domingo, 5 de maio de 2013

Quando nosso lar é nosso mais sólido castelo

Há dias tenho estado reclusa, bem quietinha e silenciosa em minha casa, observando o ir e vir dos dias que evidenciam, com riqueza de detalhes, as mudanças planetárias acontecendo bem debaixo de nossos olhos.

Não se trata do inverno - que, esse ano, está começando a despontar mais cedo - batendo à porta e nos convidando ao aconchego de uma lareira. 

Muito menos se trata de convalescença de gripes de estação, a despeito de ter ficado de cama uns dias atrás. 

Não estou apenas estudando, escrevendo tese, lendo e compreendendo melhor os cristais. Não estou apenas limpando, colocando tudo em ordem, defumando e purificando o ambiente tão bom... 

Não estou apenas cuidando melhor da minha alimentação, cozinhando shimejis, shitakes e risottos, nem estou apenas tomando meu delicioso chá de gengibre, maçã e abacaxi desidratados...

Não!!!!

Tem muito mais!!

Não é tristeza, nem depressão, ao contrário do que muito se pode imaginar de uma pessoa que vive ao lado de familiares de quatro patas...

É alegria!

É bem-estar!

É bem-querer!

Uma felicidade calma que se finca na bem-aventurança de apenas desejar "estar em casa", imbuída da mais pura sensação de paz concretizada em aqui permanecer no âmago de uma plenitude que se alastra por todo meu ser pulsante. 

Cada átomo, enfim, demanda a quietude do meu lar. 

Cada respiração completa em que meu abdômen se amplia e contrai me sussurra em melodia: "fique em casa, fique em casa... fique...em...casa". Em cada dança exalante do devenir da pequena morte contida no fragmento de pranayama, tudo está a me encaminhar para o aqui e o agora de minha casa.

Por que?

Enquanto tantas pessoas estão a "viver a vida", nos recônditos das noites gélidas de um Planalto Central, estou simplesmente aqui. Simplesmente. Sem julgar, sem dizer o que é errado ou certo. Sem me importar com o que o mundo está - lá fora - a demandar de mim, ou, ainda, a produzir. Nada disso importa quando o assunto é "ficar em casa".

Estou aqui e aqui permanecerei, porque simplesmente tenho dentro de casa a projeção mais perfeita do estado áureo de satisfação em estar comigo, alinhando-me com os vórtices de uma exegese que me impulsiona a querer sempre mais me observar, compreender-me na incompreensão paradoxal do viver. 

Aquieto-me na turbulência, pegando carona no movimento do ar para planar em meio à entropia que se expande, a cada dia, sinalizando para a mudança que já se faz no mundo pós-moderno!

O silêncio é minha música preferida, pois, para além dele, abro-me para a contemplação da incongruência de um mundo que está se redesenhando em hemisférios de saberes incontidos que eclodem na imensidão do atropelo do imediatismo com que a humanidade deseja viver, a todo custo, a sobrevida do mundo etéreo, na mântrica ilusão brotada de exaurimento da existência.

Desejamos evitar a morte e, na evitabilidade, atropelamos o sentido do processo lúdico de inconstância, porque "todo tempo é tempo". Se é bem verdade que não podemos parar o tempo, podemos, de outra sorte, aproveitar com mais qualidade o tempo que sequer sabemos ter a nosso favor (quem sabe o tempo que "tem"? Será "que temos"?)...

A pressa de me voltar ao externo converteu-se na vagarosidade com a qual passo meus plenos dias reverenciando cada suspiro da Natureza, reinando plena por aqui, em meu castelo de satisfação. 

Forte e frágil castelo, de frondosas paredes erguidas com pedras plásticas de amorosidade, amalgamadas com uma sabedoria que tanto persegui ansiosa - sem encontrar - e que, agora, na desistência, veio espontaneamente compor a construção do desenho cálido dessa aquarela sutil de completude.

Cada parede enfeitada e quadro pendurado formulam o trajeto de aconchego que me impelem para não desejar trocar esse pequeno mundo mágico por promessa alguma inexequível. Cada planta que nutro com água, cada vela consagrada. Cada olhar para o Cálice presenteado por minha mãe querida: tudo é um pedaço de coração imantado de uma bricolagem linda, que foi e tem sido minha vida, essa vida enquanto Alessandra...

My home is my caste, fala o ditado inglês que tanto tive curiosidade em entender. Agora, no auge de uma motivação energética, compreendo em meu lar o somatório de tudo aquilo que projeto na vida, em cada pequeno passo rumo ao simples "estar vivendo". 

Esse mundo lúdico talvez não faça muito sentido para as outras pessoas. 

Não importa, pois, ao final, cada alma constrói o castelo que sua senda lhe permite configurar. Esse castelo é o invólucro que escolhi para me fazer efetiva em segurança, ao mesmo tempo em que dele hauro os frutos do que plasmei no plano físico como resultado direto das metas traçadas pela minha alma.

Por isso Jung, sabiamente, via nos sonhos com casas representações de nossas estruturas internas mais profundas, já que o lar é o lugar onde nos sentimos seguras e seguros em relação ao final de um longo dia. 

Voltar para casa, assim, torna-se, em certa medida, um retorno frondoso de um dia límpido de batalha campestre, para que recobremos a energia vital gasta ao longo do percurso cotidiano de nossas lutas pessoais, que se celebram nas vitórias de simplesmente "se estar viva/o". 

A vitória, enfim, deixa de ser a expressão egoística de submissão do outro, para se tornar a vitória expressa sobre nós mesma/os em relação às idiossincráticas máscaras que produzimos na tentativa de burlar o inescondível: o desconhecido mundo etéreo que nos aguarda em berço, no abraço da Grande Anciã Morrighan!

Bem-aventurado nosso lar, pois nele recobrados as forças para o reinício de nossas jornadas nesse plano da Grande Mãe Sagrada!

Blessed be!



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