segunda-feira, 28 de maio de 2012

O eterno retorno dos caminhos do presente

Todos os dias, ao sair de casa para o trabalho, costumo fazer minhas preces para a Grande Mãe enquanto estou no volante do automóvel. Faço isso sempre que não consigo me recolher em frente ao altar sagrado de minha casa para as celebrações de gratidão, pois, em final de semestre e de doutorado, cada vez estou dormindo um pouquinho mais e, quando dou por mim, já é hora de sair correndo!


Não tem problema, pois, enquanto dirijo, prostro-me a me deliciar com a beleza das paisagens que Brasília oferece pela alameda de ipês-roxos que florescem nessa época de inverno proeminente. A sequência aqui de floração é marcada pela chegada das paineiras - em seus tons mais rosáceos - dos ipês-roxos em várias matizes e, em véspera de primavera, enfim, pelos ipês-amarelos. 


Hoje me peguei contemplando um ipê-roxo, descobrindo, enfim, sua chegada aqui pelo cerrado. Enquanto convocava a egrégora ancestral e me conectava aos elementos, senti a brisa leve e fria passando por mim, marcando a mudança de um ciclo - aquele ciclo que ontem mencionei - da saída do outono para o inverno. Quando nos conectamos ao som da Natureza, bem como ao ritmo da pulsação das estações, nossos próprios corpos e relógios nos movem para uma harmonização ímpar que, ao final, dá a tônica do equilíbrio.


"Tudo caminha para o equilíbrio" - ouvi isso ontem do Daniel e, em cima desta assertiva coloquei-me a ponderar sobre a harmonia existente entre os componentes deste Universo infindo, pois, ao final, por mais que achemos, em muitos momentos, estar algo ou alguma coisa "fora do lugar", penso que tudo está como deveria ser, sendo o "ser" o "estar" fluídico e inconstante, a construção e a desconstrução diuturna de caminhos. Afinal, estamos imersos em um rincão chamado Universo e, portanto, dentro dele, enfim, tudo está existindo numa dimensão...


Construir um caminho em cada átimo de segundo não é, por outro lado, instabilidade no sentido de não se ter foco, mas, antes, é se coligar à ideia de não nos prendermos a uma sensação ilusória de segurança, pois até mesmo a Terra, o maior e mais denso elemento, é suscetível a desmoronar quando abalada pela intempérie. 


Assim como essa grandiosidade toda pode se transformar - a exemplo da Pangeia, que mudou a faceta do globo e separou os continentes - estamos todas e todos em uma incessante transformação dentro da qual o afã de alcançar o destino apenas pode se converter em ansiedade e sofrimento, elucubrando e delirando em cima de um futuro tão incerto quanto a permanência de nossos corpos nesse planeta. Simples assim!


Comecei a perceber isso aos poucos, quando me vi fazendo planos num futuro tão absurdamente incompatível com esse estado de natureza harmônica que, ao me dar conta disso, comecei a rir, por observar o quanto desarticulada de meus propósitos eu estava. O viver é o próprio caminho, nada além disso... Metas, projetos e objetivos são bem-vindos se não sofremos com eles em face de ansiedade, pois, quando se revelam focos de aglutinação de dor, nada têm de bom, por partirem de um pressuposto que não necessariamente se confirma: a existência inexorável de futuro. 


Não existem projetos mirabolantes de aquisição de carro, construção de casa, de viagens ou de passeios que sejam mais fortes do que nossa própria existência no aqui e no agora, apenas em estado constante de inconstância no simples caminhar. Para onde? Enfim, ao sabermos que o importante é o caminho, os pequenos milagres - para quem acredita neles, enfim (pois acho que são mágica) começam a se materializar bem à nossa frente. Os obstáculos são amorosamente transpostos com gratidão e benevolência e, com isso, tornamo-nos seres melhores do que somos no dia-a-dia. É o caminho que importa, e não o "ponto de chegada", pois, a rigor, nem dele nos é permitido saber, em carne, com dom de determinismo. 


Mas para isso se revelar é preciso, por outro lado, saber ouvir mais a voz interior e silenciar mais em relação à alteridade. Saber fazer uma leitura dos sinais que a vida está, o tempo inteiro, a nos mostrar, já que, grosso modo, nada existe ao acaso dentro dessa teia de conexões causais que nos coloca em interdependência. 


É viver uma vida de percepção do básico, desde da atenção com a alimentação - o mais básico modus vivendi de se preservar - até mesmo com a alimentação espiritual, fornecendo à alma condições de se capacitar de maneira lânguida ante as pancadarias do materialismo. É descobrir harmonia ingerindo um copo d´água, é transcender o mero ato para aglutinar nele a intenção. 


Em nossa sociedade automática e robótica alimentamo-nos mal, não somos gratos com o que a Natureza se nos coloca e, ainda por cima, somos predadores, à escusa de nos posicionarmos - com o ar de uma arrogância que somente existe, em nosso planeta, nos seres humanos - como ápice de uma "cadeia alimentar" - aprisionamo-nos dentro dela e colocamos a chave tão distante que, ao tentarmos sair, não-raro fenecemos, tamanho o condicionamento com o qual dilapidamos nosso espírito até não mais existir ar para respirar.


Quando nossa voz interior nos encaminhar mais para o retorno à nossa trilha, saberemos ver os sinais...até lá, então, CA MI NHE MOS!

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