sábado, 22 de dezembro de 2018

Quando é tempo de não retornar...

Segundo Heráclito de Éfeso, "homem algum pode se banhar duas vezes no mesmo rio". Dito de outra forma, o tempo não volta, fazendo com que tudo que experimentemos em dado período de nossas existências se firme na ideia de instantaneidade e irreversibilidade dos processos, sobretudo aqueles que dizem respeito à maneira como elaboramos relacionamentos.

Nesse contexto, considerando o referencial que adotamos como padrão de mensuração, fincado na ideia clássica de linearidade temporal (anos, meses, dias, horas, minutos, segundos etc.), inexiste retorno nos processos e nas situações vivenciadas em cada fractal de tempo

Cada momentum traz em si a referência do início-meio-fim, ou seja, sua completude enquanto evento, acarretando perdas e ganhos em escolhas em relação ao que fazemos diante da inevitabilidade da seta temporal que nos move, nesse contexto, para a frente, até o devenir do fim de nossa permanência física nesse planeta.

Ainda que se saia da "reta" de determinabilidade temporal linear - típica do sistema ocidental de mensuração - para adotarmos movimentos cíclicos e estados temporais relativizáves, o retorno absoluto ao estado das coisas também é discutível. 

Os celtas, por exemplo...

Mesmo que vivenciassem a espiralização da ideia do triskle com seus três braços numa roda de onde não se consegue visualizar o início ou o fim, concebiam o tempo como um suceder ou um movimento espiral, no qual os processos, ainda que similares e intercomunicantes (como se vê na passagem do dia para a noite e vice-versa), são distintos. 

É o que sustenta, de um lado, a concepção de eterno retorno da alma para experienciação de novas vidas e, de outro, o ineditismo dessa vivência em termos de memória e replicação de fatos e eventos.

Em nível de experienciação no aqui e no agora, estamos sempre sujeitas ao conteúdo latente de nossa memória emocional, sensação nostálgica ou lembrança do que se viveu, uma espécie de print na tela de nossa consciência e, sobretudo, do acervo de sensorialidade que acionamos sempre que vivenciamos algo. 

Tal memória, ora vivenciada à integralidade - como se nos transportássemos para o passado - ora sentida em lapsos, contudo, também não faz com que retomemos a configuração tridimensional do que passamos. 

O que foi, foi-se...

Mas, a despeito disso, em algumas vezes (para alguns, muitas vezes), esse eterno retorno da emoção latente que não se esgotou pode elaborar uma continuidade de repetições de eventos, numa sensação de se estar vivendo, a cada experiência que se afina com o padrão repetitivo, a "mesma história" várias vezes (lembrando aquele filme Feitiço do Tempo).

Ou então, a percepção de continuidade de histórias que, de fato, já se exauriram e ficaram para trás, impedindo-nos, dentro disso, de superá-las e seguir adiante em nossas vivências. 

Quem nunca teve aquela pontada de nostalgia diante de uma história de amor, interrompida e que nunca foi concretizada? Aquela sensação de "como teria sido se não fosse"? 

Essa "alça" temporal, contudo, constitui processo que, de fato, além de não ser mais o mesmo, acarreta tentativas frustradas de retorno a algo que não irá se refazer, muito menos prosseguir ou continuar, pois o momento, as pessoas, o mundo, tudo é distinto...

Isso não quer dizer que não se pode pretender concretizar algo...quer dizer que todos os processos, ainda que se firmem em aparentes repetições, são movimentos novos, que demandam novas posturas emocionais, na medida em que amadurecemos diante do transcurso da vida. 

Se não amadurecemos, o preço a ser pago é bem alto: repetição das "velhas"/novas lições, que representam os padrões em nossas vidas, numa espécie de sensação de não se estar "saindo do lugar". 

Aprender, então, com o processo no passado, rompendo a alça da memória emocional que nos encaminha para esse "patinar" infinito, é uma grande tarefa existencial.

Diante disso, não é possível retomar um relacionamento que ficou lá atrás, nas mesmas configurações em que se firmou no passado. Não existe "dar continuidade", "prosseguir", "retomar", mas a necessidade de se conscientizar a respeito do que se findou, tendo por contexto nossa forma de encarar o processo lá atrás, em contraponto à maneira como, no aqui e no agora, podemos nos movimentar diante do que se apresenta. 

Os chamados "relacionamentos cíclicos", segundo a PhD Amber Vennun (Universidade da Flórida), tendem a tornar as pessoas infelizes, tendo em vista que, mesmo com a ideia que "será diferente", existe uma reprodução de hábitos e comportamentos antigos. 

Segundo a mesma pesquisa (2014), os membros desse tipo de relação têm autoestima baixa, mostram-se menos satisfeitos com o parceiro, além de não se dedicarem à comunicação necessária para a elaboração do relacionamento. Dentro de uma "zona de conforto", o discurso dos casais é ambíguo, acarretando incertezas e inseguranças: a receita certa para o fracasso.

Ou seja, não há retorno...Outras emotividades, outras bases de relação, outras reações e outras reações. 

Só assim é possível, não viver novamente o que poderia ter sido vivido, mas iniciar uma nova trajetória, conquanto as pessoas que elaboram o relacionamento tenham consciência de todo esse processo, pois, dito de outra forma, a assimetria emocional acarreta a sensação de fardo, peso e repetição de processos e, dentro disso, o desânimo e a perda do sentimento.

A ideia hollywoodiana, pois, do herói que volta para a amada, depois de 40 anos, é uma fantasia. Real é a percepção e a consciência de efemeridade dos eventos, pois na experienciação da instantaneidade, quando fazemos escolhas conscientes, somos mais responsáveis pela elaboração de nossos caminhos...

Simples assim...


sexta-feira, 16 de novembro de 2018

De cheiros, aromas e flores: as maravilhas curativas da Aromaterapia


A aromaterapia é, sem dúvida, uma das imersões mais significativas que a Natureza coloca à nossa disposição, de maneira gratuita e singela, para que possamos transpor as limitações espaço-temporais e nos lançar ao bem-estar do prazer profundo do estado pleno de alma e consciência.

