa "segurança" (na verdade, a maior demonstração de insegurança, já que minha estima estava, de fato, nos outros, e não em mim), seguia "radiante" o destino de fatal deusa-devoradora e, dentro disso, fazendo escolhas que não poderiam ser diferentes, pois reverberavam a frequencia da minha alma sem esclarecimento.

Depois, quando parti para o outro lado - na celticidade do ruivo - os namorados não gostavam.

Unhas pintadas de vinho - quase preto – anéis volumosos nos dedos, saias rodadas, dos incensos, além, claro, conversas com os animais e as plantas.

O cabelo ruivo Lilith destoava do imaginário popular misógino passa pela candura do amaciamento da escova progressiva e da clareza dos cabelos louros angelicais da submissa Eva intercostal (não estou criticando a “lourice”, mas a motivação submissa que leva as pessoas a pintar o cabelo por outro motivo que não satisfação própria).


Tudo isso chama a atenção de quem não está nessa linha de freqüência: enquanto eu era Lilith, a egrégora de força assustava os namorados.


E, durante os relacionamentos - os três mais impactantes e misóginos relacionamentos de toda minha existência nesse plano terrestre – a tônica era a mesma: eu iniciava o relacionamento sendo a Deusa encarnada, mas, depois, cedia, transmutando-me para algo que, longe de ser eu, era um modelo construído pelo outro, um Gollum em busca do anel de poder.

Dentro disso, condicionava-me a fazer tudo que não queria: agredia meu cabelo, pintava de outra cor que não a que apreciava, comprava roupas de outros estilos, saí para lugares que não tinham conexão com meus interesses.

A bola da vez, claro, não poderia deixar de ser o básico num relacionamento misógino: o sentimento de abalo na auto-estima em relação ao lado profissional e financeiro, porque o sucesso (que, na verdade, para muitos, na frequencia do capitalismo excludente, pode ser fracasso, já que faço meu pão, iogurte, amaciante e, enfim, calejo minha mão para quebrar o sistema) incomoda o "macho-alfa" que dissimula compartilhar a alegria, mas, que, dentro de si, fomenta a inveja.

Normal. Dupla moral. Normal também. Dualidade, desafio para a mobilização feminista...

Tudo em nome do “grande amor encantado”, embalado pelas histórias da princesa adormecida, encantada pela bruxa má e acordada pelo príncipe com um beijo cinematográfico e... insosso.

Argh! Que triste realidade a constatação de passarmos às nossas crianças o anestesiamento da mulher, que somente passa a ter existência quando o príncipe formoso a acorda de seu profundo sono. E, dentro desse, o preço por beijar o sapo foi encher a boca de "sapinho"!

A emancipação do Feminino no reconhecimento dos padrões misóginos


Uma das maneiras que encontrei para vivenciar o Feminino e o Sagrado manifestou-se na relação dialética de experimentação da sacralidade por meio de uma inconsciente negação do feminino, contemplando e reconhecendo, dentro de mim, a misoginia reproduzida durante séculos e séculos de dominação masculinista.

Afinal, somos maravilhosas Deusas nutridoras e guerreiras, e, justamente por isso, somos cingidas em carne, por marcantes e profundas feridas abertas pelo patriarcado devastador que insistimos alimentar em algum ponto longínquo da alma!

Esse é o primeiro susto: olhar para o exterior a partir da lambida de nossas feridas mais internas. O “mundo”, sozinho, não nos fere, a menos que tenhamos a afinidade reativa com a chaga externa. É simples questão de afinidade, atração, causa e efeito ou, ainda, de proximidade quântica!

Porém, é mais simples, fácil e indolor lançar no outro o peso de nossas dores, pois, quando fazemos isso, desviamos o foco das atenções e esquecemos, um pouco, do problema, ao invés de buscar as profundas marcas dentro de nós.

Afinal, ninguém gosta de sentir dor: sentir dor simplesmente... Dói. Por outro lado, importante nos (re)conhecermos como pólo que historicamente se vitimizou, porque essa revelação traz o compromisso de não mais nos posicionarmos como vulneráveis dentro de uma vivência, qualquer que seja o espaço, público ou privado.

Toda grande Deusa “misógina” possui, em algum momento, um referencial - masculino ou feminino - também misógino de onde retira o modelo a superar, numa contínua relação de amor e ódio.

Ausência paterna em momentos essenciais, presença castradora na repressão que pode beirar violência psíquica e física; figura forte e marcante da mãe que tudo faz pela prole: eis a receita para um futuro de encontros com espelhos misóginos.

Não tenho a menor vergonha de afirmar que o primeiro foco de atração da misoginia e do afastamento do sagrado reside em mim!

Torna-se, agora, mais fácil perceber a razão pela qual falei em afastar o Sagrado Feminino, para, depois, aproximar-me dele?

Então, bem-vindas ao reconhecimento! Recolher os flaps, lamber as feridas em sangue e tomar as rédeas da vida em nossas próprias mãos, só assim a luta contra a discriminação do patriarcado poderá proporcionar, no futuro, relações saudáveis entre mulheres e homens... Hey ho!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Réquiem para uma relação misógina...


