sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Quando é hora de esvaziar o armário?

Fonte: http://www.menos1lixo.com.br/wp-content/uploads/2015/08/post-1-7.jpg

De tempos em tempos é necessário abrir as portas dos armários, deixar o sol entrar, eliminar as traças, escolher o que permanece, o que vai embora. Ver quais roupas ainda nos servem, calçar os sapatos para ver o conforto e, sobretudo, reciclar o ambiente.

Assim é com nosso pequeno mundo... 

Tal qual um armário em que tudo guardamos, às vezes, sem critério, a alma vai retendo, no dia-a-dia, emoções e sentimentos que se avolumam, frases não ditas, tristezas e mágoas não comunicadas. 

O ressentimento passa a ser a constante na vida de quem guarnece seu particular armário de alma com a guloseima do conformismo em acreditar que "a vida e as pessoas são assim", ou, outra, pior, que "as pessoas só dão o que têm". Ou, por fim, "relacionamento é assim mesmo, difícil" (o que me faz pensar, de maneira jocosa, que, se tudo é essa tragédia, por que, então, as pessoas insistem em se relacionar?)

Tudo vai se acumulando e enredando um nó de fel que, adiante, transforma nossos corações em pedra, anestesiam-nos e nos colocam na descrença e na digestão do veneno que encaminhamos para a corrente sanguínea.

Quando isso acontece deixamos de ser humanos e nos transformamos em autômatos frios e indiferentes, não mais nos permitindo sentir algo que não seja uma contemplação blasè que nos aparta da vida e do calor de experienciá-la. 

Antes que isso aconteça, é preciso abrir as portas da alma e deixar o sol também nela penetrar. Eliminar os focos internos de cisão, a dor aguda. As tentativas infrutíferas de explicação racional para o comportamento dos outros e os nossos. Não tem nada de racional, é sentimento e, como tal, deve ser encarado de frente para se exaurir e seguir em frente. 

Como dizia Virginia Wolf, é literalmente matar o anjo da casa e uma versão líquida de complacência com tudo que nos viola e agride, apenas porque isso é um pacto para o bem viver com o outro. 

Sobretudo porque somos mulheres cordatas e amáveis, o bastante para passar por cima da visceralidade que nos move e, em nome do beneplácito chamado amor, e anular parcela de nossa vivificação para que possamos conviver com alguém que "não se toca". Matar o anjo da casa é aniquilar o ideário de um final feliz a dois onde, nessa equação, apenas um está feliz. 

O que será isso?

O medo de ficar só? Será que ele nos encaminha diretamente aos braços do auto extermínio? Sim, será? Já que temer a solidão nos remete ao pacto de viver com alguém numa relação que pode envenenar. Em doses homeopáticas, isso vem, entranha-se e, quando vemos, somos apenas um arremedo de quem éramos antes. 

É preciso deixar o sol entrar, desempilhar o monte de roupa, lavar algumas delas e começar tudo de novo. 

Mas como? 

Não sei, quebremos janelas, arrombemos portas, escancaremos armários. 

Gritemos, esperneemos, mandemos àquele lugar (libertário). Xinguemos. É saudável saberem que, dentro do peito ainda bate um coração e que ele braveja quando instado a se dirigir ao caos. 

Sobretudo, calemos... Fiquemos sós em nossos mundos, pois é na solitude que conseguimos conversar com o âmago de nossas almas para que possamos encontrar na vacuidade a resposta aos dilemas frugais da vida. 

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