Afinal, quem nunca se deixou levar pelo aroma delicioso de uma comida cheirosa e bem feita? Ou, então, aquele perfume de lavanda "recém-saída do banho"?

Óleos, perfumes, essências: tudo produz, em algum nível, peculiar imanação, fazendo com que nos identifiquemos com o aroma. Aliás, inexiste no olfato, ao contrário de outros sentidos, intermediário com o cérebro. 

Perfume ou odor chegam diretamente ao cérebro, razão pela qual não é possível fazer uma cartografia dos aromas, a exemplo do que se tem no caso da visão, do tato e da audição. 

O campo é muito amplo, trazendo ramificações a respeito de como utilizamos os aromas e cheiros...

Quando se fala em herbologia ou fitologia, por exemplo, estamos a fazer um estudo mais amplo das ervas, em suas expressões plurais. Nome científico, localidade originária, propriedades dos elementos (raiz, caule, folhas, flores e sementes). 

Trata-se, sobretudo um estudo sistematizado, em conformidade com o paradigma oficial de ciência, estruturado em pesquisas laboratoriais, dotado de certo credenciamento e, dentro disso, ora inclusivo, ora exclusivo. 

Prova disso é o monopólio das patentes em relação a algumas ervas e plantas, como a babosa (redesignada como aloe vera), acarretando questões até mesmo jurídicas de direitos de propriedade e restringindo o acesso por parte das pessoas. 

Em outra dimensão, mais artesanal e ancestral, temos a aromacologia, que é o estudo sistematizado e mais específico dos aromas, independentemente da origem das substâncias (que podem ser animais, minerais e vegetais). 

Fica aqui a dica do livro Aromacologia: uma ciência de muitos cheiros, de Sonia Corazza (São Paulo: Editora Senac, 2002), que explora esse vasto horizonte dos aromas. Reproduzo aqui a capa para quem desejar ver, lembrando que o site Estante Virtual tem sempre a opção do livro usado, bem mais em conta em termos financeiros e de sustentabilidade. 
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Relacionada diretamente à perfumaria (per fumum, do latim, que significa "através da fumaça"), o estudo dos aromas e a aplicação desse conhecimento é bem antigo. Para alguns, remonta aos egípcios, que tinham no perfume uma forma de conexão aos deuses, por meio de oferendas e sacrifícios aos deuses. 

Ou, ainda, em outras civilizações, como a romana, a chinesa, a grega, a árabe e a bizantina, que reforçavam a importância do bom aroma até condição de higiene. 


Não importando a civilização, o uso do aroma é realmente uma constante histórica. 

Aromaterapia consiste numa técnica holística (terapêutica) que utiliza óleos essências e essências responsáveis pelos aromas das plantas, com a finalidade farmacológica (ou seja, com propriedades curativas), atuando na dimensão físico-orgânica, emocional e até mesmo psicossomática. 

Diferentemente de outras técnicas, a aromaterapia se vale de produtos de origem vegetal, mais especificamente a essência extraída como sumo ou alma da planta por meio de procedimentos hábeis para tanto. 

São usualmente chamados "óleos", mas, segundo GASPAR, não se trata de gorduras, e sim substâncias voláteis, tendo em vista que evaporam com facilidade (essa, aliás, é uma caraterística que facilita sua utilização como instrumento de trabalho (2004, p. 16). 

Diferentemente das chamadas "essências", que não têm efeito terapêutico quando utilizadas no corpo diretamente (pele, ingestão etc.), o óleo essencial pode ser aproveitado diluído em óleo vegetal para massagem, bem como para almofadas terapêuticas, cremes, shampoos, sabonetes, detergentes, sprays e hidrolatos. 

Tenho hábito de utilizar óleos essenciais para automassagem, bem como base para perfumaria, com a vantagem de me terapeutizar no processo. 

A partir de hoje, vou aproveitar o blog para compartilhar com todas alguns conhecimentos sobre aromaterapia, com a finalidade de espargir o maior número de informações para que as pessoas possam ter acesso a esse instrumental benigno que a Natureza oferece gratuitamente.

A ideia é que nos curemos e co criemos nossas realidades, superando questões internas e adotando uma postura protagonista de nossa caminhada nesse lindo planeta!

Que todos os seres em todos os mundos sejam felizes e plenos em luz!



terça-feira, 25 de setembro de 2018

A carne que sangra e renasce na superação resiliente


Uma das frases mais belas e paradoxalmente tristes que já tive a oportunidade de ler é de José Saramago e diz literalmente o seguinte: "Se tens o coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia". 

E por que o paradoxo? 

Afinal, poderia ser mais uma frase a colorir um estado profundo de tristeza em face do sofrimento, representado na frase pela expressão "...e sangra todo dia", não fosse um detalhe curioso, que diz respeito ao simples fato de igualmente ser libertador ter um coração de carne: a capacidade de amar pura e simplesmente, sem a interferência do mental comprometido pelas sombras de nossas limitações

Sem interesse algum que não seja o bem viver, o bem querer, a manifestação idílica de um estado de calmaria da alma. Uma realização do espírito. A verdade que promana do coração de cada qual.

Essa potente frase, desse potente e sensível escritor, traz à luz um lampejo otimista de observarmos que, independentemente do que as outras pessoas elaboram dentro de si como justificativa para estar ao lado de alguém, isso, de fato, é uma demanda ou um dilema do outro. 

O nosso dilema, derivado da maneira como vivenciamos esse estado pleno, consiste em simplesmente compreender os desafios que são plasmados pelas consciências de cada um de nós, que ilustrarão a maneira como, durante a vida, construímos verdades, histórias e caminhos.