Engraçadas, nós, humanas: tendemos a acreditar na imunidade ante as experiências desagradáveis que acontecem aos outros, mas, quando nos vemos em situações similares, o mundo cai sob nossos pés.

Sentimo-nos tão humilhantemente frágeis e vulneráveis quanto aquelas pessoas que outrora julgamos perdidas na idiotice de um estelionato emocional que supomos – de maneira vã – nunca atravessar.

A idéia de escrever sobre uma relação tipicamente misógina nunca passou pela minha cabeça.

Hoje não mais me envergonho ao mostrar minha ignorância em relação ao assunto, mas, antes de tanta coisa acontecer em minha vida relacional e afetiva, achava a misoginia mito e a defesa dos direitos das mulheres assunto de manifestante insatisfeita sexualmente.


Via com desconfiança os movimentos feministas e olhava ressabiada quando, numa notícia de jornal, observava algum crime envolvendo casais, pois sempre procurando atribuir ao feminino responsabilidade pela ocorrência dos eventos mais atrozes.

Não desconfiava, porém, que, internamente, minha dor era mais profunda do que poderia supor saber, a ponto de me cegar completamente, vendo em meu próprio gênero a grande ameaça à felicidade.

Esse réquiem é celebrado a partir de uma longa trajetória de ceticismo, transformada, no decorrer de um período de intenso sofrimento e latente dor, em um maravilhoso renascimento, o qual gostaria de partilhar com aquelas pessoas que se identificarem com essas linhas.

Não estou desejando levantar bandeiras ou abraçar qualquer tipo de ideologia, pois o propósito desse verdadeiro desabafo é mostrar como escapei com vida e resgatei minha individualidade, saindo de uma trama articulada de manipulação, mentira, dissimulação e dor.

Dentro disso, contento-me em dividir a experiência para ajudar as mulheres que se identificam com essa trajetória, deixando, cada qual, com seu arbítrio, na plenitude da decisão de prosseguir numa relação doente, ou se libertar da patologia.

Não sou psicóloga, psicanalista ou terapeuta e, portanto, não me interessa a justificativa das palavras que escrevi em teorias que não sejam decorrência do caminho que insisti em seguir: meu compromisso é apenas informar sobre o que vivi, apontando as impressões gravadas em minha alma.

Assim, não saberia dizer se esses escritos guardam algum substrato de auto-ajuda, até mesmo porque, talvez não saiba, ainda, o que “auto” e “ajuda” poderiam significar para outra pessoa, que não para mim!

Como assim? Simples, alguns autores se estabelecem simplesmente porque são reconhecidos, em algum momento de suas vidas, pelo seleto grupo de experts que, por sua vez, foram chancelados pelos antecessores e seus antecessores, numa implicante replicância do critério egocêntrico quanto à afirmação do que é bom o bastante para ser lido.

Ainda bem que estou sendo honesta, desde já, pois não conseguiria subverter meu substrato de liberdade de pensamento mais que o necessário, formatando tudo em um bando de palavrinhas articuladas para pensar no que a crítica especializada poderia dizer.

Primeiro, porque não existe especialização nesses escritos da alma: de fragmentação, basta o que já foi feito em nome da ciência, nos pedacinhos de “eu” espalhados em nossas vidas, transformando-nos em meras peças de computador.

Ademais, não existe regra alguma para falar sobre a alma, suas dores e seus amores, porque ela é atributo de individualização, não sujeito a limitações e formatações.

Segundo, porque hoje, depois de me debruçar sobre as mazelas da misoginia a que me sujeitei e reconhecer minha nítida ignorância em relação a elas, simplesmente escrevo, colocando no papel o que vem à mente.

Acho isso mais honesto até para vocês conhecerem outra opção de compartilhamento de idéias, dentre tantas no mercado, apresentando os atropelos e as elevações do percurso, concretizadas na presente sombra que me acompanha, eterna lembrança de medos, anseios e frustrações coletadas ao longo do caminho.

É o diferencial no que escrevo.

Não tenho qualquer pretensão em me fazer autoridade no assunto, pois, na verdade, o que farei será compartilhar minhas dificuldades, minha fuga e minha solidão.

Portanto, se alguém estiver esperando uma fórmula mágica, estilo “Pollyana’’ feliz, numa miraculosa anestesia para as desventuras de sua alma perdida, aconselho a fechar imediatamente esse blog: esses escritos não servem, pois não tenho pretensão de me fazer uma especialista no assunto.

Desejo apenas repartir o ceticismo que envolve minha mente para algumas questões sobre os aparentes fracassos nos relacionamentos que se fazem em cima dos mitos e discursos que estão em nossas vidas há tempos.

Ainda bem! Sinto que é o momento de romper um paradigma que não tem mais o menor sentido, já que agora – somente agora – consegui me conscientizar das amarras e do aprisionamento da alma fragilizada por uma relação de coisificação que envolve grande parte do binário homem-mulher.

Tudo está escrito aqui no blog de maneira caótica: não poderia ser diferente, pois a memória, para a mente, baseia-se no registro reacional às emoções, não ao tempo.

Acho mais honesto, partindo do princípio que historicidade pode ser transformar num anacronismo míope.

