terça-feira, 29 de maio de 2012

A sabedoria ancestral de nosso corpo...



Fonte da imagem: www.wholesfoodmarket.com

Um dos maiores equívocos conceituais trazidos pelo Iluminismo e a consequencial "evolução científica e tecnológica" dos últimos 200 anos de História reside, em minha opinião, na derrocada da concepção unicista de mundo, pois, a partir das "descobertas" científicas, bem como do desenvolvimento - em sede de filosofia, medicina etc. - de doutrinas dualistas, o(a) ser humano(a) moderna parece haver se apartado, cada vez mais, de uma percepção holística de si e do mundo. 


Ao meu ver, emburrecemos, paradoxalmente ao mesmo tempo em que alcançamos ápices de descobertas. Isolamos vírus, sim, viva! Mas, por outro lado, somos incapazes de dar vazão aos sentimentos macabros que nutrimos e depositamos nos eternos quartos de despejo, escondendo tudo sob um amarelo sorriso "joinha, joinha" que não mais convence ninguém.


Esse grande abismo traz reflexos bem nítidos, a começar do cisma entre uma dita "medicina oficial" e o que - bem, é claro, para a oficial a outra é chamada assim - se definiu como uma "medicina alternativa", cujo enunciado, não raro, é tomado pelas pessoas como indigno de confiança ou seriedade, "produto New Age" olhado por quem tripudia como um personagem do Beco Diagonal harry potteriano, ao mesmo tempo em que, num momento de conveniência, é acionado pelo cético para uma consultoria "espiritual", quase sempre focada na busca de alento onde a Medicina, a Psicologia e as demais "alguma-coisologias" não conseguem responder.


Nesse sentido, quantas vezes já ouvi gente me aconselhando a ingerir antibióticos, anti-inflamatórios e outros anti-alguma-coisa, remédios sintéticos (mortos) que - a partir do paradigma unicista no qual acredito - além de destruírem boa parte do meu organismo e, a bem da verdade, serem drogas (mas hipocritamente marcadas pela "chancela" de legalidade, apenas porque trazem rios de dinheiro para as indústrias que fazem testes nas populações africanas - ex vi o filme O Jardineiro Fiel), não chegam ao pano de fundo de boa parte das doenças, qual seja, os déficits elaborados por nossas almas e que é invisibilizado pela mediocridade com que o humano(a), em idos de pós-modernidade, chegou ao fundo do poço do desconhecimento sobre si mesmo ou mesma. 


Dez ou doze anos atrás - quando foi a última vez em que tomei um antibiótico na vida - quase tive uma úlcera, porque meu organismo não suportou a agressão. Minha língua feriu-se, ficando em carne viva, bem como meu estômago rendeu-se em prantos, soltando uma fedentina digna de um cadáver. 


Esse enfrentamento brutal com a morte (não minha morte, mas o fato do antibiótico ser o que é, anti + biótico e, com isso, matar tudo, até minhas células) trouxe, de vez, a necessidade de me recolher e refletir sobre os rumos da minha vida, pois, o que vi, naquele momento, foi a deterioração chegando e se instalando em minha vida. Lembro hoje que, naquela época, pesava por volta de 90 quilos e, ainda que eu fosse alta - 1,75 - essa aglutinação toda de gordura, massa e bolor iria me levar mais cedo para o outro mundo. Dei um basta e, com isso, retornei ao lugar seguro das memórias familiares que tanto me incentivaram a me alimentar direito. 


Ou, ainda, por outras tantas vezes observei outros conselhos, desta vez alimentares, sobre o que eu "deveria ingerir", dentro, claro, de um lugar de fala que não contempla o paradigma no qual acredito, mas, antes, toma-o como, no mínimo, "interessante", palavra politicamente correta para indicar, em nível semântico, que não reputamos seriedade ou validade em algo ou alguém.


"Coma uma carne", dizem uns. "Beba leite, é bom para a mulher", dizem outros ou outras. Conselhos bem "interessantes" (aproveitando minha fala acima) em relação aos quais observo uma ingenuidade atroz, para não falar uma ignorância estrutural em relação a tudo que está esquadrinhado na contemporaneidade a respeito de hormônio, pesticida, agrotóxicos e demais hecatombes que já foram detectadas há tempos, mas cuja existência parece, ainda, que boa parte do mundo ocidental e "muderno" negam-se a olhar de frente. 


"Uma rosca para forrar o estômago", dizem outras pessoas, atos singelos que revelam uma ignorância atroz em relação à minha matiz, além de se revestirem do mais profundo etnocentrismo no que diz respeito a se achar que os valores e posicionamentos de vida são os mesmos para todas as pessoas. Ir ao médico? Nossa, esse é o conselho que mais recebi durante toda a minha vida nesse orbe, como se meu médico - homeopata - fosse formado em gastronomia, e não em Medicina... 


Como se a fitoterapia fosse um "bando de chá e erva de maluco" com efeito placebo apenas porque OBVIAMENTE para o paradigma científico ainda dominante é contraproducente reputar validade nas ervas. O que é igualmente paradoxal se observarmos o quanto biomas como nossa Amazônia despertam a atenção de laboratórios no mundo inteiro, sem deixar de mencionar os pedidos de patentes de remédios que usam nossa flora como base...mas, enfim, queremos acreditar no que nossos olhos míopes nos mostram...


