quarta-feira, 4 de abril de 2012

Percebendo as primeiras impressões da alma: a volição como ato inicial da escolha





Hoje assisti a um filme bem interessante chamado "Casa comigo?", protagonizado pela atriz Amy Adams, personificando uma decoradora de ambientes que viaja para Dublin com a finalidade de pedir o namorado médico em casamento, por saber, por intermédio do pai, que o pedido feito num dia 29 de fevereiro deve ser obrigatoriamente aceito pelo homem, segundo reza a tradição irlandesa.

Antes de chegar a Dublin, porém, o avião enfrenta mau tempo, sendo obrigado a fazer um pouso de emergência em Gales e, com isso, ela conhece um ríspido dono de hospedaria chamado Declan  - Matthew Goode - com quem vive aventuras inesquecíveis enquanto viajam para a cidade em questão.

Pois bem, o que me chamou a atenção nesse filme...

A personagem, Anna, tem uma vida bem "certinha": bem-sucedida na carreira, namora um médico, Jeremy, aparentemente bem centrado na carreira, o bastante para, em 4 anos de namoro, sequer ter pedido a mão da moça em casamento. Por outro lado, Declan - dono da hospedaria - é a antítese do bom moço representado pelo médico.


A certa altura do filme, Declan faz um provocação, afirmando que a única coisa que ele pegaria em um incêndio, se tivesse 60 segundos para assim fazê-lo, seria a aliança de sua mãe, presente que deu para sua ex-mulher, que o traiu com o melhor amigo.


Daí, depois disso - quando Anna volta para Boston com seu namorado - que já a essa altura a pediu em casamento - ela começa a pensar muito na relação, a partir da observação do comportamento do noivo. Na festa de inauguração do apartamento novo que ambos compraram, ele afirmou para os amigos do casal que pedir Anna em casamento foi muito bom para que pudessem conseguir a aprovação, por parte dos condôminos - do cadastro e da compra do imóvel


Ou seja, soou para a decoradora que o pedido de casamento foi feito para facilitar a aquisição do apartamento, e não porque ele a amava. Isso foi o bastante para, depois, soar o alarme de incêndio e, no ápice dos 60 segundos em que as pessoas haveriam de sair do apartamento, Jeremy começar um frenesi de correr atrás do que era mais importante, quase tudo relacionado com bens materiais (o contraponto ao que Declan falou antes, pois a ele interessaria pegar, nos 60 segundos, a aliança de sua mãe).


Com essa realidade bem à sua frente, Anna não teve dúvidas: pegou o primeiro avião para Gales e foi se encontrar com Declan, com que, ao final, casou-se...


O que me impactou nesse filme o bastante para me colocar em reflexão até o momento de agora foi a questão do porquê de nossas escolhas. Meu argumento do dia é o seguinte: motivações equivocadas geram decisões equivocadas e escolhas equivocadas


Jeremy não queria se casar com Anna por ato incondicional, mas, antes, pelo oportunismo social de, por meio disso, conseguir ser aprovado pelos condôminos do prédio. Para ele, coitado, a atitude de Anna de fugir pode até soar como loucura, por conta da completa ignorância do jovem e arrogante médico em relação a si mesmo. Movido pelo desejo de status, ele só pediu Anna em casamento como aproveitamento para o aceite dos condôminos. 


Quando fazemos nossas escolhas precisamos sair do automático e refletir sobre a fagulha, o impulso, o ato criador, enfim, que motivou nossa escolha, pois, a partir daí um helicoidal processo começa a se desenrolar, totalmente motivado pelo ato que, para muitas pessoas, está ainda encoberto por couraças e mais couraças de alienação em relação a quem se é. 


Já ouvi, certa vez, de alguém algo bem parecido. Uma pessoa de meu convívio falou-me que iria morar com sua namorada, pois, ao que parecia, ele a amava "incondicionalmente". Mas bastaram cinco pífios minutos de conversa para que eu tivesse dele um vasto rol de motivações que sequer passavam pelo sentimento. 


E mais, ainda que por ele passassem, a enumeração exaustiva de  "vantagens" pareceu se colocar como mais proeminente em termos de legitimar o ato. "Pagar conta mais barata", "não estar só" e até mesmo "ter alguém para fazer uma comida" (sim, em pleno século XXI ainda tem imbecil falando isso) foram as respostas que legitimaram o ato do moço em ir ter com sua namorada. 


Resumo da ópera: um namoro de 5 anos terminou em 4 meses de moradia comum sem sequer manterem a amizade. Por que? 


Ora, por que perguntar o porquê? Não está óbvio? 


Para mim está claro com a luz do Sol todos os dias em minha janela: o ato que impulsionou o rapaz a morar com a namorada não era integralmente motivado pelo sentimento, mas permeado por outras justificativas que, por serem mascaradas, ao menor sinal de perigo vieram à tona e desencadearam o fim


Simples assim. O jovem fundamentou a mudança em tudo que diz respeito a vantagem auferida, exceto aquilo que deveria ser o fato gerador da sua decisão: amor, pura e simplesmente. Não há sentimento que resista ao egoísmo mascarado em pequenas "boas ações de escolhas" porque, um dia, a casa cai. 


Cai quando a pessoa passa, a cada dia, a se mostrar nos pequenos atos, dizendo com pequenos gestos quem é, tal qual Jeremy que, numa frase infeliz - mas providencial porque, afinal, era advinda da cabeça do rapaz - colocou absolutamente tudo a perder de vista, porque revelou sua real intenção em face de Anna. 


Podemos enganar uma pessoa por muito tempo, mas não podemos nos enganar por muito mais. É apenas uma questão de tempo até o exaurimento de tudo e a descoberta da verdade... simples e indolor, porque, ao final, a verdade é deliciosamente libertadora!

Um comentário:

  1. Adorei o texto, bem reflexivo...

    Atualmente as pessoas querem tirar vantagem até mesmo do "amor"...Entre aspas mesmo, já que de verdadeiro não tem nada...

    Bjo

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