Neste sentido, utilizei o registro contido em meus diários: escrevi tudo que vivenciei dentro das mais marcantes experiências misóginas que nunca antes havia experienciado.

O resultado está disposto a seguir, aos poucos, e espero ser de grande valia para as que procuram respostas.

Para essas, basta a revelação do silêncio e a aparente solitude da alma, pois, afinal, como já disse Albert Einstein: “penso 99 vezes e nada concluo; deixo de pensar e eis que o Universo se me revela!”.

Assim, a solitude é apenas aparente, porque advém, logo a seguir, a profusão da completude, que é exatamente a (re)conexão ao Universo, e, sobretudo, ao Eu, muitas vezes negligenciado por nós, que nos vulnerabilizamos ao longo da jornada para um túnel cujo destino simplesmente desconhecemos.

Florbela Espanca


Aprecio muito Florbela Espanca, desde a emancipação de Amar! até a contagiante expressão eufórica de Versos de Orgulho.

Existe uma poesia, contudo, que traz um trecho com o qual me identifico bastante...

Eu...

(...)

"Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo para me ver,
E que nunca na vida me encontrou!"

Muitos já me viram, poucos, porém, encontram minha alma, pois, em meio a um caos mental, perderam-se na escuridão de seus medos e, com isso, deixaram escoar a doce percepção de mim...

Sou sonhada, muitas vezes sentida.

Poucas, porém, compreendida.

Compreendo-me dentro do caos e, compreendendo a incompreensão alheia, aguardo o mundo transitar por mim...

Fàilte, Dia da Terra!


Dia 22 de abril de 1970: aproximadamente duas mil universidades, dez mil escolas e muitas comunidades participaram da primeira versão do Dia da Terra, um momento de reflexão sobre consciência ambiental, biodiversidade, contaminação.


Fico pensando em meus preconceitos, porque sempre falo mal dos estadunidenses de um modo geral: não farei mais isso, pois, afinal, tem gente preocupada e despreocupada em todo canto do mundo!
O Senador Gaylord Nelson, ativista ambiental, criou a pauta de comemorações do Dia da Terra, deixando claro não se tratar de uma data apropriada por governos, instituições, entidades. O povo, a unidade de diversidades, o maior expoente para compartilhamento desse dia especial.


Um excelente dia para avaliações, reflexões...


"O que posso fazer para minha permanência nesse Lindo Planeta ser menos impactante?"

Nossa, muito, muito pode ser feito, a começar da conscientização sobre reciclagens de lixo.

Minha grande amiga trouxe uma notícia interessante: em reunião de condomínio, alguns se posicionaram no sentido de achar que a idéia de reciclagem traz sujeira. Hahaha!

Sabe no que pensei com minha mente e língua ferinas?
Que a sujeira vem de quem, pensando nisso, é anti-higiênico por pressuposto, porque procura a lei do menor esforço. Sim, a lei do menor esforço está diretamente ligada à ontologia (digamos assim) do "ser porcalhão e não se preocupar" . Nós fedemos, por pressuposto também, bastando cheirar, todo dia, a latrina recém-preenchida com nossas fezes, bem como nossa urina cheia de toxinas, além do maravilhoso cheiro da idade, que se aproxima...
Talvez essa odisséia de cheiros da Natureza humana nos incomode e, por projeção, achemos que o lixo reciclado, seco, papel, metal etc. assim também o faça.
Pode até ser, mas apenas para quem não tma noções básicas de higiene pessoal e, com isso, não saber se limpar. Afinal, ainda tem gente que vai ao banheiro e não lava a mão, coça o ânus e pega o pãozinho...

A imundície está em nosso comodismo...

Por isso, pessoal porcalhão de um condomínio aí de Águas Claras, limpeza na mente e, de preferência, com mangueira de bombeiro!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Espelho, espelho meu, minha companheira é tão eu quanto eu?


Não, vocês não estão com miopia, problemas visuais: a mulher pintada é a "cara" do pintor. Trata-se de uma das obras de Magritte, um pintor de soube retratar, como ninguém, o prenúncio de tudo aquilo que vem as ser o desvendamento de um Universo androcêntrico ainda pouco conhecido nosso.

Como vemos, o pintor, todo envolto na "couraça" de um paletó uniformizante, que esconde sua essência e o padroniza num estereótipo excludente (já que o estereótipo de mulher docilizada não usa esse aparato, melhor, essa armadura), pinta, cria, reinventa o modelo de mulher que seja seu alter-ego.

Somos espelhos reificados de um Universo que nos consagra, por meio da desqualificação, a uma posição secundária em relação à identidade. Somos "pintadas" e "geradas" numa "nova modelagem", à imagem e semalhante de nossos criadores.

Essa a perspectiva com que li o quadro, dentro de uma compreensão de mundo em que o universo rico e complexo das relações humanas é reduzido à transformação da genialidade da mulher em um mero objeto de deleite, pintado à mão, do jeito que melhor aprouver ao parceiro.

Dentro disso, o problema: quando o parceiro descobre que a pintura que fez em seu universo emocional e mental não corresponde à aquele "ser estranho" que está à sua frente, o susto!

E alguma certeza, é claro, que com algumas palavras, o falar correto, tudo se resolve, porque a fala mansa do mané, do lobo na pele de cordeiro, passa a ser a última esperança do perverso (sim, a essa altura estou falando em perversão) que, tentando manipular a palavra, ainda tenta colocar a parceira na forma de bolo da aparência de si...

Eis o retrato...

Ciclo da violência doméstica: será, assim, tão distante de nós?

É muito interessante interagir, descobrir no trato diário com o semelhante retratos de nossas próprias dores e alegrias, em sincronicidades que desafiam a lei de aleatoriedade do Universo... Com essa premissa genial (cheia de modéstia), lancei-me e em um de meus passeios por aí, imersa no mundo etnográfico da minha libertação do juridiquês que aprisionou minha alma na crença pífia de que a norma resolve a vida.

Foi quando me deparei com maravilhosas cenas de mulheres que reproduziam em suas vidas, ciclos de violência doméstica, em graus quantitativamente distintos, mas qualitativamente semelhantes.

Tudo começa no detalhe do vestido, no decote percebido, passando por um procedimento de desqualificação - providencial até - dos atributos e das qualidades que, outrora, foram foco de admiração por parte dos parceiros. "Amor, num tá muito curto esse vestido?" - replicam alguns. Outros, à escusa da premissa de "só tem ciúme quem ama" e outros mitos, vão de "Nossa, cê tá bonita! Prá mim é que não é! Tá me traindo?"

Em outro nível, mais sutil e, para alguns, mais pernicioso, vem a deixa do companheiro capachão, aquele que se faz de sonso, "cavalheiro", de compreensivo, que sempre está a escutar a companheira, mas que, no fundo de sua psiquêm deseja destruir o ser amado, porque seu sucesso revela o fracasso do companheiro na relação.

Ih, são muitas histórias, mas todas elas começam com a sutileza do discurso de, em nome de um "ciúme" apimentador de relação, iniciar o "doce processo" da desqualificação, cercando-se a companheira de situações, dissimulações, jogos de palavras, caras e bocas, no intuito de confundir.

É importante saber que violência doméstica contra a mulher é, antes de qualquer materialização física, um "cerco" à alma da mulher, por meio de tal expediente psicológico, forjado para confundir a companheira e, logo a seguir, sair um sonoro "cê tá louca?"

Sim, louca, histérica, desequilibrada: eis a maneira como a mulher em legítima defesa emocional é vista. Isso porque, a docilidade de nossos corpos moldados à imagem de Adão nos condiciona, aprisiona e nos empurra para o jogo de submissão. Temos que ser dóceis, passivas, pois isso é "coisa de mulher". "Mulher de verdade não age 'como' homem, não grita, não fala palavrão, não chuta o pau da barraca".

"Mulher de verdade" não coça a buceta (ops, falei palavrão, xiiiiiiiiiiiiiiiii), não peida (ai, ai, que vocabulário), não caga, enfim, não é humana, é objeto, reficado no transcurso temporal que nos reduziu a pó...

"Mulher de verdade" não ganha mais que o namorado, companheiro etc., assim como também não questiona e não se contrapõe ao falsete do jogo que o androcentrismo fez e faz com as pobres almas mortais desses homens por aí...Pobres homens que se convencem que o órgão genital é a maior riqueza que o Universo ofertou a eles... O biláu, porém, não pode cair, pois, caindo, leva por terra a virilidade e, com ela, o Santo Graal dos maravilhosos homens misóginos e machistas, que ainda insistem nessa falcatrua de produzirem feridas no feminino.

"Desculpe, desculpe, desculpe, não foi minha intenção" - essa é a frase que mais escuto por todos os lugares em que me deparo com mulheres nessa situação. Pergunto-me, por vezes: a questão diz respeito à volição? Apenas volição? E quanto à cognição? Como estão esses homens em termos de conhecerem a si e reconhecerem em si o fantasma do machismo entranhado?

Como tantas desculpas em efeito cascata acarretam, por uma doce ironia, a incidência na mesma tipologia de agressão? Será difícil enxergar que violência se manifesta em palavra? Em jogo, em discurso justaposto? Quantas mulheres maravilhosas terão que perder sua sanidade para que a violência psicológica seja vislumbrada no espaço em que deve ser?

Não sei, mas, ao menos, fico muito feliz por saber bem como desejo cortar meu cabelo, como me sinto bem com as roupas que visto, e como sou feliz mandando gentilmente meus queridos homens maravilhosos todos à merda!

Vão à merda!

Uau, que libertário!

Os sonhos e a psiquê...


Essa noite providencialmente sonhei com água.

Para Jung, os sonhos são uma forma de comunicação do nosso inconsciente não "domado" e moldado pela racionalidade. O retrato mais fiel de nossa alma, bem como de nossa psiquê.

Sonhei - o tempo inteiro - com água, uma água de uma enchente que avassalou Brasília, pois o cenário era o Lago Paranoá. O interessante foi que, no sonho, eu sabia e comentava com uma pessoa (minha professora de yoga) que aquele lago era artificial.

