quarta-feira, 8 de abril de 2015

Salto quântico e superação de padrões: quando o falar não é o fazer

Fonte da imagem: http://www.lojaericasflores.com.br
Amit Goswami certa vez comentou em seu livro A Física da Alma (considerado por muitos como um misticismo esotérico) ser necessário um "colapso quântico" para que a superação de um padrão possa acontecer em nossa vida e, com isso, transformar tudo à nossa volta. Haverá colapso sempre que as partículas elementares estiverem diante de uma multiplicidade de possibilidades de acontecimentos, "escolhendo", pois, sua forma de manifestação.

Nada de milagroso, mas pura e simples atividade subatômica e consciencial, somente possível quando se consegue tamanha compreensão da própria alma (autoconhecimento), o bastante para romper as amarras dos modelos que nos perseguem ao longo da vida e que nos impelem, de maneira automática e quase massacrante, para as mesmas "escolhas de sempre". 

A partir dessa perspectiva, minha experiência acumulada ao longo dos 42 anos de vida (sendo uns 21 de vida útil na socialização secundária, ou seja, em relacionamentos) trouxe uma compreensão de total impossibilidade de se imprimir qualquer tipo de mudança "quântica" no mero plano discursivo. 

Ou seja, o "falar" que se está mudando, apregoar para o mundo o quão visível é a transformação da alma pode encobrir, a bem da verdade, o vívido padrão dentro de nós, reproduzindo-o o tempo inteiro, sob a vã perspectiva de estarmos superando o que está incrustado no campo eletromagnético (e o que impede o salto).

Primeiro sinal: fazer, não falar. Quando se muda efetivamente um padrão você sequer nota, muito menos ao ponto de fazer as insistentes afirmações, que mais parecem reforços repetitivos comportamentais, típicos de quem deseja se convencer de uma realidade que não pratica. Afinal, as verdadeiras mudanças - as significativas - são feitas no silêncio a alimentar a meditação.

Já ouvi muita gente falando que mudou, falando demais por não "ter nada a dizer" - como cantava Renato Russo. Aliás, já falei muito que estava "mudando" e, mais adiante, caía na mesma armadilha, ao reproduzir as mesmas escolhas. 

Isso era evidente nos relacionamentos (em qualquer nível). Sobretudo naqueles em que achava realmente estar "fora da caixinha", mas que, no fundo (ou no raso que não queria eu enxergar), mostrava para mim o padrão insistente a me perseguir.

Segundo e mais significativo sinal: quando se muda um padrão, não se comete o mesmo erro de quando se estava nele. Isso porque, integralizada a sombra, aprendida a lição, não mais é internalizado pela alma o modelo comportamental. Ou seja, "deschipamo-nos" ou nos desprogramamos do antigo modelo, não mais subsistindo as razões pelas quais emocionalmente éramos encaminhadas para a escolha equivocada.

Esse processo é natural e, exata e pontualmente por conta disso, sequer notamos - ainda mais ponto a ponto - sua existência. Quando vimos (lá na frente), já mudamos. E, nesse aspecto, nada melhor do que o feedback de quem mais nos conhece, nossos amigos, já que estão sempre ao nosso lado, acompanhando o desenrolar de nossas aventuras.

Isso me lembra o terceiro significativo sinal: ninguém produz em ninguém mudança. O colapso quântico é individual e não pode ser experienciado por outra pessoa que não aquela que está tentando sair do modelo. 

Frases do tipo "você me faz uma pessoa melhor" ou "por você eu mudo porque você é tudo para mim" me fazem sair correndo: ou se trata de um caso de psicopatia ou, então, de falta de autonomia emocional (o que me faz ter o cuidado com as figuras dos vampíricos emocionais e psíquicos).

Já ouvi inúmeros pedidos de desculpas, promessas de mudanças: tudo escoimado nessas três situações. Resultado: obviamente uma missão impossível. Um desespero de causa, ou, ainda, tentativa de remediar o irremediável. Não se muda da noite para o noite, muito menos falando - o tempo inteiro - que se está mudando e, mais adiante, repetindo a mesma lição.

Outro ponto importante de se lembrar: nenhuma mudança estrutural - ainda mais quando o padrão arcaico é inconsciente e ainda constitui parte não explicitada de nossa sombra - acontece "de súbito" na vida de uma pessoa (o que me lembra da outra assertiva acima, a que se refere à repetição sobre a mudança), sendo necessário um longo processo de autoconhecimento. 

Acredito até que exista um limite existencial em termos de processo reencarnatório para que se processem tais mudanças. É bem certo que o colapso quântico não encontra barreiras para escolhas e crescimento, mas, de outra sorte, para uma alma ainda arraigada em padrões muito fortes, talvez uma existência não seja o suficiente para se transmutar. 

Tal qual uma cebola, a cada experiência, a cada processo, eliminamos parte da casca, do invólucro que envolve o bulbo (essência). Com isso, há quem simplesmente elimine alguns pedaços de casca, deixando para outras experiências de vida (outras vidas, enfim) o restante do percurso até atingir o âmago do ser pleno a ser alcançado.