A minha sempre foi e é viver sem medo de encarar a verdade, pois, afinal, ela é libertadora e clarificante. O que traz a contingência do medo, contudo, é a sombra, a não verdade, o truncado, não dito e acobertado. A torção que se faz dos fatos para, com nossa interpretação deles, gerarmos outras verdades, mitos e ilusões.

Eis a grande lição da frase de Saramago: o coração forjado no ferro duro das vicissitudes e dos desafios da vida e que passa a moldar nossa forma de agir, tanto em relação a nós mesmos, como, também, em relação aos outros é o coração que não se permite amar.

É o coração que se movimenta pela escolha mental de racionalmente optar, diante de possibilidades quânticas, o que reside de bom para o usufruto de ônus, numa balança de custo-benefício incompatível com a nobreza de levemente sentir.

É com o cardíaco, e não com a pineal, que nos projetamos para a experiência incondicional do amor. 

A pineal nos aponta, juntamente com a coroa, para a experienciação da consciência, mas, de outra sorte, no movimento interno de alocação energética dos chackras, é de baixo para cima e, especificamente, do cardíaco para cima que o fluxo de transmutação se faz.

Um mental avantajado, expandido e senciente, sozinho, não quer dizer muito. Seríamos como o Dr. Spock, o grande conhecedor da saga Star Trek, dotado de grande conhecimento enciclopédico, mas frio. Ou seríamos como grandes magos negros, que detém conhecimento, pineal e coroa amplos e irrestritos, mas ausentes de sentimento verdadeiramente altruísta.

Tal qual o ferro... 

Esse elemento, aliás, é bem interessante, dado o coeficiente de sua dureza. 

Com eles muitas armas foram forjadas e, por meio delas, muitas vidas foram ceifadas ao longo da espiral cármica do mundo. Ou seja, corações sangraram pela força do ferro penetrando naquele que é o músculo mais forte e, ao mesmo tempo, mais sensível do corpo humano.

Em Kali Yuga o império do ferro encaminha os fortes de coração de ferro para a luta pela sobrevivência, pelo uso estratégico da mente potente no sentido de buscar a vida, o bem estar, a realização. Para se fazerem escolhas pelas oportunidades que se apresentam nessa balança de custo-benefício.

Essa é a vida em seu sentido mais terreno, árduo e duro. Como o ferro.

Eis o sentido da frase de Saramago, bom proveito para quem tem uma couraça no peito, para quem faz escolhas pela privação e pelo direcionamento proposital da consciência expandida. Bom proveito...

Pois somente quem sofre e lacera a alma em função da nobre arte de amar pode saber, de fato, o caminho para a superação e transcendência. Sangrar, pois, é libertário. E nós, mulheres, sangramos em todas as luas. 

Sangramos, sentimos dor, retornamos. 

Vivenciamos a resiliência ante o impacto diante do ferro, pura e simples. 

É assim que verdadeiros guerreiros moldam o espírito e a consciência para a projeção rumo ao crescimento...

O sentido do triskle, a espiral que movimenta a roda para mais um giro...

domingo, 12 de agosto de 2018


ENTREGO
CONFIO
ACEITO
AGRADEÇO!!!

A indescritível leveza do estar...

Quem está acostumado a assistir aos filmes românticos mainstream - sejam os oficiais hollywoodianos, ou, ainda, os que se apresentam como alternativos "alla Diablo Cody" ou outra que o valha - sempre se deparam com algum tipo de cena de casamento, onde os enamorados, entusiastas do amor, trocam juras e proferem a frase emblemática "até que a morte nos separe".

Trata-se de uma significação que nos traz à lembrança a reflexão: o que, exatamente, significa isso? 

Significa estar ao lado, fisicamente, até o momento em que um desencarna? Um contrato de almas, escrito no livro das estrelas? Uma fatura a nos lançar, vidas e vidas, num trampolim de compromissos eternos com alguém?

Ou seria uma linguagem figurada a espelhar o fim do relacionamento em si mesmo? O fim de um ciclo, talvez?

Isso se aplica à toda sorte de relacionamentos? 

Não sabemos se existe uma resposta de valor universal, e, em meio ao desconhecimento, uma míriade de interpretações se lançam no ar. 

Gostaria de explorar uma delas, a que melhor expressa a sensação que ultimamente tem sido uma constante em minha vida, a constância da impermanência, o paradoxo que sempre está a nos desafiar.

Primeiro, que tipo de relacionamento está sujeito a esse recall?

Acredito serem todos, desde a mais branda interação entre colegas de trabalho, passando por amizades de longa data, relações de parentesco e relacionamentos em geral. 

Afinal, tudo está sujeito à impermanência, ao movimento, à consolidação e, sobretudo, à superação de si, sem que necessariamente seja um dramático fim.

Transformação... trans + forma + ação, a nova forma que a ação toma.

Como tudo que rege os Universos, relacionamentos se transformam, sobretudo, quando NOS transformamos. 

Não no sentido melodramático de avaliar ou julgar o outro e, na comparação, justificar o fim na conta da desqualificação do outro, mas de nos compreendermos de tal sorte que, a partir disso, simplesmente seguimos outros caminhos, sem dor, sem latência de mágoa ou frustração.

Talvez com o remanescente de uma sensação de "poderia ter sido se não fosse", mas nada que não seja facilmente compreendido como uma tentativa do ego em se apegar ao que toma como certo sentido de identidade e segurança no passado. 

Quando nos damos conta desse peguinha do ego, tudo fica bem mais clarificado e, a partir daí, podemos seguir em frente para novas aventuras, novos contextos e novos rumos. 

Tudo dentro do fluxo!

Minhas primeiras experiências de seguir em frente estão sendo mais profundas com meus círculos mais próximos de amizades. 

Melhor dizendo: com minhas expectativas ilusoriamente elaboradas em relação aos meus círculos mais próximos de amizade

Melhor dizendo, ainda mais: com a desconstrução do que EU inventei como sendo um modelo de amizade, considerando meus amigos como se projeções do meu ego fossem.

