domingo, 25 de março de 2012

Falar: parar, observar e silenciar

Sempre me observei como uma pessoa extremamente comunicativa, às voltas com opiniões bem fortes a respeito dos mais variados temas que nos cercam: política, futebol, direito, religiosidade, espiritualidade etc. A necessidade, talvez, de me fazer ouvida (motivada, talvez, pela sensação de nunca ter sido ouvida em outras épocas), motivou-me ao atropelo, muitas vezes, da voz e da opinião do outro, o que, a longo prazo, traz o inconveniente de me transformar em verdadeira "autista social".

Com a Arte foi assim. De início, "animada" com a propalação de uma "nova ordem mundial" de plenitude e liberdade religiosa, tentei "sair do armário" e me fazer visível para a sociedade que, até então, enviou sagradas mulheres para as galés e fogueiras. Os segredos sagrados de família, enfim, poderiam ser invocados para a harmonia entre egrégoras e, com isso, para a superação das diferenças e da ignorância.

A chamada "Nova Era" inaugurou um multiculturalismo espiritual ímpar, trazendo a lume diversos nichos religiosos e espirituais que, outrora, eram tabu na sociedade brasileira. Motivada, participei de círculos, visitei sacerdotisas, fui a rituais públicos e privados e estudei. Em meio a essa animação, senti-me aquecida e segura em minhas convicções, acreditando que o compartilhar e a propagação de meu credo poderiam denotar a marca maior da minha vivência.

O passar dos anos, contudo, trouxe o frescor da sabedoria e, com ela, o aprendizado da grande virtude da Terra: CALAR. Silenciar, ouvindo mais do que argumentando. Afinal, o que interessa aos outros minha opção de vida? E mais: qual a utilidade prática de apregoar aos quatro cantos meus cultos sazonais ao Sagrado Feminino? Afinal, cada um constrói uma senda que lhe é própria, de modo a inexistir uma VERDADE que seja absoluta o bastante para que o foco seja a tentativa (vã) de homogenização.

Menos é mais.

Falar é dispender energia que pode ser usada a favor, quando o Ar aquece e derrama seu sopro de harmonia. Aprendi, então, aos poucos, a compor o Fogo (necessidade de atribulação na fala) com a necessidade ancestral da Terra silenciosa, substituindo a ansiedade em falar, falar, falar pela temperança no calar, calar, calar.

Por isso, por agora, não mais tenho necessidade de falar para absolutamente ninguém o que professo ou no que acredito, pelo simples motivo de... Não tenho motivos! Olha só que legal! nem me justificar sobre motivos preciso mais, porque a fluência me leva apenas a viver, e não me preocupar em mostrar e falar.

As bandeiras sempre foram - para mim - marcas de apartação e revolta diante da ignorância de quem teme e, pelo medo, destrói o que pode existir de mais singelo em uma pessoa. Se estamos trabalhando para a convivência de dissensos, penso que a deflagração ideológica de credos pode se revestir de franco desprezo pela liberdade de crença alheia.

O que não desejo para mim (detesto que algum proselitista fique tentando me convencer a aceitar Jesus para ir para o céu) não pratico com os outros. Assim, posiciono-me sempre no sentido de prestigiar a liberdade e, com ela, abstenho-me de me expor. Não se trata de medo, não se trata de preservação. Trata-se de um querer gostoso de apenas estar em tamanha paz interna que a atribulação energética de balbuciar palavras ao vento passa a ser algo que naturalmente não mais faz parte de mim.

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