Quando ingerimos algo em que, por pressuposto de vida, ética e crença, não reputamos saudável ou sério, além de praticar violência contra nossa alma, corremos o sério risco de piorar nosso estado de saúde, uma vez que o corpo rejeita - em consonância com o que a alma reverbera - o elemento repudiado. É o mesmo que ingerir veneno colocar na boca uma substância que, a priori, temos como prejudicial, pois a consciência já internalizou e processou os efeitos danosos que o alimento oferece (se é que se pode chamar de alimento um veneno).


Daí a necessidade de mudança, a começar pela ética do respeito à opção de vida e de saúde das pessoas. Assim como não desejo que minha premissa seja universal porque ela diz respeito aos meus valores e minhas experiências até chegar aos valores (que são, por sua vez, provisórios até o momento em que novos valores ocupem o lugar dos antigos), de igual maneira acho importe respeitar a opção alheia em quedar no dualismo. 


Aliás, ante tudo que já se produziu em termos de conhecimento e abandono à ideia pré-socrática de holos, tomo o mundo, bem como seus habitantes - incluindo a mim mesma - como imerso num grande mar de dualismo, ainda que tentemos sair dele em um bote salva-vidas. Remamos, remamos e remamos, mas, de tempos em tempos, a maré dualista vem e se instala, eclodindo, assim, em doenças, neuroses e demais apatias anímicas que se plasmam no corpo físico.


Tudo que lemos, reproduzimos e pretendemos internalizar a respeito da unidade entre alma e corpo cai por terra quando nossa "zona de conforto" recebe algum impacto mais proeminente. De senhores e senhoras de si, quedamos em processos obscuros dentro de nossas almas (obscuros apenas porque não queremos nos encarar, pois, a partir do momento em que o fazemos, passamos a nos conhecer mais e mais e, com isso, o que estava escondido passa a ser focado a partir da luz) e mergulhamos nos processos patológicos que nutrimos com a vazão alimentar que também insistimos em desenvolver. Ao invés de escolhas conscientes, preferimos a sabotagem e a autodestruição, pois, quem sabe, um dia, conseguimos, a longo prazo, nosso "desiderato" (qual seria mesmo?).


Fincar raízes no dualismo é escolha, bem como conscientizar-se também. O primeiro passo, ao que vejo, reside em buscar fazer as pazes com o próprio corpo, observando-se sempre mais e atentando para os sinais que ele dá. A doença do corpo é o estágio final da eclosão de um déficit de alma, uma doença na alma. Os chineses já pensavam assim há 6.000 anos, bem como os indianos também. 


Até o puritanismo estadunidense está se rendendo à necessidade de autoconhecimento. Em um livro bem legal - Você pode curar sua vida - a psicóloga Louise Hay faz uma síntese de correlações entre doenças e estados de alma. 


A hepatite, por exemplo, estaria relacionada ao ódio intenso, assim como a hemorroida estaria relacionada à raiva do passado. A dor de cabeça, ligada ao sentimento de desvalorização própria, bem como o resfriado, à desordem mental ou à mágoa. Aliás, mágoa é o que não falta na lista, pois, segundo a autora, a sinusite - patologia que atinge muitas pessoas, de maneira até mesmo silenciosa - estaria relacionada à irritação com pessoa próxima, assim como o câncer - ah, esse vilão!!!! - nada mais é do que a mágoa crônica e perpétua, consolidada ao longo da vida da pessoa.


Diante de tudo isso, então, o que fazer? Não sei, ao certo, pois o que faço só vale para mim. Sei apenas que sou feliz com a opção eremita que escolhi, recolhendo-me em casa para cuidar da minha saúde e da saúde de quem me é caro e amado com o que minha família me ensinou. 


Minha tia, com a base macrobiótica na qual fui introduzida aos 9 anos de idade. Minha avó, nas saudáveis vitaminas de levedo de cerveja e sementes, bem como nas folhas verdes. Minha mãe, nas lições da loja de produtos orgânicos e naturais que manteve durante 10 anos. 


O restante tem sido fruto das tentativas e erros - mais acertos do que erros - na medida em que parei para me observar e escutar a minha alma. 


Por isso, com todo o respeito às pessoas que pensam diferente, mas meu caminho lactovegetariano, fitoterápico, homeopático e unicista vale para mim, de modo que o proselitismo me é lido como uma violência contra a minha alma...Não quero salvar o mundo, mas igualmente não permito que ninguém "tente me salvar", pois a cada qual é dado o tempo certo para crescer, nada mais. 


Dentro disso, cada um ou uma deve mesmo saber de si...simples assim!



2 comentários:

  1. Faço tudo diferente. Ainda busco o meu caminho, acredito. Mas, ''cada um deve mesmo saber de si'', me transmitiu um profundo respeito. Respeito pela sua verdade e pela verdade do outro. Acolhedor, muito acolhedor.

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  2. Sim... o respeito tem sido, para mim, a máxima para bem viver em grupo. A base do respeito - penso - reside na capacidade de ver isso mesmo, como você bem colocou, de se saber de si...Muito grata pelas sábias palavras e por compartilhá-las aqui! Blessed be! )O(

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