Daí, obviamente, a cobrança interna projetada na cobrança da alteridade. A sensação de que o outro, meus amigos e amigas, não me compreendem, entendem, não lidam direito comigo etc. 

Os três últimos meses de imersão profunda nos rincões da minha alma têm me trazido a consciência a respeito dessas criações de mundo: do meu pequeno grande mundo, para o qual procuro trazer as pessoas que amo. 

Uma redoma de Alê, na qual todos protagonizam parcelas egoicas fulgurantes, uma espécie de Game of Thrones em relação ao qual, ao final, o ego se perde, tamanha a confusão em termos de identidade e expectativas. 

Descobri, em meio a isso, que simplesmente tudo passa, amigos, parentes, namorados, amores platônicos, colegas, pessoas, seres, sensações.

Tudo está sempre passando no fluxo dessa impermanência...

Quando tentamos dar o "freeze" da câmera fotográfica, ilusoriamente retemos uma pequena parte disso tudo e, se não nos acautelarmos, vivemos pálidas sensações estagnadas no passado, no contra fluxo desse viver exponencial. 

Somos, assim, tomados pela angústia, que nada mais é do que a retenção do passado, na medida de saudosismo e nostalgia que passam a nos assombrar no aqui e no agora, dada a dissintonia entre o que estamos a experienciar no HOJE e a carga emocional trazida do PASSADO

Lembro-me de um sonho em que estava sentada numa pedra no topo de um penhasco, observando o fluxo de estrelas cadentes que estavam simplesmente passando muito rápido, como se fossem água num caudaloso rio em correnteza. 

Esse sonho me impactou e hoje, 20 anos depois, consigo entender o que isso realmente representa: o fluxo da vida, de uma vida, da energia que emana da consciência e que nos leva a vários rumos, várias vidas, várias formas, várias experiências e a vários protagonismos. 

Como lidar com eles? 

Sendo grata pelo desvendar desses gatilhos egoicos, bem como pela sabedoria escondida em cada pequena parcela de experiência que vem, chega, traz o ensinamento e simplesmente se vai. 

Esvai...

O que fica?

Lembranças, saudade? Não, pois isso também é o holograma atemporal lançado pelo ego para tentar sustentar a ideia de individualidade.

Fica o (...)

O que é (...)? É a tentativa de escrever o que não encontra palavras, teclas e linhas nas quais possa se estruturar. 

Trata-se de uma sensação leve, sopro de brisa que acolhe e me remete ao penhasco do qual observava as estrelas em perspectiva... tal qual percebo, ultimamente, a vida, nos contornos que minha consciência entrelaçada ao coração me encaminha, assim, de maneira lânguida, rumo de encontro ao desconhecido!










quarta-feira, 18 de julho de 2018

Da areia para a Terra: sustentabilidade e economia no cuidado com os gatíneos

Hoje a conversa é sobre os queridos gatíneos e suas demandas especiais , ou seja, como lidar com as fezes e a urina e, ainda assim, contribuir para a sustentabilidade, limpeza e preservação ambiental.

Segundo dados de revistas especializadas (o que me faz ter receio, pois desconfio - e muito! - do paradigma informativo atual), o comércio faturou R$18,9 bilhões de reais em 2016 (fonte: Fecomércio), mesmo diante do desaquecimento de outros setores da economia brasileira.

Afinal, são quase 50 milhões de catiorros e 22 milhões de gatíneos, segundo dados oficiais do IBGE, que não contabilizou os seres em trânsito, ou seja, que estão aguardando a adoção. Ou, ainda, os seres abandonados ou que nasceram na rua e lá se encontram. 

Independentemente do número específico da população de seres catiorros e gatíneos, a preocupação com o bem estar, bem como a sustentabilidade do planeta estão na pauta de uma verdadeira mudança de paradigma por parte dos que convivem com esses seres. 

De início, quando comecei a acolher gatos de rua, fiz algumas leituras a respeito da higienização das fezes e da urina e, claro, fui logo parar nas famosas "caixas de areia". As mais distintas composições: sílica, argila, mandioca, dolomita, independentemente da composição, fui testando o que representava um custo-benefício adequado ao orçamento. 

Em média - considerando o alto custo de vida aqui em Brasília - cheguei a investir R$ 648,00 para a manutenção mensal das caixas para 28 gatos. Considerável valor, pensando, ainda, na forma como especificamente o mercado pet é direcionado para o consumo, ou consumismo, se pensarmos nas "vantagens" apresentadas pelos proprietários de pet e pela indústria para que compremos sempre mais e mais.

Daí cheguei a fazer uma experiência que deu muito certo, mesmo na contramão do paradigma especista dominante, que busca refutar tudo que não é considerado saudável e "bom" para os bichanos (segundo, claro, a versão oficial). Na outra casa, experimentei o uso de serragem como substitutivo da areia. 

Fiz algumas pesquisas e busquei me informar melhor com profissionais e, claro, as opiniões se dividiram.

Uns acharam extremamente saudável e positiva a substituição, enquanto outros - geralmente os veterinários e empresários pet no paradigma dominante de consumo e dualismo na ciência - entenderam existir uma série de problemas (perigo de intoxicação, alergia etc.).

Lembrei-me dos tempos em que vivia em uma estância no Sul do país e, lá, observava o uso da serragem, sem que existissem quaisquer efeitos colaterais para os seres (gatos, ovelhas e vaquinhas).

Decidi, então, experimentar. 

De início, peguei serragem gratuita em uma madeireira próxima ao local em que residia, estocando em casa o material e o utilizando segundo as necessidades mensais. Misturava a serragem mais fina com a grossa, para que os torrões pudessem ficar adequados para o recolhimento. 
Logo na primeira utilização já observei os efeitos: menos cheiro, menos volume e menos peso. A serragem, por ser mais leve, aglutinava os torrões sem que isso representasse um peso na hora do descarte. O aroma amadeirado também foi o diferencial nesse procedimento, uma vez que a urina passou a ser contida na serragem, não eliminando o cheiro ácido de amônia. 

