sábado, 14 de julho de 2018

A impermanência e a cocriação: a importância do autoconhecimento como fonte de imanência

Um dos grandes temas que tem atraído a atenção de quem mergulha na senda do autoconhecimento e da espiritualidade consiste na ideia de cocriação: somos simplesmente "criaturas" cujas almas vieram a lume com o sopro da deidade ou, ainda, somos a própria divindade e cocriadores de nossos destinos?

Ou, no caso do sincretismo brasileiro, "somos tudo-ao-mesmo-tempo-agora"? 

A ideia de criação é tradicional e sedutora aos olhos da ocidentalidade dividida nos três grandes troncos religiosos (judaísmo, cristianismo e islamismo), pois, afinal, ela nos aloja para o abraço protetor de uma entidade, egrégora ou vibração universal, que se encontra em um mundo invisível, desconhecido à tridimensionalidade. 

Um trono do qual promana a energia de proteção, bem como a centelha de vida da qual supostamente viria toda a vida nessa Terra (bem como em outros planetas e universos). A partir do Ente criador tudo seria, então, plasmado em nível de Universo, inclusive nosso destino a Ele atrelado por derivação. 

Em nível energético, a Fonte, nesse paradigma, é o epicentro de vontade e de criação, sendo nossa própria existência um ato de vontade dessa Razão Última, que nos investe da possibilidade de realizar um pouco da parcela de criação, em face do livre arbítrio (bem simplificada a ideia aqui, mas creio que o bastante para fazermos algumas diferenciações posteriores) e cujo extrapolamento leva a outro tabu: a culpa, velha conhecida de todos e todas nós (ainda que repliquemos, para todos os lados, que devemos superá-la).

Por outro lado, a cocriação - assunto bastante em voga nas últimas duas, três décadas de esoterismo no Ocidente, cujo conteúdo, contudo, é bem mais anterior a essa datação no Oriente - retira o cunho antropomórfico, patriarcal e paternalista, lançando-nos para a autossuficiência e responsabilidade, de modo a deslocar o eixo criador de um ponto para uma rede de consciência vívida, integrada e compartilhada, não-local e fora da experiência corpórea. 

Nela, a vontade ou o ato de vontade atrela-se a uma consciência que está presente em todos os rincões dos Universos e Multiversos, tendo em vista o reconhecimento do estado consciencial em tudo, uma espécie de éter de consciência, reproduzida em nível macro e micro. É, portanto, a consciência a "matéria-prima" dos universos e de tudo que está presente...

Para acessá-la conceitualmente, precisamos sair do realismo dualista - típico da ciência e da religiosidade tradicionais (duais e incompatíveis) - para penetrar no conceito de monismo idealista, no qual matéria, ideia e consciência são elementos básicos da REALIDADE (ou seja, a realidade não é apenas a matriz tridimensional, mas a coexistência, ao mesmo tempo agora, de todas as dimensionalidades). 

E como isso se dá? 

Muitas explicações nas últimas décadas, algumas das quais, desejosas de introduzir, a todo custo, a Física Quântica na equação, pecam pela deturpação dos conceitos, uma espécie de "sopas de letrinhas" esotérica e perniciosa, pois, no jogo do "tudo pode" (ou vale tudo), abre-se espaço para toda sorte de manipulação - inclusive a hiperdimensional, essa que está agora sendo relacionada aos reptilianos, alienígenas, agências secretas ou, ainda, a entidades malignas.

A maior contribuição da Física Quântica, contudo, nunca foi ou é dizer que "tudo é energia", pois, aliás, isso é a negação de um dos conceitos-chave da quântica: a natureza DUAL do elétron, que ora se comporta como partícula, ora se apresenta como onda (matéria E energia). 