De alguns pontos de imundação, contudo, despontavam partes de pontes. Bem verdade que estavam submersas em boa parte, mas, enfim, brotavam como esperança, em meio ao atordoamento da inundação.

A água estava turva, sem que eu pudesse ver o fundo do lago artificial. Mas, durante o sonho, compreendi e senti que era possível sair dali, o que, de fato, tentei fazer em vários momentos, indo e vindo para alguns pontos secos. Mas, sempre, sempre, estacionava em uma margem que me acenava para a água "suja".

Em outro momento desse sonho providencial, minha amiga Juliana veio ter comigo e, juntas, ficamos à frente da tela do computador. Pasmem, eu tentando me comunicar com os atores de Harry Potter, numa confusão entre eles serem eles mesmos, ou, ainda, Harry Potter e Hermione. O meio de comunicação não poderia ser outro: o que mais desprezo, o Twitter. Eu nunca acessei, sempre achei inútil, mas, naquele momento, eu desejava ardorosamente falar com os atores...

Tenho pensado no sonho.

Volto, reflito.

A água sempre representou para mim o campo das emoções, de modo que suspeito ter o sonho revelado o grande mar de confusão emocional em que posso me encontrar especificamente diante de uma questão. Um mar de emoções "artificiais", tão artificiais quanto a água do Lago Paranoá que mencionei para a professora no sonho.

Encontro-me a desvendar, pois, meu sonho, de emoções truncadas e artificiais, num momento em que a ponte que me leva para o outro lado dessa jornada ainda não me está acessível por meu inconsciente, perdido em meio a tanta sacudidela.

Tempo, somente o tempo...e mais águas, desata vez, claras e límpidas, poderão trazer mais clareza no que pretendo refletir...

quarta-feira, 14 de abril de 2010

A morada...

Já havia um tempo desde a última vez em que postei uma foto do caminho para o Vale do Moinho - Alto Paraíso-GO. Essa foto marcou minhas lembranças, porque, a cada vez que eu descia os 12 kms de estrada de chão, lembrava o quanto é maravilhosa a sensação de bem-aventurança, por simplesmente estar onde o coração, há tempos, estabeleceu sua morada.
Agora sinto-me renovada, plena e confiante. Não ouso falar em "segura" ou "certa", porque não existe segurança ou certeza num Universo de assimetrias - Marcelo Gleiser em sua sabedoria ensina isso todos os dias - mas, ao contrário, existem opções em meio a tantas incertezas.
Eis-me aqui de coração...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Lua adversa


"Tenho fases, como a lua

Fases de andar escondida,

Fases de vir para a rua...

Perdição da minha vida!

Perdição da vida minha!

Tenho fases de ser tua,

Tenho outras de ser sozinha.


Fases que vão e que vêm,

no secreto calendário

que um astrólogo arbitrário

inventou para meu uso.


E roda a melancolia

seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém

(Tenho fases, como a lua)...

No dia de alguém ser meu

Não é dia de eu ser sua...

E, quando chega esse dia,

O outro desapareceu..."


Cecília Meireles

A bolha de sabão numa relação de hierarquia de gênero

Bolhas de sabão são singelas: mudam, por átimos de segundo, a realidade colorida pela leveza da água em suspensão, ao mesmo tempo em que nos lembram que, dentro de sua efemeridade, transformam o mundo e perecem, deixando apenas a doce marca da lembrança.

Um relacionamento dentro de uma agenda de hierarquia de gênero é assim, uma bolha de sabão. Muda, por instantes, a realidade, embeleza, projeta metas, planos e sonhos e, depois disso, ou até mesmo antes, explode, fenecendo e levando consigo o que poderia ter sido e que nunca será - quão efêmera é a bolha de sabão!

O relacionamento hierárquico e androcêntrico chega aos poucos, leve, belo, com passionalidade, identidade, divisão de projetos e sonhos. Centra-se na promessa da igualdade, do respeito à individualidade e da auto-reflexividade em relação ao compartilhamento, por parte dos amantes, da crítica ao androcentrismo com que boa parte das relações são formadas e desenvolvidas.

Idéias são enaltecidas, valores e qualidades são tidas como o suficiente para encontramos "almas gêmeas" aos montes, fruto, talvez, do afã de encontrar, dentres tantas bolhas, aquela que se encaixe em nosso sonho de uma bola perfeita. O parceiro ou a parceira entende, compreende, acha emancipatório, enfim, entra conosco na bolha por ele ou ela criada e, dentro disso, partilham projetos e metas.

Mas tão logo a "zona de conforto" e "segurança" presentes no binário androcêntrico aparecem, a bolha se rompe, fazendo extravasar a realidade encoberta, por momentos, pela beleza daquela forma perfeita que baila nos céus.

A qualidade é, na verdade, o pior defeito, encoberto pela sensação de leveza da bolha, que encobriu a estrutura em cima da qual uma relação de gênero pode se balizar: hierarquia, desqualificação e destruição da igualdade. O mundo que outrora era diferente, volta a ser como sempre foi: espaço do "macho" e sodomizador da emancipação das mulheres.