Fui modificando, então, o hábito, observando, por outro lado, se algum gatíneo reagiria negativamente ao uso da serragem.

Sem efeitos danosos.

Aprovado! Desde então, o uso da serragem tem sido bem vindo em nosso lar.

Mudei-me há pouco tempo para um espaço maior e com arejamento. Com isso, logo busquei locais onde pudesse captar a serragem. Ganhei em termos de espaço, pois no caminho - na estrada mesmo da minha casa para a cidade - existe uma madeireira que estoca, armazena e até recicla os sacos para a serragem.

No caso eles cobram um valor bem simbólico por saco, mas, daí, ficam elas por elas em relação ao antigo fornecedor, uma vez que o deslocamento para ir até a cidade vizinha representava um gasto maior do que o valor que pago hoje no saco. 

Aliás, sai até mais em conta, pois poupo no diesel, no saco (saco é deles, aqueles de farinha, resistentes) e no tempo de deslocamento até o local. 

Os gatíneos seguem felizes, creio, e eu, realizada por contribuir um pouco com essa alegria, além, é claro, de igualmente estar feliz por conta dessas superações. 


sábado, 14 de julho de 2018

A impermanência e a cocriação: a importância do autoconhecimento como fonte de imanência

Um dos grandes temas que tem atraído a atenção de quem mergulha na senda do autoconhecimento e da espiritualidade consiste na ideia de cocriação: somos simplesmente "criaturas" cujas almas vieram a lume com o sopro da deidade ou, ainda, somos a própria divindade e cocriadores de nossos destinos?

Ou, no caso do sincretismo brasileiro, "somos tudo-ao-mesmo-tempo-agora"? 

A ideia de criação é tradicional e sedutora aos olhos da ocidentalidade dividida nos três grandes troncos religiosos (judaísmo, cristianismo e islamismo), pois, afinal, ela nos aloja para o abraço protetor de uma entidade, egrégora ou vibração universal, que se encontra em um mundo invisível, desconhecido à tridimensionalidade. 

Um trono do qual promana a energia de proteção, bem como a centelha de vida da qual supostamente viria toda a vida nessa Terra (bem como em outros planetas e universos). A partir do Ente criador tudo seria, então, plasmado em nível de Universo, inclusive nosso destino a Ele atrelado por derivação. 

Em nível energético, a Fonte, nesse paradigma, é o epicentro de vontade e de criação, sendo nossa própria existência um ato de vontade dessa Razão Última, que nos investe da possibilidade de realizar um pouco da parcela de criação, em face do livre arbítrio (bem simplificada a ideia aqui, mas creio que o bastante para fazermos algumas diferenciações posteriores) e cujo extrapolamento leva a outro tabu: a culpa, velha conhecida de todos e todas nós (ainda que repliquemos, para todos os lados, que devemos superá-la).

Por outro lado, a cocriação - assunto bastante em voga nas últimas duas, três décadas de esoterismo no Ocidente, cujo conteúdo, contudo, é bem mais anterior a essa datação no Oriente - retira o cunho antropomórfico, patriarcal e paternalista, lançando-nos para a autossuficiência e responsabilidade, de modo a deslocar o eixo criador de um ponto para uma rede de consciência vívida, integrada e compartilhada, não-local e fora da experiência corpórea. 

Nela, a vontade ou o ato de vontade atrela-se a uma consciência que está presente em todos os rincões dos Universos e Multiversos, tendo em vista o reconhecimento do estado consciencial em tudo, uma espécie de éter de consciência, reproduzida em nível macro e micro. É, portanto, a consciência a "matéria-prima" dos universos e de tudo que está presente...

Para acessá-la conceitualmente, precisamos sair do realismo dualista - típico da ciência e da religiosidade tradicionais (duais e incompatíveis) - para penetrar no conceito de monismo idealista, no qual matéria, ideia e consciência são elementos básicos da REALIDADE (ou seja, a realidade não é apenas a matriz tridimensional, mas a coexistência, ao mesmo tempo agora, de todas as dimensionalidades). 

E como isso se dá? 

Muitas explicações nas últimas décadas, algumas das quais, desejosas de introduzir, a todo custo, a Física Quântica na equação, pecam pela deturpação dos conceitos, uma espécie de "sopas de letrinhas" esotérica e perniciosa, pois, no jogo do "tudo pode" (ou vale tudo), abre-se espaço para toda sorte de manipulação - inclusive a hiperdimensional, essa que está agora sendo relacionada aos reptilianos, alienígenas, agências secretas ou, ainda, a entidades malignas.

A maior contribuição da Física Quântica, contudo, nunca foi ou é dizer que "tudo é energia", pois, aliás, isso é a negação de um dos conceitos-chave da quântica: a natureza DUAL do elétron, que ora se comporta como partícula, ora se apresenta como onda (matéria E energia). 

Considerando o elétron como um integrado partícula-onda potencialmente apta a encerrar informação, dado e, portanto, consciência, daí, sim, faz sentido se falar que o preceito primordial do Universo é energia. Aqui reside a grande inversão que a Mecânica Quântica faz no paradigma clássico de ciência realista dualista: é a consciência que plasma a matéria

Ou seja, "estar" matéria é uma probabilidade energética, não a única. E, dentro da ideia de matéria, com uma ressalva: a tridimensionalidade também é uma possibilidade dentro da matéria, mas não a única, já que não conseguimos "ver" o elétron, mas, a partir de experiências de colisão de partículas, conseguimos equacionar sua trajetória e, portanto, perceber sua infinitesimal massa inercial.

A partir disso faz sentido se falar em cocriação, pois saímos de uma entidade criadora (a ideia de Deus máquina, detentor da fagulha inicial e da energia potencial), para a fagulha creacionista numa rede ou malha de consciência espargida como energia que se projeta em matéria "porque também é/não é matéria". 