Considerando o elétron como um integrado partícula-onda potencialmente apta a encerrar informação, dado e, portanto, consciência, daí, sim, faz sentido se falar que o preceito primordial do Universo é energia. Aqui reside a grande inversão que a Mecânica Quântica faz no paradigma clássico de ciência realista dualista: é a consciência que plasma a matéria

Ou seja, "estar" matéria é uma probabilidade energética, não a única. E, dentro da ideia de matéria, com uma ressalva: a tridimensionalidade também é uma possibilidade dentro da matéria, mas não a única, já que não conseguimos "ver" o elétron, mas, a partir de experiências de colisão de partículas, conseguimos equacionar sua trajetória e, portanto, perceber sua infinitesimal massa inercial.

A partir disso faz sentido se falar em cocriação, pois saímos de uma entidade criadora (a ideia de Deus máquina, detentor da fagulha inicial e da energia potencial), para a fagulha creacionista numa rede ou malha de consciência espargida como energia que se projeta em matéria "porque também é/não é matéria". 

Daí a cocriação, a habilidade de gerar, em nível de consciência, enquanto ser tridimensional também (porém não apenas), opções de manifestação (os chamados colapsos quânticos).

Para tanto, essa parcela monádica (ou seja, nós enquanto percepção de individualidade) precisa estar em sintonia com a energia-fonte que está em rede, entrando nesse fluxo e, com ele, colapsando as potencialidades de realização.

Mas, para que isso realmente atinja um propósito maior (que não seja plasmar ou colapsar um carro, um iate, uma emprego, bitcoins, uma esposa/esposo ou outro que o valha: assuntos e bens de somenos importância no mundo do engrandecimento espiritual), é necessário mergulhar nas profundezas de nossa alma, numa imersão no autoconhecimento, para que essa tarefa não seja apenas uma ética de auto ajuda ou de mera prática de acesso à prosperidade material que replique, nos planos múltiplos de pluri existências, um padrão ou modelo de comportamento. 

O contato com nossa sombra - o que jaz nas profundezas do que não está clarificado em nossa pineal - é imprescindível para que possamos superar as limitações que ainda nos atrelam à repetição, em nível de dimensões (alguns chamam de existências, encarnações, prisão-Matrix, não importa), de uma mesma sequência de comportamento replicado ad infinitum.

Assim, para colapsar probabilidades, a necessidade da alma em decodificar esses processos repetitivos e superar a replicância é procedimento imprescindível. 

Simplificando: para transcender e ascender precisamos nos conhecer, o que somente é possível quando se opera nesse mergulho legítimo e sincero na profundeza do que não desejamos enxergar na superfície das múltiplas cascas de cebola. 

Com isso, muito pouco adiantam a mera repetição mântrica, a entonação de decretos, rituais, orações etc., pois, se, de um lado, acende-se a fagulha da fé e da catarse, por outro, em nível subatômico, trata-se de um paliativo para a alma, que irá se contentar, no plano da matéria, com a graça ou o beneplácito obtidos. 

Isso apenas repete o padrão de comportamento, a matrix de nossa identidade monádica, levando-nos a sempre agir da mesma forma, em qualquer espaço-tempo-dimensional. Essa configuração, para alguns, constitui a cela-matrix de condicionamento para a qual boa parte da dogmática religiosa contribui com a noção uni-creacionista, antropomórfica, monoteísta e paternalista. 

Ou seja, nesse modelo, o enfrentamento das mazelas é algo que está fora de nós, por beneplácito de nossas ações (lei da ação e reação), e não segundo uma reconfiguração de nós mesmos, a partir da descoberta das limitações encobertas pela sombra não encarada.

Quando nos tornamos responsáveis pela compreensão de nossas sombras, daí, sim, possível é se falar em cocriação completa e integrada ao Todo (Cosmos), pois a linha limítrofe entre o eu e o todo se rompe, de modo a fazermos parte do fluxo de criação.

Simples assim...

Sejamos cocriadores e cocriadoras, sim, com o enfrentamento diário no espelho de nossas almas, que tudo reflete!

Céad mille fáilte!

2 comentários:

  1. Texto muito bem elaborado.O negócio é o seguinte...ter a compreensão do ser do eu de nós do todo..não é para uma vida só...ter o conhecimento às vezes se torna sofrido...por outro lado pessoas que pensam teem a necessidade atávica do questionamento.

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  2. Criemos realidades auspiciosas para todos nós!!!

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