terça-feira, 25 de setembro de 2018

A carne que sangra e renasce na superação resiliente


Uma das frases mais belas e paradoxalmente tristes que já tive a oportunidade de ler é de José Saramago e diz literalmente o seguinte: "Se tens o coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia". 

E por que o paradoxo? 

Afinal, poderia ser mais uma frase a colorir um estado profundo de tristeza em face do sofrimento, representado na frase pela expressão "...e sangra todo dia", não fosse um detalhe curioso, que diz respeito ao simples fato de igualmente ser libertador ter um coração de carne: a capacidade de amar pura e simplesmente, sem a interferência do mental comprometido pelas sombras de nossas limitações

Sem interesse algum que não seja o bem viver, o bem querer, a manifestação idílica de um estado de calmaria da alma. Uma realização do espírito. A verdade que promana do coração de cada qual.

Essa potente frase, desse potente e sensível escritor, traz à luz um lampejo otimista de observarmos que, independentemente do que as outras pessoas elaboram dentro de si como justificativa para estar ao lado de alguém, isso, de fato, é uma demanda ou um dilema do outro. 

O nosso dilema, derivado da maneira como vivenciamos esse estado pleno, consiste em simplesmente compreender os desafios que são plasmados pelas consciências de cada um de nós, que ilustrarão a maneira como, durante a vida, construímos verdades, histórias e caminhos.

A minha sempre foi e é viver sem medo de encarar a verdade, pois, afinal, ela é libertadora e clarificante. O que traz a contingência do medo, contudo, é a sombra, a não verdade, o truncado, não dito e acobertado. A torção que se faz dos fatos para, com nossa interpretação deles, gerarmos outras verdades, mitos e ilusões.

Eis a grande lição da frase de Saramago: o coração forjado no ferro duro das vicissitudes e dos desafios da vida e que passa a moldar nossa forma de agir, tanto em relação a nós mesmos, como, também, em relação aos outros é o coração que não se permite amar.

É o coração que se movimenta pela escolha mental de racionalmente optar, diante de possibilidades quânticas, o que reside de bom para o usufruto de ônus, numa balança de custo-benefício incompatível com a nobreza de levemente sentir.

É com o cardíaco, e não com a pineal, que nos projetamos para a experiência incondicional do amor. 

A pineal nos aponta, juntamente com a coroa, para a experienciação da consciência, mas, de outra sorte, no movimento interno de alocação energética dos chackras, é de baixo para cima e, especificamente, do cardíaco para cima que o fluxo de transmutação se faz.

Um mental avantajado, expandido e senciente, sozinho, não quer dizer muito. Seríamos como o Dr. Spock, o grande conhecedor da saga Star Trek, dotado de grande conhecimento enciclopédico, mas frio. Ou seríamos como grandes magos negros, que detém conhecimento, pineal e coroa amplos e irrestritos, mas ausentes de sentimento verdadeiramente altruísta.

Tal qual o ferro... 

Esse elemento, aliás, é bem interessante, dado o coeficiente de sua dureza. 

Com eles muitas armas foram forjadas e, por meio delas, muitas vidas foram ceifadas ao longo da espiral cármica do mundo. Ou seja, corações sangraram pela força do ferro penetrando naquele que é o músculo mais forte e, ao mesmo tempo, mais sensível do corpo humano.

Em Kali Yuga o império do ferro encaminha os fortes de coração de ferro para a luta pela sobrevivência, pelo uso estratégico da mente potente no sentido de buscar a vida, o bem estar, a realização. Para se fazerem escolhas pelas oportunidades que se apresentam nessa balança de custo-benefício.

Essa é a vida em seu sentido mais terreno, árduo e duro. Como o ferro.

Eis o sentido da frase de Saramago, bom proveito para quem tem uma couraça no peito, para quem faz escolhas pela privação e pelo direcionamento proposital da consciência expandida. Bom proveito...

Pois somente quem sofre e lacera a alma em função da nobre arte de amar pode saber, de fato, o caminho para a superação e transcendência. Sangrar, pois, é libertário. E nós, mulheres, sangramos em todas as luas. 

Sangramos, sentimos dor, retornamos. 

Vivenciamos a resiliência ante o impacto diante do ferro, pura e simples. 

É assim que verdadeiros guerreiros moldam o espírito e a consciência para a projeção rumo ao crescimento...

O sentido do triskle, a espiral que movimenta a roda para mais um giro...