Daí a cocriação, a habilidade de gerar, em nível de consciência, enquanto ser tridimensional também (porém não apenas), opções de manifestação (os chamados colapsos quânticos).

Para tanto, essa parcela monádica (ou seja, nós enquanto percepção de individualidade) precisa estar em sintonia com a energia-fonte que está em rede, entrando nesse fluxo e, com ele, colapsando as potencialidades de realização.

Mas, para que isso realmente atinja um propósito maior (que não seja plasmar ou colapsar um carro, um iate, uma emprego, bitcoins, uma esposa/esposo ou outro que o valha: assuntos e bens de somenos importância no mundo do engrandecimento espiritual), é necessário mergulhar nas profundezas de nossa alma, numa imersão no autoconhecimento, para que essa tarefa não seja apenas uma ética de auto ajuda ou de mera prática de acesso à prosperidade material que replique, nos planos múltiplos de pluri existências, um padrão ou modelo de comportamento. 

O contato com nossa sombra - o que jaz nas profundezas do que não está clarificado em nossa pineal - é imprescindível para que possamos superar as limitações que ainda nos atrelam à repetição, em nível de dimensões (alguns chamam de existências, encarnações, prisão-Matrix, não importa), de uma mesma sequência de comportamento replicado ad infinitum.

Assim, para colapsar probabilidades, a necessidade da alma em decodificar esses processos repetitivos e superar a replicância é procedimento imprescindível. 

Simplificando: para transcender e ascender precisamos nos conhecer, o que somente é possível quando se opera nesse mergulho legítimo e sincero na profundeza do que não desejamos enxergar na superfície das múltiplas cascas de cebola. 

Com isso, muito pouco adiantam a mera repetição mântrica, a entonação de decretos, rituais, orações etc., pois, se, de um lado, acende-se a fagulha da fé e da catarse, por outro, em nível subatômico, trata-se de um paliativo para a alma, que irá se contentar, no plano da matéria, com a graça ou o beneplácito obtidos. 

Isso apenas repete o padrão de comportamento, a matrix de nossa identidade monádica, levando-nos a sempre agir da mesma forma, em qualquer espaço-tempo-dimensional. Essa configuração, para alguns, constitui a cela-matrix de condicionamento para a qual boa parte da dogmática religiosa contribui com a noção uni-creacionista, antropomórfica, monoteísta e paternalista. 

Ou seja, nesse modelo, o enfrentamento das mazelas é algo que está fora de nós, por beneplácito de nossas ações (lei da ação e reação), e não segundo uma reconfiguração de nós mesmos, a partir da descoberta das limitações encobertas pela sombra não encarada.

Quando nos tornamos responsáveis pela compreensão de nossas sombras, daí, sim, possível é se falar em cocriação completa e integrada ao Todo (Cosmos), pois a linha limítrofe entre o eu e o todo se rompe, de modo a fazermos parte do fluxo de criação.

Simples assim...

Sejamos cocriadores e cocriadoras, sim, com o enfrentamento diário no espelho de nossas almas, que tudo reflete!

Céad mille fáilte!

domingo, 20 de maio de 2018

Monoculturas: do solo para sua mesa, o perigo está na sobremesa!


Revisitando um livro muito interessante sobre monoculturas, escrito por Vandana Shiva, ativista e física indiana, achei o momento propício para algumas reflexões sobre o cotidiano de nossas atitudes, sobretudo as relacionadas ao Meio Ambiente e à forma pela qual estamos a passear pelo mundo.

Não tenho o propósito de fazer proselitismo aqui, até porque ainda tenho muito a desenvolver no sentido de respeitar mais a Natureza, mas, diante de um cenário de total indiferença ao impacto que o humano trouxe ao Planeta Terra, creio que toda e qualquer atitude de conscientização um grande passo para modificação do comportamento, da atitude e do pensamento. 

Bom, quanto ao admirável "mundo novo", quero falar sobre as monoculturas e como estamos tão próximos ao que elas produzem de mais nefasto em nossa vida em sociedade. 

As monoculturas são um sistema de exploração do solo para uma destinação, substituindo-se a cobertura vegetal originária por uma espécie apenas (uma + cultura).

No Brasil, a tradição da monocultura se deve ao período colonial, o que faz com que tenhamos sempre em mente o aspecto predatório que está sempre relacionado ao cultivo exclusivista. 

Cana, milho e soja, três grandes monoculturas, destinadas, quase sempre, ao insumo para alimentação do gado, outra atividade mononuclear. No caso, em especial, da soja, a maior parte (estou sendo otimista) das sementes é transgênica (GMO, ou genetically modified organism), o que significa dizer que são alteradas geneticamente, sem que, com isso, saibamos, ao certo, as consequências da adulteração. Isso quer dizer menor controle quanto aos resultados e impactos, tanto em relação ao meio ambiente, quanto em relação ao nosso consumo. 

Para que as monoculturas vinguem, por sua vez, torna-se necessária mecanização (o que traz a importação de maquinário e o envio de divisas para os locais de origem dos artefatos), bem como a inoculação de agrotóxicos e venenos, pois, em larga escala, o espargimento de doenças pode comprometer a produção, acarretando perdas. 

No que diz respeito ao impacto disso em nosso organismo, muitas pesquisas sugerem que a disseminação de doenças degenerativas e do câncer (doença latente), está relacionada com o acúmulo de elementos químicos não elimináveis do nosso corpo (mercúrio, por exemplo), que fazem parte do cardápio do agrotóxicos. 

No caso das grandes atividades agropecuárias, além de avançarem em setores de florestas e matas, danificando o ecossistema ali existente, utilizam, de igual sorte, antibióticos e hormônios em larga escala, uma vez que é uma atividade macro, com potenciais perdas. 

Efeitos nefastos para nosso organismo? 

Vários, a começar pela ingestão de carne, que já é altamente contaminada pela própria putrefação. 