A mulher emancipada, dentro da ótica androcêntrica e machista, é tida como "chata" só por mostrar sua opinião em debate, contestando a ordem em que se lastreou boa parte da produção literária, acadêmica e profissional. É temparamental e "histérica" (de hysteros) porque, dentro da estreita visão dual, não pode agir na defesa de sua essência, qualquer que seja o ato que ira praticar.

Não pode xingar, falar palavrão, assim como sequer pode pensar em legítima defesa quando instada a fazê-lo: deve, pois, abrir o peito, mostrar o coração e, dentro disso, morrer feliz na mão de seu algoz, porque, afinal, a "compaixão é qualidade feminina, tal qual Nossa Senhora".

E o relacionamento hierárquico-bolha-de-sabão?

Revela apenas o que é: um bonito passatempo, mas que, ao menor sinal de profundidade, não ousa deixar de ser apenas um pouco de sabão diluído em água, que irá compor, por frações de segundo, os céus, indo perecer como perecem sonhos construídos em sistemas simbólicos opressores: virando cristais de água...

domingo, 11 de abril de 2010

Pérolas de Woolf



"Encarar a vida de frente, encarar, sempre a vida de frente

É conhecê-la como ela é.

Enfim, conhecê-la.

Amá-la pelo que ela é.

E, depois, descartá-la"



"Não se pode ter paz evitando a vida"

Liberdade...

"Liberdade é pouco para mim. O que eu quero não tem nome"
Clarice Lispector

Quem tem boca vai à Roma?

Acho um equívoco muito grande entender a linguagem como sendo induvidosa em seu significado, enquanto expressão de almas, sensações e sentimentos.

Quantas vezes nos pegamos "senhoras" e "senhores" da razão por nossos comentários, nossas opiniões e falas quando, para o outro, abre-se um universo infindável de possibilidades?

Comunicar-se não é oprimir o outro com a certeza de uma convicção que é apenas nossa: é um constante exercício de humildade na construção conjugada do que se pretender partilhar em termos de idéias.

A língua portuguesa, filha bastarda do latim, herdou de sua ancestralidade o tom do autoritarismo. Basta ver o tempo imperativo, pois, a partir do nome, já evoca a opressão. "Faze tu", "faça você". Uma ode à falta de tato e liberdade, uma melodia à ditadura da idéia e, em nível mais sutil, à manipulação comunicativa.

"Você é isso", ou "você é aquilo" - enunciados semânticos repletos de truques, porque, se, de um lado, aparentam ser apenas a opinião de alguém que, de acordo com sua experiência e seu arcabouço, valora algo ou alguém, encerra, como "pegadinha" bem montada, o enunciado da generalização pérfida, que encerra em si a arrogância do colonialismo androcêntrico, que reduz o Universo a simplesmente uma ordem binária que se apropria discursivamente das palavras para criar uma realidade desqualificadora...


Ao mesmo tempo, encerra o compromisso da covardia em não se revelar dentro de suas opiniões. Quem mal existe em afirmar, em alto e bom tom, que "minha opinião é", ou, ainda, "eu tenho a impressão"... Não, pois precisamos oprimir, essa é a única linguagem que, muitas vezes, somos capazes de criar, do auge de nossa torre de marfim,de onde olhamos o mundo, como se donos e donas dele fôssemos.

Esquecemo-nos que a língua é , juntamente com a alimentação, o primeiro modo de opressão e controle. Ao final, ambos relacionam-se à alimentação e à boca. A boca maldita que sacode e cospe, vocifera e maltrata. Sempre que desdenhada ou relegada.

Quem tem boca vai à Roma! Será? Pode ir à %#%$@#@$ PQQ!

O "Ser" Mulher e os perigos da essencialização num mundo de multiculturalismo

Não compartilho a idéia de generalização em relação às "expectativas, aos anseios e interesses" das mulheres - de nós, mulheres - diante de um construto tão plúrimo como é "mulher", encerrando possibilidades identitárias que não se esgotam no essencialismo do binário macho-fêmea, muito menos na tentativa de consolidação de um rol de atributos "feminilizantes".

Isso manteria - e não emanciparia - o duplo binário de estar, ser e parecer (ser compreendida como) amoldada a uma - e somente uma - das possibilidades que a identidade oferece. Dentro disso, penso, a literatura de gênero, as discussões queer etc., têm muito contribuído para o redimensionamento, na cotemporaneidade, dos papéis.

O que indago é se é razoável falar em uma essencialização do que "é ser mulher" e, dentro disso, entender ser também razoável arcar com a responsabilidade que isso gera, ou seja, de apartar do critério de definição (dual, cartesiano) possibilidades de identidades que se entendem inseridas numa dimensão de feminino, mas que, de acordo com a atribuição dicotômica, ficam discriminados.

Não estaríamos fazendo a mesma apartação - fragmentação etc. - que o patriarcado sempre fez?

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A cansativa e esplendorosa dualidade!

Por que?

Por que?

Por que?

Não quero, não vou fazer, minha liberdade...

Blá-blá-blá...

