quinta-feira, 22 de abril de 2010

Réquiem para uma relação misógina...


Engraçadas, nós, humanas: tendemos a acreditar na imunidade ante as experiências desagradáveis que acontecem aos outros, mas, quando nos vemos em situações similares, o mundo cai sob nossos pés.

Sentimo-nos tão humilhantemente frágeis e vulneráveis quanto aquelas pessoas que outrora julgamos perdidas na idiotice de um estelionato emocional que supomos – de maneira vã – nunca atravessar.

A idéia de escrever sobre uma relação tipicamente misógina nunca passou pela minha cabeça.

Hoje não mais me envergonho ao mostrar minha ignorância em relação ao assunto, mas, antes de tanta coisa acontecer em minha vida relacional e afetiva, achava a misoginia mito e a defesa dos direitos das mulheres assunto de manifestante insatisfeita sexualmente.


Via com desconfiança os movimentos feministas e olhava ressabiada quando, numa notícia de jornal, observava algum crime envolvendo casais, pois sempre procurando atribuir ao feminino responsabilidade pela ocorrência dos eventos mais atrozes.

Não desconfiava, porém, que, internamente, minha dor era mais profunda do que poderia supor saber, a ponto de me cegar completamente, vendo em meu próprio gênero a grande ameaça à felicidade.

Esse réquiem é celebrado a partir de uma longa trajetória de ceticismo, transformada, no decorrer de um período de intenso sofrimento e latente dor, em um maravilhoso renascimento, o qual gostaria de partilhar com aquelas pessoas que se identificarem com essas linhas.

Não estou desejando levantar bandeiras ou abraçar qualquer tipo de ideologia, pois o propósito desse verdadeiro desabafo é mostrar como escapei com vida e resgatei minha individualidade, saindo de uma trama articulada de manipulação, mentira, dissimulação e dor.

Dentro disso, contento-me em dividir a experiência para ajudar as mulheres que se identificam com essa trajetória, deixando, cada qual, com seu arbítrio, na plenitude da decisão de prosseguir numa relação doente, ou se libertar da patologia.

Não sou psicóloga, psicanalista ou terapeuta e, portanto, não me interessa a justificativa das palavras que escrevi em teorias que não sejam decorrência do caminho que insisti em seguir: meu compromisso é apenas informar sobre o que vivi, apontando as impressões gravadas em minha alma.

Assim, não saberia dizer se esses escritos guardam algum substrato de auto-ajuda, até mesmo porque, talvez não saiba, ainda, o que “auto” e “ajuda” poderiam significar para outra pessoa, que não para mim!

Como assim? Simples, alguns autores se estabelecem simplesmente porque são reconhecidos, em algum momento de suas vidas, pelo seleto grupo de experts que, por sua vez, foram chancelados pelos antecessores e seus antecessores, numa implicante replicância do critério egocêntrico quanto à afirmação do que é bom o bastante para ser lido.

Ainda bem que estou sendo honesta, desde já, pois não conseguiria subverter meu substrato de liberdade de pensamento mais que o necessário, formatando tudo em um bando de palavrinhas articuladas para pensar no que a crítica especializada poderia dizer.

Primeiro, porque não existe especialização nesses escritos da alma: de fragmentação, basta o que já foi feito em nome da ciência, nos pedacinhos de “eu” espalhados em nossas vidas, transformando-nos em meras peças de computador.

Ademais, não existe regra alguma para falar sobre a alma, suas dores e seus amores, porque ela é atributo de individualização, não sujeito a limitações e formatações.

Segundo, porque hoje, depois de me debruçar sobre as mazelas da misoginia a que me sujeitei e reconhecer minha nítida ignorância em relação a elas, simplesmente escrevo, colocando no papel o que vem à mente.

Acho isso mais honesto até para vocês conhecerem outra opção de compartilhamento de idéias, dentre tantas no mercado, apresentando os atropelos e as elevações do percurso, concretizadas na presente sombra que me acompanha, eterna lembrança de medos, anseios e frustrações coletadas ao longo do caminho.

É o diferencial no que escrevo.

Não tenho qualquer pretensão em me fazer autoridade no assunto, pois, na verdade, o que farei será compartilhar minhas dificuldades, minha fuga e minha solidão.

Portanto, se alguém estiver esperando uma fórmula mágica, estilo “Pollyana’’ feliz, numa miraculosa anestesia para as desventuras de sua alma perdida, aconselho a fechar imediatamente esse blog: esses escritos não servem, pois não tenho pretensão de me fazer uma especialista no assunto.

Desejo apenas repartir o ceticismo que envolve minha mente para algumas questões sobre os aparentes fracassos nos relacionamentos que se fazem em cima dos mitos e discursos que estão em nossas vidas há tempos.

Ainda bem! Sinto que é o momento de romper um paradigma que não tem mais o menor sentido, já que agora – somente agora – consegui me conscientizar das amarras e do aprisionamento da alma fragilizada por uma relação de coisificação que envolve grande parte do binário homem-mulher.

Tudo está escrito aqui no blog de maneira caótica: não poderia ser diferente, pois a memória, para a mente, baseia-se no registro reacional às emoções, não ao tempo.

Acho mais honesto, partindo do princípio que historicidade pode ser transformar num anacronismo míope.

Neste sentido, utilizei o registro contido em meus diários: escrevi tudo que vivenciei dentro das mais marcantes experiências misóginas que nunca antes havia experienciado.

O resultado está disposto a seguir, aos poucos, e espero ser de grande valia para as que procuram respostas.

Para essas, basta a revelação do silêncio e a aparente solitude da alma, pois, afinal, como já disse Albert Einstein: “penso 99 vezes e nada concluo; deixo de pensar e eis que o Universo se me revela!”.

Assim, a solitude é apenas aparente, porque advém, logo a seguir, a profusão da completude, que é exatamente a (re)conexão ao Universo, e, sobretudo, ao Eu, muitas vezes negligenciado por nós, que nos vulnerabilizamos ao longo da jornada para um túnel cujo destino simplesmente desconhecemos.

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