Para torná-la mais ou menos saborosa, maior ou menor insumo no capim a ser ingerido pelo gado, bem como confinamento que traz dor e sofrimento, transmitido para os músculos e demais partes do animal. 

Isso, sem desconsiderar o momento da morte, que vai desde choque até pancada na cabeça: tudo isso absorvido pelo nosso organismo, enquanto estamos ALIENADOS do processo, pois entramos no supermercado, que toca músicas que mexem com nossa frequência, tornando-nos mansificados para consumir tudo que está pela frente. 

Isso sem deixar de mencionar a mecanização, que se transforma em robotização, reduzindo lucros, mas também alijando os agricultores locais. Ou seja, ou se tem dinheiro para um agronegócio, ou, então, trabalha-se para o empresário (não estou qualificando isso a priori). 

No que diz respeito à agricultura de subsistência, mesmo raciocínio, com a diferença que, no caso de agricultura, o rol de pesticidas, hormônios e antibióticos é mais amplo por conta da vulnerabilidade das plantas e dos tubérculos. 

O acondicionamento das verduras, dos legumes e frutas é precário no Brasil, pois a melhor produção vai para o exterior, em detrimento do controle de qualidade para o consumo interno. 

Quanto aos produtos industrializados, além de não serem feitos com a integralidade dos elementos que os compõem, contém conservantes, acidulantes e outras substâncias que são acumuladas pelo nosso organismo, sendo responsáveis por doenças que aparecem ao longo da vida. 

Interessante pensar nisso como uma "loteria da vida", pois, num mundo de escassez de bens de subsistência, esse procedimento sela a vida e a morte de quem consegue vencer tais obstáculos. 

Continuando, os industrializados (e alguns veganos que não fogem da regra de consumismo, tá?) são apresentados como de livre escolha para os consumidores, mas acobertam ligações entre as empresas que, internacionalmente detém nosso mercado interno, a exemplo da Gessy-Lever e Monsanto, sempre arroz de festa dos supermercados. 

Estes, por seu turno, pactuam entre si as "ofertas" que colocarão à disposição dos compradores, aumentando internamente o valor do produto, para compensar a diminuição de preço. 

Sem deixar de mencionar o achatamento e fechamento dos mercados pequenos e familiares, em função do boom das relações contratuais anônimas na pós-modernidade. 

Esse é um pequeno recorte do cenário. Minha pergunta é: COMO PODEMOS MUDAR ISSO?

terça-feira, 8 de maio de 2018

Diga-me, afinal, o que está acontecendo com o mundo? Desmistificando a dualidade na percepção da consciência


De tempos em tempos, quando a Lua começa a minguar e se esconder, nossa alma também busca se recompor, quer seja nos impelindo a dar um tempo em nossas rotinas, ou, ainda, literalmente nos encaminhando para um momento de recolhimento necessário para a recomposição da alma.

Diante das rotinas de uma vida que insiste em se transformar em robótica neste séc. XXI, esse movimento marca a sabedoria com a qual a ancestralidade nos municia de condições para que não nos percamos ou diluamos num vasto processo de desumanização que segue no contra fluxo da expressão de crescimento moral e espiritual.

Sim, pois ao lado de um fluxo de elevação, transição planetária, passagem para multidimensões e toda sorte de nomenclatura que denomine o momento terreno atualmente, existe um contra fluxo que nada mais é do que a dinâmica de ação e reação (uns chamam de newtoniana, outros de carma, lei tríplice etc.), que nos aloja para rupturas, caos, instabilidade e sentimento de perda do pertencimento à comunidade cósmica.

É o fiel numa balança energética que ora espelha o maniqueísmo mítico que nos conduziu até aqui.

Este processo se inicia tímido, lá na primeira infância - quiçá no útero de nossas sagradas mães - quando a socialização oficial começa sua liturgia de nos propor uma vida de competitividade, materialidade e fragmentariedade, na qual os indivíduos são condicionados em papéis sociais que definem posições de subalternidade, quase toda voltada, em nossa história oficial ocidental, para o desprestígio do sagrado feminino.

Ele se alastra em nossa alimentação alienada, dentro da qual sequer nos damos conta da cadeia de produção do que vertemos para dentro de nossos corpos. Agrotóxico, veneno, transgênico, carne, industrializados. Tudo mascarado em belas embalagens a apetecer os olhos para seduzir o estômago. 

Propaga-se para nossas escolhas de tratamento, remédios etc., pois mesmo que nos convençamos que a Natureza nos brinda com fartura e saúde, na hora H nos veiculamos ao assassinato que a alopatia e os remédios monopolizados pela OMS e as grandes indústrias nos impelem goela abaixo. 

O antibiótico é ovacionado, as sulfas idolatradas. A traja preta toma conta de uma plataforma liderada por grandes rótulos e pelos representantes de um paradigma de ciência que findou por escravizar o humano. O holismo cedeu, enfim, espaço para a ciência dicotômica e causal, que se contenta apenas com o restrito espaço tridimensional que a empiria do visível nos proporciona. 

Depois se irradia para nossos relacionamentos, que replicam a base sólida lá atrás pavimentada, encaminhando-nos para a busca dos padrões que foram inoculados em nosso chip infantil, condicionando-nos ao aprisionamento para a docilização do potencial criativo e selvagem que tanto nos encampa para a ruptura.

Ele se expande e amplia para nossa vida profissional, dando-nos a deleitosa sensação de escolha e autonomia, acobertando, contudo, uma imanação da matrix, na medida em que nosso papel se resume em alimentar uma cadeia produtiva que apenas se destina a manter o status quo que apartou a vida e a Natureza de nosso convívio diário.

Até a academia, espaço destinado à busca do conhecimento, transformou-se no ethos fordista de custo/benefício dimensionado em torno de metas financeiras e lucro. Nunca estivemos em tamanha crise no ensino, quer seja de base, ou, ainda, superior. 