Ou, ainda, a pós-modernidade e os influxos dos movimentos sociais em sociedades periféricas. Arghhh!!! Chega de tanta verborréia! Engraçado como passei 9 anos fora da universidade e, quando volto, os dilemas são os mesmos, quase todos girando em torno de egos saltitantes, que encontram outros egos e, na antítese egóica de tanto estrelismo, auto-intitulam-se "academia". Compreendo isso de um local de fala deslocado do contexto, porque percebo tanto o discurso, como a linguagem, difusa, simbólica e subliminar, parecendo quase inconsciencial (isso se realmente não for, porque a ingenuidade comportamental denota - para mim, claro - ou imbecilidade no olhar da alteridade, falta de consciência de si etc. - é, não quero rotular porque, de fato, caio no vazio dual do 1-0).

A questão que levanto é: tanta arrogância e tanta razão em si (em dó, ré, mi, quem sabe, uma sinfonia) para desginar apenas... pessoas, que pensam (vá lá, pensam que pensam porque criam e fomentam as regras do pensar em torno de si), mas que andam, batem os carros, assoam os narizes, urinam, defecam (será que o côco é mais "epistemologicamente" cheiroso? Não sei, acho que não)

Enfim, pessoas que não se desarmam, que estão prontas para o bote, que desejam ter a palavra final e que, sobretudo, iludem a si mesmos e mesmas e, dentro do vazio de seus corações, não amam...Não amam...

De Feyerabend a Capra: uma "pancada" no método

Estudar Física tem uma grande vantagem, principalmente se for Física Quântica: metodologia anarquista passa a ser uma opção "colapsada" que vem bem a calhar numa época de crise, em que os "modelos" (ou a insistência no apego a eles) é a marca maior do desespero da academia em firmar algum tipo de discurso para a manutenção dos nichos ideologizantes.

O conforto do anti-método (reconhecendo, porém, na oposição a reprodução indireta do modelo) traz uma paulada no processo de conhecer. Principalmente se o antagonismo ataca o reducionismo com que o determinismo newtoniano defuiu força para as ciências sociais depois fazerem a farra no Positivismo comteano que até hoje dá nos nervos (hehehe, a galera do Direito bola de rir, negando, mas o "método" de pesquisa do Direito é tão (ou mais) dogmático do que qualquer medição de quantidade de movimento ou gravidade! Dogmático por não se comunicar a priori com o campo (nichos sociais, políticos, econômicos), mas, antes, pretender - nesse mesmo apriorismo - compartimentar a realidade como uma forma de gelo tenta subverter a água...

Antigamente eu via Feyerabend, Capra, David Bohm, Amit Goswami, Danah Zoahr e outros e outras físicas apenas como referência epistêmicas nas ciências "exatas" (que nada têm de exatidão ante a complexidade sub-atômica, o verdadeiro cenário invisível onde se processa a vida. Mas, agora, olhando para o Direito com as lentes fenomênicas, percebo o colorido que a discussão do anti-método, ou não-método como uma opção de método, pode trazer.

Legal...

terça-feira, 6 de abril de 2010

A bem-aventurança nossa de cada dia!


Bem-aventurança...

Depois de tanta reflexão sobre as desavenças de uma cotidiana oposição de sexos, gêneros e interesses, voltei meus pensamentos para uma sensação que me persegue há tempos: a sensação de estar conectada a algo tão sublimemente maior do que minha existência que me faz sentir alegria em olhar para um sol se pondo, as árvores verdes.

Ou, ainda, tomando aquela chuva fina no rosto e me sentindo LIVRE! Bem-aventurança é um estado de complexas e ricas sensações conjugadas: bem-estar, languidez e calmaria de espírito e, mesmo diante da impermanência, de perpetuação, a perpetuação do júbilo.

Não é a alegria histérica, de rompante, mas um silêncio e uma quietude internas que trazem compreensão de mim e do mundo, num balé de intensos "sentires".

Dias atrás foi o vento...Ele acariciou meu rosto, passando sua mão refrescante e me dizendo, silenciosamente, que tudo está seguindo o fluxo da constância da vida. Depois disso, o céu, convidando-me a continuar minha jornada, movimentando em perfeito compasso com as batidas do meu coração que, já tem um tempo, está nessa bem-aventurança...Muito tempo de bem-venturas...

Olho o mundo, contemplo o espetáculo de tudo e sigo, sigo rompendo limitações e paradigmas que já trouxeram sua colaboração à minha vida. Acredito que os modelos e os paradigmas exerçam em nossas valorações um continuum dialético, no qual os processos são um lindo composè de nossa trajetória, nos fluxos e refluxos que, ao final, mostram a pulsação.

Hoje acordei muito grata...

Grata por acordar, respirar mais uma vez a cada instante.

Grata por me relacionar com pessoas que acrescentam, grata por conviver com outras tantas, por aprender a me desapegar e deixar o fluxo seguir.

Grata por conviver com seres maravilhosos, que são minha família aqui em casa.

Grata por estudar, estudar, ler e ler. Refletir. Por trabalhar a mente.

Muito agradecida ao Universo, por me entregar a vida!

Namastè!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Faxineira? Secretária do lar? Saia dessa e pegue uma vassoura!


Já tem um tempo desde quando pensei na questão do trabalho doméstico...