"Eu mudei", pois, é uma frase capciosa, sobretudo, como já argumentei, quando se repete exata e pontualmente o padrão que se apregoa ter mudado em nossas vidas. Tanto o esforço repetitivo quanto o lapso temporal são indicativos de manutenção. 

Claro que a perspectiva positiva é importante - para isso mentalizar é muito bom - mas, por outro lado, quando a frase não é acompanhada de uma profunda imersão nas profundezas de nossos padrões, inócua é toda e qualquer tentativa de transformação.

Por fim e, claro, o diferencial em relação à superação. O semelhante atrai seu semelhante. Ou seja, em algum subnível atômico, vibramos na mesma frequência que as pessoas com as quais nos relacionamos. Com isso se torna vital buscar o padrão dentro de nós, superá-lo e, depois disso, fazer escolhas melhores para nossas vidas. Simples assim...

6 comentários:

  1. Os irlandeses têm um "seanfhocail" brilhante: "Is minic a bhris béal duine a shrón."
    Mudar um padrão. Mas como, se nem sabíamos que ele existia, sedimentado na nossa essência, e, ironicamente, padronizado pelo nosso inconsciente.
    Esse tipo de mudança é um procedimento dificultoso. Muitas vezes uma ajuda, digamos, mais íntima é de suma importância. Com intimidade é possível mostrar ou até mesmo fazer com que o outro perceba esse padrão que precisa da mudança.
    Nem sempre as transmutações assumem um caráter endógeno, e sim exógeno.

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  2. Acredito que o olhar na alteridade seja igualmente rico, como bem retratado em seu comentário. Usualmente as pessoas não encaram na alteridade a projeção das idiossincrasias não resolvidas, atribuindo culpabilidade e responsabilização aos outros quando, a bem da verdade, encontra-se o padrão dentro delas (de cada um de nós). Outras poucas e sábias sequer precisam da experiência exógena, pois o autoconhecimento já as envolveu de tal sorte que a introspecção é a via de crescimento. Como diferenciar? Vivendo, creio. Grata pelo comentário.

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  3. Isso mesmo. Existe uma outra via, que eu coloco como mudanças necessárias dentro dos relacionamentos. A forma como eu me relaciono individualmente não será a mesma dentro de um relacionamento. Até porque, é uma união, logo, novos elementos irão surgir. E como ninguém é perfeito, certos padrões só aparecem dentro de um relacionamento íntimo. O autoconhecimento realmente leva ao crescimento. No relacionamento, temos o autoconhecimento interligado com a experiência do outro. Assim, não teremos apenas a nossa visão individual, às vezes escurecida por experiências negativas, mas uma visão compartilhada para o amadurecimento e a plenitude.
    Boa noite e bons ventos.

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  4. Comungo dessa perspectiva. Acredito, ainda, que um dos maiores problemas enfrentados nos relacionamentos seja a dificuldade em se conhecer, compreender os padrões ocultos que se projetam, ao final, no outro e vice-versa. Daí um verdadeiro esquema de troca de acusações e imputações de culpa correm de um lado para outro, dificultando, assim, o crescimento. Quando se tem clareza de quem se é em termos de complexidade, potencialidade e limitações, o colapso quântico se estabelece, creio.

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  5. Assim também eu interpreto. Se conhecer para, com a consciência em ressonância com o outro, compreender com um olhar mais acendrado as projeções das nossas experiências que naturalmente incidem na pessoa com a qual nos relacionamos. Sem essa visão arquetípica e inconsciente, que antecede a fusão das almas, fora do material, mas no plano vital, sutil, intuitivo, a troca de acusações, como você bem colocou, geram incessantes discussões sobre a culpa do outro, e falácias impositivas baseadas em "argumentum ad personam" e "tu quoque", que apenas implodem as chances de um relacionamento harmônico.
    E nessa voragem e embriaguez de razão para além da razão, nos sabotamos, impedindo qualquer chance de colapso das possibilidades quânticas no que diz respeito às experiências, ou até mesmo o entrelaçamento quântico. E principalmente, perdemos a chance de compartilhar essa trajetória com quem amamos verdadeiramente.

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  6. Assim também eu interpreto. Se conhecer para, com a consciência em ressonância com o outro, compreender com um olhar mais acendrado as projeções das nossas experiências que naturalmente incidem na pessoa com a qual nos relacionamos. Sem essa visão arquetípica e inconsciente, que antecede a fusão das almas, fora do material, mas no plano vital, sutil, intuitivo, a troca de acusações, como você bem colocou, geram incessantes discussões sobre a culpa do outro, e falácias impositivas baseadas em "argumentum ad personam" e "tu quoque", que apenas implodem as chances de um relacionamento harmônico.
    E nessa voragem e embriaguez de razão para além da razão, nos sabotamos, impedindo qualquer chance de colapso das possibilidades quânticas no que diz respeito às experiências, ou até mesmo o entrelaçamento quântico. E principalmente, perdemos a chance de compartilhar a vida com quem amamos verdadeiramente.

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