Como vírus sintéticos, a frieza da uniformização de métodos e técnicas do saber massificado passaram a ocupar o que foi, um dia, a ágora dos antigos pensadores, ouvidos atentamente pelos discípulos que se acotovelavam para ouvir e debater questões sobre o âmago da vida. A sala de aula presencial e o contato com a pulsação do outro cederá, de vez, lugar para bits e data.

Até mesmo a religiosidade se converteu - literalmente - em um epicentro dogmático de amansamento para replicação sintética de um script mecânico. Nunca tivemos a oportunidade de ver tanta gente em rede social, youtube etc. falando tanto sobre tanta coisa que tão pouco sabe com tanta razão.

A cognição se petrificou e, com ela e a pineal calcificada, a consciência foi atingida por um sopapo de mediocrização e ignorância. Passamos a cultuar novos-velhos ídolos de sabedoria, ao invés de simplesmente usar nossos neurônios para que possamos pensar e intuir por nós mesmos.

De potestades e deidades, descemos a simples acessoriedades, no mundo pós-moderno, no qual a combatividade, o espírito de extermínio, o olhar superior para o outro e, sobretudo, o esquecimento proposital do princípio básico de solidariedade e consciência clânica passam a ser a nota de uma grande toada ilusória.

Nós, mulheres, diante disso, não passamos incólumes a tal processo, pois, de doadoras da vida, passamos a projetos supostamente emancipatórios de cidadania, numa igualdade que nos aproximou da saga mais sangrenta da competitividade do macho alfa guerreiro.

Despojamo-nos da simplicidade da vida e do contato com a Natureza e seus ciclos, desapegando-nos dos nossos próprios, pois ser mulher, agora, é ser sinônimo de tudo que remonta à agressão travestida de empoderamento (aliás, palavra da vez, sem que boa parte das irmãs se atente para o que isso realmente significa), à equiparação com o masculino e à saída da ordem cósmica a nos guiar pelas veredas de nossa essência.

Aliás, para algumas vertentes do feminismo, essencialismo é uma balela e a aproximação entre mulher e Physys uma arapuca misógina trazida pela metafísica androcêntrica. 

A menstruação é visa como aborrecimento, o útero pressionado começa a se desdobrar em cólicas. Temos TPM, depressão, histeria. O natural se artificializa e, dentro do processo, perdemo-nos progressivamente. 

Quando nos damos conta, o processo já se instalou dentro de nossas almas, petrificando-nos de tal maneira que, depois, acostumamo-nos a viver o ciclo de ilusão, até mesmo o defendendo com unhas e dentes diante da menor saída da tal zona de conforto.

O metal que simbolicamente representa as trocas passa a ser o termômetro para uma vida de plenitude. 

Aliás, agora a bola da vez nem é o dinheiro em espécie: o que está a dragar a vida é o cartão de débito. O cartão de crédito. 

Trocas em meios virtuais. Bitcoin...

Ou seja, a sofisticação do sistema está de tão forma entranhado que o dinheiro em espécie está sendo progressivamente substituído pelas trocas virtuais, frias e robotizadas.

Tempos de cingimento da Natureza, da vida e do Sagrado!

E agora?

Diante dessa visão dantesca, respirar profundamente é um bom caminho. 

Ouvir os sinais que a alma e o corpo dão é outra forma de retomar o rumo da própria trajetória. Sempre que situações limítrofes desafiam minha vida auspiciosa eu me recolho, esperando, dali à frente, a onda simplesmente se dissipar. 

Às vezes o sinal vem nos pequenos toques de sincronicidade. Alguém fala uma palavra aqui, uma fala acolá. Um buraco aparece à nossa frente. Não importa, pois a vida dá o toque sutil da seda, para nos avisar que estamos saindo de nossa senda de alma. 

Quando nos esquivamos e insistimos, advém os processos de somatização, por intermédio da patologização. A alma adoece e plasma no campo físico o que não conseguimos resolver em nossa trajetória. O colapso, então, acontece, para que possamos nos conscientizar das mudanças necessárias para a retomada de nosso caminho de luz. Sombra e luz. 

Ou seja, ação e reação internamente consideradas como um caminho de ruptura com o véu de ignorância que tem transformado o humano em um organismo robótico e despersonalizado. Os surtos, então, eclodem como pedidos de socorro, para nos mostrar que não somos escravos, mas criadores de nossa sagrada experiência cósmico-espiritual.

Para isso o rompimento com essas zonas de estagnação, encarando de frente as situações, identificando os processos e deles tomando espiritual e emocionalmente consciência. 

Não existe salvamento, não há cavalo branco com herói, nave espacial, avatar ou qualquer outra sorte de personagem a nos lançar boias em meio a tempestades. 

Existe consciência tecida em rede a alimentar no Universo a expressão do compartilhamento da noção de ruptura com esses fantasmas que nos reduziram a marionetes. Consciência essa que passa pura e simples pelo fluxo, tal qual um rio onde não somos os mesmos e a água se modifica a cada nano segundo.

Quando respiramos e nos conscientizamos de que somos energia, tudo se resolve: os condicionamentos acima descritos se rompem e deixamos extravasar a vida em seu estado mais lânguido de pulsação. Tomamos consciência e nos transformamos em consciência!!!

Daí começamos a nos alimentar melhor, a viver melhor, a escolher melhor nossos parceiros, empregos, nossas prioridades. Passamos a conviver melhor com a simbiose matéria-espírito, olhamos as sombras como uma forma de encarar nossos desafios para a existência. Deixamos a agressividade ceder espaço à colaboratividade e ao diálogo. Deixamos de ser tão julgadores de nós mesmos.

Começamos a respirar e, dentro desse processo, início e fim marcam a vida numa simples respiração que nos devolve ao útero sagrado da fonte primordial. Quando isso acontece, não precisamos mais procurar, pois o Universo nos invade num fluxo de consciência tão grandioso que se torna apenas necessário vivê-lo, assim, sem medo do devenir.

É simples assim...