"Secretária do lar", "colaboradora", "diarista", não importa, são truques semânticos dentro de uma percepção politicamente "correta" para tentar aliviar a carga diametralmente oposta, da humilhação, opressão e do descaso que o serviço doméstico ainda possui.

Palavrinhas bonitas forjadas na cotemporaneidade para designar práticas coloniais de subserviência não desnaturam a essência da percepção com que se vê o trabalhador doméstico, sob o estereótipo de uma pessoa sem educação, cultura, geralmente mulher e negra.

Fico abismada quando vejo alguém que se rotula (eu não faço questão de rótulo, mas, quando a pessoa se reconhece num local de fala de rotulação, não posso fugir disso) coerente em termos de sustentabilidade, de luta por igualdade social etc. manter uma trabalhadora doméstica e lhe pagar o parco salário mínimo.

Ou bem remunera dentro da ótica do relevo da atividade (acho complexo e um ato de adoação limpar a latrina de outra pessoa), de acordo com o valor do que está em jogo, ou, então, pegue a vassoura, meu, e vá varrer. Isso, pois até mesmo o exercício sacerdotal e diário de limpeza pode dar a exata medida do que é o trabalho dentro de casa.

Minhas mãos estão enrugadas, com marcas de produtos de limpeza, ou, ainda, com calos de tanto torcer roupa. Divido-me entre os livros do doutorado, críticas feministas e... pratos, fezes e urina de gatos e cão, almoço, pão etc. Hoje sei que qualquer trabalho em casa - no espaço privado - adquire um sentido de sensibilidade similar ao trabalho mental no espaço público. A lógica capitalista que distorce essa perspectiva e atribui sentidos e valorações assimétricas.

Não teria ninguém aqui em casa por menos de R$1.800,00, num chute mal dado, porque, de fato, estou equiparando ao valor da bolsa de doutorado. Como não tenho e, talvez, ainda assim, não concorde com a dimensão discriminatória dada ao trabalho doméstico, prefiro rachar as mãos a explorar pessoas...

Ode ao amor e à solidão


Recai a dor, na intensidade de uma sombra
De lápide fria, num deserto seco
Separa o Sol da Noite
E condena à morte o que, ontem, foi a realização do júbilo
Mordaça causticante
Que esbarra, afoga e afaga
Cada minuto de dor
Abraça como o fiel alento
Da matriz torturada
Intensa
Atolada
Em sua própria morte!


A dor esvai...
Escoa...
Alastra...
Perfura o coração, sem piedade ou compaixão
Tangendo de chaga
O que foi, outrora, o campo sacro do amor infinito
Infinito?
Infinita dor, infinita mágoa, que locupleta
Marca, fere, mata
Raio de Sol que se foi
Nem sei bem quando...


Amor, doce odioso amor,
Retrato findo de retumbante dor
Porta do precipício


Infinitude que dura o esbarrão no ego
Infinitude de apenas se contenta com as horas de paz
Pois as de guerra, as de guerra
Tangem de sombra e dor o que fora
Brilho...

sábado, 3 de abril de 2010

Enquanto não faço minha farinha...



Hoje fui ao supermercado, depois de um rigoroso inverno nas imediações...

Não poderia ser mais providencial o fato de ir ao supermercado numa véspera de Páscoa, cujo único sentido para as inúmeras crianças tiranas era a opressão de seus pais e mães repletos de remorsos e olheiras.

"Manhê, eu quero esse." - dizia um. "Não, eu quero o que vem com carrinho", berrava outro. A "garotinha", vestidinha de rosinha com lacinho na cabecinha queria um ovinho que combinasse com sua roupinha, também rosinha... Comportadinha, recolhidinha, cheia de tiraniazinha, chorou, chorou, debatendo-se no chão até a pobre mãe com olheiras pegar o ovinho fofolete que desejava.

Eu que estava ali apenas para comprar minha farinha integral - que estava em promoção - a ração dos gatos e um cogumelo para meu almoço, percebi que oferta alguma para a paz de espírito em relação a ver o mundo se deteriorar bem à frente. Sim, essa é a minha opinião, porque, dentro de tanto ovinho, tanto carrinho e roupinha rosa, enxergo teias outrora mais sutis e, que hoje, estão toscas, bem toscas, para quem quiser e puder enxergar.

Os condicionamentos de passividade da mocinha cor-de-rosa já começaram ali, para a menininha, que apreendeu bem as lições de manipulação e subserviência: basta se fazer de vítima que tudo de resolve. O meninão, por sua vez, é o "princípe", o "rei da mamãe" e pensará - mesmo - que o mundo lhe deve obediência, por conta do seu pauzinho de ouro...

E o carrinho? Ah, sim, o carrinho é o bem de consumo que o menininho perseguirá a vida inteira, para que, com ele, seu pauzinho seja idolatrado e a menininha (sim, aquela de rosinha) possa transar com ele na hora em que ele quiser.

Pensei, vendo languidamente a cena, que preciso aprender a fazer minha farinha. Afinal, já faço iogurte, pão, amaciante, detergente... falta-me o monopólio do conhecimento da farinha para que possa me ater ao hemisfério da minha morada!