Fonte da imagem: http://2.bp.blogspot.com |
Apresentei as gerações de feministas, situando-as no espaço e no tempo, bem como falei um pouco sobre as vertentes (ecofeminismo, ciberfeminismo etc.), não sem antes refletir - durante todo o tempo de fala - sobre a importância de contextualizar devidamente o tema a partir de um sentido mais concreto, para que a discussão não se tornasse enfadonha ante às abstrações que a dimensão teórica pode trazer.
Pegando o gancho no que uma colega de mesa evidenciou sobre teoria ter que caminhar com prática, em átimos de segundos pensei em toda a minha trajetória que, longe de me enviar para uma contemplação vitimizante de vida, torna-se motivo - hoje percebo - de orgulho, pois tudo o que outrora se apresentou como situações de desrespeito ao Sagrado e às mulheres trouxe uma lucidez enorme em relação à maneira como posso agora conduzir a minha vida e minhas decisões pessoais, acadêmicas e profissionais.
O que poderia ser denominado "dor resiliente" a cada nova experiência imprimiu uma tranquilidade de alma em identificar o processo, o padrão, bem como os limites e a necessidade de superação. Acredito que o melhor feminismo esteja aí: na trajetória pessoal com a qual cada mulher se supera diante dos padrões machistas presentes e vívidos em sociedade, bem como aqueles que também traz consigo e, pouco a pouco, deixa de realizar escolhas que as impelem (nos impelem) para envolvimentos machistas, atávicos e abusivos.
Com isso, o que hoje fica como percepção sobre a essência do feminismo consiste em concebê-lo como uma forma de pensamento político a se materializar em ações concretas - ora individuais, ora coletivas, rumo à compreensão de igualdade entre homens e mulheres, por intermédio da superação do paradigma androcêntrico (que elege o masculino patriarcal como epicentro de toda a construção social de mundo) e machista (que justifica, legitima e elabora a ideia de inferioridade da mulher e necessidade de submissão, em qualquer nível, ao homem).
Fonte da imagem: https://zapateando2.files.wordpress.com/2010/05/433_3_1.jpg |
Pensamento? Prática? Ativismo? Prática individual? Coletiva? Eis mais assunto, pois, ao longo das gerações de ondas do feminismo, observamos movimentações coletivizadas. Desde as sufragistas até as anarco feministas (que apregoam a supressão do Estado como ordem inerentemente patriarcal), o que tem desafiado minhas reflexões consiste em saber se o movimento necessariamente demanda uma junção de esforços (um coletivo, uma ONG, enfim, organizações).
Na palestra lembrei-me das palavras da minha mãe durante minha infância e adolescência, impulsionando-me à conquista de meus objetivos, sem observar o que estruturalmente se elaborou em sociedade como um paradigma de inferiorização da mulher. Com isso e, para além disso, lancei-me rumo à autonomia sem observar os construtos vitimizantes que, se não superarmos, podem eternizar a fragilização da mulher.
Se, por um lado, reconhecer a coisificação da mulher torna-se o primeiro passo para a explicitação do longo processo histórico de apropriação patriarcal, por outro, a superação da ética vitimizante é condição vital para se reelaborarem relações mais equânimes e honestas, uma vez que a igualdade é simplesmente a deferência de mesmos direitos. Simples assim.
Mas, de outra sorte, reconhecer as ondas femistas também é observar outra percepção também presente em sociedade: a misandria, ou ódio ao masculino, usualmente confundido com a demanda feminista. No feminismo, em qualquer que seja sua vertente, os homens não são odiados ou alijados para um plano de inferioridade, mas, antes, o olhar de igualdade. No femismo, contudo, a igualdade cede espaço para o alojamento do masculino para a inferiorização, pretendendo-se "restaurar" um matriarcado que até mesmo historicamente é questionável (sugiro a leitura de O Cálice e a Espada, de Riane Eisler).
Acredito, dentro desse contexto, que a percepção de tais vertentes e diferenças - o que indiscutivelmente é um caminho solitário - aloja as feministas do século XXI para um ativismo individual, ou, em uma apropriação semântica, feminismo pós-liberal, que se estabelece a partir do paradigma liberal individualista, materializa-se na conscientização pessoal e, em cima disso, projeta-se numa cidadania que pode desembocar no somatório de experiências pessoais.
A rediscussão do papel do Estado, do companheiro - ou das próprias relações heteroafetivas e/ou firmadas a partir dos modelos de gênero - bem como das relações de produção podem acenar para outras vias de transposição do machismo. O envolvimento em torno da ideia de redefinição de novos rumos no relacionamento com a Natureza e o planeta também aportam nessa nova pauta de discussões. Sobretudo, na mudança epistemológica com a qual se construíram conceitos e paradigmas no campo acadêmico.
Pensando nessas e em outras questões, terminei a semana satisfeita por essas escolhas, que me encaminham novamente para a movimentação reflexiva, chacoalhada por outros processos que findaram por me aproximar de mais um caminho novo e cheio de novidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário